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domingo, 22 de maio de 2016

Maceió. Um encontro dos invisíveis urbanos com a arte de Eduardo Bastos


Este material foi publicado em O Dia/Campus




Eduardo é professor universitário, arquiteto e artista plástico

Uma pequena reflexão

Eduardo Bastos

Hoje, 21 de abril, feriado, resolvi ir ao centro "histórico" de Maceió (comércio), fazer uns sketches. Depois de perambular por casarões "trombados" e ruas fedendo a urina, passei por um morador de rua e cadeirante. O homem estava dormindo, mas percebi uma tigela ao seu lado com dois pedaços de bolo, possivelmente alguma "alma solidária" tinha deixado ali para seu desejum.
Fui até a esquina e depois voltei. Vi que do lado oposto ao homem que dormia, havia um edifício antigo que poderia ser um bom modelo para o desenho. Comecei a montar meu cavalete - um tripé de máquina fotográfica ao qual adaptei uma prancha. 

Quando ia começar o desenho, observei que o homem tinha acordado, fingi que não o percebi e comecei a observa-lo de soslaio. Ele começou a comer o bolo e no mesmo instante, senti a necessidade de mudar meu tema. Comecei a desenhá-lo rapidamente, tentando fazer com que ele não percebesse. Em vão, ele olhou para mim e me desejou um bom dia e perguntou o que eu estava fazendo ali. 

Eu também desejei a ele um bom dia, falei que estava ali para desenhar os casarões do centro e perguntei se podia desenhá-lo. O José Cícero, foi de uma simpatia e cordialidade para comigo e fez até uma pose. Pedi que terminasse de comer, aí ele ofereceu um pedaço de bolo e um sorriso e fez um sinal de "legal", com o polegar para cima. Parecia que a felicidade para o José Cícero, era aquele momento: Um pedaço de bolo para satisfazer a fome e alguém para conversar. 

Tentei ser o mais rápido possível, para não cansar meu "modelo". Depois de alguma conversa, despedi-me e ofereci a ele o pouco dinheiro que tinha, disse que era o pagamento por ter feito uma pose para mim, falei que na Europa, os modelos ganham muito para pousarem nus, ele sorriu muito e agradeceu. 

Saí dali contemplativo, vi um ser humano que apesar de todas as dificuldades que a vida havia lhe imposto, tinha uma dignidade no olhar e no sorriso. Vou deixar esse desenho sempre próximo, para quando passar pelas turbulências dessa vida, lembrar-me do sorriso e da paz do José Cícero.

Um pedido ao amigo que folheia este jornal

      Luiz Sávio de Almeida



Quem conhece Eduardo sabe de sua sensibilidade e de seu modo de sentir o chamado da arte pelos monumentos, paisagens, prédios.  Poucos conhecem a sua sensibilidade para o humano e a sua generosidade para com os outros. Ele está pleno no pequeno texto onde encontra o outro e o guarda como exercício de sua humanidade. Uma beleza de relação, com a obra de arte sendo a mediação do humano.  Estamos diante de uma lição, com a arte sendo uma forma exemplar para estar com o diferente. No caso, com outro que se transforma em espetáculo pelo incansável da demonstração da  miséria. Um homem perdido no dia da cidade e sua cadeira de rodas.

São muitos os que estão flutuando nas ruas; o cotidiano é polvilhado pelos humilhados e ofendidos, por aqueles que parecem ter sido deserdados pela sorte, pela fortuna, pelo implacável do mundo que abstrai a vida de quem é empobrecido. Não seria por acaso que ele escolheria este tema: os invisíveis. É que o drama humano chama por seus olhos, justamente as janelas do coração. E ele nos consegue trazer aquele que sofre, aquele humilhado, aquele ofendido.

Pensei em uma forma de estarmos com os pobres que Eduardo nos trouxe. Cada um coloque a legenda abaixo do trabalho dele que publicamos. Será bom, dialogar com a   vida e nos vermos pensando no outro.


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4 comentários:

  1. Professor Sávio, aqui é o Luiz Carlos Morgado, trabalhei para o sr. digitando documentos. Foi meu primeiro emprego. Saudades do Senhor e Dona Mirian. Uma lição que aprendi com o homem Sávio de Almeida, é que a grandeza de um pessoa não está no quanto ele acumula de conhecimento, o que para maioria das pessoas ela se torna grande por isso, mas que o conhecimento que ele tinha alcançado o tornava humilde o que para maioria isso é pequinez. Sua humildade é admirável, sua gentileza e da sua esposa. Amo as lembranças que tenho dos momentos que convivi com o senhor.

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  2. Belíssimas as obras! Faz-me refletir no quanto temos é pouco fazemos para minimizar a desventura de nossos semelhantes. E pensar que há muitos que acreditam que não são responsáveis por essas situações. Se fôssemos mais empáticos com nossos semelhantes, situações assim não se tornariam obras de arte.

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  3. Eduardo Bastos é um fenômeno. Não são desenhos, é a própria alma de cada personagem que se expressa. Parabéns, meu querido professor.

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