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segunda-feira, 30 de abril de 2018

Maceió: marcos de uma cidade



 Esta é mais uma aluna que nos leva a pensar em alguns problemas da cidade. Nas fotos de nossos estudantes, encontram-se temas e temas que nos desafiam e é como se fotos como estas afiassem nossa consciência política e nosso desejo de investigação.
Jessica é interessada em articular antropologia, história e arquitetura.
Jéssica Cavalcante é Arquiteta e Urbanista formada pela UFAL, Pós Graduanda em MBA Gerenciamento de Obras, Qualidade e Desempenho da Construção (IPOG), aluna especial na disciplina Formação do Espaço Alagoano, pelo curso de Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado, FAU/UFAL.





Cidade, seus mundos e tempos





01 - O DORMITÓRIO
Fonte: Acervo Pessoal. Ponta Verde, Maceió. Abril 2018

 As paredes invisíveis de um lar multifacetado, circundadas por luzes indiferentes ao sofrimento são obstáculos impostos pela sociedade. Reveses que se completam com calçadas e ciclovias, reforçadas de ignorância e preconceito. Não Pise na grama! Assim diz a placa da hierarquia social, que aceita sem brusquidão o chão de grama como cama, para os que nele reclinam seus corpos definhados pela pobreza. O guarda roupas de plástico com suas rodinhas, circula a cidade sem medo e com um falso telhado, que protege suas lembranças mas não evita o banho da chuva. 


 
 
02 - FOLHAS
Fonte: Acervo Pessoal. Ponta Verde, Maceió. Abril 2018

Estou a seu lado; apenas muros nos separam, porém não te enxergo na maioria das vezes, não por conta dos muros ou da minha pouca visão, mas porque me recuso a  ver a dor que te abate. O mais fácil é continuar o percurso sem te mirar, desviando os passos e observando a leveza das folhas que caem ao chão, em pleno outono, pois estas são fáceis de serem resolvidas, basta varrer ou deixar que a chuva lave a sujeira formada. A cada dia um novo lar, uma nova calçada, para que assim não seja varrida ou lavada pela sociedade que te cerca.



03 - ILHA
Fonte: Acervo Pessoal. Levada, Maceió. Abril 2018

Como uma lâmina que separa a salubridade ambiental e a qualidade urbana de uma parcela da população, o espelho d’água, que reflete a luta por uma morada digna, desconecta essa realidade de algumas áreas da cidade, assim como uma ilha esquecida pela drenagem urbana. O espaço público, principal palco das relações sociais, se torna o cenário dos porcos, substituindo a significância atribuída pelos moradores à paisagem, no decorrer de suas vidas, por sentimentos de desapreço e nojo. “Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ela secar”.
 
 
  
04 - PÉS
Fonte: Acervo Pessoal. Levada, Maceió. Abril 2018


Onde está a rua, senão debaixo de uma massa d’água, metralhas e outros resíduos urbanos? Os automóveis mal driblam o caos, negando-se até mesmo  transpô-lo, mas os pés submersos e praticamente descalços perambulam sem receio do que lhes aguarda. Cada passada revela o hábito de mover-se nessas circunstâncias, a naturalidade e aceitação dos fatos. Enquanto no alto se vê o contraste, prédios e ruas bem cuidadas, que talvez esses pés mal soubessem caminhar, ou finjam costume caso andem por lá. Os calos, rachaduras e marcas desses pés, carregam consigo a busca incessante da aceitação e um novo olhar da sociedade.
 

05 - TRAÇÃO ANIMAL
Fonte: Acervo Pessoal. Trapiche, Maceió. Abril 2018

Ouça o som que vem do trotar dos cavalos e reverbera pela cidade, como um ruído que penetra as camadas mais altas da sociedade, rasgando o tímpano do preconceito e egoísmo. A carga que vem em sua carroceria, rangendo na rua é o sustento, o modo de vida e de trabalho, a tradição que foi passada de seus ascendentes e o meio de transporte de cargas mais econômico, talvez o único que alguém possa pagar. Então, que venham os trânsitos, os carros, motos, ônibus, bicicletas e pedestres, mas que saibam a necessidade de se preservar e respeitar os carroceiros da cidade.

Pedaços de vida: a cidade e a imagem


Um Assistente Social e quase Arquiteto olha Maceió, Maragogi  e destaca pedaços. O que ele teria visto, sentido, comentado? É aluno da disciplina Formação do Espaço Alagoano no Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado, FAU/UFAL. Seu nome é Lourival Assunção. 

Graduado em Serviço Social, pela UFAL, trabalhou com a Comunidade de Bebedouro em 2011, atualmente Graduando de Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Tiradentes – UNIT, ao qual em 2016 estava como Diretor Presidente da Empresa Junior, AEC Júnior, participou ativamente do Laboratório de Conforto Ambiental – LECA; no presente, participa do Coletivo Aqui Fora, trabalhando com o fomento de discussões urbanas, voltadas para comunidades. 

Esta é mais uma contribuição dos alunos da disciplina que ministro sobre a Formação do Espaço Alagoano no Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado. Um olhar para Maceió e para Maragogi.

Foto 01: Cadê minha infância que estava aqui?, Vila Emater – 2018.
Essa foto foi tirada durante visita à Comunidade da Vila Emater, localizada no Bairro do São Jorge. A Comunidade nasceu em volta do antigo lixão e demonstra,  para a sociedade,  a força de um povo batalhador,  que  conseguiu sobreviver após sua única fonte de renda ser retirada. E foi assim que um grupo de mulheres criou  a Coopvila, unidade de trabalho com  reciclado, mas, mesmo assim, em uma sociedade com a raiz nas expressões mercado e no egoísmo,  a infância se perde na necessidade da sobrevivência, “o homem é o lobo do homem”, Hobbes.


Foto 02: A unidade da paisagem de Maragogi, 2017


O markerting do Estado de Alagoas, se baseia diretamente nas belas paisagens das praias, mas quais são as programações que compõem a paisagem no miolo do bairro? A Cidade para o turista, a Alagoas de fora, se torna mais importante do que á Alagoas de dentro; nosso Estado, construido com sangue dos trabalhadores, invisíveis aos olhos de fora, mas bastante reais nas lutas diárias. E é assim, que eles constroem sua própria paisagem, sua arquitetura e sua expressão de cultura. 



Foto 03: Cadê minha calçada?. Jacarecica – 2017.
 As calçadas por si,  nada representam;  elas são uma junção dos limites das ruas e lotes, e a união entre outras fragmentações de calçadas, como fala Jacobs (2011). As calçadas podem ir além de uma simples construção de caminho, elas podem ser representadas como a igualdade da acessibilidade, a construção de um passeio urbano e não as sobras do terreno. Assim como as pessoas, as calçadas vêm sendo engolidas por edificações, pela necessidade de ‘aproveitar os espaços’, mas onde fica o espaço público, apenas nas praças? 



Foto 04: A passagem eu guardei?. Levada – 2017.

O transporte coletivo público, precisa a ser compreendido como um direito social e não como mais um instrumento de enriquecimento. A locomoção da cidade precisa ser experimentada e não sofrida, à base de caos fomentado dentro de um ônibus público. A classe trabalhadora que com sacrifícios sobrevive, vivendo no ‘racionamento’, nos ajustes e na hora das compras, como escolher o que é mais essencial, dentre todas as necessidades básicas não atendidas?


    Foto 05: Aqui estou,  no mesmo lugar de sempre.