Translation

Mostrando postagens com marcador História do espiritismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador História do espiritismo. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A construção do Espiritismo em Alagoas (ii)



Este texto foi publicado em Campus/O Dia
 
Dois dedos de prosa






Esta é uma nota prévia de capítulo que constará de livro por nós em preparo e com o título de História dos costumes, usos e abusos em Alagoas. Nada mais e nada menos do que isto. Escrevo em homenagem ao Centro Mello Maia, especialmente pelos seus anos de existência, uma situação raríssima dentro do eterno efêmero que parece governar Alagoas.

O autor adoraria receber informações e críticas pelo e-mail ndsvcampus@gmail.com.

Vamos lá Irmão Jayme. Continua firme no José Eusébio? Dele pouco sei, Irmão! Apenas que era professor, mas vou descobrir muito mais.

Um abraço

Luiz Sávio de Almeida

Um pequeno esclarecimento

O texto é uma coleção de pequenas notas sobre a história do espiritismo em Alagoas – se elas são boas ou não, pouco me incomoda. É material ainda em tratamento e continuará assim por, no mínimo, um ano, quando então me animarei a colocar em livro. Pode ser considerado como Nota Prévia – e, como todo texto, vai ser aceito ou rejeitado em parte ou no todo pelo leitor. Também não me importa. O fundamental é que desperte o estudo da história dos espíritas, algo bem mais colocado do que história do espiritismo. Não me interesso em tirar conclusões, mas em levantar questões – e, realmente, fico esperando que meus erros sejam férteis.

As razões de ter publicado as achegas dei no texto de abertura e foi publicado no nº  144 do nosso suplemento de O Dia.

O texto vai para Manoel Pinto de Mello Maia, mas vou acrescentar Hugo Jobim. Não os conheci pessoalmente, o que é mais do que claro. Mas conheci e gostava demais do Irmão Jaime, a quem associei muito dos primeiros e despojados espíritas de Alagoas e a quem muito projetei na figura de Antônio Pombo.

 

 Achegas:  o espiritismo em Alagoas (II)

Luiz Sávio de Almeida





Para Manoel Pinto de Mello Maia,

Hugo Jobim, Antônio Pombo e ao grande amigo Irmão Jaime

 


Um pouco sobre a intensidade das ações


            Ao que tudo indica, e ainda segundo o Lumen, houve uma fase de ação, outra de arrefecimento e, finalmente, deu-se a reação do movimento. A queda de intensidade ocorreu, como diz a análise publicada em Lumen, pela pressão contra as atividades que deveriam ser realizadas para firmarem a presença do espiritismo.  Diz o jornal com sua linguagem forte, combatente, típica de quem estava ainda sob severa pressão:

Logo, velhos sebentos, sábios de contrabando, teologistas de confrarias, beatos de todas as espécies, se levantaram contra a seita nova, cobrindo-a de ridículos,  de esconjuros e dos anátemas da bestice e da ignorância humana.

Isto bastou para que cessasse de repente o entusiasmo das investigações de então: ninguém  se animava a investigar os fenômenos [...] O meio era sobremodo atrasado, obscurecido pela influência nefasta de uma filosofia penosa para o espírito da época.[i]

            Então, ao tempo dessa revisão histórica, os debates que se faziam encontravam o espiritismo reposto em campo e em muito pesavam as atividades do Centro Espírita das Alagoas  e depois  Centro Mello Maia, com a mola mestra de sustentação deste Centro,  passando por  Manoel Pinto de Mello Maia, conforme frisava a análise que estamos a comentar:

“Por este tempo surgiu a ideia da fundação do ‘Centro’ que ainda hoje mantemos, graça principalmente aos esforços e ao zelo do nosso querido irmão Manoel Pinto de Mello Maia.[ii]

            É nesse contexto que surgem diversos nomes de militantes que deveriam ser lembrados, justamente na fase em que a presença pública já se fazia com maior facilidade. Se não houvesse essa consolidação, jamais se teria o nível de debate que aconteceu – e ele era um sinal, pela Igreja Católica, de que havia algo a enfrentar no plano das ideias e nas consequências políticas. Nessa altura, o espaço espírita havia aumentado e, nisso, tinha importância o quadro da imprensa: A Ciência que foi articulada pelo Grupo Espírita Vicente de Paula, A Luz e O Espírita Alagoano que foram dirigidos pelo Antônio Pombo. Na retomada, o crescimento passava por Maceió e por outros municípios: havia o Allan Kardeck, em Penedo; Esperança e Luz, em São Miguel dos Campos, dirigido por Bráulio Monteiro; São José, em Fernão Velho; São Domingos, em Rio Largo – os dois últimos criados com a presença de Manoel Joaquim Vidal.

           
Bezerra Menezes
Houve uma fase inicial marcada pelas ações a bem dizer informais, essas ações aproximam pessoas, mas obrigatoriamente não definem a existência de um grupo diferenciado. Há uma tentativa de consolidação e há o da Federação indicando não à maturidade, mas a de passos formais de consolidação que iriam além de Centros e de Grupos. É isso que se pode depreender do relatório lido no Centro Mello Maia. E tudo é possível ter começado na década de setenta do século XIX.

            Evidentemente, e vale ser relembrado, quando entram no cenário das forças políticas do século XIX alagoano, o espiritismo, a maçonaria e o protestantismo eram uma densa reação ao mandonismo católico; afrontavam a base da organização doutrinária da sociedade tanto no campo oficial quanto no campo popular do catolicismo, voltado para os lugares e de denso cunho paroquial.  Deste modo, tais correntes poderiam ser encaradas como subversivos; eram elementos que deveriam ser destruídos para salvaguarda dos valores do cristianismo que teriam a Igreja Católica como guardiã. Seriam forças acompanhadas pela necessidade de abertura da sociedade e, por isso, vai se desenvolver um jogo de confronto e de acomodação.

            É preciso notar que abrir espaço no bloco católico era tarefa difícil, carregada de tensão e estamos, portanto, diante de um confronto com o modo da organização senhorial dominante, da qual a Igreja Católica continuava a ser um dos braços de representação e sustentação.  A tríade mencionada, junto à ideia de contestação ao capital que já se esboçava na organização dos gráficos, consistiam elementos centrais de oposição e, mesmo que não fossem reconhecidos como tais, estavam demarcando fissuras nos fundamentos das bases ideológicas e, portanto, políticas, ao lidarem com nova proposta sobre o sagrado, mormente no caso do protestantismo e do espiritismo.

            Apesar de estarem em contestação, eles não se somavam e serão excludentes sendo, portanto, uma contraposição fragmentada o que, sem dúvida, beneficiava à manutenção do modo católico de representar as estruturas de produção. O não ajustamento favorecia aos interesses católicos, jamais se poderia pensar numa junção entre espíritas e protestantes pelo fato de que se contrapunham na base das argumentações. Por protestantismo entenda-se, neste caso, a presença de batistas e presbiterianos.

           
Em 1870, o espiritismo já seria matéria presente na agenda alagoana de vida, mas ainda não havia, como nos parece evidente, a formação de grupos e nem a de centros. Os grupos seriam a forma necessária para o espiritismo fazer-se orgânico, criar e desenvolver a sua espécie de comunittas. Como ideia, ele circulava, mas como prática ainda carecia do senso do coletivo e a geração de um senso de pertença, o que seria exercitado com a vida – pedindo a devida licença para o termo – grupalizada. É praticamente impossível, portanto, ver historicamente o espiritismo sem que se tenha formações coletivas. Tais formações, no Brasil, vão ganhando uma coluna mestra em torno de Alan Kardeck e sua codificação, mas criando sua própria forma de ser – e este é o ponto fundamental.

            Por outro lado, convém considerar que apesar das dificuldades de comunicação, a Província das Alagoas poderia ser acessada por terra e por mar e, então, as notícias do mundo exterior circulavam em Alagoas. Ela se abastecia de informações e dependia dessa espécie de exterior de cabotagem. Somente depois e presente no tempo da expansão espírita, tinha-se o mundo da via férrea nos articulando, sobremaneira, com Pernambuco, enquanto o vapor já estava nas embarcações que visitavam, sistematicamente, a Província, tocando nos portos do sul e do norte e indo aos interiores do Baixo São Francisco até o limite de Piranhas.

       
    

Logo veio o Além Túmulo


            É de se pensar que vamos ser – a bem dizer – imediatamente atingidos pelo trabalho desenvolvido na Bahia por Luiz Olímpio Teles Menezes, o fundador do Echo do Além Túmulo, jornal que aparece em 1869, e em 1870 estará divulgado em Alagoas, através de uma loja tradicional do comércio: Andrade. Estava sendo esse jornal agenciado em Alagoas e anunciado pelo União Liberal de 26 de Outubro de 1870.  Aliás, deve ser visto que Teles de Menezes foi um dos primeiros tradutores de textos de Kardeck para o português[iii].

            A expressão “Além-túmulo” era rica em sentido e apontava a existência de outro espaço em comunicação com o cotidiano – viabilizado, a nosso ver, e considerando o doutrinário espírita – pelo liame estabelecido na lógica da reencarnação. Essa ideia acentuava o cotidiano como provisório e a expressão “Além-túmulo” dava-lhe um limite preciso, a informalidade que a expressão estaria carregando era aparente.

            Nos mistérios de entonação católica, esse além era plasmado numa espécie de geografia plena de fronteiras consolidadas em categorias como o paraíso, o purgatório, o limbo, o inferno.  Nos mistérios do espiritismo, a literatura espírita estará dando notícias de outra organização daquele espaço sagrado. Esse ponto é essencial: o mundo espiritual tinha sua organização diferenciada e possivelmente, o que existe de melhor nessa demonstração do contexto de um urbanismo do sagrado está em Nosso Lar, o que virá muito mais para frente, quando o espiritismo popular se afirma na linha de frente nacional, por onde entra a abundante e messiânica psicografia de Chico Xavier, trazendo os depoimentos de André Luiz.

            Nosso Lar é muito mais do que um romance e jamais poderia ser entendido somente como tal. É um tratado da sistemática de relações em uma categoria espacial absolutamente diferenciada e serve-se da linguagem literária para traçar uma etnografia daquele mesmo espaço. Não seria, portanto, reduzível apenas a uma obra de ficção que é, simplesmente, no caso, um modo de falar sobre uma determinada organização social espiritual. É de se notar que decorrem quase 75 anos de presença do espiritismo no Brasil para que se materialize a fala de André Luiz, o esclarecedor nacional (a partir de 1944) do espaço espiritual, algo harmônico em contraste com o caos do chamado mundo material.

            Nós estamos diante do tempo espírita e Nosso Lar será uma das demonstrações ou um dos passos da maturidade do espiritismo brasileiro, fundada pela ruptura que Chico Xavier e André Luiz ocasionam. Nossa Lar é, sobretudo, a demonstração dos umbrais, da segmentação pelo anti-humano e é nesse sentido de redenção que se constrói uma bela utopia de uma cidade que prepara a humanidade para o aproximar-se da purificação. O senso do coletivo espírita faz com que André Luiz, um médico, construa o universo das colônias.

            Nos mundos espirituais, a relação com o cotidiano profano mediante reencarnação e outros fenômenos seria constante, parecendo-nos uma indistinção do espaço do sagrado pela sua absoluta abrangência sobre a totalidade. Nesse sentido, o espiritismo brasileiro será recriado por uma nova forma, impossível de consolidar-se à época que estamos trabalhando: a da grande abertura da mediunidade através especialmente da obra de Chico Xavier e da literatura mediúnica por ele desenvolvida. No entanto, não seria por aí que Chico Xavier seria ruptura. Tal ruptura se dá pela mediunidade desclausurada, pela expressão de massa que ela envolve. Saem da clausura dos grupos e centros para estar abertamente no público do agônico humano, apesar de utilizar-se do comum da instrumentação dos trabalhos espíritas.

            Nesse ponto é de se tocar no socialismo argumentado por León Denis.

            Sem dúvida, há um sério recorte entre a mediunidade de Chico Xavier e o engessamento do discurso doutrinário. Seus textos trazem a grande marca do que o espiritismo foi aprendendo em sua prática brasileira até tornar-se o espiritismo de contato com o cotidiano nacional – espécie de missioneiro – e, este sim, de inegável raiz popular, embora continue o distanciamento da grande discussão de possibilidade de caridade sem atingir a organização do sistema ou suas relações de propriedade e trabalho. A interferência social espírita, a nosso ver, não alcançou o modo da organização da sociedade e, nisso, ele que era novidade, tornou-se conservador. Mesmo nos seus começos alagoanos quando era aguerrido, jamais criticou o modo da organização da produção, como se houvesse um distanciamento seu, do modo de organização da sociedade.

Processo histórico


 

            O fato é que havia um processo histórico e um lastro cultural onde se desenvolvia. Nesse tocante da construção nacional e dentro de uma visão confessional, comenta Frauches:

“O Brasil seria [...] campo fértil para a expansão do espiritismo [...] O Espiritismo não se desenvolveu na França, mas no Brasil. Lá foi o berço propício aos fundamentos da Doutrina Espírita. Aqui, a continuidade, o desenvolvimento, a consolidação[iv].”

            Há uma dimensão que deve ser fortalecida nessa visão do espiritismo e a derivamos de uma discussão aberta por Cavalcanti[v], quando diz que ele funda “uma matriz de leitura e experiência do social”.  Isso é fundamental para percebê-lo brasileiro e alagoano; a sua leitura e a sua experiência, usando o velho dizer, será aqui e agora, datada e situada. De fato, a chamada codificação – apesar de falar sobre o fato espírita – termina por ser um modo de propor sobre a sociedade, no que se transita pelo ético e pelo político, e é desta forma que se pode acentuar proposições e atitudes, tudo, conforme pensamos, incidindo  nas relações diretas e indiretas, mediatas e imediatas com o poder conforme seus marcos locais.

            Há um projeto de sociedade na medida direta em que o espiritismo existe, devendo ser discutido até onde ele foi, até onde está indo e até onde irá. As suas trocas sociais vão bem mais além do que se resulta, por exemplo, em um centro ou em um orfanato. O tempo espírita não corre diferente do tempo da sociedade e, com ela, ele vai interagir e responder. Dessa forma, nós temos um espiritismo do tempo brasileiro e do tempo alagoano em particular e sempre será assim.

            Ao chegar a Alagoas, o espiritismo não somente interage com a cultura e sociedade instaladas, seus modos e formas de relações, mas a modifica na medida em que introduz uma variante radical: o exercício de contestação quanto ao agrarismo que prevalecia, embora viva a necessidade constante de pactuar e o seu tom ainda formal de erudição sobreponha-se e o leve a estar ocupando espaços em sugestivas áreas de poder como, por exemplo, a mídia. E, por outro lado, funda-se a expressão, a nosso altamente preconceituosa, chamada de “baixo espiritismo”.

            Ele vai buscar a legitimidade, estar legítimo para o senhorial em caminho que será, essencialmente urbano, camadas médias e artistas como base demográfica essencial. Essa aproximação a tais grupos é vista também em Priori[vi].   O fato é que temos um conjunto de intelectuais espíritas que argumentam o espiritismo, pregadores públicos do espiritismo, vindos de setores médios da população – que passa também pela maçonaria, embora com comportamento diferenciado, mas não passa pelo protestantismo que se fará bem mais de perto com as gentes empobrecidas pelo sistema.

            Estamos diante de um ideário consolidado que nos chega, mas que não pode ser considerado exótico e, sim, integrado às raízes que estavam postas na estrutura social. Uma determinada lógica desenvolvida culturalmente e não-kardecista estaria apta a poder absorver o espiritismo kardecista e, mesmo, aquele que será derivado da matriz afro-brasileira e se fará especialmente pela Umbanda. É nessa base existente que se prevalece como força religiosa sobre a mundanidade científica. O que se deveria investigar: a suficiência do espiritismo em contestar o sagrado e a insuficiência de contestar a produção.      Evidentemente o leitor estará sabendo o contexto e significado que se está dando ao político aqui neste texto. Nada de partidário, mas modo de inserção na polis, modo de encaminhar a res pública. Dizer que seu papel jamais poderia ser uma interferência na polis seria argumentar o impossível: ele sim, um espiritismo desencarnado. Há de se ver a discussão de um caminho aberto em obra póstuma do próprio Kardeck, passando pelo francês da liberdade, igualdade, fraternidade e do socialismo que argumenta León Denis e a possibilidade de crítica aguçada à estrutura sugerida em Prefácio escrito por Freitas Nobre em 1982 para o texto mencionado de Denis[vii].

           
Essas três forças de contestação tiveram suas próprias trajetórias e passaram diferentemente pelo conjunto das forças políticas, cada qual tomando o rumo na grande negociação que sempre se abre, mas a tentativa sempre foi uma acomodação conservadora, campo que merece uma denso trabalho de investigação, pela importância para o entendimento do encaminhamento da política estadual. 

            Estamos ao chegar no século XX, com Alagoas convivendo com o moderno de muitos serviços e circunstâncias. Mas não havia sido aberta uma categórica mudança no universo senhorial e o espiritismo termina acomodando-se ao modo da sociedade, perde força combativa como se taticamente preferisse – embora impossível – estar mais para si do que para a sociedade. O poder da terra, o privilegiamento do mando a partir da propriedade continua o mesmo, e este descontrole social da desigualdade jamais será ferido no que lemos da época em Alagoas, pela produção espírita. Haverá uma releitura de uma série de fatores, uma ressignificação, mas sempre estará sendo implicada a busca da legitimação.

            Visto internamente para o mundo espírita, talvez essas implicações nem mesmo façam sentido, mas não para uma história que deseje lê-lo criticamente, deixando o aspecto confessional de lado e vendo as implicações culturais. Esse campo teria de vê-lo pelo menos em três ligações e conjuntos próprios de atividade, na medida em que se ampliasse a investigação histórica: um bloco intra espiritismo, um bloco inter espiritismo e um bloco das articulações. Então, ficariam claras as derivações políticas. Mas, que entra como força de contestação do agrarismo, não resta dúvida. Assim, era um fator de modernização ou, talvez melhor dizendo, de atualização da sociedade alagoana.






[i] Lumen. Maceió, 6 jan. 1908, p. 2.

[ii] Idem.

[iii] SANTOS, José Luiz dos. Espiritismo: uma religião Brasileira. Campinas: Editora Átomo, 2004, p. 16.

[iv] FRAUHES, Celso da Costa. O mundo espiritual, Kardeck e Chico Xavier. Digital Books Editora, 2013.

[v] CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. O Mundo invisível: cosmologia, sistema ritual e noção de pessoa no espiritismo. Rio de Janeiro: Centro Edelsteins de Pesquisa Social, 2008.

[vi] PRIORI, Mary del. Do outro lado: história do sobrenatural e do espiritismo. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2014.


[vii] NOBRE, Freiras. Prefácio. Acessado em http://www.autoresespiritasclassicos.com/leon%20denis%20livros/Socialismo%20e%20Espiritismo/L%C3%A9on%20Denis%20-%20Socialismo%20e%20Espiritismo.htm.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

A construção do espiritismo em Alagoas (I)


storia dello spiritismo, histoire de spiritisme

 ESTE MATERIAL FOI PUBLICADO EM CAMPUS/O DIA

Dois dedos de prosa

            Aqui está um pouco do que tenho sobre a história do espiritismo em Alagoas. Sei que é quase nada, mas embora insignificante, reconheço ser um interessante começo, apénas um começo dentre muitos. Temas como maçonaria, protestantismo, espiritismo de muito já deveriam fazer parte da agenda acadêmica das Alagoas.

            Quem sabe, um dia alguém se interesse e leve estes assuntos a um nível de profundidade que faça com que se aclarem melhor dentro da formação histórica de Alagoas.

            Nada entendo de espiritismo e muito menos de sua história, mas nada impede que eu tenha a audácia de sugerir achegas.

            Um abraço

            Sávio           
Um pequeno esclarecimento



            Este texto é oferecido a Manoel Pinto de Mello Maia esperando que satisfaça.

            Na verdade, a redação  começou a uns 50 anos. Todas as vezes que eu passava em frente ao Mello Maia, dava-me uma imensa curiosidade sobre quem era ele, como havia sido a vida do Centro e a consciência de que era necessário escrever a história do espiritismo em Alagoas. Passei a procurar incentivar o estudo e, buscando a quem desejasse, devo ter falado com espíritas,  semi-espíritas, espirituosos e nada de encontrar quem se resolvesse a aceitar a  encomenda.

            E sempre persistindo aquela relação com o lugar e com o tema. Esquecia, passava, lembrava. Não sou espírita e nada entendo de espiritismo. Estou preparando, faz tempo, uns escritos que formariam um livro a ser intitulado História dos costumes, usos e abusos em Alagoas e quando me dei conta, estava redigindo estas achegas ou – quem sabe? –, apenas sistematizando informações. Preparei e ia arquivar, mas, num de repente, resolvi publicar e o impulso resultou neste Campus. Agora vou testar. Vou passar por lá e ver o que vai chegar à minha cabeça: No creo em brujas, pero que las hay, las hay.

            Sai agora como contribuição, visando acender o fogo, mas volta para a prateleira, esperando mais uns dois anos para ser incluída no dito livro, esperando mais dados e mesmo contribuições de algum estudioso espírita que se interesse por nossa história das Alagoas. Seria excelente receber aportes pelo imêio nsdvcampus@gmail.com. No meio deste caminho todo, ficou a engraçada sensação de que o Maia e eu seríamos bons amigos, caso, evidentemente, nos conhecêssemos. Durma-se com um barulho desses.
            E vai um abraço, também, para o Hugo Jobim. Uma vez um jornalista escreveu um texto cutucando o pai dele, o velho Nicodemos Jobim. O Jobim responde e no fim do escrito, manda o cara substituir o nome do Nicodemos pelo nome do genitor do dito escriba, fazendo, no entanto,  a seguinte e digna ressalva: se é que você tem pai!. O túmulo do Jobim, na última vez que vi, estava deteriorado, acabando. Que tal, pelo menos uma mão de cal? Rima e é justo. Que tal ir junto ao Instituto Histórico da Marinha e ver alguma coisa sobre o Vidal?  Ora dirão: estão além túmulo! Eu replico: E que mal faz cuidar da ossada? E que mal faz cuidar da trilha do tempo?
            Bom, não tenho e tenho alguma coisa com tudo isto. Acontece comigo, uma mania sem fim. Sou um historiador com um parafuso frouxo. Vou escrevendo e fazendo amigos e inimigos, escolhendo de quem gostar. Gosto do Hugo, do Agenor, do Manoel e de tanta gente.    E sigo levando a vida, fazendo os meus sorvetes de jurubeba, sendo uma espécie de joatandrade da historiografia de Alagoas ou, no máximo, um picolé Caicó com sabor de morango do nordeste.
 


Achegas: o espiritismo em Alagoas (I)

            Luiz Sávio de Almeida
           

Uma pequena introdução

           

             A palavra achega praticamente sumiu do universo historiográfico, mas é sempre tentadora: significa apenas achegar elementos, trazer informes e não se tem pretensão além disto. É justamente, o que este texto intenta: apenas achegar, numa tentativa de dar uma contribuição ao estudo do espiritismo em Alagoas. Como é comentado na literatura especializada, é grande, no Brasil,  a falta de estudos sobre a história, sociologia, antropologia e quejandos dos grupos definidos como kardecistas; por outro lado, embora também existam poucos, as  matrizes afrobrasileiras são mais usualmente trabalhadas e é quando a umbanda aparece em destaque.
            Estamos diante de uma temática em aberto, que solicita a atenção científica e pede que se abandone a leitura confessional para estar com a evidência da rede social. Neste sentido, jamais o espiritismo poderia ser visto como algo em si, mas necessariamente em relação e, nisto, vão ser colocadas em destaque as questões relativas a poder e, portanto, podemos reconhecê-lo como um dos componentes das tensões que o próprio espiritismo necessariamente viverá. A pergunta essencial jamais seria sobre suas origens, mas sobre seu processo. Não há um quê genético de busca de origens, mas o andamento da dinâmica de chegar, estar e ser ou, em resumo, significar-se perante algo que vai ser definido como um contexto e, em nosso caso, qualificado como Alagoas.
            Claro que nossas achegas passam discretas por estas discussões, mas elas sabem que existe este campo de interrogação e somente dentro dele podem ser concebidas, entendidas. Não são apenas registros, mas indicadoras de um caminho percorrido pelo espiritismo em Alagoas, com toda a complexidade que ele envolve e prendem-se somente aos fins do século XIX e começos do XX. Por outro lado, têm o objetivo de propor um trabalho e talvez seja a hora de alguém se interessar pelo tema e ir em frente  nas pós graduações que atualmente se espalham por este Estado de Alagoas.
            Elas jamais resolveriam questões, mas podem trazer luzes, ajudarem a destacar a importância do tema que se integra ao imenso universo cultural brasileiro com uma expressão caracteristicamente urbana. Em Alagoas, o kardecismo é demarcado pelo urbano, sendo praticamente impossível pensar sua organização fora deste contexto e vai seguir por dois eixos fundamentais da construção de nosso espaço que são Maceió e Penedo, coincidentemente dois portos. Socialmente, podemos considerar esta condição, como primeiro enlaçamento da rede que mencionamos: o urbano. Na verdade,  dentro do contexto de poder que estamos situando, o urbano significa menor estrutura de controle por partes das forças senhoriais em operação.
            Na realidade, a mesma colocação poderia ser feita para o protestantismo. A gravidade  do problema é que eles não se tratavam de cunhas lançadas sobre o sistema de controle da sociedade, mas dos modos que buscariam a legitimidade e, portanto que buscariam o cotidiano. Se as achegas não elaboram sobre isto, pelo menos enunciam termos e estão dentro desta formata de concepção.
            Deve ser dito que fazem parte de um livro em andamento e que ainda necessita pelo menos um ano de maturação: História dos costumes, usos e abusos das Alagoas; elas ainda aguardam muito mais leitura para adquirirem melhor forma e qualidade e podem, por outro lado, serem entendidas como espécie de Nota Prévia que intenta levantar caminhos para chegar ao histórico do espiritismo em Alagoas.


Coordenação e Federação

O mínimo de desvio

            Sem dúvida, o marco inicial para se começar a verificar a vida orgânica do espiritismo em Alagoas, está na fundação da Federação Espírita Alagoana no dia 6 de janeiro de 1908. Para nós, ela funda o antes e o depois do processo. Ela demonstra que se havia montado um espaço espírita em Alagoas, onde deveria haver coordenação e, ao mesmo tempo, aponta que este espaço estava posto em um contexto nacional, atestando o nível de crescimento que a atividade espírita havia atingido, sendo de ponderar, por outro lado, que não estaria interessando aos dirigentes espíritas, que o Brasil fracionasse o kardecismo e que tal postura valeria também para o caso particular de Alagoas.
            Então, estrategicamente como política do grupo, estava a necessidade de minimizar a formação de desvios, dar ao espaço, o máximo possível, a ideia de homogeneidade, como se estivesse tacitamente estabelecido que se desejasse coesão doutrinária e isto implicava em um esforço de coordenação. Montar o orgânico seria o enunciado estratégico e desenvolver entidades coordenadoras seria o enunciado tático. Esta nossa tese propõe simplesmente, que era preciso resguardar, neste espaço em construção, o máximo possível, elementos de definições comuns. O termo Federação trazia, em si, uma carga semântica que apontava para uma linha de negociação e integração e que, necessariamente, deveria ampliar-se para uma escala maior e ela seria a nacional.
            Jamais Alagoas poderia ser considerada como o locus do nascimento do espiritismo enquanto grupo social definido, mas teria de viver suas próprias condições e, assim, jamais seria estranho pensar na existência de um espiritismo alagoano,  no sentido de inerente às Alagoas. E ele se faz justamente no exercício de ir-se agregando áreas, ou se fazendo as suas rotas de penetração na cultura gerando uma espécie de geografia que era demarcada, ao mesmo tempo, pelo sentido físico de área e pelo sentido cultural dos grupos, centros, meios de comunicação e por aí vai a parafernália de instrumentos manejados pelas organizações.  Tudo isto teria de unificar e seria unificado.
             Deve ser visto que estamos diante do modo do espiritismo kardecista fazer-se brasileiro e do rompimento com as indecisões iniciais sobre as definições  de ciência e religião, destacando-se, neste ponto,  a inteligência dos primeiros nomes espíritas, no que tomamos a liberdade de destacar Bezerra de Menezes. Nós não estamos ainda dentro do que vamos chamar de um espiritismo popular, o que somente vai ser atingido pelos grandes papeis de mediunidade que se formarão. Religioso ou não, a ênfase corria pela capacitação doutrinária e cientifica, ainda sem grandes momentos públicos de evidência como se dará no andamento da segunda metade do século XX.
            O fundamental para o espiritismo é montar o seu espaço de comunhão; pelo que entendemos, o esperitismo é necessariamente coletivo e daí seus grupos, seus centros, a trabalharem doutrina e ação na busca por uma comunidade, cuja prática com vistas ao social seria, essencialmente, a caridade da forma como a definem. E ele precisa de dois lastros: o doutrinário, por onde o essencial estaria codificado e o das ações por onde, de faro, o espiritismo se faria como agente na sociedade;  partilhamento doutrinário e prática da caridade estariam no conjunto de seus fundamentos e, então, estes marcos deveriam ser lidos na construção de sua história que sempre vai em busca de uma comunitas. Por isto ele nos parece, essencialmente, um espaço de uma determinada forma de partilha. E a partilha é a caridade que ele soube argumentar e propor em ações, devendo ser claro que sem a ação caridosa não existe a caridade, que seria o grande momento da comunhão.
            Nós não estamos discutindo o que resulta ou que resultou desta caridade dirigida pelos grupos e centros que se formaram, mas apenas que ela existe e se confrontou com a ideia da  caridade católica e com a forma católica e mesmo evangélica de se propor a salvação. Por ouitro lado, deve ser visto que embora de consolidação republicana, o espiritismo viu diante de si a conservação do padrão católico do poder que o fazia oficial, independendo da formalização constitucional da independência de culto. Ao falarmos de espiritismo e de protestantismo, estamos diante do começo da heterogeneidade religiosa, conforme lembrou Arribas, em texto apresentado ao XXVI Simpósio da ANPUH[i]; mas, por muito tempo, as instituições católicas, por cúpula hierárquica e por bases paroquiais estarão no comando do processo e jamais estariam, pacificamente, esperando que fossem desalojadas das suas posições, tanto na oficialidade da hierarquia quanto nas formas populares.
            Podemos dizer que o espiritismo será de transição do Império para a República, da escravidão para o operário e lidará com esta tensão e será parte dela. Daí, é que jamais poderia ser visto fora da discussão do modo do poder, ao entrar como contestação e como perde força de contestação na medida em que vai se legitimando no contraforte de suas relações com a grande sociedade. 


Um acercamento quase imediato

            A ideia do espiritismo não ficou muito tempo distante de Alagoas. Por mais vagarosas que fossem as comunicações, sempre chegavam notícias, jornais e livros que abriam um espaço para discussão; é errôneo pensar que sempre fomos a selva da ignorância. A notícia deve ter vindo por via de Salvador, mas a literatura poderia estar circulando no mesmo período em  que começava no Brasil, justamente pelos portos, com mais facilidade, no período, para o fundeadouro do Jaraguá, interessando-nos sobremaneira os navios que vinham do sul com as novidades da Bahia e da Corte e os que vinham do Norte, com as novidades de Pernambuco.
            Devemos ver que o começo da marcha orgânica do espiritismo está na constituição em 1858 da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e com pouco tempo estaremos com a composição de grupo em Salvador, ao redor de  sete anos após. O Livro dos Espíritos teve sua primeira edição em 1857. Transcorreu meio século para que Alagoas estivesse em posição de desejar coordenação para suas atividades internas e isto significa um acentuado crescimento. A que ele se deve?
            Difícil de responder, mas é possível elencar alguns poucos fatores e um deles era o nível intelectual de diversos militantes que se afirmaram doutrinariamente; outro foi contar com a  vinda de intelectual espírita em seus primeiros tempos; o envolvimento de pessoas conhecidas no meio social e político e a penetração junto aos artistas. Estes e outros fatores somaram-se e ajudaram a sustentar a implantação e a manutenção da rede de contatos, fertilizada pela existência de grupos. Pelo que entendemos da nomenclatura da época, o grupo não envolvia a mesma formalização de um centro e foi a ênfase neles, que, a nosso ver, ajudou fortemente a alavancar a posição na Província e depois no Estado, sendo de repetir que a consolidação espírita foi republicana.
            Por outro lado, apesar da diferenciação de approach, havia um lastro cultural que sempre colocou em ênfase a existência de uma vida além desta.  Não seria, portanto,  uma abordagem inusitada, embora dando-se uma  diferenciação essencial.  Mesmo a  reencarnação, uma das pedras do alicerce espírita, não era algo a se dizer desconhecido. Desconhecida era a percepção que advinha da chamada codificação realizada por Kardeck. No entanto, tem-se de considerar que havia uma substancial transformação no estado das informações: passava a existir uma proposta sistemática que contrariava a católica e a evangélica que, então, através de batistas e presbiterianos se insinuava em Maceió. Alagoas iria ouvir o eco d’álém túmulo.

A Federação e a comunicação

           
A Federação Espírita Alagoana foi fundada no dia 6 de janeiro de 1908 e teve, como veículo oficial, uma publicação mensal intitulada Lumen, criada no mesmo ano, tendo assinatura na ordem de 3$000 o ano, com o número avulso custando $300. O seu redator principal era J. P. da Mota Lima, tendo J. Barbosa Júnior como secretário. Seus redatores eram Alfredo de Carvalho, Agenor Vidal, Fernandes Tavares, Manoel Maia, Hugo Jobim.
            Ao criar a Federação, deve ter pesado sobremaneira um dos pontos dorsais das ações orgânicas: a propaganda,  tanto como material de conquista, como de afirmação. A Federação viu a necessidade urgente de ter um meio de comunicação circulando, tanto que em março do mesmo ano, Lumen estava com seu primeiro número na rua e o de outubro é também importante por, dentre outros pontos,  conter um texto de Hugo Jobim, jornalista de nomeada em Maceió e filho do comentado professor Nicodemos Jobim, erudito da região de Anadia, Boca da Mata e São Miguel dos Campos.
            A Federação não poderia ter sido criada por mero acaso; todo um trabalho deveria ter sido realizado e, por outro lado, o componente da organização nacional também já deveria estar pesando. Claro que a existência de uma Federação pressupunha que todo um trabalho havia sido desenvolvido e que se pretendia estabelecer uma coordenação das atividades. O texto de Jobim que mencionamos foi um relatório escrito em 1904 sobre a situação do espiritismo em Alagoas e apresentado ao chamado Grupo Espírita Melo Maia. O  espaço estava sendo acompanhado e discutido, embora não se tenha condições de apontar uma atividade objetivamente dirigida.
            Neste ponto, é bom considerar que a inteligência espírita estava sempre atuante e não se negava aos enfrentamentos. Não temos conhecimento sobre ataques que de longe equivalessem aos recebidos pelos evangélicos.  As ações são muito vistas por este lado de uma elite mais letrada, não se tem  material sobre o cotidiano dos espíritas que ficaram anônimos, a nosso ver, em grande parte constituído pelos artistas.
            Lumen não seria o primeiro jornal espírita alagoano; antes dele e pelo menos, tivemos um órgão do Grupo S. Agostinho; tratava-se de A Luz com redação à Rua Santa Maria, nº 90, uma área bastante pobre da cidade. O primeiro número saiu a 1 de agosto de 1901 e definia-se como um órgão destinado à propaganda espírita, circulando mensalmente e era distribuído gratuitamente. O prédio estava na área da Levada e, em suas instalações, estava funcionando uma escola noturna para crianças e adultos. Tratava-se da Escola João Menezes. Àquela época, já estava em operação uma série de grupos consolidados e uma série de grupos familiares. Dentre os consolidados tinha-se o Centro Espírita Alagoano, São Vicente de Paula, Maria, União e Fé, Santo Agostinho, São Domingos e mais  outro cujo nome é ilegível. Havia, portanto, o que coordenar.

Um pouco sobre pessoas

          
  Neste caminho dos intelectuais, vale recordar, de início,  Agenor Vidal, Capitão-Tenente da Marinha vindo a Maceió para exercer o cargo de Imediato da Escola de Aprendizes de Marinheiro e uma das pessoas que se engajaram na Liga Marítima Brasileira[ii].  Ele era membro do Grupo Espírita São Rafael, do qual também fazia parte o comerciante  Manoel Joaquim Vidal[iii]. É de sua autoria um extenso texto dirigido ao Cônego Machado e, na mesma oportunidade, tinha-se uma resposta de Manoel Vidal  a Raul Simplício de Melo[iv].
            Isto demonstra que o espiritismo estava publicamente combativo e com  capacidade de mobilizar a primeira página do que poderia ser chamado de principal jornal em circulação no Estado: Gutenberg. Agenor Vidal recebe resposta pública do Cônego[v] e o Cônego volta, em janeiro de 1908, a escrever sobre a carta do Capitão-Tenente. Ele responde em seguida: Cônego João Machado de Melo, Cura da Sé e Promotor do Bispado.
            Tratava-se de uma disputa erudita e educada e deve ter ajudado a marcar a posição espírita em Maceió, pelo menos no campo intelectual, posição que o chamado baixo espiritismo jamais poderia ter. A discussão prossegue e incorpora texto de Nunes Leite, bem como de Rodrigues Maia. Isto foi anunciado pelo Gutenberg na primeira página e estava como primeiro texto da primeira coluna.  O jornal abria com a informação e desculpava-se por não publicar o material, em virtude da quantidade de matérias que teria de lançar naquele número[vi].
            Na oportunidade destes debates públicos, circulava Lumen, fato registrado em Gutenberg que, aliás, dava o nome de colaboradores, além da comissão de redação que se encontrava montada: Barbosa Júnior, Rodrigues Maia, César Alves,  Methodio Moraes, Manoel Maia e José Euzébio. Comentava: “alguns dos quais já têm um nome firmado no meio intelectual das Alagoas[vii].” Apesar do debate, o Esperanto aproxima e estará sendo constituído um Clube de Esperanto onde se terá as presenças de Agenor Vidal e de Cônego Machado[viii]. Em 1910, Vidal era capitão de Corveta e comandante da Escola de Aprendizes de Marinheiro[ix].
             
Referências.


[i] ARRIBAS,  Célia da Graça. A Doutrina Espírita na formação da diversidade religiosa brasileira. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011.
[ii] LIGA MARÍTIMA. Gutenberg, Maceió, 7 nov. 1907, p. 1.
[iii] AUTÓGRAFOS.Gutenberg, Maceió, 11 dez. 1907, p. 1.
[iv] IDEIAS ALHEIAS. Gutenberg, Maceió, 12 dez. 1907, p. 1.
[v] IDEIAS ALHEIAS. Gutenberg, Maceió, 17 dez, 1907, p. 2.
[vi] NOTAS DIÁRIAS.  Gutenberg, Maceió, 28 jan. 1908, p. 1.
[vii] LUMEN. Gutenberg, Maceió, 3 mar. 1908, p. 1.
[viii] ESPERANTO. Gutenberg, Maceió,  27 jun. 1909, p. 3.
[ix] ANIVERSÁRIO.  Gutenberg, Maceió, 24 jun. 1910, p.1.