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quinta-feira, 23 de junho de 2016

Maravilhas do trem - Maceió - 6 - Airton Rocha Omena Júnior

Sem qualquer sombra de dúvida, estes registros realizados pelo Airton são importantes e, de certa forma, atualiza a estrada de ferro que vem dos finais do século XIX com o mesmo percurso. A paisagem, o tipo de veículo, os passageiros mudaram, mas o caminho do trem continua o mesmo, passando pela Levada e caminhando para Bebedouro e depois ganhando a mata, bifurcando-se pelos vales do Paraíba e do Mundaú.
Acho que estamos diante de uma bela contribuição e que será bem vista por todos os que se interessam pelas nossas coisas.
Não serão colocadas legendas pois as fotos falam diretamente sobre a vida no VLT.


















Maravilhas do trem - Maceió - 5 - Airton Rocha Omena Júnior




Saímos sem maior compromisso do que entrar no trem e chegar onde possível. Terminada a viagem, eu pedi para escreverem assim que chegassem casa, as impressões que teriam ficado; eram apreensões em bruto que posteriormente seriam trabalhadas. Pedi para que a redação fosse o mais bruto possível.
                Resolvi trazer a público o que escreveram de forma bruta; grande parte de Maceió teria espanto semelhante, ao ver-se no sacolejo de um trem.
                Quero agradecer à CBTU pela forma que nos tratou; um modo simples, digno e seguro.
Vamos ver as impressões que ficaram; alguns dizem que a primeira impressão é tudo.
Pegue o VLT ou o trem e veja qual sua impressão. Abraçamos todos os trabalhadores que se empenham, em fazer funcionar o sistema em Maceió.
Um abraço.
Sávio de Almeida



O trem de Maceió
Airton Rocha Omena Júnior

 Sempre que visito uma estrutura histórica fico imaginando quantos olhares, pensamentos, felicidades e tragédias já percorreram o lugar, os mesmos caminhos seguindo um fluxo, o movimento e os espaços que, mesmo modificados pelo tempo, carregam traços do que já foi, impressões digitais gastas.
Ao entrar no edifício da CBTU de Maceió o estado de contemplação tem início, o prédio sustenta em suas paredes anos de história e se mantem vivo pelos que continuam a percorrer hoje os mesmos caminhos forjados em madeira e metal encravados no tecido da cidade a mais de 80 anos.
Pela rota do trilho vemos o “rosto” que a cidade mostra, fachadas gastas reformuladas por letreiros modernos de estética duvidosa, outras destruídas pela ação do tempo e do vandalismo, outras ainda se erguem conservadas ao que parece conseguir manter sua estrutura e suas esquadrias em madeira, tortas, desalinhadas por não resistir a umidade e a gravidade. O tempo não perdoa nada e tudo marca a passagem dos dias.
Do Centro à Bebedouro a paisagem urbana prevalece, tesouros de arquitetura histórica se misturam as novas edificações mais funcionalistas e sem adornos, erguidas da necessidade e não para exposição. A feira do mercado fervilha; comércio, movimento e cheiros dão sentido de existir a uma área da cidade que a tempo não recebe o cuidado que merece. Passando as áreas do Mutange e Bebedouro a paisagem muda e em meio as edificações aparecem trechos verdes, grandes árvores e vegetação de margem da Lagoa surge para quem está nos vagões.
O trajeto segue no sentido Satuba com cada vez mais natureza, dá a impressão de estar lá a vida toda, todo o tempo, majestosa resistindo por sorte a ocupação desenfreada do homem sobre o território. Bebedouro, Fernão Velho, Goiabeira... se não apresentassem pontos de ocupação quase miseráveis, se constituiria numa paisagem idílica, mais uma entre as infinitas que esta Cidade oferece aos que se dispõem a perceber.
Observar os passageiros que seguem viagem é atração à parte, idosos, adolescentes, crianças e adultos seguem quase que diariamente o percurso do trem já incorporado a suas rotinas. Estudantes, trabalhadores, compradores de feira, que para o caso do VLT tem de levar seus produtos bem vedados para não impregnar o ar dos vagões fechados, ou qualquer outra modalidade de passageiro entre as infinitas variáveis do cotidiano, tornam o espaço do trem num local democrático e seguro.
Esta experiência me mostrou como Maceió é carente de um transporte de massa eficiente e que barato, o valor da passagem custa 0,50R$ (cinquenta centavos), que permita este contato efêmero, nos lembrando que a cidade é feita de um conjunto social e não de células independentes. Numa constatação mais ampla, hoje esperei registrar paisagens, relatos, rostos e histórias, mas agora vejo que minha maior constatação neste trajeto foi o sentido de humanidade, de pertencimento, de conjunto - o sentido da vida urbana.
 

Maravilhas do trem - Maceió - 4 - Emmanuelle Ribeiro Vasconcelos







Saímos sem maior compromisso do que entrar no trem e chegar onde possível. Terminada a viagem, eu pedi para escreverem assim que chegassem casa, as impressões que teriam ficado; eram apreensões em bruto que posteriormente seriam trabalhadas. Pedi para que a redação fosse o mais bruto possível.
                Resolvi trazer a público o que escreveram de forma bruta; grande parte de Maceió teria espanto semelhante, ao ver-se no sacolejo de um trem.
                Quero agradecer à CBTU pela forma que nos tratou; um modo simples, digno e seguro.
Vamos ver as impressões que ficaram; alguns dizem que a primeira impressão é tudo.
Pegue o VLT ou o trem e veja qual sua impressão. Abraçamos todos os trabalhadores que se empenham, em fazer funcionar o sistema em Maceió.
Um abraço.
Sávio de Almeida



 Sol e trilhos


Emmanuelle Ribeiro Vasconcelos



Em uma manhã ensolarada de sexta feira, acompanhada de amigos, tive a oportunidade e a felicidade de utilizar o transporte ferroviário, até então só o conhecia a distância. Eu que sou de uma geração do transporte rodoviário, do concreto, do asfalto, fiquei emocionada por esse instrumento de locomoção me proporcionar sensações impares. Cruzei com lugares nunca vistos ou vistos de um novo ângulo, como as cidades e bairros que ficam as margens das linhas férreas, onde algumas surgiram devido à instalação da ferrovia e que permanecem até os dias atuais. 

A minha ingenuidade me fez idealizar ainda uma máquina a vapor, ver a fumaça saindo do trem, mas lembrei de que faço parte do mundo contemporâneo, onde outros tipos de energias tomaram conta do planeta. 

Essa viagem nos trilhos de ferro e dormentes em madeira me fez refletir sobre essa individualidade, essa forma autônoma de levarmos a vida, cada vez mais colocamos carros nas ruas e perdemos a agradável sensação de estamos juntos de uma rotina conjunta cheia de aprendizagem.  

Ali naquele trem, existe uma pluralidade de personalidade, estilos de vida, interesses, que se unificam na história.  Quando olhamos para trás, na história dos vagões, lembramos que havia uma divisão de classes, onde as pessoas, com maior poder aquisitivo, utilizavam o vagão mais confortável, separados das demais classes. Hoje não nos deparamos com essas situações, todos utilizam o mesmo espaço.

Ao chegar à estação do Centro de Maceió, encontrei pessoas embarcando e desembarcando, crianças, jovens e idosos, um lugar limpo e acolhedor. Por mais modificações que tenham sofrido, nas estações ferroviárias, ainda se tem um charme, a pontualidade inglesa ainda é uma característica permanente das estações. 

A modernidade tomou conta desse transporte gracioso, a bilheteria agora é informatizada, as portas dos trens são automatizadas, os pontos de paradas, tudo mudou, mas há características que nem o tempo consegue revogar.

Senti no trem uma poesia em movimento, na forma com que as pessoas se comportam dentro e fora, o som incomparável e único do trem ao deslizar sobre os trilhos, traz para os lugares que possuem estações, um som endêmico, onde uma rotina de uma cidade acaba sendo cronometrada pela buzina do trem. 

Ao andar de trem, tive a sensação de que andava por trás das cidades, de forma camuflada e por lugares que só ele, conseguia alcançar.  A cada caminho percorrido, cidades e bairros iam chegando e outros iam ficando para trás, pessoas partiam, outras desciam em seus destinos, compondo um dinamismo de cenário, tanto no interior dos vagões quanto na paisagem externa. Algumas estações eram solitárias, com características de paisagens rurais, ali o silêncio era invadido pelo som do trem deslizando sobre os trilhos e a sua buzina anunciava a sua passagem, com a certeza que aquele som já faz parte daquele lugar, com hora marcada. 

Um transporte que levou tantas riquezas, que estreitou tantos caminhos, se depara com uma rota tão tímida, que alcança distâncias tão próximas e insignificantes, que transportam apenas sonhos e a singeleza de um povo carente. Acredito que a necessidade de um povo faz permanecer vivo esse transporte, quem sabe um dia, o trem, volte a ganhar  a simpatia dos nossos governantes e agracie os caminhos de ferro, pedra e madeira,  que vivem na solidão.