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sábado, 5 de março de 2016

Autor: MORAES, Luan. Tema: Memória e cotidiano. Palmeira dos Índios



 Estudante de história da UNEAL, Campus III
A foto de Dona Inocência pertence ao Núcleo de Estudos Políticos Estratégicos Filosóficos do Curso de História da UNEAL-Campus III.



HISTÓRIAS DA VOVÓ (II): o que aconteceu com a mulher mais gorda de Palmeira dos Índios?



Luan Moraes
Vimos anteriormente que as histórias sobre Dona Inocência Colatino, considerada a mulher mais gorda de Palmeira dos Índios, ganharam diferentes versões; "contos" e os diversos mexericos que popularizaram essa personagem ainda fazem parte do cotidiano de algumas pessoas da cidade, especialmente os mais velhos. Acredite, ou não, as histórias eram exageradas! Sim. De acordo com o comerciante Patrício Colatino Ferreira, filho caçula de Dona Inocência, as pessoas:



Exageraram demais, principalmente na quantidade de comida! Mas o pessoal aqui, na época, quando nós viemos pra cá tinha o prefeito, que era Jota Duarte, seu Eraldo, Dom Otávio Aguiar que era o bispo da época aqui que ajudou muito e a Sociedade de São Vicente de Paulo que cedeu aquela casa lá pra ela. Ela tinha problemas de saúde, aí levaram na época doutor Remi e o dentista que eu não lembro quem era. A gente tinha que trazer ela pra cá, fazer o procedimento, ela tinha diabetes uma série de coisas. Ela tinha pressão alta e exigiu que trouxesse pra cá pois aqui tinha a melhor equipe médica da época. (Relato do senhor Patrício Colatino Ferreira)



Como podemos ver o senhor Patrício Colatino Ferreira, acompanhou de perto todo o drama de sua mãe. Ela tinha problemas de saúde que a deixaram com excesso de peso (disfunção da glândula tireóidea) e além disso, qualquer ferimento, por menor que fosse, deveria ser tratado por médicos, pois o diabetes fazia com que ficassem inflamados rapidamente e tornava o tratamento mais complicado.

Outro fato curioso e que permeou a fala do senhor Patrício Colatino, foi sobre seu nascimento. Por conta do excesso de peso sua mãe não sabia que estava grávida, isso até sentir as contrações do parto. Sobre esse curioso caso, envolvendo nossa personagem o bem humorado comerciante explicou que



[...] pelos sérios problemas de saúde e como não vinha a menstruação, ela achava que por causa da doença. Aí quando apertou as dores! Corre! Chama uma parteira! Nasceu essa autarquia que vos fala! E ainda herdei o enxoval e roupas do filho da vizinha. Herdei a roupa todinha, o enxoval. Não tinham se prevenido de nada, a sorte foi que a vizinha tinha perdido o bebê.



O filho de Dona Inocência é um comerciante local, dono de uma farmácia localizada em uma das principais avenidas de Palmeira dos Índios. Seus irmãos, assim nos conta, também construíram suas vidas por aqui, a exceção do mais velho já falecido. Os demais são donos de estabelecimentos comerciais e conservaram a casa de dona inocência com todos os seus pertences.

Ao ser questionado sobre o que achava das histórias mirabolantes construídas e popularizadas sobre sua mãe o comerciante achou graça e respondeu que muitas pessoas, sem saber quem ele realmente era, vinham lhe falar de sua mãe. Chegou a ouvir que a doença de sua mãe se tratava de fome canina (acho que isso é um atributo dos cachorros) e que comia quilos e mais quilos de carne, acompanhados, é claro, de litros e mais litros de leite. Ele enfatiza que “[...] recentemente, duas pessoas vieram me falar. Eu disse ohhh vocês estão errado. Vocês não conhecem, vocês não sabem a realidade. E vocês sabem quem são os filhos dela? Pois eu sou um deles!”



Patrício Colatino
Ainda sobre a situação de Dona Inocência, seu filho nos revelou que ela chegou a pesar cerca de 240 (duzentos e quarenta) quilos. Porém quando faleceu, havia emagrecido e foi sepultada com 120 (cento e vinte) quilos. Disse que seu enterro foi simples, porém a população da cidade estava em peso para aquilo que era considerado o maior acontecimento da época. Um ano depois, o senhor Joaquim, esposo de Dona Inocência também faleceu.

Após todos esses acontecimentos, os filhos não se preocuparam em contradizer os jornais e revistas da época, que insistiam em aumentar os fatos como forma de atrair o público pela curiosidade. O Senhor Patrício finalizou sua fala dizendo que sua mãe não era apenas o conhecido personagem de Palmeira dos Índios e que conheciam o seu lado mais importante: o humano.  Dona Inocência gostava de costurar em sua máquina de manivela, tinha um gosto especial por flores. Era religiosa e vivia com rosário ou terço em suas mãos. Sua casa está localizada na Rua Major Azarias, número 142 em Palmeira dos Índios – Alagoas. 

Para finalizar, podemos concluir que a personagem Dona Inocência Colatino fora construída e popularizada na região, tanto pelos relatos e histórias passados de boca em boca, quanto pela mídia da época. É importante dizer também que a Palmeira dos Índios que conhecemos lembra muito pouco a de outrora, onde as histórias e contos eram levados à sério, como se fizessem parte da nossa realidade. E por que não acreditar?

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