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terça-feira, 29 de março de 2016

RIO SÃO FRANCISCO. SEXTA FEIRA DA PAIXÃO NO ESCURIAL

repos dans Escurial
 descansando en Escurial
 riposo in Escurial
resting in Escurial
Nós estávamos andando sem parar e a luz do dia estaria findando e, sem ela, acabava a segurança da navegação. Queríamos dormir em Traipú mas não seria possível; era preferível parar, nada do leito iríamos ver, mesmo com a luz ligada; melhor parar no Escurial, descer, jantar e irmos dormir com o barco longe da margem, por motivo de segurança. Era Sexta-Feira da Paixão, um dia universal de luto; a procissão na rua, um pequeno bar aberto, tinha macaxeira, pão e o indispensável milho.

A parede do bar uma espécie de vitrine de embarcações, as miniaturas expostas de canoas de tolda,  as antigas carretas do rio e nas quais muitas vezes andei com meu pai. Além do mais, o retrato do casal na parede servia como atestado de família. Erta o único lugar aberto mas um bom lugar.




E então nasceu a fome que se debulhou na mesa farta, daquele dia de extremo pesar cristão, embora a morte fosse a renovação, o rompimento
 












Enquanto isto, o barco continuava à espera de quem fosse dormir e as gentes da viagem estavam cansadas. Mas tinham de matar a fome, esta  abençoada ternura e às vezes volúpia pela comida.


E lá vinha o povo voltando, entrando na água, molhando os pés com a barriga cheia, coisa condenada por quem tem juízo pois pode chamar um ramo de estupor.








Agora seria o tempo de dormir, a cara cansada de sol; era se arranchar na espreguiçadeira e esperar o sol voltar, para o barco continuar a subir, sendo meio arriscado barqueiro de baixo andar aqui por cima para além de Traipu.
Seria possível sonhar? Não havia motivo pois a própria viagem já era um sonho




jour naissant
giorno nascente
amanecer del día
dawning day 

O rio estava ainda meio escondido, mas já estávamos pensando na jornada: subiríamos, desceríamos?

Era tempo de chuva forte e era o que que queria: pegar uma tempestade dentro do rio, sentir o receio da virada, o ronco do trovão, a luz relampejando. Eu queria aquilo, eu fui para viver isto.

A Vitória estava ali, esperando passageiro, quem sabe travessia.
 

Do outro lado, estava a Linda Rosa. Quem teria inspirado o dono da canoa? O povo do rio já estava peixe na proximidade das águas. Tanto a sombrinha quanto a beleza e elegância da mocinha chamavam atenção dos peixes que passavam e muitos decidiram ficar no Escurial. Já era dia de aleluia, a farinha na cuia.



Era a hora de aproveitar e tibungar no rio que rimava com frio, mas banho de rio na chuva caindo sempre é de primeira, da pontinha da orelha como diziam os antigos.



 

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