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domingo, 3 de abril de 2016

Cícero Albuquerque. SALVE, SÁVIO LUIZ DE ALMEIDA: CAPITÃO DE TODAS AS MATAS!



 


SALVE, 


SÁVIO LUIZ DE ALMEIDA: CAPITÃO DE TODAS AS MATAS!
                  Professor Cícero Albuquerque


Salve, Luiz Sávio de Almeida, capitão de todas as matas! Capitão das matas do Litoral, das matas da Mata, das matas acatingadas do Agreste e do Sertão. Capitão das matas dos índios, dos negros, dos pobres e brancos. Salve, capitão dos aquilombados, dos cabanos, dos sem terra. Salve, capitão dos povos rebeldes e dos portadores de esperança.
A mata é lugar de resistência, lugar de acoitamento, de trama contra o poder e contra a opressão. A mata é espaço de vida, de organização e cenário de luta política dos pobres e dos oprimidos. Na mata se esconde e se revela a sociedade alternativa, contraponto da ordem escravocrata, monocultora, latifundista e patriarcal cujo modelo se arrogou único e absoluto entre nós.
Na mata, capitão Sávio, lutas ombro a ombro com Zumbi dos Palmares, és companheiro de Camoanga, de Vicente de Paula, de Décio Freitas, de Clóvis Moura, de Edison Carneiro, de Manuel Correia de Andrade, de Dirceu Lindoso, de Maninha Xucuru, de Carlos Lima, de Débora Nunes e de tantos outros companheiros e companheiras das matas alagoanas, muitos tão anônimos que não terão os nomes registrados na história, mas que cotidianamente enfrentam com valentia incomensurável o poder e a violência nas terras esquadrinhadas de Alagoas.
Tua arma é a palavra, a escrita. Uma escrita que comporta e que faz ecoar a voz dos excluídos. Uma escrita a favor dos humilhados e dos ofendidos. Uma escrita que não celebra o poder, uma escrita que não busca heróis e que não reforça estamentos.  Uma escrita que denuncia a justiça iníqua e as tramas urdidas contra o povo pelo poder branco senhorial. Uma escrita que registra a fala dos oprimidos sem lhe tomar a voz, que promove o protagonismo dos índios, dos negros e dos pobres, mas que, sem titubeio, parte na defesa destes quando as classes que dominam e seus interpretes tentam desqualificar e criminalizar as lideranças populares e os movimentos sociais. 
Uma escrita que narra e denuncia as injustiças ocorridas em Alagoas, mas que, acima de tudo, registra e ressalta as lutas e a capacidade de resistir dos índios, dos negros e dos pobres nas terras alagoanas. É o capitão Sávio quem nos diz, por exemplo, que o

O fim dos Palmares e mesmo a aproximação do açúcar às matas não inviabilizaram que elas se constituíssem em território alternativo; e nem que se construíssem sociedades alternativas. Os marginalizados continuaram a demora na Mata Atlântica, uma área fundamental para a resistência. Era um local diferenciado, dando-se o confronto permanente com a sociedade branca que envolvia o alternativo. Desse modo, o espaço não seria um mero ponto de convergência de fugas. (...) A sociedade alternativa demandava o ganho de um espaço para a sobrevivência, ditada pela condição de resistência que daria o mote das ações políticas de confronto com o senhorio (ALMEIDA, 2008, p.54).


O Capitão Luiz Sávio de Almeida nos diz também que a Cabanada foi a luta dos cabanos, sem contaminação, guerra de pobres que altivamente buscavam um lugar próprio no mundo, bem como estabelece os nexos de continuidade da luta cabana com o Quilombo dos Palmares e afirma que o Quilombo foi a mais importante sociedade alternativa já experenciada em terras brasileiras. Por entender como poucos o “cadinho de injustiças”, mas, principalmente os movimentos duradouros da luta dos oprimidos nas terras de Alagoas, o capitão Sávio identifica com grande propriedade que os conflitos e as ocupações de terras realizadas no Litoral Norte alagoano nas últimas décadas por trabalhadores rurais sem terra reproduzem o espaço de luta dos cabanos no século XIX e representam a cena presente de luta dos oprimidos.
O Capitão Sávio escreve a história no chão, é um estudioso das insurreições populares em suas variadas expressões, investigador das causas dos pobres, das lutas por terra e por liberdade. Sua inspiração vem das matas, das lutas de todos que fizeram trilhas, que tomaram de assalto, que impuseram medo aos senhores e suas parentelas, vem de todos que tombaram e de todos que triunfaram.
Mas o Capitão Sávio também inventaria a luta dos operários e dos comunistas tecidas nas fábricas de pano bruto. São muitos e variados os temas que despertam a curiosidade do Capitão Sávio, pesquisa e publica sobre o carnaval, sobre o futebol, registra tristezas e alegrias dos de baixo, olha o mundo do lugar do índio, do negro, do pobre, do lugar dos que resistem. No rebusco de suas memórias mais afetivas tem uma casa de farinha, com maestria mistura realidade e fantasia; sem ardor, sem rancor, sem estreitezas e com grande apetite, produz, projeta, alia seu corpo e seus sonhos aos de outros insurgentes, conspira.
Salve, Luiz Sávio de Almeida: Capitão de todas as matas!

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