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domingo, 3 de abril de 2016

França Júnior. LUÍS SÁVIO DE ALMEIDA PENSADOR É TANTO OURIÇO QUANTO RAPOSA




LUÍS SÁVIO DE ALMEIDA PENSADOR
É TANTO OURIÇO QUANTO RAPOSA


França Júnior é advogado criminalista, professor de Direito Penal, mestrando em Direito pela Universidade de Coimbra, especialista em Psicologia Jurídica e em Ciências Criminais, pesquisador vinculado ao CNPQ, membro da Coordenação de Acompanhamento do Sistema Carcerário do CFOAB, coordenador adjunto do laboratório do IBCCRIM em Alagoas.
Contato: francajuniordireito@gmail.com

Luís Sávio de Almeida sempre nos foi um nome familiar no ambiente acadêmico. Professores, alunos e funcionários das principais instituições de ensino universitário por onde eu transito e com os quais me relaciono já tinham ou conhecido ou ouvido falar do professor Sávio. Sua mais recente empreitada, a de reunir os mais variados segmentos da sociedade alagoana para discutir temas de relevo, fez-nos aproximar. O projeto “roda de conversa”, portanto, inaugurado com o tema “a rua e a democracia”, cristalizava a ideia de que era preciso discutir com profundidade a relação existente entre Direito, sociedade e violência no contexto do Estado de Alagoas, produzindo, como resultado, literatura de qualidade a respeito.
Egresso do curso de Direito, de onde inclusive foi professor, Sávio, sempre preocupado com as questões sociais, políticas e econômicas mais prementes, ao longo de sua vida acadêmica, foi-se afastando da dogmática jurídica, à época ainda muito arraigada ao engessante positivismo, para visitar com mais intensidade outras áreas das ciências sociais, a começar pela própria sociologia e, sobretudo, pela história, ramo através do qual fez seu doutoramento. Dessa forma, apesar de compreender a importância instrumental do Direito na busca por uma sociedade verdadeiramente justa, Luís Sávio de Almeida, numa atitude nada cômoda, “atreveu-se” a explorar horizontes ainda mais vastos e complexos na busca por respostas.
Nesse percurso, as questões relacionadas aos problemas sociais enfrentados pelas comunidades quilombolas e indígenas, as relações de poder no ambiente laboral, especialmente na área rural, bem como o resgate da história alagoana e suas démarches políticas foram o centro de gravidade de sua atuação. Mas o conjunto da obra, na nossa perspectiva, aponta para, dentre outras coisas, a construção de uma sociedade de certa forma ilegítima, cuja construção está permeada pelos interesses das classes mais abastadas, muito embora, alerte-se, não se perceba a simplificação maniqueísta com a qual muitos teóricos se abraçam na lida com esse tema. Esse é justamente o seu diferencial!
Todo esse espaço já consolidado na comunidade acadêmica, não só a alagoana, tem generosamente servido de suporte para uma “nova safra”, na qual me incluo, interessada em articular toda essa experiência acumulada, com as atuais necessidades da modernidade e as novas configurações das áreas do conhecimento. Profissionais como Sérgio Coutinho, Hugo Leonardo e Bruno Leitão, professores do curso de Direito, a priori arregimentados, dedicaram-se a produzir artigos científicos que acabaram por lastrear o (primeiro de uma série) livro “Direito, sociedade e violência – reflexões sobre Alagoas”, prefaciado por Alessanra Marchioni, e que também conta com a participação das professoras Karla Padilha e Elaine Pimentel.
Assim, a pavimentação de um caminho de convergência entre as mais variadas áreas do conhecimento, sem perder em profundidade, nomeadamente a ênfase entre história, sociologia e Direito, é uma marca na vida de nosso professor Luís Sávio de Almeida, representando muito bem a mesma capacidade de articulação que Celso Lafer, em seu “A reconstrução dos direitos humanos”, atribuiu a Hannah Arendt, inspirado pelos versos do filósofo britânico Sir Isaiah Berlin. Diz-nos Lafer:
"MUITAS COISAS sabe a raposa; mas o ouriço uma grande". A partir deste verso do poeta grego Arquíloco, Isaiah Berlin propôs sua conhecida classificação de escritores e pensadores. Os ouriços seriam aqueles que tudo referem a uma visão unitária e coerente, a qual opera como um projeto organizador fundamental de tudo o que pensam. Tendem, portanto, a uma perspectiva centrípeta e monista da realidade. As raposas seriam aqueles que se interessam por coisas várias, perseguem múltiplos fins e objetivos, cuja interconexão, ademais, não é nem óbvia nem explícita. A tendência que aí se manifesta é centrífuga e pluralista.
Por fim, digamos nós, parafraseando Celso Lafer, que Luís Sávio de Almeida pensador é tanto ouriço quanto raposa. Vida longa ao mestre!

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