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domingo, 27 de janeiro de 2019

Crônica diária (27/01/2019). O comício, o papoco e o custo da fome



O comício, o papoco e o custo da fome

Luiz Sávio de Almeida

Quem se meteu em campanha política, sabe que é um treco cansativo  e de muita chateação. Dilton Simões foi candidato a Prefeito e como éramos amigos, chamou e fui para ajudar. Dilton sempre foi uma pessoa honesta e para mim isto era suficiente: honestidade e capacidade. Acho que o adversário principal era o Guilherme Palmeira, não lembro mais. Tudo da campanha funcionava em uma casa que acho tinha a ver com o Jurandir Boia e ficava ali na Fernandes Lima. A seu lado, um restaurante chamado Seandro, onde o Dilton, sem dinheiro, dava nosso jantar em galeto. Nunca jantei tanto galeto na minha vida.
Quando ele me convidou,  eu disse que tinha um preço e que jamais iria trabalhar de graça. Depois dele regatear, combinamos o valor a ser pago a mim: quatro carapebas. Faz é tempo e nunca comi uma carapeba; deve um cardume imenso. Brincadeirinha com o Dilton, pois por várias vezes me chamou para comer as carapebas e eu não fui.
Pois, pelas quatro carapebas enfrentei a parada junto com o primo Luiz Gonzaga, Márcio Pinto e mais alguns de quem não me recordo agora. Era um trabalho intenso e sem dinheiro, mas valia a pena. Para mim, pessoalmente, foi notável a experiência com o cassimicoco na campanha.  Cassimicoco ou mamulengo... Devo confessar que sou apaixonado e lamento ver que vai sumindo.  Pois ele juntava gente e naquele tempo, traficante não mandava.  Lembro-me de que o Zé Costa apoiava a campanha. Apois bem, etc. e tal!
Campanha vai acumulando problemas de toda a ordem, chateação por cima de chateação.  Havia a esperança de ganhar e tome galeto que eu já não aguentava mais. Sustentar uma campanha não é brinquedo e o custo galeto não é nada no orçamento. Jamais foi dado um tostão a quem quer que seja e digo que a nossa briga foi honesta: nada de dinheiro ao eleitor (o que seria crime) e nem a gente que apoiava. Como se costumava dizer, era uma campanha franciscana,  mas aguerrida e o Dilton era um lutador. E fomos andando. Lembrei do Jurandir Boia, grande companheiro nesta jornada.
O Seandro acabou;  era simples,  mas decente e também não era todo dia que a gente comia galeto. Não era uma campanha de raposa,  nem política e nem de frango assado.  Um dia, lá pelo fim da campanha apareceram  uns assuntos para resolver. Dilton me chamou e fomos ao TER. Na entrada eu disse a ele: Cara, o candidato é você. Eu vou me deitar ali naquele banco da praça e dormir. Veja se não me esquece. Le riu e entrou e eu atravessei a rua e no primeiro banco mais ou menos limpo que encontrei, deitei e fui garrar no sono, como dizia a musiquinha.
Assim que deitei, vi uma senhora vindo em minha direção; a roupa era pobre e o andar era cansado. Pendurada no braço,  estava uma bolsa rota, daquelas que antigamente se levava para o mercado. Era de palha. Eu fiquei com pena dela, lembrando-me das milhares que existiam em situação pior. Ela sentou na outra ponta do banco e por sinal de respeito, levantei-me. Ficamos calados: ela com seus problemas e eu com o meu sono. Foi quando algo fantástico aconteceu.
Lá pelos lados da praia estava havendo um comício e era pou-pou e os foguetes não paravam. Ela olhou para mim e defendeu uma das mais brilhantes teses  que vi: Meu filho, com um papoco desses eu comia uma semana!. Olhei para ela, sorri e  entendi.
Posso esquecer esta senhora?

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