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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Músicas que minha mãe cantava. Maringá. Joubert de Carvalho

          Penedo poderia estar torando de calor ou sob ameaça de cheia, mas a casa da Rua da Penha com sua cozinha e varanda continuava  com o cheiro da casca de laranja queimando e o vento do abano que fazia a chama crescer, e logo mais se teria pão, ovo e minha irmã correndo para o Colégio Imaculada Conceição. Cinco ou seis horas da manhã, independente de qualquer coisa, salvo o concurso de uma doença, eu estava de pé, na rotina de tirar o pijama, vestir a roupa de passar o dia, preparar as matérias e depois cair no mundo para brincar.
           O quintal era grande, convidativo para armar uma boiada feita de bucha e de boi de barro comprado na feira do barro, lá embaixo, em Penedo, na beira do Rio.  Depois, sol quente, eu voltava para a varanda. Antes do almoço, tinha de tomar banho, frio feito os seiscentos danados diabos. Bem em frente à mesa de jantar na varanda, estava uma saleta com os livros do meu pai e a máquina de costura e os guardados da mamãe. A estante era imensa e todos da casa tinha uma parte dela e eu também, onde guardava minhas Edições Maravilhosas e o mais das minhas posses.
            Minha irmã mais velha tinha a mania de copiar letra de música; era caderno por cima de caderno  e ela ainda os tem. Ela sentava com pose de sacerdotisa e começa a escrever com sua caneta tinteiro Schefers que meu pai havia dado a ela. Nós não tínhamos radiola e, fora o velho rádio Zenith, ondas largas médias e curtas, a música vinha da goela, com os chamados dó de peito, o cavernoso e outros tons. Aí minha irmã começava a cantar e ligava a goela de mamãe, que passava a tocar a mesma música; vez e quando, Iolanda, a vizinha,  entrava na mesma estação.
            No meio delas, estava a letra de uma música que jamais esqueci,  talvez por contar uma história, ser uma espécie de filme cantado, talvez pelo estranho nome da artista, talvez por bater nos meus bemóis particulares.  Por conta desta música,  fui bater, anos depois, no sertão da Paraíba e na cidade de Pombal e fui bater no Paraná para conhecer Maringá, que apareceu gravada por Gaston Formenti em 1932 e composta pelo Joubert de Carvalho que nos deu Taí.
                A seca partiu o amor e Maringá, a cabocla retirante tornou-se cidade no Paraná.

         


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