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domingo, 6 de maio de 2018

Por onde andam os cotidianos?

Um dos pontos chaves da disciplina Formação do Espaço Alagoano no Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado é a procura do outro, o diálogo o mais aberto possível com o tempo e sua circunstância. Esta é a segunda caminhada de Beatriz pelo mundo e desta vez preferiu passar por bem perto de si mesma, como se estivesse a fazer uma viagem em torno de si. O que ela viu? O que desejou  transmitir?

 Is it possible to travel in one's daily life?
És posible viajar en el propio cotidiano? È possibile viaggiare nella propria vita quotidiana?


Uma viagem para não muito longe. Beatriz Palmeira

‘Do lado de dentro. Fechado. O que você é capaz de ver?’ 
Todas as fotografias dessa série, que serão apresentadas de forma encadeada, foram tiradas de dentro da minha casa e explicarei o porquê. Comecei a pensar sobre o que seria o cotidiano. Cotidiano de quem? Da cidade? Das pessoas? O meu? Aí percebi, é necessário partir sempre de um lugar. Quem relata sobre o cotidiano precisa abrir-se para contempla-lo. Se estou fechada, como esta porta, não percebo muito além do que meus olhos conseguem capturar. Todas as realidades passam, porque sim, elas estão em constante movimento, não param, mas eu não as vejo.
un viaggio non troppo lontano   un voyage pas trop loin
un viaje para no muy lejos          a trip to not too far

  Ao abrir-se, está lá: o lado de fora’
 

Começo falando sobre o meu cotidiano e do movimento que tem feito parte dele: de me abrir ao outro, que passa do lado de fora. Percebo, quando me fecho, olho somente para as minhas coisas. Já quando me abro, aos poucos, o outro toma forma. Por vezes é possível enxergar até seus desafios e dores. 
how will the city see them?   como la ciudad los verá?
E aí entendo, sou cercada por múltiplos cotidianos singulares que representam tantos. Esta é minha vó em uma situação passageira, mas que faz com que eu me  me coloque no lugar de tantos outros que estão sentados permanentemente em uma realidade semelhante. Como será o cotidiano desses tantos? Como será que a cidade os trata?

 ‘Exercício contínuo’

Abrir-se ao outro é um exercício contínuo. Tem que fazer parte do cotidiano. Do meu, de todos, da cidade. Às vezes, o outro passa não somente do lado de fora. Ele entra. Mas não basta somente deixa-lo entrar. O treino no olhar continua.  Agora é preciso focar no outro, para observar seus detalhes.  Ele traz consigo sua história e seu cotidiano, não poderia ser diferente. E mais uma vez, fala por tantos outros. Essa é Cida, que trabalha conosco aqui em casa. Mulher forte, trabalhadora, dona de casa, mãe, esposa, com suas lutas e sempre com um sorriso no rosto.  O cotidiano do outro pode servir de inspiração. Basta parar para contempla-lo.

As diferentes escalas. Múltiplos cotidianos’
O olhar sobre o cotidiano, como já dito, é sempre um exercício. Começa-se observando uma realidade por vez, buscando entender cada uma, sua singularidade. No primeiro momento, olha-se através de uma única porta. Ela por si só já enquadra centenas de realidades, basta o esforço para enxergar. Mas, e se mudarmos o sentido do olhar e nos voltarmos à uma janela? O que seria possível observar nessa outra escala do que seria o fora? Quantas realidades são possíveis de coexistir numa só imagem? Será que os múltiplos cotidianos que acontecem de forma simultânea, fluem paralelamente uns dos outros? Ou será que eles se interceptam em algum momento? Viver em sociedade não seria exatamente o acontecimento dessas interseções? E se assim o é, como é possível permanecer dentro do quarto, olhando por uma janela, sem se movimentar, mesmo que lentamente, como o senhor que se desloca nas fotos?



Depois de abrir-se. Perceber. Movimentar-se’
E a minha resposta é: não é possível. Não deveria ser! Permanecer do lado de dentro, olhando através de enquadramentos, ainda revela muito pouco do que de fato é o cotidiano de cada um e do todo que é a cidade.  É preciso estar sempre num movimento de saída, de encontro ao outro, ao seu cotidiano que acontece. Esse ato precisa fazer parte do cotidiano de cada um que gostaria de contemplar cotidianos menos miseráveis e injustos. Mas alerta: não é coisa fácil. É um exercício exigente, de perceber-se e perceber seu entorno, de entender que com o despertar, vem a responsabilidade de movimentar-se, todos os dias, a todo instante. Será que se todos se colocassem nesse movimento, não se formaria uma grande dança bonita e em sincronia, de uma sociedade justa, unida, igualitária e feliz? Bom, talvez seja um discurso utópico demais. Mas é preciso começar. E lá vou eu.


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