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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Amaro Hélio Leite da Silva. Grupo de pesquisa índios de Alagoas: cotidiano e etnohistória: anos produzindo e resistindo com os índios



Texto  publicado em Contexto de 23 de outubro de 2011 em Tribuna Independente. Para este blog, estamos utilizando material digitalizado e com gerenciamento das imagens realizado por Kellyson Ferreira, com a coordenação do Professor Antônio Daniel Marinho.




Grupo de  pesquisa índios de Alagoas: cotidiano e  etnohistória: anos produzindo e resistindo com os índios


Amaro Héíio Leite òa SiIva




O grupo índios de Alagoas: cotidiano e etnohistória surgiu no contexto de renovação dos estudos sobre os povos indígenas em Alagoas. Sob a coordenação do professor Luiz Sávio de Almeida, o grupo construiu uma trajetória consequente para aqueles que estudam e fazem pesquisa sobre a realidade indígena no Nordeste, sobretudo em nosso Estado. Essa trajetória se traduz no compromisso político com as causas dos índios e na parceria com pesquisadores e instituições acadêmicas diversas, tanto em nível local como nacional e internacional.

A questão indígena se renova no contexto da redemocratização, anos oitenta. Os povos indígenas assumem visibilidade e isso fortaleceu a luta pela terra e pelo reconhecimento étnico. Esse contexto vem reforçar a resistência desses povos. Em consequência apareceu a necessidade da academia e do movimento indígena rediscutirem o processo, o que levou a se construir uma nova escrita da história indígena, inclusive, a alagoana. Clóvis Antunes, Vera Calheiros e Dirceu Lindoso aparecem como pioneiros na construção desse novo olhar. O primeiro destaca a importância da ação política dos índios, enquanto Vera Calheiros abre as portas para um novo encontro antropológico, enquanto Dirceu Lindoso tece uma etnografia do processo das matas.
Nos anos noventa, as pesquisas desenvolvidas pelos professores Sílvia Martins e Luiz Sávio de Almeida deram continuidade à retomada da questão indígena pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). É neste momento que surge o grupo de pesquisa: índios de Alagoas: cotidiano e etnohistória.
O grupo nasceu dentro a consolidação de grupos de pesquisa pelo CNPQ e teve o propósito de contribuir com o movimento indígena e, como consequência, procurou articular a Universidade à realidade vivenciada pelos índios através de inúmeras formas de atividade que visavam maior integração do universo acadêmico com o indígena. Para tanto, aconteceram projetos de pesquisa, grupos de estudos, seminários, debates e encontros que marcaram a trajetória acadêmica de
muitos alunos de história e de ciências sociais, alguns encaminhados para a pós-graduação dentro deste campo de trabalho..
Nesses tantos anos de história do grupo índios de Alagoas, foram inúmeros estudos e pesquisas realizadas em quase todas as comunidades indígenas de Alagoas, além de seminários e cursos sobre os fundamentos de antropologia, sociologia, história e realidade alagoana. Como resultados dessas atividades tivemos, inclusive por iniciativa do Professor Sávio de Almeida, a criação da disciplina “índios de Alagoas” no âmbito do Departamento de Ciências Sociais da UFAL, bem como a criação da Coleção índios do Nordeste: temas e problemas, que já chegou a 13 livros publicados - contendo artigos, dissertações, teses e memórias -, inclusive com trabalhos produzidos pelos próprios índios. Tanto a diversidade dos temas quanto a formação e atuação desses autores fizeram-na um espaço democrático. É, também, um conjunto de trabalhos que não busca somente a excelência acadêmica, preocupando-se, fundamentalmente, com a luta dos povos indígenas.
Este volume traz autores que dão continuidade a este propósito.

Coleção índios do Nordeste: refletindo com os índios

A Coleção índios do Nordeste se tornou o principal meio de publicação das pesquisas realizadas sobre os índios em Alagoas, além de ser um canal aberto para publicação de trabalhos produzidos no Nordeste e em outras regiões, inclusive fora do país. Já são mais de doze anos produzindo sistematicamente sobre os índios nordestinos, em especial, os alagoanos. Durante esse período, esta coletânea não se constituiu apenas um espaço de reflexão, ela se transformou num instrumento político dos povos indígenas de Alagoas. A partir do 5o volume, a Coleção se especializou em Alagoas. Já são quatro livros da coleção que tratam especificamente sobre os nossos índios.

O 5o volume “Vai-te pra onde não canta galo, nem boi urra...” Diagnóstico, Tratamento e Cura entre os Ka- riri-Xiocó é de autoria de Cristiano Barros Marinho da Silva. Nele, o autor fala da noção de doença e cura para os Kariri-Xocó, povo indígena
localizado no baixo São Francisco.
O 6o volume Xucuru-Kariri: Saúde na fazenda Canto é uma coletânea organizada pelos professores Luiz Sávio de Almeida, Rosana Vilela e Francisco Passos. São trabalhos produzidos por professores e estudantes de medicina, odontologia, nutrição da UFAL, história, ciências sociais sobre a saúde do povo Xucuru- Kariri de Palmeira dos índios, Fazenda Canto.. Esse volume é fruto da parceria entre os grupos índios de Alagoas: cotidiano e etno-história e Grupo de Estudos de Saúde em População de Baixa Renda.
A Serra dos Perigosos: guerrilha e índio no sertão de Alagoas (7o volume) é resultado da dissertação de sociologia de Amaro Hélio Leite da Silva, orientando do Professor Luiz Sávio de Almeida. Tomando como base a relação classe-etnia, o autor mostra como foi possível o encontro entre o grupo revolucionário da Ação Popular (AP) e os índios Geri- pankó, do alto Sertão de Alagoas, no contexto ditatorial dos anos 60.
Os Filhos de Jurema na Floresta dos Espíritos (9o volume) de Clarice Novaes da Mota é um trabalho sobre os índios do baixo São Francisco e trata-se de pesquisa pioneira sobre o uso da jurema entre os índios Xocó de Sergipe e Kariri-Xocó de Alagoas. O texto chama atenção para as práticas médicas utilizadas por essas comunidades e a condição de atividades xamânicas..
Os demais volumes da Coleção são partilhados por inúmeros autores, inclusive do estrangeiro. Temas como etnia, política, história, cotidiano, terra e poder reafirmam o compromisso da coleção com a in- dissociabilidade entre teoria e política. Há uma diversidade de autores e instituições que contribuíram para a formação da Coleção que jamais deixou de considerar aquilo que para nós continua sendo o maior problema indígena: a luta pela terra
e pela afirmação étnica. Entendemos que se não levarmos em conta estes elementos, qualquer compreensão sobre a história dos índios de Alagoas fica incompleta.
Os novos lançamentos da Coleção
índios de Alagoas: memória, educação, sociedade (volume 12)
Os trabalhos desta coletânea nasceram da Mesa Redonda índios de Alagoas, ocorrida na IV Bienal Internacional do Livro de Alagoas, organizada pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (EDU- FAL), com exceção dos textos dos professores José Ivanilson da Silva Barbalho e Rogério Rodrigues dos Santos. Desses estudos, dois deles se dedicam aos povos Xucuru-Kariri, é o caso dos textos de Gilberto Ferreira e Rogério Rodrigues sobre “as lembranças de Antonio Selestino,
Pajé Xucuru-Kariri”; e de Aldemir Barros sobre “o cotidiano dos índios aldeados”. Um deles, o de Jorge Vieira e João Daniel Batista Maia, trabalha o papel dos meios de comunicação impressa sobre a diversidade cultural do povo indígena Koiupanká. O estudo de José Ivamilson Silva Barbalho passa, fundamentalmente, pela pesquisa sobre a educação indígena, destacando-se o lugar da escola para os povos indígenas do Brasil. Já o estudo de Ivan Farias Soares, trata da etnohistória e etnicidade dos índios Geripankó.
Doenças, dramas e narrativas entre os índios Jeripankó no sertão de Alagoas (volume 13)
Ivan Soares Farias é o responsável pelo 13° livro da Coleção índios do Nordeste. O título é Doenças, dramas e narrativas entre os índios Geripankó no sertão de Alagoas e, evidentemente, trata da etnia e da saúde daquele grupo indígena.

Os parceiros de trabalho e reflexão

Tanto a história do Grupo índios de Alagoas quanto da Coleção índios do nordeste foram construídas, em parte, através de parcerias e apoios imprescindíveis. Foram muitos os pesquisadores e instituições que contribuíram para o fortalecimento do nosso grupo.
Na Universidade Federal de Alagoas podemos destacar a EDU- FAL, o Grupo de Estudos de Saúde em população Marginal e Baixa Renda,. A EDUFAL tem sido fundamental para a publicação de textos e fortalecimento da causa indígena em nosso Estado. Um grande número de universidades brasileiras colaboraram com a nossa Coleção, bem como instituições internacionais de países como Nova Zelândia, Estados Unidos, Austrália, Holanda, Espanha, Peru.


No Instituto Federal de Alagoas (IFAL) destacamos as nossas relações com o Grupo de Estudo Memória e Etnohistória de Alagoas (GEMTEH). E importante destacar também a parceria construída com o Jornal Tribuna Independente, CONTEXTO, que publicará vários trabalhos sobre os índios de Alagoas. E, finalmente, o grupo Agenda Alagoas, formado por diversos grupos de pesquisa e organizações da sociedade civil, que desde o final de 2009 tem realizado diversas atividades sobre a realidade alagoana, especialmente sobre as comunidades étnicas e periféricas do nosso Estado.
Sem dúvida, não é fácil manter uma produção sistemática dînante tantos anos. Apesar das dificuldades de um Estado carente em ensino e pesquisa, o grupo índios de Alagoas persiste produzindo e contribuindo com as causas dos povos indígenas. As parcerias e apoios foram importantes para a construção dessa trajetória.

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