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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Luiz Sávio de Almeida. Um livro e os índios

      
 
Texto  publicado em Contexto de 23 de outubro de 2011 em Tribuna Independente. Para este blog, estamos utilizando material digitalizado e com gerenciamento das imagens realizado por Kellyson Ferreira, com a coordenação do Professor Antônio Daniel Marinho.
 
Um livro e os índios

Luiz Sávio de Almeida

A trajetória de vida do autor revela os índios no centro de suas preocupações. Ele tem formação antropológica e jurídica desenvolvida em razão de seu envolvimento com a questão indígena de nosso país. Ele não escreve por escrever, o faz pelo comprometimento pessoal com a causa indígena surgido desde os tempos de estudante de ciências sociais na Universidade Federal Fluminense, após ter deixado o curso de engenharia civil e escolhido trilhar os caminhos certamente reveladores da antropologia.
Após terminar o curso de ciências sociais, foi estudar cinema visando a produção de filmes etnográficos. Deixou o curso para assumir prematuramente a posição de antropólogo da área indígena Yanomami pela Fundação Nacional de Saúde no estado de Roraima, quando, possivelmente, este livro começa a ser esboçado. Tomado pela primeira experiência frente à dura realidade de vida e sobrevivência dos índios no Brasil, resolve aprofundar seus conhecimentos na matéria realizando o Mestrado em Antropologia Social na UNICAMP; razão pela qual costuma dizer que foram os índios que escolheram seu trajeto profissional e o fizeram antropólogo, apesar do título que lhe conferiu a
Academia.
Submete-se a concurso novamente, como fizera para trabalhar com os Yanomami na FUNASA, desta feita para o Ministério Público Federal, tornando-se Analista Pericial em Antropologia, vindo para Alagoas após um período no Norte do país. A esta altura acumulara novas experiências junto a outras etnias indígenas, fossem com os grupos do serrado de Roraima, os Macuxi e os Wapishana da famosa Raposa Serra do sol, fossem com os Guarani-Mbyá da cidade de Paraty no Rio de Janeiro.
Em Alagoas, travou contato com uma etnicidade indígena desafiadora, no exato sentido de não guardar sinais aparentes da imagem do bom selvagem tão difundida no nosso imaginário, ao contrário daquela amazônica. Aqui, teve seu trabalho no MPF finalmente reconhecido, viajando o Nordeste indígena em apoio aos procuradores da República da região. Resolveu estudar Direito, graduou-se na UFAL e hoje se dedica ao magistério superior nas áreas da Antropologia e Direito. Escreve ensaios e operacionaliza suas atividades junto ao Ministério Público Federal, sendo também membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Direito, Sociedade e Violência do Centro Universitário CESMAC.
Foi esboçada toda uma carreira voltada para os índios no que concerne à pesquisa, aos serviços públicos e à política. Ivan é um intelectual público, no sentido de que dialoga com seu povo, e engajado, no sentido de que faz do pensamento instrumento de ação inclusiva, assumindo e mantendo posições corajosas e firmes. É por tais posições que saiu do Norte e veio para Alagoas a convite de Delson Lira que o desejou a seu lado no Ministério Público Federal. Este é o primeiro livro que publica, assumindo sua antiga preocupação com a questão da saúde e dedicando-se ao estudo dos Jeripankó, um povo encravado na região do sertão alagoano e de derivação Pankararu.
É com honra que a Coleção índios do Nordeste abriga o texto. Trata-se do quarto volume de autor individual e o terceiro diretamente ligado à área da saúde. Dois desses livros são de caráter fundamentalmente antropológico e o terceiro é um diagnóstico de saúde do povo Xucuru-Kariri da Fazenda Canto em Palmeira dos índios. Os dois outros trabalhos foram realizados sobre os Kariri- Xocó, Porto Real do Colégio, margem sanfranciscana de Alagoas, escritos por Clarice Novaes da Mota e Christiano Barros Marinho da Silva. Por outro lado, é o segundo volume lançado sobre os Jeripankó, com o primeiro tendo sido da autoria de Amaro Hélio Leite da Silva
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 Era alta a realização de pesquisa sobre a saúde dos índios de Alagoas na UFAL, especialmente pela junção do Grupo índios de Alagoas: cotidiano e etnohistória e o Grupo de Estudo de Saúde em população Marginal de Baixa Renda. Dessa união foram gerados inúmeros trabalhos junto ao então Departamento de Clínica Médica do curso de Medicina, como dissertação de mestrado, trabalhos de conclusão de curso, textos produzidos para encontros científicos e publicações. Atualmente, há produção em desenvolvimento na área de nutrição, centrada, sobretudo, em segurança alimentar.
O professor Ivan Farias publica uma etnografia onde o processo saúde/doença é discutido em duas vertentes principais, sendo uma delas relativa à prestação dos serviços de saúde aos Jeripankó e a outra, mais propriamente envolvida com o universo cultural, trabalha as representações construídas ao longo da história do grupo com relação a saúde e a doença e as interliga ao universo da produção, caracteristicamente levado a proletarização; mas ambas as vertentes, dispostas a influenciar as ações oficiais de assistência de saúde destinada ao grupo e seus aparentados pela incorporação de suas noções tradicionais.
Na verdade, a contribuição vai além dos índios Jeripankó, sendo possível pensar em um ensaio sobre a totalidade de nossos índios sertanejos e um recorte básico sobre um índio alagoano. É mais um trabalho seminal para Alagoas em que soma a sua disposição de participar politicamente à de discutir cientificamente. Sua contribuição é grande e ajuda a solidificar a nossa Coleção e a linha editorial da Universidade Federal de Alagoas.

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