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sábado, 14 de junho de 2014

Gabriel Vetorazzo. A redescoberta do amor de uma família



 




Texto publicado em Contexto de 1 de janeiro de 2012 em Tribuna Independente. Para este blog, estamos utilizando material digitalizado e com gerenciamento das imagens realizado por Kellyson Ferreira, com a coordenação do Professor Antônio Daniel Marinho.








 A redescoberta do amor de uma família
Gabriel Vetorazzo

Meu nome é Gabriel Cabral de
Miranda Vettorazzo, tenho 27 anos, sou brasileiro, gerente de uma empresa de construção civil, formado pela UNB em Administração, moreno, homossexual, cabelos enrolados, olhos castanhos e estou noivo.
 

Faz quatro anos que eu “saí do armário”, hoje acho que demorei um pouco, mas cada um tem o seu tempo. Não gosto muito dessa expressão, acho muito minimalista pra o que esse processo representou na minha vida, mas é a que usam e eu não pensei em uma melhor, então...
“Sair do armário” foi uma das coisas mais importantes e corajosas que eu fiz e que, provavelmente, vou ter feito em toda a minha vida. Acho um pouco difícil que quem nunca passou pelo processo possa dimensionar o tanto que isso mexe com as pessoas.
 
Lembro-me que pensava que depois de contar pra minha família “agora sim eu posso viver”, antes era uma inércia, eu sabia o que esperavam de mim e seguia o modelo que foi preparado, mas no fundo eu sabia que o momento de sair do armário chegaria...
 
Então, me esforçava pra ser o melhor em tudo que eu fazia, pra quem sabe assim minha “saída do armário” ser ofuscada pelo que eu havia conquistado. Papo furado, hoje eu aprendi que tenho que ser bom pra me satisfazer, porque sair do armário na nossa sociedade ainda ofusca qualquer que seja a sua conquista.
 

Lembro que meu pai me tratava como se eu fosse de uma fragilidade que ele não havia enxergado antes. Ainda, no olhar das pessoas que eu via a mudança, algumas amigas se afastaram, algumas se aproximaram e muitos novos surgiram. A minha relação com a minha família e com a vida mudou completamente, porque as minhas falas e os meus gestos não vinham cheios de cuidado em preencher a imagem do bom primogênito heterossexual e propagador do nome da família.
Quanto mais eu encenava o “bom primogênito heterossexual” mais eu me distanciava deles.
“Sair do armário” me aproximou deles, porque o meu maior segredo já não era mais segredo, era possível compartilhar a minha vida com eles, era possível viver, me apaixonar e também quebrar a cara.
 
Para o meu pai foi difícil e ainda é, ele muda no tempo dele, antes eu tinha uma pressa pra que ele me aceitasse, até que me falaram, “você levou tanto tempo pra se aceitar porque ele tem que entender tudo isso tão rápido”, depois dessa acalmei um pouco meu coração, sei que ele me ama, mas doi um pouco essa dificuldade. Com a minha irmã foi numa boa, ela ficou brava porque eu não contei antes e eu até acabei namorando um amigo dela na época.
 

Minha mãe é fora do comum em relação ao assunto! Ela vai desde casamenteira à ativista da causa. Ela muitas vezes comemora as conquistas da causa LGBTTT mais do que eu, às vezes fico meio frustrado achando que falta tanto. Pude contar com ela em todos os momentos, nos bons e nos maus, ela sempre foi compreensiva, conversava, aconselhava do mesmo jeito que fazia antes, não teve frescura e até falou de sexo.
 
E o mais importante foi que ela não quis só ensinar, quis aprender sobre o assunto também. É preciso estudar sobre tema para falar e para entender o que está passando dentro da cabeça do seu filho. A única mudança que eu senti da parte dela foi a preocupação com a violência, porém essa é minha preocupação diária, não me escondo e sei que isso pode me deixar mais exposto.
 

Em resumo, saí do armário, passei alguns apertos, mas que também podemos chamar de ajustes na minha vida, já que sair do armário não é um conto de fadas. Hoje tenho um trabalho que me agrada, estou com um namorado- -noivo maravilhoso, tenho muitos amigos e minha relação com a minha família melhorou, mas ainda passa por ajustes... e qual não passa né?!

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