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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Minhas lembranças e pendências com a vida (I) Sávio de Almeida

Rita Maria de Almeida
Minha irmã covardemente assassinada. O vestido caprichosamente 

feito e bordado por minha mãe.





Minha caderneta de lembranças e pendências com a vida (I)
Luiz Sávio de Almeida

Família e história
            Impossível pensar em uma família sem que, de imediato, tenha-se a noção de que existe um processo de vida que se desenvolve articulado a algo bem maior: um contexto no qual interfere e do qual recebe interferências. Como nada do que acontece no tempo pode ficar isolado, bem que poderíamos entender a família como um sistema de relações que formam um conjunto específico de significados dentro de um contexto a que é inerente.
            Esta é a forma dela ser e fazer-se histórica: ser mais uma das partes da tensão permanente que se realiza associada ao próprio cotidiano. Toda família está em tensão, numa abrangente teia de sentidos, expectativas, normas e o mais que se puder enquadrar em conjuntos ativos na sociedade. O que vamos chamar de crônica familiar, necessariamente, esta em referência direta a esta pulsação permanente.
O pagode da memória
A memória é a grande cronista deste dia a dia, onde, via de regra, os registros vão sendo estruturados, mas não de um modo único, inequívoco, sendo uma grande construção coletiva e aparentemente atomizada pelas ações de sujeitos diferentes, mas que terminam por gerar um todo multifacetado e, assim, surge a crônica da família que nada mais e nada menos é do que um conjunto de múltiplas percepções.
Ela obrigatoriamente não lida com a precisão da verdade, como se ensaiam as verdades ou como no tempo são construídos efeitos de verdade. Não é que inexista o verdadeiro; é que ele repousa ou se encontra no seio da pluralidade de visões e versões que se esboçam nos pontos de conflito ou de integrações.
            Deste modo, a crônica familiar é um conjunto de percepções, devendo ser visto que ela sempre existe e jamais poderá deixar de existir, pois trata do tempo do local pessoal no conjunto; raríssima parte disto vem para a escrita. Não há uma espécie de livro de tombo das famílias com suas anotações que deveriam ser sistemáticas; a crônica é permeada pela oralidade, circunstanciada pela posição dentro do conjunto que tanto é de papel como pai e mãe, quanto de status global, não sendo raro ouvir-se sobre os ramos ricos e pobres, parecendo indicar que esta distinção é essencial: “Eu sou Pereira, mas dos pobres!”, como se pode ouvir aqui e ali.
O especialista de plantão
            Dentro deste universo, geralmente aparece a figura do especialista, daquele que chega a ser um cartório familiar, sabedor de tricas e futricas: “quem sabia de tudo isto era a Tia Fulana... Se ela estivesse viva...” Mas todo e qualquer membro de uma unidade familiar é um cronista, pois nele há o sentido que percebe o andamento no tempo.  E há uma diferença deste trabalho de crônica para o memorialista, aquele que escreve memórias, embora ele entre para o conjunto do que é produzido sobre a história familiar.
Dois tipos podem ser vistos, quando se pega o significado de Wenceslau de Almeida para, especialmente, os Almeidas da Capela, pesquisando, escrevendo, erudito, esmiunçando o passado da localidade e fazendo necessárias anotações genealógicas; é o contraponto dos subsídios dados ao Jobim em seu trabalho sobre Anadia e saídos de moradora do Periperi do véio Quintella.
Os tempos implicados
            E tudo se implica em um passado próximo ou distante. O que era longe é chamado de tempo dos troncos, lembrando longínquas  bases históricas da formação e andamento da família; é quando se fala do tempo do ronca, do rococó, dos antigamentes, espécies de marcos de calendário inalcançável, mas de fatos e atos existentes, alguns, por decreto da mera criação, nesta espécie de literatura que pode viver escondida nos cantos da imaginação.
            Este tempo parece-me que hoje em dia encurtou.  Possivelmente, no meio rural nada da crônica vai além dos bisavós e quem sabe, tudo se vai esgarçando quando, pelos mais diversos motivos, os laços vão sendo quebrados e até mesmo os primos em segundo grau já desaparecem e o que era tio em consideração também some mirrado no esquecimento. Filhos meus passam por primos e não sabem quem são: vice-versa.
Viemos de longe: os Almeidas
            Wenceslau de Almeida nos ensinou que viemos de longe e há uma relativa cópia de informações sobre os Almeidas e um quase nada sobre os Albuquerque Pontes ou simplesmente Albuquerque que nos ficou da parte da véia Dondon, nossa avó materna, filha do Dindinho Néo: Manoel de Albuquerque Pontes e que se casou com a Mariquinhas Sampaio.
            Acho lindo este nome de Mariquinhas e sinto o intenso sabor lusitano; dela, ouvi registros maravilhosos: era a Dindinha Mariquinhas e o povo dizia de sua beleza e pureza, a viver com o olor da santidade. Do Dindinho Néo, pouco sei; apenas que eu sou ele cagado e cuspido, como dizia a minha mãe. Ver um era ver o outro, do jeito de falar ao de andar e sentar. Muitas vezes ouvi: ”Que é isso veio Néo? Se endireite!”, É que eu gostava de sentar na cadeira, para as refeições, em cima da perna cruzada.
Sempre fui ligado ao que era contado

Sempre teve gente com esta mania e ainda a cultivo enquanto posso, pois dá a vez de coçar com arte o dedão grande do pé. Tem gente que gosta de amolegar o dedo, cutucando as unhas e apertando de lado. Tem muito jeito de sentar. Os veios do Riachão ficavam de cócoras em cima do banco de pelar porco, chegando a ter fila deles, como se, assim, o assunto chegasse mais engraçado e melhor. É muito jeito de sentar, como a veia Elvira que se esquecia e deixava as pernas abertas.
 Sei que Dindinho Néo  morreu numa situação vexaminosa, lá mesmo no engenho Minhuns, esmagado quando foi atrelar um carro de suas canas para o trem carregar e moer não sei aonde. Tudo devia vir no cambito, carro de boi, jogado no tombador e de lá para uma viagem maior, por trem resfolegando, a velha Maria Fumaça cujo apito deveria espantar galinha, porco, boi e menino no eito.

Os Albuquerque Pontes
Sei também que por conta de um caso de morte sobre o qual nunca me aprofundei, ele se ficou contra o genro, Fausto Vieira de Almeida, que não manteve uma sua versão sobre certos acontecidos e, disso, parece ter nascido a falta de sorte do Fausto, casado mais Dondon, a Caetana Maria de Albuquerque. Dizem que não moeu a cana do vovô e disto, o Caborje se inutilizou.
É interessante como as coisas se esfumaçam pelo tempo, ao não deixarem um registro claro; as histórias vão assumindo, às vezes, proporções drásticas, mudando-se as cores, a intensidade e não deixa de haver sabedoria em quem acredita em algo singelo: quem conta um conto aumenta um ponto. As histórias caminham quando são contadas, envelhecem e morrem ou chegam a renascer todos os dias.
Não tenho a mínima ideia de como os Albuquerque Pontes chegaram ao Rio Paraíba.  De onde vieram e se o nome de família era este quando chegaram. Lembro-me apenas ter ouvido que eram gente sertaneja, vinda dos lados de Belo Jardim em um tempo de seca pesada. Encontram a rede de água do Paraíba e por ali se estabelecem. Caso foi assim, lutaram para se estabelecer no senhorial que foi criado, fundamentalmente, no vale do Paraíba, desde o término das batalhas dos Palmares no século XIX.
Seria uma gente Caborje, à procura da água, mas protegido pela possibilidade de procurá-la. Era um peixe viajante, segundo os elegantes dizeres do Echo Maceioense, em sua edição de junho de 1888. Aliás, en passant e antes que eu me esqueça, o pirão de caborje é de primeira qualidade. Aliás, novamente,  esse Caborge foi propriedade de Antônio de Almeida Braga e Balbino de Almeida Braga, e que também tinham parte no Monte Alegre que vai ser do velho José Francisco de Almeida, justamente meu bisavô por parte de pai.
Os irmãos Almeida tinham partes e terras em diversos pontos da Atalaia e mesmo na Serra do Tronco nas bandas do Murici. Na Atalaia se fala do Monte Alegre, Camarada, Cabeça de Boi, Telha, Várzea Grande, Cova de Negro, Largatixa, Nussu, conforme anúncio de venda que fizeram em 1892. Por volta de 1891, o Caborje era dado como de Guilhermino de Almeida.
Se vieram, os Pontes,  – e, portanto, não eram daqui –acredito que deve ter sido pelo século XVIII, depois das lutas palmarinas. Os Almeidas devem ter vindo com as tropas de Domingos Jorge Velho. Sabe-se mais sobre estes Almeidas, graças, em parte, ao saberoto interesse e curiosidade do   primo Wenceslau de Almeida, um baita talento investigativo sobre história local.
No Mapa dos engenhos de fabricar açúcar moentes e correntes da Província das Alagoas no ano de 1849, nada consta de Albuquerque Pontes como produtor de açúcar, embora conste o Flexeiras como de propriedade de Antônio de Almeida Braga, o velho, o avô do Capitão Antônio de Almeida Braga, o moço, e do Balbino de Almeida Braga. Somente como Albuquerque, aparecem João Carlos de Albuquerque com o Espelho, José de Mendonça Albuquerque com o Anhumas, Antônio Carlos de Albuquerque com o União, João Ireno de Albuquerque com o Gavião e Joaquim  Tenório Albuquerque com o Izabel. Seriam no todo ou em parte também Pontes?
Contudo, José de Albuquerque Pontes era dono do Coité, um pequeno engenho a fabricar entre 680 a 700 pães de açúcar por ano e, nesta mesma oportunidade, Joaquim Vieira de Almeida era dono do Frecheiras,  650 a 670 pães, demonstrando que por volta de 1859, já havia falecido o patriarca dos Almeidas, o velho Antônio de Almeida Braga, pai de Luiz de Almeida Braga e avô do caudilho, o moço, o do Tamoatá. Esta referência se encontra no Mapa demonstrativo dos engenhos de açúcar da Província das Alagoas no ano de 1859.
Segundo o livro do véio Pedro que foi copista do Wenceslau, o Antônio de Almeida Braga, o velho, foi casado com Francisca Joaquina Magalhães e terão Luiz de Almeida Braga já mencionado e, dentre outros, o Joaquim Vieira de Almeida que foi casado com a Senhorinha Vieira; é o Joaquim do Caborge, pai de Antônio Vieira de Almeida, casado com a Maria Balbina de Almeida, todos gentes de costados no Caborge, onde meu avô Fausto Vieira de Almeida cuidou do pai entrevado numa rede.
Sem dúvida, dentre os Albuquerques de 1849 deveriam existir Pontes estabelecido com açúcar. Então, tudo nos leva para o fato de que deveriam ser recentes no peso senhorial da época, não teriam costados palmarinos, como se teve com Antônio de Almeida Braga, o velho, o edificador do Frecheiras, que sem dúvida vem de Ignácia de Almeida Braga, descida de São Paulo para compor as terras dos Palmares, casada que era com o Capitão do Terço de Domingos Jorge Velho: Antônio Roiz Vieira.
Mas em 1874, na Freguesia de Atalaia, aparece José de Albuquerque Pontes como sendo o senhor do Coité. Era o terceiro Juiz de Paz do Distrito da Capela; existia, também, Antônio de Albuquerque Pontes, subdelegado de polícia do mesmo Distrito, com ambos na relação de Eleitor Geral.  Em 1891, o José era dado como Subdelegado do Distrito da Sapucaia e aparece Manoel de Albuquerque Pontes Júnior como senhor do Cruzeiro e quem sabe, aí, estamos perto do Dindinho Néo. Será que meu trisavô era o Néo sem o Júnior? Antônio – de quem fa- lamos – estava como senhor do Garopa e era Suplente de Juiz Municipal; nesta época, meu bisavô, pelo lado de pai,  José Francisco de Almeida era Juiz de Paz no Distrito da Paraíba.
O Coité era de José de Albuquerque Pontes e o Cantinho era de José de Albuquerque Pontes Júnior. Mais um outro, Manoel de Albuquerque Pontes surge: o Sobrinho e era Comissário de Polícia do Distrito de Gameleira, sendo dono do Desengano. Neste mesmo período, existiam dois engenhos Triunfo, sendo um deles de Manoel de Albuquerque Pontes.
Na altura, o Antônio deve ter falecido, pois o Flor da Serra pertencia a seus herdeiros. Ele em 1878 era mencionado pelo Jornal do Pilar em sua edição  de 14 de julho, como testemunha de um crime de redução de pessoa livre à condição de escravo, o que se dizia ter acontecido. Em 1892, aparece o nome de Elias de Albuquerque Pontes   como nomeado para 3º Suplente de Delegado do Paraíba. Este é mais identificável, pois minha mãe mencionava um Tio Elias que, se não me engano, morou pelos lados da Branca de Atalaia. O registro do Tio Elias se encontra em uma edição do Cruzeiro do Norte de 18 de março de 1892.
Devem existir muitos que ainda grifam o nome de família como Albuquerque Pontes pelas regiões onde se teve o que vou chamar de grande Atalaia, como se pode pensar no nome do Estádio em Atalaia, o nome de uma escola rural do Cajueiro, na Fazenda Serra do Mamao, acima e a oeste da Capela; há também escola no Santo Antônio dos Milagres em Atalaia com o nome de Francisco de Albuquerque Pontes e seria fácil listar inúmeros nomes demonstrando que o de família não se acabou.
O contexto do açúcar
Fausto Vieira de Almeida
            Está estabelecido um nexo entre vale do Paraíba, açúcar e minha família ou, dando um corte no sistema, uma família que começa com Caetena e Fausto Vieira de Almeida e Manoel Hermenegildo de Almeida e Adelaide Melo. E, enlaçamento que quero dar, completamente demarcada pelo ciclo Dondon, que termina, basicamente, com seu enterro no cemitério de Arapiraca, ou Eurapiraca, a diferente da minha Arapiraca, a Eurapiraca deles que constroem o palácio do cacófato: Arapiraca Garden.
O ciclo da Dondon
            Então fica um problema: como começa e termina o ciclo Dondon? Simples, com uma festa de São João e uma doença maligna que levou a Dondon para a cova.  Dondon era irmã do Major Dionísio de Albuquerque e Tia Vidinha era irmâ de Fausto Vieira de Almeida. Dondon já havia casado com seus 15 anos de idade e o marido deveria ser um aparentado com a Mariquinhas, aquela que rescindia à santidade.
Menina, dizem que o casamento teria sido um desastre, mas logo tudo acabou, pois o marido chegou um dia carregado numa rede, a refém de mordida de uma cobra venenosa, quem sabe a diacha de uma cascavel misanguenta? Mordida de cascavel, da pico de jaca,  mata ou aleija a bem de dizer num de repente. Ser mordido por jararaca, cascavel é sempre de despedida; elas não alisam e nem é que veneninho besta e seboso. Existe a surucucu pico de jaca, mas não é daqui, é bicho de outras partes.
A cascavel pico de jaca
Não sei bem a razão, mas o píco de jaca estima a infeliz como terrível e acho mesmo que raro o curador que dá conta delas. Existe um monte de cobrinha besta, mas tendo o nome de pico de jaca, jamais pode ser ofendida com este desmantêlo. Sei que ele não escapou e, tão logo chegou à casa, embarcou para a curvatura do mundo dos mortos.
Dondon era geniosa e  contam os povos que o marido não fez bom negócio com o Dindinho Néo: “Dondon, me dê um copo d’água!”. E a resposta veio em cima: “Sabe andar não? A distância daí praqui é a mesma daqui pra lá!”. Teve dia de ser pior e nem chego a acreditar que ela, com raiva de não sei o que, subiu no fogão e fez xixi numa das bocas do mesmo. Pior desastre não podia acontecer na cozinha, que deve ter ficado imprestável para tudo que era de comida.
Nem sei se a Mariquinhas era viva; Dondon deve ter voltado para o engenho, viúva nova e recatada tendo de viver com o pai e à espera de novo casamento. Acontece que era tempo de São João e na espera pelo futuro, Dondon, que já devia ter baixado o luto, deseja antecipar o que estava por vir e fez uma adivinhação na noite do santo. Pois apareceu perfeitamente, o rosto de um homem com quem iria se casar.
São João descobre o futuro
Folia ou verdadeiro fora dos paleios do São João, é de se achar que ela queria um casamento, uma vida própria. Passa tempo e estava na casa da Vidinha, de prosa com a cunhada. Chamam, vai atender, voltando correndo e esbaforida, quase gritando: “Vidinha, é o homem de quem vi o rosto na adivinhação de São João. É com ele que vou me casar”. Nada mais e nada menos do que vovô Fausto Vieira de Almeida.
Casou mesmo e nem sei se foram felizes mas sei que o pau quebrava. A crônica sempre transformou a Dondon em heroína, a mulher de respeito que se sentava na máquina de costura para sustentar a família, enquanto Fausto era um mulherengo, jogador de pernada, adorador de rabo de saia e alucinado por um pé de bode. Ela era costureira fina, a bem dizer uma modista e sempre suas filhas tiveram as mais belas roupas e se apresentavam limpas e arrumadas; eram pobres, mas tinham berço e nunca faltou a roupa das festas, tinham a roupa de ir para os cantos.
As desavenças fizeram com que Fausto Vieira de Almeida terminasse vindo para Maceió e aqui, possivelmente com a ajuda do Major Dionísio, montou uma bodeguinha na Praça 13 de Maio. Mamãe contava, o quanto tudo era pobre, lembrava das brincadeiras dos irmãos, do Tio Cícero torcedor do CSA, a gravar o nome do time no peito, usando a castanha de caju:

CSA tava doente
CRB foi visitar
CSA pediu dinheiro
Pra quarta de ceará.

A quadrinha servindo para a molecoreba se enfrentar, no tempo em que não existia torcida organizada. Mamãe contava, também, e eu fica maravilhado a ouvir, a história do Cigano Pereira e o casamento de sua filha. Pereira era o cigano mais rico que existia; as barracas cobriram a praça e foram, três dias de festa. Era o cigano transformado em mito, o mesmo que andava nas terras de Seu Né, chegava, pedia permissão, armava tudo e ficava o tempo de precisão. Nunca tocaram em uma estaca das terras; o Cigano Pereira poderia ser estradeiro, mas tinha palavra e força. Sempre fui fascinado pela figura de Pereira, na certa mio mito e meio gente.
Nada era ou poderia ser fácil para Fausto. Conta-se a história da falência da bodega, de uma forma completamente cruel, como se desejassem cultivar a imagem de um palerma sem jeito na vida. Teria passado um pracista e vendido, a ele, uma quantidade enorme de lata de manteiga; ele pagou e quando recebeu, todas as latas estavam rançosas. A crônica, sem dúvida, desejava a perdição e esta das latas de manteiga levantam toda uma ordem fantasiosa. Poderia ter acontecido a compra de manteiga, mas jamais na monta que se contava.
Jamais se levou em conta, o deslocamento de um homem, a saída de seus eixos, o afundamento na pobreza urbana  da capital.  O problema de sustentar uma família com uma bodega de ponta de rua da cidade de Maceió, tudo isto passava longe, enquanto se focalizava o gaiato da manteiga que deve, sem dúvida, ter sido comentado nas rodas de conversa.
Sem dinheiro, estava agora o velho Fausto Vieira de Almeida, carregando a família para a Rua do Cisco, quem sabe, uma das mais pobres de toda cidade e onde esteve ou estava a Tia Terezinha, irmã da velha Dondon. 




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