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quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Política: Os Góes Monteiro em Alagoas















Esta conversa com a Rosita vivia guardada no meio de meus pertences e, sem dúvida, esquecida. Máximo 30 anos. Decidi publicar; afinal de contas, é uma rara oportunidade de se mergulhar dentro de uma das mais importantes famílias de Alagoas: Dona Constança e seus tantos filhos. Eram as preliminares de conversas mais apuradas e demoradas, mas o tempo tomou conta e, sem saber da razão, confessor que nada foi feito.
Coloquei um título como se fosse matéria de sua autoria.
Leia
Um abraço

Sávio




Uma bela conversa com Rosita de Góes Monteiro     Luiz Sávio de Almeida


            Não me lembro,  mas esta conversa tem uns trinta anos, no mínimo. Eu a encontrei em casa de uma sua parente amiga, na rua da linha do trem, Avenida Maceió. Fiquei admirado com sua fragilidade; sempre me acostumei a ver tudo ligado ao Silvestre como extraordinário, tal a força que seu nome impunha ao imaginário. Era uma conversa para que se tivesse outras,  que infelizmente não aconteceram.
            Na verdade, fui ver Rosita como um momento do Silvestre e encontrei uma pessoa idosa, mansa e, ao que me parece, carente de recursos. Como pode ser visto, não houve uma entrevista propriamente dita, mas apenas uma conversa sem rumo definido,  muito mais entregue a uma curiosidade que nascia do próprio papo. Passei com a fita, um bocado de tempo.
Depois de transcrita, guardei em algum lugar e a esqueci. Faz pouco tempo, passei por ela e me perguntei se valia a pena transcrever. É raro, enquanto fala da elite alagoana, ligada ao ramo dos Góes Monteiro, à gente do Engenho Guindaste e que se fez no centro de todo um período histórico nacional através do Pepito e se cristalizou, em Alagoas, mormente através de Silvestre, o homem da poeira de ouro e do anedotário político.
Esta conversa preliminar com a Rosita, um nome sem dúvida mimoso, traz a fala que é periférica aos problemas políticos, mas, sem dúvida nos respinga muito para entender a política desenvolvida pela família aqui nas Alagoas. Tudo estava dentro dos meus planos de encontrar um tema para doutorado; talvez valesse a pena estudar o período do Silvestre, talvez eu não tivesse engenho e arte... Está aí, o teor da primeira conversa.

Um pingo da minha vida

Rosita de Góes Monteiro

Um pouco sobre a família

Nasci em Maceió mesmo, lá em Mangabeiras; dois irmãos, cada um seguiu seu rumo; Pedro Aurélio queria ser militar. O segundo disse: “Eu quero ser médico”. E o terceiro: “Eu quero ser militar”. O quarto: “Eu quero ser advogado”. O Silvestre: “Eu quero ser engenheiro”. Papai foi passar três anos em São Paulo, quando voltou, nós éramos pequenos: os cinco... Esse meu irmão, o general, já tinha saído oficial e mandou buscar os outros irmãos e a mamãe. Ele achava que a mamãe deveria morar perto dele. Nós fomos. O Ismar saiu daqui com 11 anos para o Colégio Militar de Barbacena. Ele foi educado pelo meu irmão, esse que era médico, Manoel César, e depois ele saiu oficial, foi servir em Pelotas e lá casou.
 Eu fui para o Rio em 1924. Na Revolução de 30, estava no Rio Bem, nós estávamos morando em Icaraí e a mamãe ficou muito triste, apavorada mesmo, porque os filhos todos estavam na Revolução. O Pedro, meu irmão mais velho, estava em Porto Alegre e foi ele quem comandou o exército do Getúlio Vargas. E o Cícero estava em Pelotas, o Durval em São Paulo e o Silvestre em Erechim, Rio Grande do Sul. O Durval em Mato Grosso. No Rio estávamos eu, mamãe e Conceição, minha irmã, o Edgar...

A morte do pai

Eu me lembro bem, de minha mãe: Dona Constança. Parece que morreu com 78 anos de idade, no Rio de Janeiro. Mamãe mandava em todos os filhos. Ela foi uma mãe exemplar. Tomou conta dos filhos, formou todos. Porque meu pai era médico e quando ele estava para morrer, dias antes passava a Procissão de Nossa Senhora dos Prazeres. Ele então mandou abrir as janelas e pediu a Nossa Senhora dos Prazeres que tomasse conta dos filhos e pediu a mamãe para formar todos os filhos, que não queria nenhum filho senhor de engenho. Queria que ela tomasse conta deles. E a mamãe assim fez.Meu pai faleceu aqui em Maceió. Eu fiquei com três anos. Foi horrível. Nove filhos. Ela ficou aqui, tomando conta do Engenho Guindaste, lutando. A mamãe foi ótima. Nós começamos a ter evidência quando o Getúlio Vargas veio à primeira vez... Presidente, né? Em 1930.   É. Mas eu já tinha um irmão, Manoel César, que era médico e tenente-coronel do Exército e já estava em Mato Grosso. O Cícero já era tenente e estava em Pelotas e o Ismar estava... Tinha saído naquele ano tenente, aspirante. E o Silvestre estava em Erechim, Rio Grande do Sul, e o Durval estava em Três Lagoas, Mato Grosso.

Silvestre e política

Eu acho que foi Silvestre quem tem na família, a primeira intenção política. Pois é. O Silvestre foi quem lembrou o nome do Osman e ainda era nosso parente. O Silvestre gostava dele. Depois brigaram. O avô do Osman era primo do meu pai, professor Loureiro.
A minha mãe acompanhava toda a vida política. Ela sofria muito e aconselhava os filhos, mas... Aí já não estava brigando o Silvestre com o Edgar por causa do Osman. Mamãe ficou contra o Edgar. O Silvestre era um filho fora de série. Ele podia estar... Eles eram todos unidíssimos e a mamãe sofreu muito com essa desunião, mas graças a Deus morreram todos unidos Ele era impetuoso. Ele podia estar na maior ira, na maior raiva, se a mamãe dissesse assim: “Meu filho, o que é isso?”...
O Manoel César era também político nessa época. Ele ficou do lado do Silvestre.  Nessa época ele era deputado federal. O Edgard estava só. Manoel veio para apaziguar. Mas a posição dele era a favor do Silvestre. Pedro Aurélio ficou muito triste com tudo isto. Na questão do tiroteio da Bela Vista, a mamãe ficou contra o Edgard, contra o Osman e escreveu uma carta ao Osman dizendo que ele era muito ingrato. Que quem tinha feito ele tinha sido o Silvestre, que ele era um esquecido em Minas, entendeu? Que ele era um...

A encrenca familiar

 Olhe, o Durval era unidíssimo com o Silvestre. E engraçado, lá em casa era assim: o meu irmão mais velho era unidíssimo com o Manola – era o Manoel César, nós chamávamos Manola – e o Cícero; o Durval era unidíssimo com o Silvestre; e o Edgar com o Ismar. Agora o Manola, o Manoel César, gostava de todos, era o anjo bom da família, que ele só vivia apaziguando um, apaziguando outro: “Olha, Silvestre, não fique com raiva do Edgar”. Dizia para o Edgar: “Edgar, acaba com isso com seu irmão”. O Manola, o Manoel César, era ótimo.
O Durval nessa época era delegado de polícia no interior de São Paulo.  O Durval era muito valente. O Durval mandou dizer ao Osman que vinha aqui quebrar a cara dele.               A mamãe é que não deixou. O Durval era muito valente, adorava o Silvestre e a mamãe não deixou ele vir. Ele vinha. O Durval vinha. Vinha arrebentar o Osman.
Pedro Aurélio... Ele dizia: “Mamãe, isto é uma vergonha! Mamãe chame esses rapazes”. Mandava chamar o Silvestre e o Silvestre: “Não vou lá não porque ele quer brigar comigo, não vou”. E mandava chamar o Edgar e chamava o Manola e mandava ele aconselhar esses rapazes. Mamãe sofreu muito. E todos obedeciam a ela. O caso engraçado era isso. Eles brigando, mas obedecendo a ela.  Há um telegrama do Silvestre para mamãe e que dizia mais ou menos assim: “Eu não aguento mais. A senhora trate de dar um jeito no Edgar porque senão eu não sei o que vai acontecer”. Aí ela veio. Ela veio para aqui.  Estava no Rio.
Bom, nós soubemos... Um amigo nosso daqui, não me recordo bem, mandou dizer a mamãe e mamãe então telegrafou ao Edgar e ao Silvestre. O Edgar escreveu a mamãe: “Mamãe, tudo isso é o Silvestre. O gênio impetuoso do Silvestre. Eu não tive culpa de nada”. O Silvestre era muito bom, mas tinha um gênio forte demais.
Agora tem uma coisa. Todos eles obedeciam à mamãe. Todos eles. Esse Manoel César, ele sacrificou bem dizer a carreira dele para assistir a morte da mamãe, que ele era embaixador na Suécia. Veio, pediu uma licença. Quando a mamãe melhorou, ele voltou. Quando ele volta, a mamãe piora. Ele já tinha pedido a licença, veio assistir a morte dela. É um filho querido.
Silvestre e o Edgard fizeram as pazes. O Ismar, o Ismar ficou neutro. Mas a gente notava que ele era tendido para o Edgar. Era aliado do Edgar.

Encrencas e tiroteio


Nem sei o que dizer. Ela era muito boa. Ela era uma ótima mãe.  Vem cá... Os filhos obedeciam cegamente a ela. Quando ela falava uma coisa, eles obedeciam. Quando ela dizia uma coisa, todos baixavam a cabeça. Veja o Silvestre quando foi governador: ele ficou no Palácio. Ele disse: “Mamãe, eu quero que a senhora me acompanhe. A senhora vai morar comigo”. Mamãe disse: “Morar não. Vou passar uma temporada para lhe dar juízo”.  
Mamãe disse assim: “Olhe meu filho, você brigou com seu irmão, mas o Osman vai lhe dar um (inaudível)”. Um mês depois o Edgar brigava com o Osman. E o Osman... O Edgar veio... Foi por causa do prefeito de Maceió. O Edgar veio para o Rio. Foi lá para casa, a Sofia, ele e a filhinha dele. Um mês depois teve a briga dele com o Osman. O prefeito da época era o Álvaro Nogueira. Não me recordo da razão da briga; depois o Silvestre brigou com o Álvaro por causa do Edgar. Eles brigavam e daqui a pouco estavam bem. O ferimento do Edgar não foi grave. Foi na perna.
Rodolfo Lins era amigo do Silvestre. Grande amigo do Silvestre. Adauto Viana também era. Rodolfo Lins vinha para o Palácio e quando vinha passando, aí um soldado da polícia atirou no Rodolfo Lins e matou. Então o Silvestre estava no Bela Vista... E o Rodolfo Lins ia passando, até perto do Relógio Oficial, e atiraram do Rodolfo Lins. Ele era amigo do Silvestre. Eu sei que o Silvestre ficou indignado com a morte do Rodolfo Lins.

O caso da reintegração

O tiroteio foi muito triste. Na época que mamãe... Eles juntos dela, obedeciam cegamente. E o que o Silvestre pedia e o (inaudível) General, o mais velho... Um dia, em casa, eu guardei na memória, uma senhora foi pedir a mamãe para o marido voltar ao Instituto da Previdência lá do Rio, que tinham demitido o marido dela e que ela tinha três filhinhos e não tinha recursos.
Aí a mamãe telefona para meu irmão: “Pedro, aqui está uma senhora me fazendo esse pedido. Eu quero que você mande colocá-lo novamente no emprego”. Aí ele disse: “Mas eu não sou o dono, eu não sou ministro, mamãe!” “Não quero saber. Eu quero que este homem volte amanhã e vou mandar a senhora agora. Olha, Pedro, eu fiquei viúva com vocês, nove filhos. Esta moça só tinha o (inaudível) o emprego do marido. Está com três filhinhos. Eu quero que você mande recolocá-lo no emprego amanhã, amanhã”. Ele disse: “Não posso”. “Pode. Vou mandá-la aí”. E escreveu a ele: “Esta é a senhora que (inaudível)”. Aí a moça já voltou e contou a mamãe: ele leu o bilhete e disse para a Conceição, a mulher dele, (inaudível).  Foi para o telefone, telefonou para o ministro e pediu a volta do homem. No dia seguinte, ele estava trabalhando. Eles obedeciam muito à mamãe.
Silvestre indicou o Osman. Foi não: agora me lembro... O Osman escreveu ao Durval.

A morte do Silvestre

E o Durval então foi colega dele. Primo e colega. O Durval então falou com o Silvestre e os dois uniram-se e o Silvestre tomou a frente. O Silvestre quando adoeceu gravemente, eu fui passar três meses com ele lá em Brasília. Ele disse: “Rosita, eu vou lhe pedir um favor. Você faz?”. Eu disse: “Faço”. “Eu quero ser enterrado no chão lá em Maceió”. Eu disse: “Mas Silvestre, você não vai morrer não”. “Mas se isso acontecer...”. “Se você morrer aqui em Brasília, como é que eu posso lhe levar para enterrar no chão? Eu vou lhe prometer uma coisa.” Ele disse: “Já sei o que é: você leva meus ossos, não leva?” Eu digo: “Levo. Ele vai ficar junto do seu pai. E eu vou ficar junto de vocês dois”. Que a minha família tem um mausoléu bonito lá em (inaudível) A família toda está lá. Eu disse: “Eu vou ficar ao seu lado e ao lado de meu pai, lá na Igreja de São Benedito”.
Aqui em Maceió. O Ismar mandou buscar o Silvestre. Mandou buscar os restos mortais dele. O Suruagy até foi muito correto, mandou buscar, se ofereceu. E então fizeram um mausoleuzinho lá na igreja, pertinho do papai, onde ele queria ficar e o Silvestre está lá. Ele veio então agora eu não estou me sentindo muito bem, eu vim para ficar; até morrer aqui. Entendeu?


O papai... Sim, aí eu falei com o padre Sarmento. Eu disse: “Padre Sarmento, eu queria comprar uma coisinha dessa, uma pedra dessa. O senhor me vende?”. Ele disse: “Mas dona Rosita.  A senhora não tem o túmulo ali do seu pai? É só tirar a pedra e a senhora vai para dentro. A senhora vai para dentro”. Eu disse: “Está bem. Era isso que eu queria saber, porque, padre Sarmento, eu desejo muito ficar ao lado dos dois, do meu pai e do Silvestre”. O meu pai eu não conheci, mas o Silvestre era muito meu amigo e gostava demais de mim. Era a irmã que ele gostava mais. Dos irmãos que o Silvestre gostava mais era do Durval e de mim. 
 Eu quero morrer aqui e me enterrar aqui.
O meu pai era médico, muito inteligente. Era diretor do asilo dos loucos. Morreu moço com 41 anos. Ela ficou com a metade do Engenho Guindaste, que era metade dela e metade da irmã dela. Ela então... Então ela vendeu a parte dela...
O Pedro sempre foi muito inteligente. Tirava sempre o primeiro lugar, desde menino pequeno até quando chegou a general. Quando ele saiu da escola de guerra, aspirante, ele tirou o primeiro lugar. Era para ficar no Rio, mas ele preferiu ir para (inaudível), onde ele iria ganhar mais e desse dinheiro ele tirava o essencial para viver, o resto mandava para mamãe.
O outro, médico, formou-se logo. Foi para Mato Grosso. O que ele ganhava, a metade era da mamãe. Mandava para mamãe.  Era para ajuda-la a criar os outros.  E assim uns foram auxiliando os outros. O Manola foi quem mandou buscar o Ismar com 11 anos para colocar no colégio militar de Barbacena.  Ele mandou buscar o Ismar e ajudou a formar o Silvestre. O Pepito ajudou a formar o Durval. Pepito é o Pedro Aurélio. Quem ajudou o Silvestre foi o Manola.
O Edgar, quem ajudou ele? A mamãe. Porque a mamãe tinha um primo aqui, Dr. Pontes, dessa família Pontes de Miranda daqui. Dr. Manoel Pontes era parente de meu pai, casado com uma prima-irmã da mamãe. Ele então empregou... A mamãe disse: “Chico, empregue o Edgar”. O Edgar tinha 17, 18 anos. Ele aí empregou o Edgar no banco. Depois o Edgar foi presidente deste banco lá em Minas e  de forma que uns ajudavam os outros.


Quem primeiro saiu foi o Pedro Aurélio.  Foi. Quando o papai morreu, esse Pepito, esse meu irmão, Pedro Aurélio, já estava na escola de guerra.. O Manola tinha vindo também... O meu pai ainda conseguiu visitar o Manola na Bahia. Tanto que ele contou a mamãe que quando na noite que meu pai morreu, ele primeiro (inaudível).  Estava na cadeira assim, estudando a caveira. Quando ele olhou assim, no lugar da caveira ele viu meu pai. Ele ficou impressionado. No dia seguinte ele recebeu a notícia.
Todos eles mandavam dinheiro para mamãe. Todos eles. O Cícero mandava muito dinheiro para mamãe, muito. Ele era viúvo, sem filhos, mandava quase tudo para mamãe. E então eu via, porque a minha família era pobre. Agora a família da mamãe é que era muito rica. Casou-se com meu pai que era pobre, era um médico pobre.. E então a mamãe ficou sem nada quase. Se não fosse Dr. Pedro, parente dela, que botou esse dinheirinho dela na Caixa Econômica e aquilo foi um (inaudível) para ela, coitada. Foi para o engenho, depois teve que vender o engenho. Ela preferiu vir para a cidade. Vir para aqui, botou todos no colégio, na escola... No colégio não, no Liceu Alagoano. Eu, a minha irmã Conceição, eram tão unidos que meu irmão casou-se e mandou buscar Conceição com 12 anos para educá-la, a minha irmã.
O que eu me lembro mais de minha infância? A primeira vez que me levaram para ver o Engenho Guindaste, que eu não conhecia. Saí de lá pequenininha. Quando eu fui moça, eu fui ao Engenho Guindaste. Grande emoção! Eu vi aqueles quartos, tudo. Onde meu irmão nasceu, o primeiro... Eu vi aquilo tudo...
É que a família da mamãe era rica. Agora meu pai não, era pobre. Depois disso, era filho de um professor. O professor era... O tio dele era diretor do Liceu Alagoano. Ainda tinha o retrato lá. Como é meu Deus? Professor Padre Pedro Lins de Vasconcelos. Ainda tem lá no Liceu Alagoano. Ele foi diretor de lá. E criou... A mãe do meu pai morreu, a minha avó, e ele criou os quatro sobrinhos. Foi ele que formou o meu pai, foi que formou o outro, o Silvestre, o outro foi professor e o outro foi farmacêutico. E a minha tia formou os sobrinhos, depois quando o meu pai saiu médico, ele disse: “Venha cá. Eu sou pobre. Sou um padre pobre. Você não vai ficar na capital não. Você vai para o interior e vai formar seu irmão”.
 O meu pai não formou porque ele morreu. Morreu no quinto ano de engenharia. Então ele foi para São Luís do Quitunde e lá ele fez muitas curas de febre. Ele curou muita gente. Ele ficou afamado lá, mas a mamãe era de uma família de fidalgos, gente rica e o meu avô – avô torto porque era padrasto da minha mãe, padrasto e tio – adoeceu do coração e mandaram buscá-lo. Ele ficou na casa de hóspedes e começou o namoro com a mamãe. Aí a família toda ficou contra.
 O meu avô torto, esse meu avô, gostou muito porque ele tinha o gênio do Silvestre, brincalhão, que contava anedotas e contava isso. Gostou imensamente. Dizia: “Dr. Pedro, não vá embora hoje não. Fica mais”. Ele ficava lá conversando com meu avô. Conclusão: a minha avó vai e diz para ele assim: “Pedro, ou Rosendo, Constancinha está namorando esse medicozinho”. A minha avó vai e conta a esse povo da Castanha.
 Não sei se o senhor conheceu Dr. Carlos de Gusmão, desembargador. Era primo da mamãe, primo da mamãe. Aí todos ficaram contra. ‘Constancinha casar com um medicozinho João Ninguém? Ninguém sabe nem quem ele é!’ Todos contra. ‘Filho de um professorzinho!’ Aí o meu avô: “Não, eu gostei dele, gostei dele. Constança vem cá. Tu queres casar com ele?”. A mamãe disse: “Quero”. Aí o papai apareceu e ele disse: “Dr. Pedro, o senhor está namorando a minha enteada?” Ele disse “Dr. eu gosto dela, mas não me atrevo não. Eu sei que minha família...”. “Não, a família quem manda aqui sou eu. Quer casar com ela? Casa antes de eu morrer. Eu sei que eu estou muito mal. Casa logo.” Casou a mamãe contra a vontade toda da família. Mas meu pai foi um ótimo pai, ótimo marido, agora pobre.
Quando ele morreu, o Pepito veio ver a mamãe. Agora foram ótimos filhos. Todos eles. Uns ajudavam os outros. Um ajudando, um formando o outro, um formando o outro, um formando o outro. Senão mamãe não tinha dinheiro para formar os filhos. 






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