Mais
um pequeno estudo no seio da disciplina Formação do Espaço Alagoano Mestrado
Dinâmica do Espaço Habitado, FAU/UFAL.
Cristianna olha e conversa consigo mesma e com o Reginaldo, um bairro
que se estende quase abaixo de Maceió.
É um olhar atento, indicando procura, busca, querendo narrar e entender e buscar, inclusive, caminhos. Não se olha impunemente, sempre há um preço envolvendo e, sobretudo, a ser pago com a emoção embora, às vezes, não fique claro. Não se transforma a cidade em objeto; apenas se procura dialogar com ela e no processo, responder as suas perguntas e as dela.
Mesmo que você nunca se dê conta, a cidade sempre está perguntando a você, querendo que você fale. É preciso que você se habitue a ouvir as perguntas que são feitas e a fazer outras tantas.
Não resta dúvida: existe a possibilidade e a necessidade deste diálogo. Não se pode fazer uma história colonizadora e nem muito menos dominar o espaço. O diálogo pode ser possível desde que se tenha a humildade de buscar ouvir o tempo e seu modo. (LSA)
Os olhos e o vale do Reginaldo
Cristianna Carnaúba
les yeux et la vallée gli occhi e la valle los ojos y el valle the eyes and the valley
Quinzenalmente,
tenho visitado o Vale do Reginaldo com o intuito de me aproximar da comunidade
e apurar meu olhar sobre a realidade destas pessoas. Na data das fotos
(segunda-feira, 30/04/2018), estávamos em um dia de chuva em Maceió. Como não
existe calçamento, é de se imaginar que a comunidade estaria com lama e poças
de água. Mesmo nesse cenário, não ouvi reclamações de moradores. Todo
resignados e andando para lá e para cá, resolvendo suas questões cotidianas;
ninguém aparentava estar incomodado com a lama.
Fui
abordada por um funcionário dos Correios me reclamando que a colocação de
paralelepípedos teria um custo irrisório perante o tanto que os políticos
roubam. Concordei. Mas ele, assim como eu, não moramos no Vale. Noutro momento,
presenciei o desabafo de uma moradora, que estava com rachaduras em casa por
conta da chuva e não teria condições de fazer reparos, ganhava pouco e tinha
problemas de saúde, também não queria sair da sua casa, porque tinha na
vizinhança o apoio para o caso de alguma emergência.
Diante
das necessidades desta senhora, eu e o rapaz dos Correios, ambos com botas
impermeáveis e uma casa também impermeável para voltar, tínhamos um senso do
“problema coletivo” que era mais nosso do que dos moradores do Reginaldo. Com
uma moradia – e tudo o que se refere a morar - em perigo, andar por poças de águas é um
problema irrisório para essa gente.
Vamos às imagens como textos.
images and text immagini e testo imágenes y texto
o Foto 1: Vale do Reginaldo, tirada em 30/04/2018.
A foto foi feita numa segunda-feira de chuva em Maceió.
Sempre que olho para essa ponte, penso que ela vai cair, não tenho segurança de
passar por ela, acho que vou escorregar e dar um mergulho involuntário no
riacho. Tenho a opção de não andar por ela. Para quem mora do outro lado do
riacho, não existe outra opção.
o
Foto 2: Vale do Reginaldo, tirada em
30/04/2018. Durante meu tempo de visita à comunidade, este senhor
ficou calmamente sentado na calçada durante toda a manhã. Parecia que estava em
alguma cidade do interior alagoano. O Reginaldo em muito se parece com cidades
do interior. As pessoas se conhecem e reconhecem de imediato quem é de fora.
São receptivos com os forasteiros. Por vezes me perguntam se é dia de vacina,
exame de vista, distribuição de leite. Não tenho nada de novo para oferecer a
eles, pelo contrário, saio de lá a cada visita com alguns paradigmas quebrados
e muito a aprender com a realidade dessa gente.
o
Foto 3: Vale do Reginaldo, tirada em
30/04/2018. Uma amostra do comércio da comunidade. Vi mercado de
bairro muito sortido de produtos, lava jato para motos, farmácias e outros
pequenos comércios. A tecnologia do cartão magnético também aparece por aqui.
Apesar de excluídos da cidade formal, os sinais de transmissão da tecnologia
não excluem essas pessoas.
Foto 4: Vale do Reginaldo, tirada em 30/04/2018. Para mim esta foto
representa a demagogia do poder público. Os prédios ao fundo foram entregues há
menos de três anos, não existe saneamento básico, infraestrutura urbana. Limpeza
pública não anda por aqui. Pessoas sem muita opção de moradia, baixa renda produzindo
suas casas de modo desordenado é compreensível. Mas o Estado construindo
prédios nestes moldes é uma aberração.
o
Foto 5: Mercado do Artesanato, tirada em
12/01/2018. Sempre que visito o mercado do artesanato, encho os
olhos com as barracas de produtos locais. O colorido dos objetos, a matéria
prima genuinamente local, e os artesãos comercializando seus produtos
representam, ao pé da letra, o que é a cultura alagoana.
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