ESTE texto é parte de livro em elaboração pelo professor Dr. Amaro Hélio Leite da Silva sobre o pensamento social em Alagoas e traz um depoimento do professor José Nivaldo da Silva Mota, que participou do contexto político onde viveu o Coletivo Índios de Alagoas: cotidiano e etno-história. Este Coletivo, sua história, é o objetivo do Amaro.
Agradecemos aos dois professores
e o leitor terá um panorama do contexto de vida do Coletivo mencionado. Devo
dizer que esta matéria de foi coordenada pelo Professor Amaro
Hélio. Chato publicar uma coisa em que você figura, mas é dever de ofício
colaborar na documentação de nossa história UFA!!!liana. UFA! Obrigado ao Amaro
e ao Motão, grandes amigos; mas obrigado mesmo ao anônimo vendedor de picolé,
que Motão menciona. Desculpem meu nome estar no contexto da fala. Um abraço
Motão!!!
HISTÓRIA DO PENSAMENTO SOCIAL DE ALAGOAS: A AULA MAGNA DO VENDEDOR DE PICOLÉ
Os aprendizados do Professor José
Nivaldo da Silva Mota
Contato com o grupo. Seminário Brasil 500 anos. A importância do
professor Sávio. O contexto político. As atividades do Coletivo Índios de Alagoas. A importância da
experiência. Movimento estudantil. Metodologia saviana.
Foi uma
coisa assim: nós chegamos no final da tarde e ficamos até altas horas da noite,
mas ninguém cansou e ninguém arredou o pé. Pena que na época não se filmou, só
fotografia, mas eu não sei por onde andam esses registros. Patrícia Pedri foi
uma militante, Gerson Guimarães, Alexandre Fleming, Jailton... São pessoas que
estou lembrando agora de cabeça. O curso de História, o CA de História, a
partir de 1998, os quatro anos que nós passamos lá, ele sempre esteve
preocupado com esse tipo de conotação. Para além dos muros da Ufal, dos muros
das salas do CHLA. Ele foi pra fora. Ele sempre foi um Centro Acadêmico atuante
e com a preocupação da formação, evidentemente.
José Nivaldo da Silva Mota
José Nivaldo da Silva Mota
Este
texto é parte de um livro em elaboração pelo professor Dr. Amaro Hélio Leite da
Silva sobre o pensamento social em Alagoas e traz um depoimento do professor José Nivaldo da Silva Mota, que participou do contexto político onde viveu
o Coletivo Índios de Alagoas: cotidiano
e etno-história. Este Coletivo, sua história, é o objetivo do
Amaro. Agradecemos aos dois professores
e o leitor terá um panorama do contexto de vida do Coletivo mencionado. Devo
dizer que este número de Campus/O Dia foi coordenado pelo Professor Amaro
Hélio. Chato publicar uma coisa em que você figura, mas é dever de ofício
colaborar na documentação de nossa história UFA!!!liana. UFA! Obrigado ao Amaro
e ao Motão, grandes amigos; mas obrigado mesmo ao anônimo vendedor de picolé,
que Motão menciona. Desculpem meu nome estar no contexto da fala. Um abraço
Motão!!!
Este texto se encontra em livro a publicar do Professor Amaro Hélio
Leite da Silva, onde discute caminhos que foram tomados no estudo e defesa do
índio em Alagoas. Um texto introdutório do mesmo professor foi publicado por nosso
suplemento em nosso número 226. Pode ser encontrado na redação do jornal e,
também, no Blog do Sávio Almeida. Este texto foi resumido para efeito de
conformar-se ao espaço de Campus/O Dia, mas sairá integral na versão livro. Amaro Hélio Leite da Silva é professor do Instituto
Federal de Alagoas, mestre em sociologia pela UFAL, doutor em história pela
UFPE. O entrevistado José Nivaldo da
Silva Mota é Professor de História,
diretor do Sindicato dos Professores das Escolas Particulares (Sinpro) e diretor da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee).
Os aprendizados de José Nivaldo da Silva Mota
Contato com o grupo
O meu contato com o professor Sávio remonta de quando ingressei na
Universidade Federal de Alagoas. Naquele momento, o movimento estudantil –
final da década de 1980 para início da década de 1990 – era de bastante
ebulição, bastante movimentação, tanto nas questões cotidianas quanto locais e
nacionais, pautado por formação, palestras, seminários. A bem da verdade, isso
vai nos colocar em dois momentos distintos. No primeiro momento em que eu tive
engajado, não fazia só movimento estudantil, tinha outras tarefas. Eu perdi um
pouco de tempo na universidade, entre aspas, porque eu tive que me afastar.
Quando eu retornei decidido a
terminar meu curso, foi um momento importante, porque voltei em 1998 e nós
retomamos o Centro Acadêmico de História que estava paralisado: foi uma geração
muito boa de alunos e também com uma boa dosagem de experiência – basicamente
de estudantes do noturno –, onde se conjugou uma série de fatores que permitiram
que a gente avançasse algumas linhas na
universidade. E uma delas foi uma sacada genial, junto com o Sávio, de a gente fazer os 500 anos do Brasil. Havia na
verdade os 500 anos oficiais, que foi colocado pela Reitoria, mas com aquela
pompa... E nós fizemos o contrário.
Seminário Brasil 500 anos
Nós fizemos o “Brasil 500 anos” pelo Centro Acadêmico de História... Junto
a outros centros acadêmicos, mas prioritariamente o de História. O Sávio foi o
palestrante junto a índio, sem-terra,
sem-teto, e isso possibilitou que o nosso tivesse mais gente que o oficial. Não
coube dentro do CHLA (hoje, Ichca). Naquele momento, o auditório foi pequeno,
as pessoas se acotovelaram dentro dele, nos corredores e fora, naquele
descampado que eu não sei se ainda existe [...]
Foram seminários que fizemos em História e extremamente positivos. Isso entre 1998 e
2001. E esse sobre os 500 anos foi demais. Pena, e o Sávio pode comprovar isso,
que nós queríamos fazer um outro seminário, e esse era muito mais ousado [...] Era a gente organizar na universidade um
seminário com aqueles excluídos da sociedade, os perseguidos: negros,
homossexuais, índios, ladrões, bandidos que estivessem soltos e que pudessem
falar sobre a sua realidade, que não é a realidade daqueles que estudaram na
universidade e achavam que a universidade era uma ilha. Essa foi uma grande
sacada que o Sávio teve e que eu achei muito importante, porque botava a
universidade para além dela. Não a universidade, aquela ilha dos intelectuais,
mas daquele povo que sustenta a universidade, que paga os seus impostos e faz
com que tudo aquilo funcione, mas está excluído. [...]
A ideia era discutir o outro 500, a partir dos excluídos. Mostrar como era a
realidade dos sem-terra, como era a realidade dos índios, dos sem-teto, como
era a realidade dos homossexuais, também dos professores, alunos... Todos ali
discutindo. Foi uma coisa assim: nós chegamos no final da tarde e ficamos até
altas horas da noite, mas ninguém cansou e ninguém arredou o pé. Pena que na
época não se filmou, só fotográfia, mas eu não sei por onde andam esses
registros. Patrícia Pedri foi uma militante, Gerson Guimarães, Alexandre
Fleming, Jailton... são pessoas que estou lembrando agora de cabeça. O curso de
História, o CA de História, a partir de 1998, os quatro anos que nós passamos
lá, ele sempre esteve preocupado com esse tipo de conotação: para além dos
muros da Ufal, dos muros das salas do CHLA. Ele foi pra fora. Ele sempre foi um
centro acadêmico atuante e com a preocupação da formação, evidentemente. [...]
A importância do professor Sávio
Sou suspeito para falar do Sávio; eu sou muito fã do Sávio. Ouvia
muito o Sávio. Nós sentávamos naquela cantina ali [do CHLA] pra tomar
refrigerante e batermos longos papos. Às vezes, eu perdia até aula pra ficar
ouvindo o Sávio, numa aula paralela e a partir daquelas ideias, muitas vezes
dele, nós colocávamos em prática. Na verdade, era muito compartilhado, do ponto
de vista das ideias, havia uma afinidade de pensamentos de todos nós e o Sávio
sempre foi essa referência. Eu não tenho a menor dúvida. Eu gosto de graça do
Sávio, eu acho uma pessoa fantástica, e além de tudo é um grande intelectual. E
ele com toda paciência do mundo ficava ouvindo a gente, nosso sectarismo.
Muitas vezes, tentando consertar aqui e ali nossas posições radicalizadas e ele
achava muita graça nisso, mas ao mesmo tempo foi um cara prático, não ficou
apenas no campo da teoria.
Um intelectual brilhante e as suas ideias serviram muito pra gente.
Formávamos isso na cantina, num lanchinho ali rápido... Às vezes uma hora, uma
hora e meia de conversa. Depois nós saíamos e ficávamos matutando... Vamos
fazer? Vamos! E ele sempre à disposição da gente, pra ajudar a fazer essa
virada. Episódios de enfrentamento com a coordenação, até com professores
conservadores... Não que a pessoa não tenha o direito de ser conservador, isso
faz parte do processo. [...]
O contexto político
Havia um intenso debate político entre as forças de esquerda (PCdoB,
PSTU, PT), grupos minoritários; havia uma intensa mobilização política. Ninguém
aparelhava o Centro Acadêmico. [...] Quando nós chamamos, por exemplo, Fora FHC
de 1999 a 2000, o seminário contra a Alca (Área de Livre Comércio das
Américas), que os Estados Unidos queriam impor aqui, foi feito um intenso
debate com palestras e seminários e os alunos iam participar. Nós dávamos o
certificado, mas não era só pelo certificado, mas pelo ganho político. Nós
fizemos vários debates. A Alca foi um deles, a Guerra do Iraque foi outro.
Seminário para tratar da Guerra do Iraque, da agressão imperialista Norte
Americana no Iraque. Foi feita uma discussão dentro da universidade a partir
desse agrupamento político que havia dentro da Ufal, naquele momento no curso
de História, momento ímpar.
Mas não era somente no curso de História que havia isso. Havia em
Ciências Sociais e um pouco menos em Letras. História e Ciências Sociais mais.
Nós fizemos em torno de seis seminários, fora a Semana de História que nós
realizamos. A disputa para o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE),
eleição para delegado com debates, com a sala cheia. Imagine isso. Você
vivenciou isso. Você bem mais novo que eu. Como eu falei no início, eu entrei
na universidade com a idade de sair... Bem depois ... E foi por outros caminhos
que eu tive que percorrer, do ponto de vista da luta política, revolucionária.
Uma opção que eu me orgulho muito e não me arrependo de nada do que eu fiz. Se
desse para fazer tudo de novo, eu faria.
Agora você imaginar, botar um cartaz “debate pra eleição do Congresso
da UNE” e você topar o auditório... Isso é um caso até paradoxal, porque o
movimento estudantil já começava a ter uma queda ali, na minha avaliação. Ainda
estava respirando, mas com muita dificuldade. Mesmo assim, por conta dessas
ações, desses seminários, da politização, da conscientização, com muita
tranquilidade as pessoas começaram a entender. Aquela geração ali, dos quatro
anos; foi muito importante aquele agrupamento. O saldo foi extremamente
positivo em ter vivenciado aquilo.
As atividades do grupo Índios de Alagoas
Os grupos que o Sávio foi montando, eu não participei. A minha
preocupação era em assumir e não dar conta. Eu não procurei o Sávio, por isso.
E achava também que tinha bastante gente jovem entrando nesses grupos. Eu achei
natural, porque eu tinha outros objetivos. Não era que a participação nisso não
fosse o objetivo de qualquer um, do ponto de vista do aprendizado, mas eu tinha
outros horizontes, naquele momento. Nos seminários que nós organizamos o Sávio
deu grande contribuição, e ele organizou... Com certeza, nós participamos de
todos.
Eu participei, particularmente, de todos. Os grupos em si que ele foi
formando, trabalho com índios... Particularmente
esse, eu via o grupo de estudo. Tinha uma menina aqui de História, não sei se
ela foi embora. Cristina, era até mineira. Uma menina de uma cabeça muito boa,
avançada e fazia parte desse grupo. Eu participava das conversas, porque como o
Sávio tinha o hábito de se reunir nos corredores, sentadinho, as pessoas
encostavam, ele começava a conversar com aquela pessoa e eu ouvia. Eu sempre
achei isso muito legal.
Não sei se teve outros grupos, na parte do candomblé, se havia
discussão. A Cida, Cidoca, nossa eterna professora que eu tenho uma saudade
imensa de dar um abraço nela. Sempre calma, muito tranquila... Eu via os dois
conversando sobre isso, com sorriso largo... Iam fazer pesquisas nos terreiros.
O Sávio teve essa preocupação com aqueles excluídos. E teve outro também que
até foi fruto de um trabalho de um livro dele, sobre os comunistas de Alagoas,
a origem. [...] Até que ele me perguntou se tinha algum documento que pudesse
ser entregue a ele, nesse sentido. Então, o Sávio era um cara de várias
frentes. Era não, é um cara de várias frentes. Estava sempre pensando em
organizar algo. Acho isso muito legal. E eu vi tudo isso sendo montado lá na
universidade.
A importância da experiência
Isso contribuiu de forma muito interessante para todos que se
envolveram; do ponto de vista do amadurecimento, do conteúdo político, de novas
leituras, de abrir mais os olhos para uma realidade que muitas vezes a gente
não enxergava. Eu vou falar por mim. Eu tinha uma visão muito sectária com
relação a intelectuais. Eu achava que a prática estava acima de tudo. E com
esses encontros, com esses seminários a gente vai alargando, porque todo jovem
tem esse sentimento de que a revolução vai estar na esquina e de que a leitura
você relega. E uma coisa, que para mim, foi fundamental é você valorizar aquilo
que é produzido aqui também.
[...]
Essas conversas com Sávio, os seminários, os cursos, os grupos [...]
abriram para mim possibilidade de uma nova leitura, uma análise mais daqui,
nossa... Eu vou citar mais um; não porque eu puxe a sardinha para o meu lado e
também sou suspeito. Eduardo Bomfim, um intelectual que escreveu mais de 60
livros publicados com análise política sobre a nossa realidade estadual e
nacional. Isso para mim tem que ser valorizado. Tem outros que agora eu não
estou lembrando. Você pega Sidney Wanderley na poesia, você abre os horizontes.
Você não fica fechado naquela visão da estreiteza política. E muitas vezes o
que vem de fora, e o que vem de fora não retrata a nossa realidade. Quem sabe a
nossa realidade somos nós. E aí você tem esses intelectuais que vão mostrando
tudo. Esse foi o maior legado deixado por isso tudo que nós passamos – de 1998,
2000 e 2001 – foi ter conhecido essas figuras mais de perto, ter convivido com
elas e ter uma abertura, vamos dizer assim, naquilo que nós tínhamos de
pensamento fechado naquele período.
Movimento estudantil
Quando eu comecei a despertar para o movimento social foi entre 1981 e
1982. Eu vim terminar o ensino médio por aqui, em Maceió... Eu morava em
Arapiraca. Mas só que em Arapiraca já tinha um grupo, que eu não sabia quem
era, que aparecia nas feiras... A Tribuna da Classe Operária, jogado... E eu
sempre gostei de ler jornais, impresso. Eu não gosto dessas coisas de
computação, internet, livro digital e eu comecei a despertar. Tinha um grupo em
Arapiraca que discutia política; tinha aquele atentado no Rio-Centro e nós
discutíamos no cinema, mas muito solto.
Quando eu vim parar em Maceió, indo pra praia jogar bola – porque eu
morava no Prado – e uma das vezes (não sei por que) eu vim pela Rua do
Imperador. E na Rua do Imperador tinha o Diretório Central dos Estudantes
(DCE), e no DCE eu encontrei com Mardem Antônio, militante que foi do PCdoB, já
falecido, de saudosa memória. E ele estava se organizando para reconstruir a
União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (Uesa). Foi onde eu conheci o
Estevão, o Clayton Rosas; conheci o Zé Roberto, nessas primeiras reuniões. Em
1983, nós refundamos a Uesa. Eu não entrei na gestão, foi a gestão do Cleber
Santos. Como eu tinha terminado e não tinha passado no vestibular, eu me
rematriculei no curso técnico dentro do Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas
(Cepa), no Colégio Laura Dantas pra continuar com vínculo no movimento
estudantil secundarista. Porque a luta da Uesa empolgava todo mundo. A partir
daí, eu comecei a ter contato.
Em 1985, ou foi 1984, eu entrei na gestão do Estevam e fiquei mais um
ano no movimento estudantil, participando. E aí, a Uesa não era só para os
estudantes secundaristas... A Uesa era para passar dos limites. Foi aí que
apareceram sem-terra, sem-teto, índio... todo tipo de luta nós fomos
desenvolvendo nesse processo. Depois, na década de 1990, eu fui ser diretor da
Central Única dos Trabalhadores (CUT), dirigente partidário. Com vinte poucos
anos, já era uma pessoa que participava, ia para acampamentos dos sem-terra,
vinha com eles marchando até Maceió, ficava com eles nos acampamentos que eles
faziam aqui e que eram muito marginalizados.
E era questão de polícia. A polícia tratava não como uma questão
social. Era muito mais feroz. Muito mais do que hoje, embora hoje esteja um
movimento de direita muito forte, conservador e alguns chegando às raias do
fascismo explícito. Mas, naquela época, você tinha isso e com muita repressão.
Quando os sem-terra chegavam em Maceió era um problema. Então, quando nós
realizamos isso aí, esses movimentos, já não foi uma coisa tão difícil de
compactar e trazê-los para esse tipo de discussão.
Metodologia saviana
Agora, se você me permite, tem uma coisa que eu gostaria de contar do
Sávio. O Sávio pegou o cara que vendia picolé dentro da Ufal, um senhor que
passava todos os dias. E o Sávio propôs ao cara dar aula no lugar dele. Uma
aula com ele supervisionando, evidentemente. No outro dia, o cara foi todo
arrumado. E o Sávio disse: “Conte sua vida para esses meninos de Ciências
Sociais”. Só o Sávio, com a autoridade, dele pra fazer um negócio desses.
Mas isso é um marco, tem que ser contado. Evidente que ele não vai
contar isso. Alguém vai ter que contar, pesquisar com ele. Tem outras histórias
fantásticas; essa é uma delas. Eu estava lá e vi a presença do cara que vendia
picolé, que passava todos os dias vendendo picolé, e ele [o Sávio] se invocou
da cabeça: “Bicho, tu quer dar aula aqui? Você vem amanhã tal hora...”. O cara
foi todo arrumadinho. O cara foi lá e deu o recado dele. Então, o Sávio era
muito disso. É muito disso.
E tivemos também nesse processo, é bom lembrar disso... Surgiu o
projeto Mulungu no Vergel. Na Vila Brejal, não é Vergel não, é Vila Brejal,
naquela favela que fica por trás da Secretaria de Educação do Município [Bom
Parto]. Uma realidade muito difícil, e os meninos, lá, se organizam e criam um
movimento muito forte de artes, de raízes, e você tem vários deles hoje, o
Rogério Dias é poeta, que foi fruto desse movimento. Eles tinham uma
sexta-feira lá que era no fundo de quintal. Eu esqueci o nome que eles
diziam... era “Poesia no Quintal”. Alguma coisa nesse sentido. E nós fizemos
ações nesse quintal, nós fomos pra dentro da favela, onde eles moravam. Fizemos
até passeata contra a violência, porque tinha um jovem que foi assassinado lá e
nós fizemos a passeata lá. Pegamos o carro de som do Sindicato dos Químicos e
Petroleiros, no sábado à tarde; ousamos fazer isso.
E ganhamos a confiança desse pessoal. Eles se juntam com a gente, e
muitos deles conseguem sair de uma situação de vulnerabilidade para uma
ascensão social, do ponto de vista da intelectualidade, da participação efetiva
da luta. Isso foi muito importante. E nós levamos esses meninos pra dentro da
universidade, por meio do Projeto Mulungu. Acho que não existe mais, dispersou.
Mas foi um movimento importante, entre 2000 e 2001... Por aí... Foi um projeto
muito bom.
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