Airton fez a disciplina e depois voltou a nos dar o prazer de sua convivência. Seguem seus comentários, que sempre partilha com um grupo de ouvintes. A bela foto traz duas cidades. Qual delas é a cidade? (LSA)
REFLEXOS
Airton Omena
A cidade é por essência espaço
comum e palco da vida urbana. Mas também é verdade que, no íntimo, ela é única
para cada indivíduo, construída a partir das experiências e vivências que cada
um tem e, portanto, são muitas as interpretações e significações de um único
lugar, um bairro e enfim, que a cidade vem a ter no mundo. Como uma colcha de
retalhos, vivemos em meio a vários “mundos” que se conectam e interagem fruto
das relações, da história, da cultura, do humor, do conhecimento e dos contatos
de cada indivíduo.
Assim “criamos” nossa realidade e
vemos o mundo através dos reflexos, do nosso filtro íntimo de
referências e, parafraseando Platão, das sombras que traduzimos na parede da
nossa retina e que são pura projeção da realidade maior que é o mundo ‘lá fora”
– a verdade, o todo.
E é neste termo que foi escolhida
a fotografia, a imagem do reflexo da água nos mostrando um dos
infinitos pontos de vista dos edifícios da Rua Sá e Albuquerque – Jaraguá. Para
mim ela fala que, cada olhar, cada
experiência, cada fato vivido cria infinitas interpretações e leituras do
espaço, e que somente o contato, a troca de informação e a empatia pode vir construir,
a costurar, o que seria a verdade do mundo, a colcha de retalhos, o todo. Esse
todo para mim, experiência íntima, seria justamente o produto da conexão do
mundo atuando como sistema que se regula, desequilibra/equilibra e se
transforma numa produção e reprodução da vida, na reinvenção em movimento, a
transformação, a reciclagem de si.
E nesses movimentos, conflitos, e polarização – principalmente pós era industrial – vemos a emergência das crises urbanas, social e cultural que temos hoje, também fruto da volatilização dos conceitos e relações decorrentes da urgência da era da internet. Conceitos que duraram eras hoje se desfazem em segundos, verdades são transformadas, tempos líquidos, e a informação, que também virou mercadoria, não mais somente instrui, acrescenta, ou denota conhecimento, mas também virou artimanha de controle de massa, de dispersão e distração.
Concluo reafirmando que é preciso
cultivar com cuidado todos os canais de construção do nosso conhecimento e das
nossas referências. Para que não caiamos na inércia de sermos manipulados a
exemplo da regra do – Pão e Circo – romano. Fundamentemos nossos reflexos
dos mundos em que vivemos em verdades sólidas que resgatem o todo fruto do contato, e não no mundo egoísta que cada um carregamos dentro de nós.
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