Esta é uma postagem sobre uma artista plástica –Myrian de Almeida – que trabalha com colagem de tecidos. Temos aqui um depoimento de um grande artista de Alagoas e, também, umas tantas Iemanjas que ela criou e iluminam asas daqui, dacolá e ate das estranjas.
Sinta o poder e a força da criação.
A Arte de Myrian..
Escrever sobre a obra de uma artista não é tarefa fácil.
Principalmente quando essa artista tem uma maneira de criar e produzir sem um
alinhamento explícito com algum movimento ou vanguarda. Desvendar a trajetória
dessa artista é uma atitude muitas vezes imprudente, pois se corre o risco à infidelidade
aos seus pressupostos artísticos. Mas, vamos em frente!
A Arte de Myrian é narrativa e conta histórias de um
cotidiano, da infância, dos lugares, das pessoas e consegue transformar aquilo
que é banal em algo extraordinário. Assim, vagando pelas lembranças, em uma de
suas obras, ela representa a imagem de seu pai, sentado em uma antiga cadeira a
contemplar uma paisagem bucólica e dessa forma, sem desmerecer nenhum detalhe,
capta a essência e a personalidade do ente querido. Pois, como bem descreve o
filósofo Alain de Botton: “A Arte é uma forma de preservar experiências, muitas
das quais são belas e passageiras...”.
A Arte de Myrian nos convida a uma nova percepção do
“simples” com criatividade e nos instiga a um olhar mais contemplativo, a enxergar
a beleza em recortes que ela compõe com extrema sensibilidade e delicadeza.
Desse ponto de vista, parece nos trazer um sentido de harmonia e uma sensação do
que realmente é importante à vida. A sacralidade, um tema abundante em sua
obra, é uma atitude devocional à Arte, as imagens refletem os aspectos da nossa
cultura sincretista: O catolicismo nas santas – divinamente representadas com
suas iconografias e a umbanda e candomblé com Iemanjás sensualmente mostrando
seus encantos.
A Arte de Myrian tem identidade marcante. Assim descreve o
Pedro Cabral: “... uma artista que talvez seja a única a criar personagens: a
garota, a sombrinha, o gato e a mala.” Acrescento ainda as flores e a
originalidade, num processo continuo e diversificado, não se prendendo, nem
poderia, ao figurativo e, nessa ruptura, incorpora elementos geométricos
ritmados e coloridos com uma técnica de colagem (panos sobre pano), precisa e
segura.
A Arte de Myrian não se aprisiona nem é subjugada a nenhum
academicismo estético, os relevos pictóricos entrecortados das paisagens, criam
a sensação da perspectiva através de planos de massas compostos cuidadosamente,
numa linguagem inovadora. Quiçá o nascimento de uma nova estética ao nível da
palavra que, como enfatiza Stroeter: “... é possível identificar duas maneiras
de invenção artística no processo de criação, e que correspondem a dois vetores
de força: um que nasce do social, do público, do popular, do comunitário (ao
nível da língua); outro que nasce da originalidade do trabalho pessoal de um
artista (ao nível da palavra).”
A Arte de Myrian é sentimental sem ser piegas, pois nos
conduz ao mais íntimo e nostálgico pertencimento a um passado onde as relações
humanas eram mais aconchegantes, enfocando a vida e as paisagens do campo,
despertando na consciência e apontando as virtudes da simplicidade, como a nos
mostrar que o paraíso, ainda pode ser aqui.
Eis a artista Myrian! Cujo trabalho é único e múltiplo. A
originalidade de sua Arte inquieta o observador, não o deixa indiferente ou
impassível, tudo é louvável! Um talento ímpar, uma força de imaginar e
construir incomum. Salvador Dali, disse certa vez: “Os talentos nascem como
cogumelos, não exige nenhuma explicação”. O talento da artista se evidencia, ou
pode se explicar, no perfeccionismo, na articulação cuidadosa das cores, essa
última, torna-se tão enfática que se evidencia no cuidado com a combinação, na
montagem de um prato com pimentões multicoloridos. Uma habilidade e perspicácia
no perceber e representar os sentimentos humanos, traduzidos em obras que
poderiam ser nomeadas: “Saudade”, “Ternura”, “Melancolia”, “Alegria”... Sentimentos
tão comuns na gente do nordeste. Assim,
sua obra se destaca no “establishment” artístico da Maceió do século XXI.
Concluo, enaltecendo o poder de encantar, a força e a grandeza da Arte de
Myrian.
Eduardo Bastos
Iemanjá: l'órixa de la mer
the orixá of the sea
l'orixá del mare
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