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quinta-feira, 31 de maio de 2018

Iemanjá e a artista: um diálogo de cores

Esta é uma postagem sobre uma artista plástica  –Myrian de Almeida – que trabalha com colagem de tecidos.  Temos aqui um depoimento de um grande artista de Alagoas e, também, umas tantas Iemanjas que ela criou e iluminam asas daqui, dacolá e ate das estranjas.
Sinta o poder e a força da criação.

A Arte de Myrian..

Escrever sobre a obra de uma artista não é tarefa fácil. Principalmente quando essa artista tem uma maneira de criar e produzir sem um alinhamento explícito com algum movimento ou vanguarda. Desvendar a trajetória dessa artista é uma atitude muitas vezes imprudente, pois se corre o risco à infidelidade aos seus pressupostos artísticos. Mas, vamos em frente!
A Arte de Myrian é narrativa e conta histórias de um cotidiano, da infância, dos lugares, das pessoas e consegue transformar aquilo que é banal em algo extraordinário. Assim, vagando pelas lembranças, em uma de suas obras, ela representa a imagem de seu pai, sentado em uma antiga cadeira a contemplar uma paisagem bucólica e dessa forma, sem desmerecer nenhum detalhe, capta a essência e a personalidade do ente querido. Pois, como bem descreve o filósofo Alain de Botton: “A Arte é uma forma de preservar experiências, muitas das quais são belas e passageiras...”.
A Arte de Myrian nos convida a uma nova percepção do “simples” com criatividade e nos instiga a um olhar mais contemplativo, a enxergar a beleza em recortes que ela compõe com extrema sensibilidade e delicadeza. Desse ponto de vista, parece nos trazer um sentido de harmonia e uma sensação do que realmente é importante à vida. A sacralidade, um tema abundante em sua obra, é uma atitude devocional à Arte, as imagens refletem os aspectos da nossa cultura sincretista: O catolicismo nas santas – divinamente representadas com suas iconografias e a umbanda e candomblé com Iemanjás sensualmente mostrando seus encantos.
A Arte de Myrian tem identidade marcante. Assim descreve o Pedro Cabral: “... uma artista que talvez seja a única a criar personagens: a garota, a sombrinha, o gato e a mala.” Acrescento ainda as flores e a originalidade, num processo continuo e diversificado, não se prendendo, nem poderia, ao figurativo e, nessa ruptura, incorpora elementos geométricos ritmados e coloridos com uma técnica de colagem (panos sobre pano), precisa e segura.
A Arte de Myrian não se aprisiona nem é subjugada a nenhum academicismo estético, os relevos pictóricos entrecortados das paisagens, criam a sensação da perspectiva através de planos de massas compostos cuidadosamente, numa linguagem inovadora. Quiçá o nascimento de uma nova estética ao nível da palavra que, como enfatiza Stroeter: “... é possível identificar duas maneiras de invenção artística no processo de criação, e que correspondem a dois vetores de força: um que nasce do social, do público, do popular, do comunitário (ao nível da língua); outro que nasce da originalidade do trabalho pessoal de um artista (ao nível da palavra).”
A Arte de Myrian é sentimental sem ser piegas, pois nos conduz ao mais íntimo e nostálgico pertencimento a um passado onde as relações humanas eram mais aconchegantes, enfocando a vida e as paisagens do campo, despertando na consciência e apontando as virtudes da simplicidade, como a nos mostrar que o paraíso, ainda pode ser aqui.
Eis a artista Myrian! Cujo trabalho é único e múltiplo. A originalidade de sua Arte inquieta o observador, não o deixa indiferente ou impassível, tudo é louvável! Um talento ímpar, uma força de imaginar e construir incomum. Salvador Dali, disse certa vez: “Os talentos nascem como cogumelos, não exige nenhuma explicação”. O talento da artista se evidencia, ou pode se explicar, no perfeccionismo, na articulação cuidadosa das cores, essa última, torna-se tão enfática que se evidencia no cuidado com a combinação, na montagem de um prato com pimentões multicoloridos. Uma habilidade e perspicácia no perceber e representar os sentimentos humanos, traduzidos em obras que poderiam ser nomeadas: “Saudade”, “Ternura”, “Melancolia”, “Alegria”... Sentimentos tão comuns na gente do nordeste.  Assim, sua obra se destaca no “establishment” artístico da Maceió do século XXI. Concluo, enaltecendo o poder de encantar, a força e a grandeza da Arte de Myrian.

Eduardo Bastos

Iemanjá: l'órixa de la mer
the orixá of the sea
l'orixá del mare


 








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