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quinta-feira, 3 de maio de 2018

Maceio: a cidade em re-vista e suas múltiplas pobrezas


Este  é mais um exercício de foco  – como chamo –  dentro da disciplina Formação do Espaço Alagoano no Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado, FAU/UFAL. Trata-se de afinar-se  com o mundo, arrancar pedaços dele para poder começar a pensar no cotidiano,  onde se encontra a fundamentação do processo histórico.

Cinco pedaços desta imensa Maceió conseguiriam representá-la? Vamos ver no que deu o destaque dado pelo aluno, nesta espécie de passeio pelas ruas. 

Fica sempre uma pergunta em minha cabeça, quando recebo estas fotos:  será que somos, na realidade,  fotografados por aquilo que vemos? Usando a linguagem corrente: será que tudo não se trata de um imenso self?

Bom, são jovens pesquisadores que se vão formando e isto é um longo caminho que começa e parece não ter fim. O importante é que estão aí, lutando, batalhando, construindo e merecem todo o respeito de todos nós. 

Uma das grandes funções de um professor na pós é estimular a necessidade de se começar a partilhar publicamente,  as preocupações que se tem. É quando o conhecimento é essencialmente generoso. É generoso quem para, sente e partilha. Cinco pedaços de Maceió estão aqui e, por eles, é dito como a cidade nos chega e que somos, também, este grande coletivo que às vezes parece sem sentido. 

É dito em sala de aula, no imenso diálogo que se forma, que largue a formalidade e tente encontrar a relação mais densamente pessoal possível.  Fotografar e escrever o que tudo representa e, neste caso, o verbo representar é essencial. É muito bonito quando um jovem pesquisador começa a dar seus primeiros passos, começa a dar seus primeiros ensaios de linguagem. Respeito imensamente a tudo isto e lembro-me dos meus primeiros passos, sabendo que ainda vivo a mesma situação, no que se me lembro de um clássico chorinho: André de sapato novo. É como se todos os dias, aprendêssemos a usar sapato. 

Bom, está ai, a forma como um jovem pesquisador viu a cidade.  O que ele retratou, como retratou, quando, onde, a razão e o que pensou, dá, em si, um belo tema de pesquisa.  Qual é o mundo que ele encontrou?  Fotos e textos estão aqui sem qualquer retoque, saíram do forno como dizemos os antigos. É muito bonito ter a coragem de começar, de se expor. Gosto muito deste caminho que andamos juntos: aprendendo conjuntamente um com o outro e os dois com a cidade. 

Devo esclarecer que aluno especial é o que tem permissão de fazer a disciplina, mas que não se encontra formalmente matriculado no mestrado e no doutorado. 



Penso que fiz esta fotografia por volta de 2011. Muitos anos se passaram, mas ela continua atual no que demonstra como problema e que a situação  tem se transformado em  paisagem comum aos olhos da sociedade. Isto ocorreu na orla marítima de Maceió, em um dos bairros onde mora, majoritariamente, a elite da capital. Para mim, a beleza está no fato da própria cena estampar, em caixa alta, o que deveria ser indispensável aos olhos da sociedade e que, no entanto, é invisível para maioria.



Essa cena acontece corriqueiramente e passa quase despercebida pelos olhares acostumados a ela. Um ser humano,  quando em situação de rua, leva toda a sua casa dentro de uma mochila. Tudo que ele possui pode caber dentro desse espaço que para muitos é tão pequeno. Fotografei essa cena pensando sobre isso, como a percepção sobre os bens materiais é relativo. 









Essa fotografia foi registrada por uma amiga, também em uma das ações do Projeto Vincular. Nela, algumas coisas me chamam a atenção.  Salta-me aos olhos o fato o rosto do trabalhador –  e provável morador em situação de rua –  não ter sido capturado e me faz pensar que, para muitos eles, são invisíveis, mas existem aqueles que os olham de frente e buscam escuta-los e ajuda-los, que os enxergam como são: exatamente como nós.










Caminhando pelo canteiro deste bairro nobre que é a Ponta Verde,  me deparei com esses entulhos abandonados no meio do caminho e me veio um questionamento: “será que pobreza está somente relacionada aos bens materiais?”. Busquei no dicionário e por definição temos que a pobreza se refere à “escassez, pouca abundância”. Essas definições não poderiam então ser aplicadas a outros contextos? Porque nessa imagem eu vejo a pobreza da consciência coletiva, ambiental, a pouca abundância de educação e dentre outros tipos de escassez que transitam para além do aspecto financeiro.

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