Este
é mais um exercício de foco – como chamo – dentro da disciplina
Formação do Espaço Alagoano no Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado, FAU/UFAL.
Trata-se de afinar-se com o mundo, arrancar pedaços dele para poder
começar a pensar no cotidiano, onde se encontra a fundamentação do processo
histórico.
Cinco
pedaços desta imensa Maceió conseguiriam representá-la? Vamos ver no que deu o
destaque dado pelo aluno, nesta espécie de passeio pelas ruas.
Fica
sempre uma pergunta em minha cabeça, quando recebo estas fotos: será que
somos, na realidade, fotografados por aquilo que vemos? Usando a
linguagem corrente: será que tudo não se trata de um imenso self?
Bom,
são jovens pesquisadores que se vão formando e isto é um longo caminho que
começa e parece não ter fim. O importante é que estão aí, lutando, batalhando,
construindo e merecem todo o respeito de todos nós.
Uma
das grandes funções de um professor na pós é estimular a necessidade de se
começar a partilhar publicamente, as preocupações que se tem. É quando o
conhecimento é essencialmente generoso. É generoso quem para, sente e partilha.
Cinco pedaços de Maceió estão aqui e, por eles, é dito como a cidade nos chega
e que somos, também, este grande coletivo que às vezes parece sem sentido.
É
dito em sala de aula, no imenso diálogo que se forma, que largue a formalidade
e tente encontrar a relação mais densamente pessoal possível. Fotografar
e escrever o que tudo representa e, neste caso, o verbo representar é essencial.
É muito bonito quando um jovem pesquisador começa a dar seus primeiros passos,
começa a dar seus primeiros ensaios de linguagem. Respeito imensamente a tudo
isto e lembro-me dos meus primeiros passos, sabendo que ainda vivo a mesma
situação, no que se me lembro de um clássico chorinho: André de sapato novo. É
como se todos os dias, aprendêssemos a usar sapato.
Bom,
está ai, a forma como um jovem pesquisador viu a cidade. O que ele
retratou, como retratou, quando, onde, a razão e o que pensou, dá, em si, um
belo tema de pesquisa. Qual é o mundo que ele encontrou? Fotos e
textos estão aqui sem qualquer retoque, saíram do forno como dizemos os
antigos. É muito bonito ter a coragem de começar, de se expor. Gosto muito
deste caminho que andamos juntos: aprendendo conjuntamente um com o outro e os
dois com a cidade.
Devo esclarecer que aluno especial é o que tem permissão de fazer a disciplina, mas que não se encontra formalmente matriculado no mestrado e no doutorado.
Penso que fiz
esta fotografia por volta de 2011. Muitos anos se passaram, mas ela continua atual
no que demonstra como problema e que a situação tem se transformado em paisagem comum
aos olhos da sociedade. Isto ocorreu na orla marítima de Maceió, em um
dos bairros onde mora, majoritariamente, a elite da capital. Para mim, a beleza
está no fato da própria cena estampar, em caixa alta, o que deveria ser
indispensável aos olhos da sociedade e que, no entanto, é invisível para
maioria.
Essa cena
acontece corriqueiramente e passa quase despercebida pelos olhares
acostumados a ela. Um ser humano, quando em situação de rua, leva toda a sua
casa dentro de uma mochila. Tudo que ele possui pode caber dentro desse espaço
que para muitos é tão pequeno. Fotografei essa cena pensando sobre isso, como a
percepção sobre os bens materiais é relativo.
Essa
fotografia foi registrada por uma amiga, também em uma das ações do Projeto
Vincular. Nela, algumas coisas me chamam a atenção. Salta-me aos olhos o fato o rosto do
trabalhador – e provável morador em situação de rua – não ter sido capturado e me faz
pensar que, para muitos eles, são invisíveis, mas existem aqueles que os olham de
frente e buscam escuta-los e ajuda-los, que os enxergam como são: exatamente
como nós.
Caminhando
pelo canteiro deste bairro nobre que é a Ponta Verde, me deparei com esses
entulhos abandonados no meio do caminho e me veio um questionamento: “será que
pobreza está somente relacionada aos bens materiais?”. Busquei no dicionário e
por definição temos que a pobreza se refere à “escassez, pouca abundância”. Essas definições não poderiam então
ser aplicadas a outros contextos? Porque nessa imagem eu vejo a pobreza da
consciência coletiva, ambiental, a pouca abundância de educação e dentre outros
tipos de escassez que transitam para além do aspecto financeiro.
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