Esta é uma reflexão feita por Airton Omena, ex-aluno matriculado como especial na disciplina e hoje ouvinte, junto com amigos. Ele toma a cidade como uma pluralidade, como palco e movimento, com suas falase cada ponto marcada e demarcada.
A belíssima foto é de Didi Magalhães, designer que veio de São Paulo e tem sete anos de Maceió. Ela mantém uma Galeria de Arte em JARAGUÁ
REFLEXOS
Airton Omena
A cidade é por essência espaço
comum e palco da vida urbana; mas também é verdade que, no íntimo, ela é única
para cada indivíduo, construída a partir das experiências e vivências que cada
um tem e, portanto, são muitas as interpretações e significações de um único
lugar, um bairro e enfim, que a cidade vem a ter no mundo. Como uma colcha de
retalhos, vivemos em meio a vários “mundos” que se conectam e interagem fruto
das relações, da história, da cultura, do humor, do conhecimento e dos contatos
de cada indivíduo.
Assim “criamos” nossa realidade e
vemos o mundo através dos reflexos, do nosso filtro íntimo de
referências. E é nestes termos que foi escolhida
a fotografia que eu trouxe hoje: a imagem do reflexo da água nos mostrando um dos
infinitos pontos de vista dos edifícios da Rua Sá e Albuquerque – Jaraguá.
Para
mim ela fala que, cada olhar, cada
experiência, cada fato vivido cria infinitas interpretações e leituras do
espaço, e que somente o contato, a troca de informação e a empatia pode vir construir,
a costurar, o que seria a verdade do mundo, a colcha de retalhos, o todo.
Esse
todo para mim, experiência íntima, seria justamente o produto da conexão do
mundo atuando como sistema que se regula, desequilibra/equilibra e se
transforma numa produção e reprodução da vida, na reinvenção em movimento, a
transformação, a reciclagem de si.
Conceitos que duraram eras
hoje se desfazem em segundos, verdades são transformadas, tempos líquidos, e a
informação, que também virou mercadoria, não mais somente instrui, acrescenta,
ou denota conhecimento, mas também virou artimanha de controle de massa, de
dispersão e distração. Concluo reafirmando que é preciso cultivar com cuidado todos os canais de construção do nosso conhecimento e das nossas referências. Para que não caiamos na inércia de sermos manipulados a exemplo da regra do – Pão e Circo – romano. Fundamentemos nossos reflexos dos mundos em que vivemos em verdades sólidas que resgatem o todo fruto do contato, e não no mundo egoísta que cada um carrega dentro de nós.
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