Esta é uma notícia sobre o Quilombo e ligada ao município de Limoeiro de Anadia, Estado de Alagoas. Á nota é oportuna e por isto a publicamos, pelo fato de nos lembrar que deve estar sumindo, como tantas outras "manifestações culturais" dentro daquilo que se consagrou chamar em Alagoas de folclore. Parece-nos que deve ser feita uma leitura nova disto que é considerado um folguedo, sobretudo buscando sua dimensão política, que nos parece deve ser discutida. Na verdade, é hora de rediscutir sistematicamente a produção da geração que surge em trinta que encontrou Theo Brandão, Diégues e tantos outros. Hora de rediscutir até quando e onde o iberismo chegou à cultura alagoana.
Folklore Folk Art Afro-Brazilian
Folklore Arte popular Afro-brasileño
Folklore Folk Art Afro-Brazilian
Folklore Arte popular Afro-brasileño
Folklore Folk Art Afro-brésilien
O Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular assim define em seu Tesauro:
Quilombo (folguedo)
Folguedo afro-brasileiro com variantes pelo Brasil. Pode ser representado em qualquer época do ano por ocasião de festividades ou como entretenimento isolado. Compõe-se de dois grupos numerosos, neles figurando negros fugitivos e índios ou caboclos, vestidos em trajes que lembram os dos reisados, dos guerreiros, etc. e armados de compridas espadas e terçados. Os dois grupos lutam, e no final os negros são vencidos. Há muita música, e o terno de zabumba alegra a representação.
O autor da nota é professor na rede estadual e na municipal em Limoeiro de Anadia e formado em história pela UNEAL
Quilombo
Explosão de Cultura em Limoeiro
O folguedo é representado em qualquer época do ano,
geralmente como parte de festividades religiosas. Seus componentes são o
caboclinho; o embaixador; a catirina (homem vestido como escrava negra
carregando nos braços um boneco); o papai velho; o espia dos caboclos; o vigia
dos negros; os reis do encarnado e do azul (índio X negro), com seus trajes que
se assemelham com o de outros folguedos do ciclo do Reisado (reisado,
guerreiro, etc.); calções, manto, blusa de cetim azul ou vermelho, meias
compridas, guarda-peito enfeitado de espelhos, coroa de ouropel e areia
brilhante. Como armas, os reis empunhavam antigas espadas. Além desses membros,
existe a Rainha, menina entre cinco e dez anos, que usa vestido branco
comprido, com guarda-peito de espelhos, capa de cetim enfeitada e diadema de
papelão pintado.
Apresentação em 2012 |
Na região de Limoeiro de Anadia, a versão primitiva
do folguedo teve seu início a partir da chegada dos primeiros escravos negros
por volta do final do século XVIII. Segundo consta na tradição oral, no final
do século XIX, um escravo forro, conhecido como João Gruta, procedente de
Alagoas (Marechal Deodoro), onde já tinha experiência em apresentações naquela
localidade, resolve vir para Limoeiro, onde começa a organizar a dança típica
das senzalas para apresentações em praça pública, nas festividades alusivas a
São Sebastião e de Nossa Senhora da Conceição.
Quilombo mirim |
A partir de 1909, Antônio Jacinto, proprietário da
fazenda Gravatá, em Limoeiro, passa a ser o organizador da dança folclórica dos
quilombos, estruturando e introduzindo as vestimentas tradicionais como
conhecemos na atualidade, e aí sim começa a ser construída a fama de ser um dos
melhores de Alagoas.
No ano de 1924, um menino franzino, de nome Abílio,
resolve participar do Quilombo de Antônio Jacinto com apenas 12 anos de idade.
Tem início a partir daí a história de Abílio Ferreira dos Santos, vulgo Abílio
Grande, com os quilombos de Limoeiro. Suas primeiras participações foram como
caboclinho, tempos depois passou a capitão, embaixador e finalmente rei do
encarnado, a partir de 1960. Desde então, seu Abílio fez com que um folguedo
típico de negros e índios, sendo liderado por um branco, se tornasse famoso e
extremamente conhecido em todo o Estado.
Em qualquer
lugar que chegasse seu Abílio e o Quilombo de Limoeiro recebiam homenagens. Em
Maceió, em Taquarana e principalmente em Anadia. Emanuel Fay, bacharel,
professor e escritor fez um poema que em um de seus versos tece o comentário de
que os quilombos do seu Abílio era o
melhor da redondeza! (RAFAEL, 1994). Este poema, com o título “02 de
Fevereiro”, foi uma homenagem à festa da padroeira de Anadia e a todos que
contribuíam para o enriquecimento social e cultural da região.
Mestre Abílio acabou falecendo, e mesmo após sua
morte, durante muitos anos sua casa recebia visitas de vários estudantes de
Limoeiro e de outras localidades para obter informações sobre o famoso
Quilombo.
Não podemos esquecer a participação de seu Zé Belo,
que, sendo rei do azul ajudou a consolidar a trajetória vitoriosa das
apresentações dos Quilombos. Em seguida, Antônio Belo assumiu o lugar deixado
por seu pai, continuando a sua saga de sucesso no folguedo limoeirense. Outro
importante membro é o Sr. Nelson, que assim como Antônio é um dos responsáveis
por momentos de sucesso vivido pela dança folclórica limoeirense.
Segundo o Dr. Valdávio Ferreira, houve outros
participantes de destaque no folguedo limoeirense, que ele descreve da seguinte
forma:
o contramestre José Silvério; o capitão piloto João
Francisco, mais conhecido como João Piloto; os oficiais Pedro do Mato e
Sampaio; o mestre Ernesto, filho de Dona Felizinda; o piloto José Ferreira, do
Genipapo; o almirante João Juvino da Ribeira; o capitão de mar e guerra José
Afonso e Chico Vicente, empregado de Antônio Dionísio de Albuquerque, que entre
os anos de 1946/47 ajudava no fardamento dos componentes (Valdávio Ferreira, em
16/06/2013).
Foto de valor histórico: Rainha, 1990 |
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