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sábado, 12 de maio de 2018

A cidade: hipóteses de ser outra ou as muitas possíveis de ser



Beatriz Palmeira é arquiteta,  urbanista e mestranda: Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado, FAU/UFAL. Neste trabalho, pergunta sobre como estaria se fosse diversos outros que também estão na cidade, existindo alguns com que partilha o espaço de, também, diversas formas. Pergunta apenas sobre si mesma, quando faz sobre o outro ou apenas sobre o outro, ou sobre os dois? Como você dialogaria com ela? Sem dúvida o cotidiano comporta 
SE, IF... Vamos ler as interrogações de uma jovem pesquisadora em formação. 


Uma série sobre o cotidiano: “E se eu fosse...?”

Beatriz Palmeira





Fotografia 01 – Registrada no bairro do Jaraguá. Mês de abril/2018.

“E se eu fosse uma cadeirante?”


Neste novo ensaio quis evidenciar um papel que eu e muitos ocupamos na cidade: o do pedestre. Papel esse que é tido, muitas vezes, como de coadjuvante; que é esquecido, negligenciado. Saindo de casa, imediatamente nos colocamos em situação de vulnerabilidade. Quando caminhamos, se aproveitamos para exercitar o olhar crítico do espaço urbano que estamos vivenciando, encontramos variados âmbitos do ser vulnerável que estamos sendo naquele momento. Mas aí penso, se eu, que atualmente não possuo nenhuma limitação física para me locomover pela cidade, encontro tantos obstáculos para traçar uma reta, como deve ser a vida daqueles que estão mais vulneráveis que eu? Observar o cotidiano do outro pressupõe um passo a mais para além de somente mirá-lo. É preciso se colocar em seu lugar. Só assim é possível iniciar, mesmo que superficialmente, a compreensão de uma fração da sua realidade. Se eu fosse uma cadeirante, como eu passaria por essa calçada da imagem acima?


Fotografia 02 – Registrada na Orla da Jatiúca. Mês de abril/2018
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“E se eu fosse uma criança?”

Agora me coloco no lugar de uma criança que brinca no espaço urbano, sem muita preocupação. Inocente, talvez ela até faça brincadeira da possibilidade do chão desabar sob seus pés, literalmente. Provavelmente ela ainda não percebe (infelizmente um dia ela vai), mas quantos são os perigos ela está sendo exposta ao caminhar pela cidade? Quantos obstáculos são passíveis de serem encontrados no seu percurso? E mais, a criança dessa foto está na região, teoricamente, ou não, mais bem cuidada da cidade. Se assim o é, me pergunto um pouco mais, o que os pés das crianças das grotas e favelas enxergam todos os dias?




Fotografia 03 – Registrada nas calçadas da Ponta Verde. Mês de abril/2018.
“E se eu fosse uma idosa?”

O caminhar continua e, com ele, as reflexões sobre o que os meus pés encontram. Nesta cena, me pergunto: e se eu fosse idosa, com que dificuldade eu passaria por essa rampa de automóvel colocada na largura total da calçada? Quanto tempo eu levaria para chegar ao meu destino, se, além do meu passo lento, eu ainda tivesse que lutar contra os empecilhos impostos pela cidade? E mais uma vez, volto a me questionar, se a qualidade das calçadas dos bairros nobres são assim, como serão os espaços transitáveis da parcela marginalizada e excluída? Faria ainda uma pergunta anterior a essa, será que esses espaços existem?



Fotografia 04 – Registrada nas calçadas da Ponta Verde. Mês de abril/2018.
“E se eu fosse um cego?”

Mais uma vez, busco me colocar no lugar do outro. Tentar imaginar o que ele vê, o que ele sente, o que ele pensa; mesmo sabendo que esse exercício me releva somente uma parte do todo, que a minha imaginação não é capaz de recriar uma experiência igual daquele que não sou eu. A realidade do outro será sempre mais do outro do que minha. A mim, cabe somente tentar, ao máximo, o movimento de saída, para me aproximar do outro que passa; cultivar a empatia pelo cotidiano dele. Por isso, uma nova pergunta, e se eu fosse um cego, como eu veria a cidade? Ou melhor, como a cidade me permitiria vê-la? Teria eu acesso a todas as esquinas, a cada um dos seus cantos e intersecções? Poderia eu transitar sem preocupações e com “toda autonomia” que a pessoa que caminha ao meu lado e enxerga, transita? Quantos seriam os postes que eu trombaria pelo fato daqueles que deveriam promover cidades inclusivas e acessíveis não terem se colocado no meu lugar?


Fotografia 05 – Registrada nas calçadas da Ponta Verde. Mês de abril/2018.
“E se eu fosse uma mulher? Mas pera, eu sou.

Ser pedestre na cidade de Maceió não é um papel fácil, como vimos. De fato, é se colocar em posição de vulnerabilidade a todo momento. No escuro da noite, parece que mais assombrações são reveladas pela penumbra que se forma por conta da carência da iluminação pública ideal. E aí, todas as minorias trazidas nesse ensaio são expostas a mais perigos. Mas, existe uma outra categoria oprimida por esses espaços urbanos injustos e pouco acessíveis: a das mulheres. E aí, retiro o “se” dos meus questionamentos. Eu sou mulher e sei o que é ser uma mulher que transita pelo espaço da cidade, de dia e de noite. Sei da insegurança, da impotência, do medo que se sente, porque sinto também. No entanto, gostaria de finalizar com uma provocação: fazer parte da categoria oprimida traz novas lentes de compreensão, é claro, mas será mesmo que precisamos vivenciar na pele todas essas realidades para nos colocar no lugar delas? Se você olha para essa imagem, seja você quem for, será que você não vê, minimamente, o que eu vivencio?

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