Mais um olhar que procura ver Maceió. Ela entende as duas Maceiós que discutimos em aula: a existência de uma Maceió de dentro e de uma Maceió de fora. E procura, a seu modo, encontrar-se com esta aparente dicotomia, aguçando os olhos sobre a força dos detalhes. O tema é discutido constantemente: o que seria uma Maceió de dentro e uma Maceió de fora?
Aluna da disciplina formação do espaço alagoano. Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado. FUA/UFAL
la città poco profonda la ville peu profonde la ville profonde the deep city
“Maceió
de dentro e Maceió de fora”
Beatriz Palmeira
Eu, como recente observadora da complexidade que é a
cidade, começo este pequeno texto revelando
minha perplexidade ao estar aqui,
escrevendo sobre as generalidades de um todo, que é composto por uma
diversidade de mundos particulares. Parto do princípio de que meu olhar não
alcança tamanha generalização sobre Maceió, e sinceramente, sendo esses mundos
particulares compostos por seres e agentes tão ricos em detalhes, não saberia
dizer se um dia ele irá alcançar.
No entanto,
compreendo este exercício que se faz na disciplina, como prática importante, e
utilizando o material acolhido nas discussões em sala e tendo-o maturado
posteriormente, me sinto, minimamente, segura de expor, algumas das questões
que enxergo ao analisar esta fotografia que tirei na Orla da Ponta Verde, no
mês de maio de 2018. Se você, como eu, é morador (a) de Maceió, essa cena já se
tornou um pano de fundo corriqueiro, dos seus dias nas orlas da cidade.
Diversos são os trechos em que as galerias de água desembocam, descaradamente, no oceano e delas, vaza a
podridão produzida por muitos.
Dessa realidade, poderia falar especificamente do
aspecto da situação da infraestrutura na cidade, no qual o saneamento básico é
um dos quesitos mais precários que temos. Poderia também atentar ao fato da
desonestidade por parte daqueles que fazem ligações ilegais para as galerias,
utilizando-as como solução de escoamento dos seus dejetos, além da carência
dessa fiscalização. Pensaria ainda na questão dos trabalhadores informais, como
o rapaz registrado em seu local de trabalho, e das condições de trabalho que
eles precisam se subordinar, para garantir a sobrevivência. Teria também a
questão do turismo, no qual vendemos nossos cartões postais de forma editada,
mascarando a situação, esquecendo que ao chegar aqui, o turista tem acesso à
realidade, que se apresenta de forma nada discreta.
Certamente,
essas e outras questões poderiam ser extraídas dessa paisagem, mas gostaria que
você entrasse comigo na minha tentativa de generalizar (e assim abraçar) o
máximo possível dos mundos que Maceió abriga. No primeiro momento, olhei a
imagem e enxerguei somente o mar e o esgoto. Comecei a caracterizá-los
separadamente por seus atributos e representações: este com toda sua beleza,
privilégios e riquezas; aquele por sua renegação, esquecimento e negligência. E
depois me dei conta: “ Pera lá! Não seria essa imagem, então, a materialização da sociedade de Maceió e de
seus espaços? Será que olhando para essas duas personagens da fotografia acima,
não seria possível ver que existe uma Maceió dos privilégios e das riquezas e
uma Maceió limitada às margens do território negado por essa primeira, que é
submetida a drenagem cruel e lenta dos seus direitos? E mais, será que esse
cenário descrito não teria também virado plano de fundo corriqueiro dos nossos
dias?
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