Este é mais um exercício de foco – como chamo – dentro da disciplina Formação do Espaço Alagoano no Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado, FAU/UFAL. Trata-se de afinar-se com o mundo, arrancar pedaços dele para poder começar a pensar no cotidiano, onde se encontra a fundamentação do processo histórico.
Cinco pedaços desta imensa Maceió conseguiriam representá-la? Vamos ver no que deu o destaque dado pelo aluno, nesta espécie de passeio pelas ruas.
Fica sempre uma pergunta em minha cabeça, quando recebo estas fotos: será que somos, na realidade, fotografados por aquilo que vemos? Usando a linguagem corrente: será que tudo não se trata de um imenso self?
Bom, são jovens pesquisadores que se vão formando e isto é um longo caminho que começa e parece não ter fim. O importante é que estão aí, lutando, batalhando, construindo e merecem todo o respeito de todos nós.
Uma das grandes funções de um professor na pós é estimular a necessidade de se começar a partilhar publicamente, as preocupações que se tem. É quando o conhecimento é essencialmente generoso. É generoso quem para, sente e partilha. Cinco pedaços de Maceió estão aqui e, por eles, é dito como a cidade nos chega e que somos, também, este grande coletivo que às vezes parece sem sentido.
É dito em sala de aula, no imenso diálogo que se forma, que largue a formalidade e tente encontrar a relação mais densamente pessoal possível. Fotografar e escrever o que tudo representa e, neste caso, o verbo representar é essencial. É muito bonito quando um jovem pesquisador começa a dar seus primeiros passos, começa a dar seus primeiros ensaios de linguagem. Respeito imensamente a tudo isto e lembro-me dos meus primeiros passos, sabendo que ainda vivo a mesma situação, no que se me lembro de um clássico chorinho: André de sapato novo. É como se todos os dias, aprendêssemos a usar sapato.
Bom, está ai, a forma como um jovem pesquisador viu a cidade. O que ele retratou, como retratou, quando, onde, a razão e o que pensou, dá, em si, um belo tema de pesquisa. Qual é o mundo que ele encontrou? Fotos e textos estão aqui sem qualquer retoque, saíram do forno como dizemos os antigos. É muito bonito ter a coragem de começar, de se expor. Gosto muito deste caminho que andamos juntos: aprendendo conjuntamente um com o outro e os dois com a cidade.
Izabelly
Andrade, Arquiteta e Urbanista formada pela UFAL, Engenheira de
Segurança do Trabalho (UNIFAL),Pós Graduanda em MBA Formação
de Gestores da Construção Civil (FAESA), aluna especial na disciplina
Formação do Espaço Alagoano, pelo curso de Mestrado Dinâmica do Espaço
Habitado, FAU-UFAL.
Apresenta interesse nas áreas de Urbanismo, Antropologia, História e Pedagogia
O lixo como meio de vida
O lixo jogado nas ruas prova que a sociedade não tem educação. É
uma ameaça constante à saúde pública e agrava a deterioração. Para os excluídos
da população, ele surge como alternativa. O lixo pode destruir o meio ambiente,
mas também pode ser um meio de vida. É importante destacar o papel do catador
como disseminador de uma nova postura: ele
é responsável por parte da triagem do lixo que vai para a indústria. A imagem
do catador de lixo expõe de forma pública a pobreza: são pobres, são marginalizados. O talento
desses homens e mulheres para viver é inquestionável.
Favela,
patrimônio cultural
As favelas fazem parte da paisagem urbana. Falta infraestrutura, falta serviços e qualidade na vida humana. Mas nem só de problemas vivem as favelas. Elas são formadas por pobreza material, mas isso não significa miséria cultural. Para mim a favela representa a diversidade da ocupação urbana, a diversidade espacial. Sua paisagem é singular, representa os modos de vida e
os vários modos de pensar. As favelas também têm muito a nos ensinar, a auto organização é um modo de construção é uma forma de planejar.
Onde o amor não pode faltar
O que Deus uniu, o homem não pode separar; pode faltar cama, comida e moradia, mas
amor não pode faltar. Vivemos nas calçadas e nas ruas, a Deus dará. Passamos frio, fome e necessidades, mas temos sempre amor para dar. Estamos nessa cidade parecendo invisíveis: passa velho, passa novo e passa o menino: ninguém ajuda. Por isso digo: a pobreza é um estado de espírito. É difícil alguém nos ajudar. Somos pobres, somos humildes, mas nunca pensamos em roubar e em matar. A cachaça também é minha companheira,ajuda a esquecer as minhas tristezas, mas eu
gosto mesmo é do Zé, sem ele não vivo, sem ele não tenho fé.
Andando em algumas grotas podemos perceber que estão realizando obras para o Governo enriquecer. As melhorias são inúmeras: escadarias, pontilhões, corrimões e áreas de lazer... Aquilo que a licitação não contempla é o que fica a desejar, escondido atrás das câmeras, mas não se escondem do nosso olhar. Os
casebres, a sujeira e o esgoto a céu aberto fazem parte do cotidiano... Não deveria ser assim, mas é que tem muita gente para roubar. Esses são os excluídos da sociedade, nem estão no escopo de melhoria da obra,
só servem para as reportagens de candidatura dos calhordas.
De um lado casebres, do outro, prédios de alto padrão; quanta desigualdade... Isso não é o que diz a Constituição.Devíamos reduzir as desigualdades, erradicar a pobreza... Que país é esse? Onde a miséria não nos abala? Vejo pobres e ricos que são vizinhos, mas nem sequer se falam. Essa realidade faz parte do nosso cotidiano: o contraste da paisagem é notável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário