Ana Karolina Corado volta a ver a cidade, buscando retalhos que respondam pelos tons e sons desta Maceió, escarafunchada e entre a lagoa e o mar. E o que ela vai encontrar? O que recorta? Como olha a cidade e como a sente? O que estaria encaminhando para suas futuras pesquisas? Conheça a cidade e a pesquisadora que vem sendo construída, curiosa, sensível, procurando... (LSA).
la ville, les incertitudes, les décisions the city, the uncertainties, the decisions
A fotografia foi registrada em maio de 2018, na Grota da
Alegria – Maceió.
Repare nessa Maceió tão cheia de curvas, que se esconde da
vista de quem anseia por seu todo. Pergunto-me se poderá o cartografo delinear
todos os seus contrastes? Todas as verdades que se escondem entre as ladeiras?
O muito das verdades dessa cidade se esvai, foge aos que procuram ver com
os olhos. Quais são os sons que os motores dos automóveis abafam ao cruzarem
esta malha tão desurbana? Não tenho respostas e sim mais perguntas.
A fotografia foi registrada em maio de 2018, na Grota da
Alegria – Maceió.
A fotografia foi registrada em maio de 2018, na Grota da
Alegria – Maceió.
- Não brinque na cozinha, você
pode se machucar.
- Eu vivo na cozinha, e não tenho tempo para brincar. Vivo nos restos,
nas sobras, no ferro corroído. Da minha cozinha vejo o mato, e sinto vento frio.
Nela molho na chuva e não sou quem pratica seus afazeres. Sou o próprio
alimento desse sistema que me cozinha, me grelha, me assa e me comer. Não sente meu gosto e nem me olha. Me usa apenas para saciar uma
gula desumana de se assoberbar. Me retira a lâmpada, o gás, me fura os pneus,
me atrasa ao banquete onde estarei à mesa apenas como prato principal daqueles que
nunca fui eu.
A fotografia foi registrada em maio de 2018, na Cruz das
Almas – Maceió.
Vivemos nessa conjuntura montada de tijolo e concreto. Perduramos no
incerto entre as pontes e as escadarias. Nos protegemos da chuva que tenta se
encontrar entre o céu e o solo. É sob o calor desse clima e com a força de
minhas pernas que transito, que subo e desço, vou e volto, mas estaríamos
apenas passando por entre as partes dessa cidade, sem nada fazer ou deixar? Ou carrega
ela um pouco dos que passam onde aqueles vivem? O lodo sobe a parede e tudo é
essa tensão entre natural e construído. O cano carrega as águas do riacho e
leva o esgoto do que produzimos aqui em cima. Os símbolos incoerentes nos dizem
como usar esse espaço e nos coloca sob questão, somos nós construídos? Todo dia
o mesmo caminho. Cada dia, um único dia.
Uma vida inteira reverbera sentimentos que traduzem seres, traduzem o
que está em mim. Mas só quero voltar para casa, o dia está puxado e eu tenho
que alimentar as bocas que produzi. São meus filhos a minha maior alegria ou a
forma de serenar as angústias que minha sombra carrega dia após dia nos
trajetos dessa cidade?
A fotografia foi registrada em maio de 2018, na Av. Josefa
de Melo – Maceió.
Há vida desurbana entre os postes e fiações. A força da
adaptação aflora as incertezas de quem perfura as entrelinhas das leis e
contratos de cartórios. Não são recentes no local, e sua ânsia é apenas por
permanecer e paulatinamente, melhorar. Os degraus esculpidos e a terra arada para a água permear
o solo, carregam esforço e zelo pelos que fizeram dali morada. A casa 23, traz os trocados transformados em tinta e em telha, e seu
remendo em lona e madeira demonstra que suas gerações estão perpetuando-se. Que
seja a cerca com arame farpado capaz de os proteger de toda retroescavadeira.
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