Mais uma observação feita por aluno da disciplina Formação do Espaço Alagoano, Mestrado Dinâmica do Espaço Habitado, FAU/UFAL. Trata-se de material onde Jessica Cavalcante, mais uma vez, tem seus encontros e espantos com a cidade. Espantar-se é um requisito fundamental para quem deseja ver uma cidade.
A formação do pesquisador deve começar pelo aprendizado constante de diálogo com, no caso, a sua cidade.
Dialogar, sentir, ler devagar e com paciência é um exercício de extrema importância, para quem deseja uma formação que lida com a história. Aqui está mais uma procura da cidade, dada em cinco fotos.
O esforço do jovem pesquisador é absolutamente sagrado. E é admirável. Cinco fotografias, aparentemente simples, mas que demandaram uma reflexão inteligente e interessante.
Luiz Sávio de Almeida
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Faces da Cidade
Jéssica Cavalcanti
A cidade possui diversas faces, formadas, inclusive, por diferentes perspectivas e visões de
realidade. No momento desta foto, estávamos
diante de forte chuva, em manhã de quinta-feira,
Avenida Engenheiro Paulo Brandao Nogueira,
no bairro da Jatiúca. E então aparecia o contraste entre duas verdades, uma delas sendo
composta por muros, telhado e janelas e outra constituída por papelão, lona e
roupas dispersas; ambas as cidades na mesma rua e compartilhando das mesmas condições,
diferenciando a forma como vivem o cotidiano da rua e as intempéries do tempo.
Essas duas realidades me remeteram aos debates em sala de aula,
na disciplina Formacao do Espaco Alagoano, que elucidaram a existência de percepções
distintas sobre o grande e constante processo de transformação e construção do
espaco, decorrentes de uma constante tensão, que geram mudanças na paisagem e
na vida social.
_O desequilíbrio da sociedade é resultado dessas tensões,
pois a cada modificação na estrutura da cidade, os niveis sociais vêm reforçando a hierarquia e a relação de
desigualdade. O objetivo principal, das camadas mais baixas dessa hierarquia
social é o suprimento das necessidades básicas, no esforço de viver e deve ser lembrado que essa situacao expressa a
maioria da população alagoana, que representa a verdadeira Alagoas, constituída
pela busca constante da sobrevivência e superação dos obstáculos diários; com
menos acesso as ferramentas que os demais, sejam elas politicas, sociais e econômicas,
para combater os pontos negativos dessas
transformações, ou remediar os problemas resultantes de uma incessante processo
de transformação na produção do espaço e da historia.
Próximo ao Mercado da Produção, em uma das vias mais movimentadas
no bairro da Levada, acontecem diversos tipos do comércio, abastecimento e
distribuição de produtos. Mas a situação que tem relevo nesse cenário é a condição
das ruas, e a adaptação dos trabalhadores
e moradores para suplantarem as limitações da infraestrutura urbana.
Trapiche, Maceió - AL. 28 de Abril, 2018.
Percorrer a Avenida Siqueira Campos, cm quase sua totalidade,
é como flutuar sobre uma transição entre diferentes cidades dentro de uma só. O que
permeia em todas elas, é uma Maceió com grandes copas de árvores inacessíveis,
em que os pedestres, como figurantes, não desfrutam desse estreito caminho
chamado de canteiro. E os motores, de
carros e motos, são os protagonistas
dessas diversas cidades na cidade do Maceió, que por tantas vezes decoraram seus
textos (o cotidiano), que nada mais olham a não ser o script (o caminho) e
esquecem do enredo (a paisagem). A beleza
está em ser figurante e poder sentir a cidade nos detalhes.
Ponta Verde, Maceio - AL. 28 dc Abril, Z018.
Na selva de concreto, uma competição pelo maior empreendimento,
com os melhores compradores e moradores. Enquanto isso, uma tentativa do se
estabelecer no caos... Uma vila simples e com entorno aparentemente desconectado
de sua realidade diária. As diferenças silenciam quando o anoitecer se aproximam,
as portas se fecham e os prédios se calam?
Levada, Maceió - AL. O2 de Maio,
2018.
Ser vizinho do Mercado da Produção é
compaltilhar dos resíduos por ele produzido e estar sem voz para opinar sobre
as consequências na saúde de quem anda por essas ruas. Resta apenas observar,
assim como a mulher no canto esquerdo da fotografia, que atentamente espia o gari,
tirando o lixo da caçamba e jogando aos porcos. Creio que passe em sua mente a
seguinte indagação: “Afinal, não seria
dele a competência de fazer o inverso? Mas me deparei com outra questão, a caçamba
contém o lixo produzido pelo mercado, e é o lugar de onde provém o alimento do
porco, que por sua vez será abatido, vendido no mesmo mercado e consumido por
nos!
Ponta Verde, Maceió - AL. 02 de Maio, 2018.
A volta para casa, horário mais aguardado após um dia inteiro de trabalho, estudo, atividades e obrigações. O horário do ônibus, o tempo do percurso, as vagas para scntar, as pessoas que irão subir e ponto de descida... O ser humano se reduz à dependência do imprevisto, aceita sua fragilidade e embarca num percurso sem volta, apenas com paradas e conexoes? É interessante como uma prática tão simples e frequente pode representar a expectativa do ser humano e sua fragilidade diante do sistema.
I
A volta para casa, horário mais aguardado após um dia inteiro de trabalho, estudo, atividades e obrigações. O horário do ônibus, o tempo do percurso, as vagas para scntar, as pessoas que irão subir e ponto de descida... O ser humano se reduz à dependência do imprevisto, aceita sua fragilidade e embarca num percurso sem volta, apenas com paradas e conexoes? É interessante como uma prática tão simples e frequente pode representar a expectativa do ser humano e sua fragilidade diante do sistema.
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