Não me resta
dúvida: a morte foi modernizada em Maceió para quem pode escapar de carneiros,
covas quase rasas e catacumbas feirantes que existem às centenas nos cemitérios
das Alagoas. Dizem que no sistema capitalista, você somente pode viver se pode comprar mercadoria. Morrer, você é obrigado em qualquer sistema, mas o
modo de morrer neste famoso aqui e agora das Alagoas, você deve comprar e se
não consegue de alguma forma, será o popular indigente e aí o negócio da morte
fica mais feio. Não sei onde e como se enterram, em Maceió, os sem nome, os que a antiga retórica chamava
de deserdados da sorte e nem mais sei se existe o velho caixão da caridade.
A arte
cemiterial: o novo e o velho nos jardins do cemitério
Luiz Sávio de Almeida
Não me resta
dúvida: a morte foi modernizada em Maceió para quem pode escapar de carneiros,
covas quase rasas e catacumbas feirantes que existem às centenas nos cemitérios
das Alagoas. Dizem que no sistema capitalista, você somente pode viver se pode comprar mercadoria. Morrer, você é obrigado em qualquer sistema, mas o
modo de morrer neste famoso aqui e agora das Alagoas, você deve comprar e se
não consegue de alguma forma, será o popular indigente e aí o negócio da morte
fica mais feio. Não sei onde e como se enterram, em Maceió, os sem nome, os que a antiga retórica chamava
de deserdados da sorte e nem mais sei se existe o velho caixão da caridade.
Eu tive um grande
amigo que já morreu e faz tempo; era o Clarival do Prado Valladares, autor de
um livro que estimo e guardo com carinho e que teve muita influência em mim:
Riscadores de Milagres. Ele era ligado ao que chamava de arte cemiterial e
andou comigo por muitos cemitérios. Por
ele, fiquei com a mania de olhar o mármore e a lata, as coisas que fazem
estética na composição dos desenhos da morte. Vou a um enterro, passo os olhos
no que estou chamando de estética e sempre me lembro do velho amigo e que fez muito
a minha cabeça: “Sávio – dizia ele ao menino –, os grandes monumentos
históricos de Maceió são os seus trapiches!”. E eu entendi.
Apois, no Dia das
Mães, por mais piegas que pareça – como eu disse, sou um pequeno burguês – fui
ao cemitério levar flores para minha mãe e minha sogra. A tristeza sempre tem
muita dignidade e eu comecei a me impressionar com o carinho, o rosto das
pessoas que andavam como um jardim e fui procurando ver as flores que eram
depositadas. Nenhuma era singela flor do campo; todas eram guarnecidas da
nobreza forânea. Onde estava a minha preferida, a belíssima margarida chamada de
mosquitinho, e por quem caí de amores desde o dia em que fui com minha mão á
Capela do Hospital de Penedo, em um Mês de Maria.
Era um mimo floral, contudo, que me sensibilizava e
eu olhava o rosto e foi quando comecei a ver algo surpreendente: o velho
avançando sobre o novo, reduzindo a modernidade com tapetes e corações que nos
levam aos retornos de séculos. Foi por isto que tirei estas fotos. E lembrei do
Clarival, pensando que análise ele faria do tapete que cobria a área da cova,
deixando-a a bem dizer imaculada pelo branco, mas sem cobrir a placa da
identificação onde estava o nome da pessoa querida, da mãe que deixou mais do
que saudade. Quem sabe, uma nova tradição vai sendo inaugurada?
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