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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Assédio nas escolas

Sexual harassment at school
le harcèlement sexuel à l'école


acoso sexual en la escuela
assédio nas escolas: já chega de naturalizar o machismo
Karen Pimentel
Estudante de direito da Universidade Federal de Alagoas, conselheira da editora Agência Fonte de Notícias
Naturalizamos comportamentos por toda a vida. Desde o furo na orelha da menina (a primeira marca no corpo que vai determinar seu papel social dali em diante) até o professor que assiste ao vídeo vazado da aluna de 13 anos sem roupa na webcam. Naturalizamos conceitos completamente descabidos como "os homens têm instinto sexual muitas vezes incontrolável", naturalizamos o "fiu-fiu", o "gostosa", naturalizamos que nossos corpos sejam olhados como carne em açougue caminhando nas calçadas. Naturalizamos até que se torne insuportável.
Por muito, muitíssimo tempo, naturalizamos que os professores e funcionários de colégio mantivessem relações "de carinho" com as alunas: crianças e adolescentes. Naturalizamos as insinuações, os toques, a passada de mão, as propostas sexuais. Mas aí, e ainda bem, começa a surgir e tomar força a pauta feminista no Brasil e em Maceió. Sim, infelizmente ainda estamos majoritariamente restritas às classes médias, mas o discurso e a crítica vêm atingindo cada vez mais mulheres pelo Brasil, principalmente através da internet: o feminismo vem rompendo os muros da academia.
Há três anos, quando eu estava no último ano do ensino médio, o discurso feminista ainda chegava fraco até nós. Naturalizamos, assim, os professores casados ficando com alunas nas "aulas da saudade". Hoje, já na metade da faculdade, vejo aquelas meninas, que eram como eu há três anos, tendo a coragem de denunciar assédios. Isso se chama ter voz. Uma rede de apoio foi montada a essas meninas, que, infelizmente, em alguns casos, seguem sendo perseguidas e criminalizadas quando "não têm provas". Elas têm apenas os traumas carregados por toda uma vida num mundo em que o simples ato de ser mulher é sinônimo de resistência.
 O mais importante de toda essa movimentação é a mensagem que ela passa: já chega! Não vamos mais naturalizar o machismo! Não vamos naturalizar que nossos corpos sejam objeto, não vamos naturalizar que homens invadam a intimidade de meninas valendo-se de uma posição hierárquica, não vamos mais naturalizar o "instinto masculino". E isso é incrível. Como todo processo histórico, vamos andando a passos lentos, ainda há muita luta pela frente. Ainda é preciso levar a crítica à periferia, ainda é preciso dar voz às meninas que estudam nos colégios públicos, ainda é preciso dar apoio àquelas que não tiveram condições de ter apoio psicológico. mas sim, estamos caminhando.

Caminhamos sem perder o norte de que todos esses comportamentos têm uma origem estrutural no patriarcado. Caminhamos sem perder o norte de que ao fim é necessário superar esse modo de sociabilidade que nos massacra, que dá vida às coisas e objetifica os corpos. Vamos parar de naturalizar a miséria, vamos parar de naturalizar as classes, vamos parar de naturalizar os transtornos de ansiedade na adolescência, vamos parar de naturalizar que tenhamos superprodução de alimentos ao mesmo tempo que pessoas passam fome. Citando Brecht: "nada deve parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar".

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