ARI OLIVEIRA |
Esta matéria foi publicada em Campus/O Dia.
Entrevista realizada por Viviane Rodrigues. Coordenação da pesquisa: Luiz Sávio de Almeida
Music, Hip-hop, History
Um
depoimento para a história
MC Ary Consciência–Santo Eduardo
Meu
nome é Ary de Oliveira; nasci na Ponta Grossa, rua Santa Catarina, filho de
militar branco com uma negra que contribuiu com todo a formação da Escola de
Samba Unidos do Poço. Eu via minha mãe
tocando violão, gostava de samba enredo, tinha que ter uma herança, tinha que
ter no sangue alguma cultura... Fui para algo que não existia, porque não tinha
Movimento Hip Hop na época, o que havia era uns dançarinos no Centro passando o
chapéu por uns trocados. Não tinha esse movimento que virou referências e que
os jornais divulgassem e o AL TV. Vivenciei todo o processo cultural lá na
Ponta Grossa até começar a gostar da música negra, porque vi James Brow na TV.
Depois surgiu uma danceteria por nome de
Discol , o nome foi por conta da Discol dos anos 70, sucesso no mundo inteiro.
Nessa discoteca só rolava música de preto. Era na rua Soledade, Ponta Grossa, e coisa de 800 metros, abriu na
Praça Moleque Namorador uma discoteca por nome de Holly Dance que só rolava
rock, metal; tinha o pessoal dos cabelos grandes, do heavy metal, e nisso já estava se falando no Rock Rio. Quem era da
turma do black music ia para a Discol
e quem era da turma do new rave (era um gel que deixava o cabelo arrepiado) ia
para a Holly Dance.
Aprendi a dançar dentro da Discol,
através de um camarada por nome de Dinho, Dinho Cabeção; tinha um estilo muito
legal como o Tony Tornado, o deslizar dos pés e eu dizia “Rapaz esse cara só dança bem porque passam cera no
piso”. Não era. Eu tive que me adaptar para ser um bom dançarino, para arrebentar na noite. Daí comecei a ver o
Beto dançar junto com o Verruga em frente ao Cine São Luiz.
Eles faziam cotinha e compravam
pilhas grandes para o microsistem,
levavam o tapete e dançavam em frente à Lobrás. Mas antes disso, Beto que foi o primeiro a dançar no
Ari e os meninos do Santo Eduardo |
Eu já conhecia Fernando, que era um
DJ, muito simples, da vida simples da Ponta da Terra; começou tocando numa
sedinha na rua Domingues Lopes, próximo a igrejinha, era uma sedinha mesmo, só
tinha uma porta e uma janela, lá rolava muito reggae. Ele aprendeu a ser discotecário nessa época,
depois teve o prazer de ser da MIDOR. Depois o Fernando se juntou com Tony
Régis que era um DJ muito legal e veterano. Fernando, Tony Régis e Carlota se
juntaram e fizeram o primeiro programa de rádio que era o Club Mix. Em 1988 o
Club Mix foi executado na antiga Rádio Jornal de Hoje, a JH FM (hoje 96 FM).
O
movimento sempre acontecendo foi quando dissemos: vamos fazer na praça. Eu tive
o prazer de ter o DJ Nell como o primeiro a tocar na praça. O Nell veio com uma
inovação e foi muito criticado porque levou uma música do subúrbio do Rio de
Janeiro; era uma música que pregava consciência, mas com uma batida Rio de
Janeiro, a Black Rio, depois Fernanda Abreu comprou a ideia.
Eu
esperava que ele quebrasse o preconceito das pessoas com a persistência. A
praça se encheu de dançarinos porque todos queriam dançar, mas alguns DJs
queriam ganhar espaço e disseram: “O
movimento não é por aí”; ele ficou
grilhado e não aguentou a pressão. Daí tive que recorrer ao DJ Fernando que na
época tinha saído da MIDOR, estava na Fly By Night que era outra casa top de
linha.
Pobre
para ir a essa casa tinha que ser muito teimoso, mas cheguei nele e disse
“Velho, vamos tocar na rua?”, “Nunca toquei na rua”, eu falei “Nunca falei no
microfone em praça pública e terminei falando”. Já existia esse formato do
mestre de cerimônia pregar a consciência lá no gueto americano, São Paulo e Rio
de Janeiro.
Eu
tenho que ser o daqui, levar a mensagem. Ele foi e houve uma decepção, Fernando
levou todos os vinis com música dançante para a boate, um dançarino dançava,
quatro não dançava... Olha que situação!
Todo mundo reclamando. Daí Fernando disse que não ia mais, falei “Você que
se engana, vou fazer seu roteiro”; peguei os vinis dele e fui selecionando os
que os dançarinos se acabavam dançando. Começamos a fazer o movimento duas
vezes por mês na praça. A cada domingo o público ia aumentando, dava 300 à 400
pessoas, no dia das crianças era
problema. A gente respeitava a missa que começava, esperava terminar para não
atrapalhar por causa do som. O Fernando começou a arrasar, os b.boys saíam da
roda e iam direto na mão dele para agradecer.
O
Ace Rick veio e conquistou logo a galera, rolando Taíde. O Taíde é o pioneiro
do hip hop brasileiro, ainda é um grande rap, mas hoje é jornalista e trabalha
na Band. Ele rolava Taíde, Racionais. Nessa época que todo mundo estava
começando a perceber as letras do hip hop brasileiro com as letras mais
agressivas e teve o apoio do Movimento Skatista que saía da Praça do Skate e
vinha para a praça do Santo Eduardo para brincar de skate e ouvi o hip hop que
mais gostava. Ouvia até o que não queria... O Carlota também foi um DJ que
ganhou nome no movimento, tinha um jeito de rolar música eletrônica que foi o
inicio de todo o processo.
Sobre
a questão política, tinha o maior problema com o movimento, eram muito
dançarinos e de várias comunidades: Santo Eduardo (eu era líder dessa turma); a
turma da Jatiúca da Amélia Rosa, da quadra 13 (Sandro, Marcos, George e
outros); o pessoal do Vergel que eram veteranos (Geraldo, Foffy, Ace Rick, Zé
da Burra...). Eram muitos dançarinos de facções diferentes, cada um com sua
ideologia.
Grupo Rap Boys - Afrânio, Ari e Sandro |
A
minha turma tinha uma ideologia bem política, de crescer, de não ficar na
mesmice de dança, de ser profissionais, de levar a coisa mais séria. Não da
rivalidade de dizer “eu sou melhor que você”, existia muito isso. De dizer
“você é um otário”, até tapa chegou a sair e a galera dizer “calma aí”, os
insultos eram grande. Nos Estados Unidos chegam até a cuspir no rosto do outro,
na disputa, aqui não chegou a isso. O cara cuspia nos pés, mas já era um
desacato. Tinha cara que passava a mão na cara do outro, eu falava “Bicho isso
não rola, olha o público... O público não está afim de vê isso cara”. O público
está afim de vê você dançando e fazendo algo que a sociedade tanto critica: a
cultura negra.
Chamavam
a gente de bandido, de vagabundo, malandro, vamos mostrar o outro universo da coisa.
Houve muitas brigas e as facções às vezes não concordavam com o meu discurso. O
pessoal da Jatiúca foi além, foi audacioso; começaram a fazer o movimento
também no mesmo lugar e cansaram porque não ia público. Eu tinha na época uma
coisa muito boa que era a rádio, tinha na mão a divulgação. Eu fazia um
programa com o Oscar Neto na Pajuçara FM (ela foi fundada em 1985 e até 1996
ainda era no bairro do Feitosa, era uma casa simples com uma antena muito
grande). Eu ia todos os sábados fazer o programa das 20h às 23h, eram três
horas de som , a gente se comunicava com toda periferia de Maceió. Sempre
avisando: Dia tal vai ter movimento, vai está o DJ Fernando, DJ Bolinho, DJ
Carlota, DJ Nell.
Se
você ficasse na praça Jornalista Denis Agra no Santo Eduardo e focasse uma
câmera para o ponto do ônibus ia ver o ônibus do Eustáquio Gomes-Ponta Verde
repleto de jovens descendo da parte alta da cidade, outros vindo do Jacintinho.
As quatro horas da tarde a praça estava lotada, por conta de uma comunicação,
de um programa que rolava dance mix e black music todos os sábados. A galera
cansou porque percebeu que fazendo não tinha a divulgação e nem um cara que
soubesse passar a mensagem para conquistar o público, o Ary tinha. O Ary
apresentava o DJ, falava a biografia, dizia as características do que o cara
que ia tocar, até para conquistar o público, faltava visibilidade. O Fernando
ia a Recife comprar vinil, eu dizia “galera tem som novo”, mencionava os nomes
dos e os caras ficavam doidos.
A TV
Gazeta por duas vezes veio fazer reportagem e entrevistou os moradores, todos
falaram “É a melhor coisa o que esses meninos estão fazendo nessa praça, esse
movimento, todo mundo dançando, esse rapaz fala bem para que as pessoas que
estão do lado errado tenham essa visão de praticar a cultura”. Ma só era o Ary
que tinha essa visão porque o movimento tinha mais de cem dançarinos que só
queria dançar, dançar, dançar.
Na
época tinha a Rádio Cidade e eu falava com a Luciana Ávila, com o Jairo de
Andrade, levava as notinhas e os caras divulgavam numa boa. Ia para a Maceió FM
que se chamava Programa da Hora, todos os sábados, num estilo bem Jovem Pan,
era participação do público. Eu ia e participava ao vivo para anunciar o
movimento que ia acontecer no domingo, o Betinho era o cara que apresentava o
programa e gostava muito desse estilo de música, dizia “venha sempre”, porque
era audiência para o programa. Ele tinha mais de 150 b.boy ouvindo o programa
porque o líder estava lá dando a entrevista.
Havia
b.boy que dançavam no salão, nas danceterias, mas não se garantia na roda. Pra
ir a rua tinha que ser bom. Maceió não devia nada aos b.boys de outras
capitais. O pessoal que chegava do Rio e de São Paulo quando chegavam aqui
ficavam entusiasmados porque achavam que éramos apenas comedores de rapadura.
Eu uso uma tese de que onde existe negros, a africanidade... O hip hop é uma
cultura criada por americanos, mas nós somos americanos e temos essa linhagem
da africanidade, essa ginga não é para todo mundo. Dançarinos ótimos...
Você
precisava vê o Geraldo dançando, parece que incorporava, seus maior rival era o
Beto do Poço. Eles eram os melhores. O Verruga era o terceiro, mas tinha uma
habilidade diferente dos dois: quebrava legal e hoje analisando, sabia usar a
música. Ele interpretava a música com os
movimentos na batida certa. O Geraldo e o Beto sabiam interpretar, mas se
perdiam algumas vezes, faltava um pouco de conhecimento. O Verruga era
bailarino profissional, fez ballet junto com a esposa, na Eliana Cavalcante.
Ele tinha o manejo do corpo, a técnica.
Aí
vou voltar para a negritude, o ballet não é do negro, na minha concepção é algo
do branco elitizado e que o alagoano viaja, não só, o baiano, o pernambucano, o
paulista. O alagoano cultua muito o que é do branco, esquece o seu local,
esquece de valorizar o que é dele. Quando vier acordar será tarde. Na época
faltou isso porque o preconceito era grande, preferem usar uma camiseta PENA e
uma bermuda CICLONE, mas não bota um rasta, tem vergonha, não se assume, perde
a identidade dele porque está cultuando o que é dos outros.
O
Verruga fez, se formou, mas não teve êxito. Quando viu a cultura de rua, se
encantou. Hoje é evangélico e continua dançando o hip hop, mora na Ponta da
Terra, tem um salão de beleza na rua Santa Isabel, o nome dele é Valdeci. O
pastor não tem nenhum problema, ele vai e dança, até porque música gospel hoje
tem a ver. Uma coisa boa nele é que
nunca bebeu e nem fumou. Acho que o ballet foi mais para trabalhar o corpo.
Fazer
cultura no estado de Alagoas é totalmente contraditório, porque primeiro que o
negro não assume a sua responsabilidade
esquecendo de ocupar o espaço dele. Quando podia se juntar com os
próprios companheiros de luta para realmente reinvidicar, mais ou se esconde ou vai apualar [?] com
certeza.
Todas
essas pessoas, acredito que sejam vítimas, a elite alagoana realmente dissolveu
a cultura alagoana. Isso é tudo contraditório, seja na religião de matriz
africana, no hip hop, no reggae, no teatro... O negro alagoano não acredita no
outro negro. É uma herança cultural de dar crédito a uma pessoa superior.
Ninguém vai acreditar no Ary, ele mora no Village Campestre... O próprio branco
vai mostrar “O Ary com aquele cabelo, não vê a hora de ser parado pela
polícia”. Peraí bicho, é a historia do cara, resistência do cara, jamais tenho
que cortar o meu cabelo para mostrar que sou de bem... A gente vê muito isso na
sociedade, o homem de bem é o homem de cabelo cortado. Vejo tanta gente na penitenciaria sem rasta e eu
livre andando pelo Jaça; ando na Grota do Cigano, vou a Aldeia do Índio
conversar com meus amigos. O negro da periferia não acredita no negro próximo a
ele. Vai chegar um branco bonito que vai dominar. No hip hop quanto no reggae
não tem consciência, querem apenas mostrar que dançam bem e que são fans do Bob
Marley.
Não.
As letras vieram, lembro muito bem do Carlinhos da Cruz das Almas, do pessoal
da Jatiúca (George), lembro que fizeram uma letra sobre um garotão de
Jacarecica que desapareceu, mas era o processo do exibicionismo: eu sei fazer;
eu canto. Era mais uma moda. A cultura alagoana se dissolveu de tal modo que
nem todo mundo consegue realizar os seus projetos, fica sempre pela metade.
Eu
só suportei o Movimento Hip Hop por nove anos (1987 à 1996). Não havia apoio institucional porque o
preconceito era muito maior que hoje. A discriminação era maior, fui o cara
ousado de criar um medalhão com um disk laser, que era um cd, do Titãs
original, furei , botei uma corrente de prata e usava pendurada no pescoço.
Isso foi uma revolução porque todo mundo ficou dizendo assim “Oh”, depois todos
os Mcs e dançarinos começaram a copiar. Foi preciso um líder, ousado, com muita
coragem dizer assim “Nós podemos, vamos abrir a porta do nosso mundo e mostrar
quem somos”.
Havia camisas com fotos de cantores, e algumas
pessoas, como o Everaldo que quando chegou de São Paulo trouxe todos os
adereços da cultura paulistas, até falando...
Ai vou explicar porque o movimento teve que
acabar: quando me expressava no microfone que o movimento não podia ficar só
naquilo, que podíamos criar um estatuto, uma associação do rap, incrível, nesse
mesmo processo em que falava isso havia a Rádio Cidade (uma rede de rádios em
todo país, 22 filiadas). Os locutores daqui falavam para a do Rio de Janeiro
que aqui tinha hip hop e formos considerado duas vezes como o terceiro melhor
hip hop do Brasil (1991-1992).
Porque
não tinha confusão, não tinha briga. Movimento forte e ao mesmo tempo fraco
porque só tinha um cara que tinha o poder da palavra de ser locutor de rádio,
de estar articulando, ninguém queria, só queriam dançar. Quando dizia que tinha
que fazer isso, dizia que era balela, que estava inventando história.
Cansado, onze horas da noite no domingo,
preocupado com algumas coisas que falei que podia ter magoado, fui agredido,
degradado... É complicado! A galera
começou a perceber que eu queria levar a coisa mais a sério, falava no
microfone “Galera formos considerado o terceiro melhor do Brasil dois anos
seguidos, nem Recife chega aos nossos pés”. Em seguida veio o jornal com a
Silvana Valença que fez uma reportagem muito legal para o Caderno B. Isso foi
me deixando angustiado, porque o tempo vai passando e a gente quer vê sucesso,
sucesso para mim não é dinheiro é ser reconhecido como agora estou sendo. Para
mim agora e para meu filho como: produtor cultural, documentarista, locutor,
pesquisador, educador social. Isso é um legado para o meu filho que onde chegar
vai dizer “Rapaz, meu pai contribuiu com o movimento hip hop, cultura de rua”.
Depois
da praça do Santo Eduardo os dançarinos que vinha das comunidades começaram a
dizer: vamos fazer no Bentes Bentes, Cruz das Almas, Jacintinho. No Jacintinho
tinha poucos dançarinos, eram poucos, mas muito visados (Edson, Junior,
Everaldo, Adeilton); não faziam vergonha
quando saía do Jacintinho e ia representar. Jacintinho às terças na quadra
antes do CSU, fui lá e fui chato e grosso com os caras.
Deixei de vir aqui porque os caras começaram a
colocar a música da dança da garrafa, olha que contradição: me usavam como
mensageiro de uma consciência, de uma cultura de rua, de uma cultura que o
negro tinha que ser respeitado dentro da sociedade. O dono do som, Van, por ter
esse poder de ser o dono abria esse
espaço para as meninas de short dançarem a dança da garrafa. Daí disse: “Meu
irmão não vou ficar aqui”. O movimento do Santo Eduardo começou a despencar
porque a galera percebeu que eu não queria só isso, queria metas para dar
trabalho a muita gente.
Em
2000 surgiu a do Paulo, no Cleto Marques Luz, fui duas vezes mas não me senti
bem. Ele não comprou a ideia de firmar o movimento como antes, não queria que
fosse igual, mas as regras, a metodologia para dar andamento. O som era do
irmão dele e ninguém tocava, só o irmão dele. O som eletrônico de James Brow e
o som Miami que contagiava a galera, também não era executado, então ficou um
movimento nanico. Só quem frequentava era as pessoas do Cleto Marques Luz ou do
Salvador Lyra.
Um
dia o Elder me parou no Centro e disse “Bicho, eu era feliz e não sabia, fui um
cara muito injusto com você velho,
porque está com cinco anos que deixou de fazer o movimento e não há mais
movimento. Estou sabendo de um no Cleto Marques, mas que não chegar aos pés do
movimento que existia no Santo Eduardo e em outras comunidades”.
O movimento que acontecia era o de agregar
valores: o melhor dançarino de hip hop que era do Jacintinho, com o melhor DJ
Ace Rick que era do Vergel para rolar a música rap do Brasil. Cada um com sua
opinião, cada um com seu estilo, mas todos estavam juntos.
O
movimento do Cleto Marques Luz era cheio de regras e voltado à cultura
paulista. O alagoano não precisa cultuar o paulista. Paulo veio cheio de boas
intenções, mas o inferno está cheio delas. Nós tínhamos uma identidade alagoana
que agregava tudo: tinha o DJ que tocava o som Miami, o som americano, som
brasileiro, os clássicos da década de 60 e 70 que era James Brown, tinha música para todas as
tribos. Daí Paulo vem e cria um movimento nanico com todas as características
de São Paulo.
Fui
lá algumas vezes, vi jovens dançando, o que achei interessante é que tinha
muitas meninas cantando. Na minha época as mulheres não participavam porque não
queriam, tinha umas dançando, mas cantando não. No movimento do Paulo tinha
muitas cantando, mas também havia uma vaidade muito grande. Eu olhei pensei
“Esse é o movimento de consciência? Que segrega e não posso ouvir um James
Brown?”. Rapaz, o movimento hip hop no mundo começou com a música eletrônica,
vocês estão segregando. O alagoano é isso: um panelão de arroz, feijão,
charque, linguiça, farrofa, tudo misturado.
A
galera faz as coisas sem pesquisa, com boas intenções e termina retrocedendo. O
movimento hip hop em Maceió está pequeno diante do que era; a galera está com uma regra muito radical que
tem que ser isso, isso, isso... Em um
estado como o nosso, que viveu o Quebra
de 1912 e esfarelou todo o processo de produção cultural em nossa capital, que
o negro não podia fazer um bloco de carnaval que a polícia rachava o pau, que
os grupos de maracatus tiveram que ir para Recife, e aí?
O
programa de rádio Club Mix, os caras antes de tocar no movimento fizeram
grandes perfomaces no rádio, então a gente dizia , se faz ao vivo na rádio vai
fazer aqui. A Rádio Maceió FM fez concurso de DJ em 1994, o DJ Fernando (1º),
DJ Guga (2º), Altamir Campos (3º), não era para ganhar muito dinheiro, mas a
galera que era fã das rádios FM, na época as rádios eram valorizadas.
Quero desde já agradecer pela boa matéria.
ResponderExcluirMeus sinceros respeitos a sua história e caminhada,seja pelo hip-hop ou pela cultura negra em geral,o bom disso tudo é ver que, exitem pessoas com garra pra assumir o compromisso e fazer história.
ResponderExcluirGrande Ari,tive a honra de ter feito um Programa de Radio com vc,numa radio comunitaria,o programa chamava Balada Mix.
ResponderExcluirSem dúvida nenhuma essa é uma parte da história alagoana que poucos sabiam. Sabiam porque agora vão ficar sabendo através desse brilhante trabalho. O Ari é a pessoa certa para contar tudo isso. Parabéns pela iniciativa.
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