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quarta-feira, 1 de junho de 2016

História do hip-hop em Alagoas. Depoimento. Ari Oliveira.

ARI OLIVEIRA
 Esta matéria foi publicada em Campus/O Dia. 
 Entrevista realizada por Viviane Rodrigues. Coordenação da pesquisa: Luiz Sávio de Almeida






 Music, Hip-hop, History




Um depoimento para a história
MC Ary Consciência–Santo Eduardo

Meu nome é Ary de Oliveira; nasci na Ponta Grossa, rua Santa Catarina, filho de militar branco com uma negra que contribuiu com todo a formação da Escola de Samba Unidos do Poço.  Eu via minha mãe tocando violão, gostava de samba enredo, tinha que ter uma herança, tinha que ter no sangue alguma cultura... Fui para algo que não existia, porque não tinha Movimento Hip Hop na época, o que havia era uns dançarinos no Centro passando o chapéu por uns trocados. Não tinha esse movimento que virou referências e que os jornais divulgassem e o AL TV. Vivenciei todo o processo cultural lá na Ponta Grossa até começar a gostar da música negra,  porque vi James Brow na TV.

           
Depois de muito tempo vi algumas pessoas dançando na rua do Comércio na frente da Eletro Disco,  que o vendedor gostava muito dessa coisa da música americana, da black music. Era o final dos anos 70 e chegando os 80, então  o cara botava lá e ia aglomerando, em alguns segundos alguns dançarinos. O Beto do Poço foi um dos primeiros a dançar break com o Maninho, o Neno, com o Adeilto.  Eu gostava da música negra, mas não dançava, foi dali que parti para querer dançar.
             Depois surgiu uma danceteria por nome de Discol , o nome foi por conta da Discol dos anos 70, sucesso no mundo inteiro. Nessa discoteca só rolava música de preto. Era na rua Soledade,  Ponta Grossa, e coisa de 800 metros, abriu na Praça Moleque Namorador uma discoteca por nome de Holly Dance que só rolava rock, metal; tinha o pessoal dos cabelos grandes, do heavy metal, e nisso já estava se falando no Rock Rio. Quem era da turma do black music ia para a Discol e quem era da turma do new rave (era um gel que deixava o cabelo arrepiado) ia para a Holly Dance.
            Aprendi a dançar dentro da Discol, através de um camarada por nome de Dinho, Dinho Cabeção; tinha um estilo muito legal como o Tony Tornado, o deslizar dos pés e eu dizia “Rapaz  esse cara só dança bem porque passam cera no piso”. Não era. Eu tive que me adaptar para ser um bom dançarino,  para arrebentar na noite. Daí comecei a ver o Beto dançar junto com o Verruga em frente ao Cine São Luiz.

    Eles faziam cotinha e compravam pilhas grandes para o microsistem,  levavam o tapete e dançavam em frente à Lobrás. Mas antes disso,  Beto que foi o primeiro a dançar no
Centro da cidade, começou a fazer umas manifestações na Praia da Avenida. Era o Beto, o Maninho, o Pezão, os Irmãos Metralhas (Lobão e o Metralha lá da Chã de Jaqueira).  Bem próximo à ponte do Salgadinho tinha uma amendoeira e os caras levavam uma vitrola de pilha que a tampa era a caixa de som e o disco ficava lá, o vento batia, enchia a caixa de areia, os caras tiravam.
           
Ari e os meninos do Santo Eduardo
Depois veio o Verruga com um estilo bem americano, lenço na cabeça, uns cintos que brilhavam bastante, as roupas que parecia o Aladim e as pessoas, com muito preconceito, achando que o cara tava doido. O Verruga começou a dançar no Centro da cidade bem próximo ao Cine São Luiz, depois começaram a ir a Feirinha do Artesanato na Pajuçara.
            Eu já conhecia Fernando, que era um DJ, muito simples, da vida simples da Ponta da Terra; começou tocando numa sedinha na rua Domingues Lopes, próximo a igrejinha, era uma sedinha mesmo, só tinha uma porta e uma janela, lá rolava muito reggae.  Ele aprendeu a ser discotecário nessa época, depois teve o prazer de ser da MIDOR. Depois o Fernando se juntou com Tony Régis que era um DJ muito legal e veterano. Fernando, Tony Régis e Carlota se juntaram e fizeram o primeiro programa de rádio que era o Club Mix. Em 1988 o Club Mix foi executado na antiga Rádio Jornal de Hoje, a JH FM (hoje 96 FM).
           
Todo mundo que fazia parte da cultura de rua naquela época, aos sábados tinha que sintonizar no programa, só ia para festas quando terminava. Começava às 21h e terminava às 23h. Para ir aos “assaltos” tinha que ouvir o programa, foi uma revolução saber que um companheiro nosso estava tocando na rádio, todo mundo gostava da sequência do Carlota que era bem eletrônico. Era o início de todo processo mundial da música de rua , ele rolava muito África Babata, era tudo muito novo. O Fernando era clássico, gostava da dance music, americana clássica.
O movimento sempre acontecendo foi quando dissemos: vamos fazer na praça. Eu tive o prazer de ter o DJ Nell como o primeiro a tocar na praça. O Nell veio com uma inovação e foi muito criticado porque levou uma música do subúrbio do Rio de Janeiro; era uma música que pregava consciência, mas com uma batida Rio de Janeiro, a Black Rio, depois Fernanda Abreu comprou a ideia.
Eu esperava que ele quebrasse o preconceito das pessoas com a persistência. A praça se encheu de dançarinos porque todos queriam dançar, mas alguns DJs queriam ganhar espaço e  disseram: “O movimento não é por aí”;  ele ficou grilhado e não aguentou a pressão. Daí tive que recorrer ao DJ Fernando que na época tinha saído da MIDOR, estava na Fly By Night que era outra casa top de linha.
Pobre para ir a essa casa tinha que ser muito teimoso, mas cheguei nele e disse “Velho, vamos tocar na rua?”, “Nunca toquei na rua”, eu falei “Nunca falei no microfone em praça pública e terminei falando”. Já existia esse formato do mestre de cerimônia pregar a consciência lá no gueto americano, São Paulo e Rio de Janeiro.
Eu tenho que ser o daqui, levar a mensagem. Ele foi e houve uma decepção, Fernando levou todos os vinis com música dançante para a boate, um dançarino dançava, quatro não dançava... Olha que situação!  Todo mundo reclamando. Daí Fernando disse que não ia mais, falei “Você que se engana, vou fazer seu roteiro”; peguei os vinis dele e fui selecionando os que os dançarinos se acabavam dançando. Começamos a fazer o movimento duas vezes por mês na praça. A cada domingo o público ia aumentando, dava 300 à 400 pessoas,  no dia das crianças era problema. A gente respeitava a missa que começava, esperava terminar para não atrapalhar por causa do som. O Fernando começou a arrasar, os b.boys saíam da roda e iam direto na mão dele para agradecer.
O Ace Rick veio e conquistou logo a galera, rolando Taíde. O Taíde é o pioneiro do hip hop brasileiro, ainda é um grande rap, mas hoje é jornalista e trabalha na Band. Ele rolava Taíde, Racionais. Nessa época que todo mundo estava começando a perceber as letras do hip hop brasileiro com as letras mais agressivas e teve o apoio do Movimento Skatista que saía da Praça do Skate e vinha para a praça do Santo Eduardo para brincar de skate e ouvi o hip hop que mais gostava. Ouvia até o que não queria... O Carlota também foi um DJ que ganhou nome no movimento, tinha um jeito de rolar música eletrônica que foi o inicio de todo o processo.
Sobre a questão política, tinha o maior problema com o movimento, eram muito dançarinos e de várias comunidades: Santo Eduardo (eu era líder dessa turma); a turma da Jatiúca da Amélia Rosa, da quadra 13 (Sandro, Marcos, George e outros); o pessoal do Vergel que eram veteranos (Geraldo, Foffy, Ace Rick, Zé da Burra...). Eram muitos dançarinos de facções diferentes, cada um com sua ideologia.
Grupo Rap Boys - Afrânio, Ari e Sandro
A minha turma tinha uma ideologia bem política, de crescer, de não ficar na mesmice de dança, de ser profissionais, de levar a coisa mais séria. Não da rivalidade de dizer “eu sou melhor que você”, existia muito isso. De dizer “você é um otário”, até tapa chegou a sair e a galera dizer “calma aí”, os insultos eram grande. Nos Estados Unidos chegam até a cuspir no rosto do outro, na disputa, aqui não chegou a isso. O cara cuspia nos pés, mas já era um desacato. Tinha cara que passava a mão na cara do outro, eu falava “Bicho isso não rola, olha o público... O público não está afim de vê isso cara”. O público está afim de vê você dançando e fazendo algo que a sociedade tanto critica: a cultura negra.
Chamavam a gente de bandido, de vagabundo, malandro, vamos mostrar o outro universo da coisa. Houve muitas brigas e as facções às vezes não concordavam com o meu discurso. O pessoal da Jatiúca foi além, foi audacioso; começaram a fazer o movimento também no mesmo lugar e cansaram porque não ia público. Eu tinha na época uma coisa muito boa que era a rádio, tinha na mão a divulgação. Eu fazia um programa com o Oscar Neto na Pajuçara FM (ela foi fundada em 1985 e até 1996 ainda era no bairro do Feitosa, era uma casa simples com uma antena muito grande). Eu ia todos os sábados fazer o programa das 20h às 23h, eram três horas de som , a gente se comunicava com toda periferia de Maceió. Sempre avisando: Dia tal vai ter movimento, vai está o DJ Fernando, DJ Bolinho, DJ Carlota,  DJ Nell.
Se você ficasse na praça Jornalista Denis Agra no Santo Eduardo e focasse uma câmera para o ponto do ônibus ia ver o ônibus do Eustáquio Gomes-Ponta Verde repleto de jovens descendo da parte alta da cidade, outros vindo do Jacintinho. As quatro horas da tarde a praça estava lotada, por conta de uma comunicação, de um programa que rolava dance mix e black music todos os sábados. A galera cansou porque percebeu que fazendo não tinha a divulgação e nem um cara que soubesse passar a mensagem para conquistar o público, o Ary tinha. O Ary apresentava o DJ, falava a biografia, dizia as características do que o cara que ia tocar, até para conquistar o público, faltava visibilidade. O Fernando ia a Recife comprar vinil, eu dizia “galera tem som novo”, mencionava os nomes dos e os caras ficavam doidos.
A TV Gazeta por duas vezes veio fazer reportagem e entrevistou os moradores, todos falaram “É a melhor coisa o que esses meninos estão fazendo nessa praça, esse movimento, todo mundo dançando, esse rapaz fala bem para que as pessoas que estão do lado errado tenham essa visão de praticar a cultura”. Ma só era o Ary que tinha essa visão porque o movimento tinha mais de cem dançarinos que só queria dançar, dançar, dançar.
Na época tinha a Rádio Cidade e eu falava com a Luciana Ávila, com o Jairo de Andrade, levava as notinhas e os caras divulgavam numa boa. Ia para a Maceió FM que se chamava Programa da Hora, todos os sábados, num estilo bem Jovem Pan, era participação do público. Eu ia e participava ao vivo para anunciar o movimento que ia acontecer no domingo, o Betinho era o cara que apresentava o programa e gostava muito desse estilo de música, dizia “venha sempre”, porque era audiência para o programa. Ele tinha mais de 150 b.boy ouvindo o programa porque o líder estava lá dando a entrevista.
Havia b.boy que dançavam no salão, nas danceterias, mas não se garantia na roda. Pra ir a rua tinha que ser bom. Maceió não devia nada aos b.boys de outras capitais. O pessoal que chegava do Rio e de São Paulo quando chegavam aqui ficavam entusiasmados porque achavam que éramos apenas comedores de rapadura. Eu uso uma tese de que onde existe negros, a africanidade... O hip hop é uma cultura criada por americanos, mas nós somos americanos e temos essa linhagem da africanidade, essa ginga não é para todo mundo. Dançarinos ótimos...
Você precisava vê o Geraldo dançando, parece que incorporava, seus maior rival era o Beto do Poço. Eles eram os melhores. O Verruga era o terceiro, mas tinha uma habilidade diferente dos dois: quebrava legal e hoje analisando, sabia usar a música. Ele interpretava  a música com os movimentos na batida certa. O Geraldo e o Beto sabiam interpretar, mas se perdiam algumas vezes, faltava um pouco de conhecimento. O Verruga era bailarino profissional, fez ballet junto com a esposa, na Eliana Cavalcante. Ele tinha o manejo do corpo, a técnica.
Aí vou voltar para a negritude, o ballet não é do negro, na minha concepção é algo do branco elitizado e que o alagoano viaja, não só, o baiano, o pernambucano, o paulista. O alagoano cultua muito o que é do branco, esquece o seu local, esquece de valorizar o que é dele. Quando vier acordar será tarde. Na época faltou isso porque o preconceito era grande, preferem usar uma camiseta PENA e uma bermuda CICLONE, mas não bota um rasta, tem vergonha, não se assume, perde a identidade dele porque está cultuando o que é dos outros.
O Verruga fez, se formou, mas não teve êxito. Quando viu a cultura de rua, se encantou. Hoje é evangélico e continua dançando o hip hop, mora na Ponta da Terra, tem um salão de beleza na rua Santa Isabel, o nome dele é Valdeci. O pastor não tem nenhum problema, ele vai e dança, até porque música gospel hoje tem a ver.  Uma coisa boa nele é que nunca bebeu e nem fumou. Acho que o ballet foi mais para trabalhar o corpo.
Fazer cultura no estado de Alagoas é totalmente contraditório, porque primeiro que o negro não assume a sua responsabilidade  esquecendo de ocupar o espaço dele. Quando podia se juntar com os próprios companheiros de luta para realmente reinvidicar,  mais ou se esconde ou vai apualar [?] com certeza.
Todas essas pessoas, acredito que sejam vítimas, a elite alagoana realmente dissolveu a cultura alagoana. Isso é tudo contraditório, seja na religião de matriz africana, no hip hop, no reggae, no teatro... O negro alagoano não acredita no outro negro. É uma herança cultural de dar crédito a uma pessoa superior. Ninguém vai acreditar no Ary, ele mora no Village Campestre... O próprio branco vai mostrar “O Ary com aquele cabelo, não vê a hora de ser parado pela polícia”. Peraí bicho, é a historia do cara, resistência do cara, jamais tenho que cortar o meu cabelo para mostrar que sou de bem... A gente vê muito isso na sociedade, o homem de bem é o homem de cabelo cortado. Vejo  tanta gente na penitenciaria sem rasta e eu livre andando pelo Jaça; ando na Grota do Cigano, vou a Aldeia do Índio conversar com meus amigos. O negro da periferia não acredita no negro próximo a ele. Vai chegar um branco bonito que vai dominar. No hip hop quanto no reggae não tem consciência, querem apenas mostrar que dançam bem e que são fans do Bob Marley.
Não. As letras vieram, lembro muito bem do Carlinhos da Cruz das Almas, do pessoal da Jatiúca (George), lembro que fizeram uma letra sobre um garotão de Jacarecica que desapareceu, mas era o processo do exibicionismo: eu sei fazer; eu canto. Era mais uma moda. A cultura alagoana se dissolveu de tal modo que nem todo mundo consegue realizar os seus projetos, fica sempre pela metade.
Eu só suportei o Movimento Hip Hop por nove anos (1987 à 1996).  Não havia apoio institucional porque o preconceito era muito maior que hoje. A discriminação era maior, fui o cara ousado de criar um medalhão com um disk laser, que era um cd, do Titãs original, furei , botei uma corrente de prata e usava pendurada no pescoço. Isso foi uma revolução porque todo mundo ficou dizendo assim “Oh”, depois todos os Mcs e dançarinos começaram a copiar. Foi preciso um líder, ousado, com muita coragem dizer assim “Nós podemos, vamos abrir a porta do nosso mundo e mostrar quem somos”.
 Havia camisas com fotos de cantores, e algumas pessoas, como o Everaldo que quando chegou de São Paulo trouxe todos os adereços da cultura paulistas, até falando...
 Ai vou explicar porque o movimento teve que acabar: quando me expressava no microfone que o movimento não podia ficar só naquilo, que podíamos criar um estatuto, uma associação do rap, incrível, nesse mesmo processo em que falava isso havia a Rádio Cidade (uma rede de rádios em todo país, 22 filiadas). Os locutores daqui falavam para a do Rio de Janeiro que aqui tinha hip hop e formos considerado duas vezes como o terceiro melhor hip hop do Brasil (1991-1992). 

Porque não tinha confusão, não tinha briga. Movimento forte e ao mesmo tempo fraco porque só tinha um cara que tinha o poder da palavra de ser locutor de rádio, de estar articulando, ninguém queria, só queriam dançar. Quando dizia que tinha que fazer isso, dizia que era balela, que estava inventando história.
 Cansado, onze horas da noite no domingo, preocupado com algumas coisas que falei que podia ter magoado, fui agredido, degradado... É complicado!  A galera começou a perceber que eu queria levar a coisa mais a sério, falava no microfone “Galera formos considerado o terceiro melhor do Brasil dois anos seguidos, nem Recife chega aos nossos pés”. Em seguida veio o jornal com a Silvana Valença que fez uma reportagem muito legal para o Caderno B. Isso foi me deixando angustiado, porque o tempo vai passando e a gente quer vê sucesso, sucesso para mim não é dinheiro é ser reconhecido como agora estou sendo. Para mim agora e para meu filho como: produtor cultural, documentarista, locutor, pesquisador, educador social. Isso é um legado para o meu filho que onde chegar vai dizer “Rapaz, meu pai contribuiu com o movimento hip hop, cultura de rua”.
Depois da praça do Santo Eduardo os dançarinos que vinha das comunidades começaram a dizer: vamos fazer no Bentes Bentes, Cruz das Almas, Jacintinho. No Jacintinho tinha poucos dançarinos, eram poucos, mas muito visados (Edson, Junior, Everaldo, Adeilton);  não faziam vergonha quando saía do Jacintinho e ia representar. Jacintinho às terças na quadra antes do CSU, fui lá e fui chato e grosso com os caras.
 Deixei de vir aqui porque os caras começaram a colocar a música da dança da garrafa, olha que contradição: me usavam como mensageiro de uma consciência, de uma cultura de rua, de uma cultura que o negro tinha que ser respeitado dentro da sociedade. O dono do som, Van, por ter esse poder de ser o dono  abria esse espaço para as meninas de short dançarem a dança da garrafa. Daí disse: “Meu irmão não vou ficar aqui”. O movimento do Santo Eduardo começou a despencar porque a galera percebeu que eu não queria só isso, queria metas para dar trabalho a muita gente.

Em 2000 surgiu a do Paulo, no Cleto Marques Luz, fui duas vezes mas não me senti bem. Ele não comprou a ideia de firmar o movimento como antes, não queria que fosse igual, mas as regras, a metodologia para dar andamento. O som era do irmão dele e ninguém tocava, só o irmão dele. O som eletrônico de James Brow e o som Miami que contagiava a galera, também não era executado, então ficou um movimento nanico. Só quem frequentava era as pessoas do Cleto Marques Luz ou do Salvador Lyra.
Um dia o Elder me parou no Centro e disse “Bicho, eu era feliz e não sabia, fui um cara muito injusto com  você velho, porque está com cinco anos que deixou de fazer o movimento e não há mais movimento. Estou sabendo de um no Cleto Marques, mas que não chegar aos pés do movimento que existia no Santo Eduardo e em outras comunidades”.
 O movimento que acontecia era o de agregar valores: o melhor dançarino de hip hop que era do Jacintinho, com o melhor DJ Ace Rick que era do Vergel para rolar a música rap do Brasil. Cada um com sua opinião, cada um com seu estilo, mas todos estavam juntos.
O movimento do Cleto Marques Luz era cheio de regras e voltado à cultura paulista. O alagoano não precisa cultuar o paulista. Paulo veio cheio de boas intenções, mas o inferno está cheio delas. Nós tínhamos uma identidade alagoana que agregava tudo: tinha o DJ que tocava o som Miami, o som americano, som brasileiro, os clássicos da década de 60 e 70 que  era James Brown, tinha música para todas as tribos. Daí Paulo vem e cria um movimento nanico com todas as características de São Paulo.
Fui lá algumas vezes, vi jovens dançando, o que achei interessante é que tinha muitas meninas cantando. Na minha época as mulheres não participavam porque não queriam, tinha umas dançando, mas cantando não. No movimento do Paulo tinha muitas cantando, mas também havia uma vaidade muito grande. Eu olhei pensei “Esse é o movimento de consciência? Que segrega e não posso ouvir um James Brown?”. Rapaz, o movimento hip hop no mundo começou com a música eletrônica, vocês estão segregando. O alagoano é isso: um panelão de arroz, feijão, charque, linguiça, farrofa, tudo misturado.
A galera faz as coisas sem pesquisa, com boas intenções e termina retrocedendo. O movimento hip hop em Maceió está pequeno diante do que era;  a galera está com uma regra muito radical que tem que ser isso, isso, isso... Em  um estado como o nosso,  que viveu o Quebra de 1912 e esfarelou todo o processo de produção cultural em nossa capital, que o negro não podia fazer um bloco de carnaval que a polícia rachava o pau, que os grupos de maracatus tiveram que ir para Recife, e aí?
O programa de rádio Club Mix, os caras antes de tocar no movimento fizeram grandes perfomaces no rádio, então a gente dizia , se faz ao vivo na rádio vai fazer aqui. A Rádio Maceió FM fez concurso de DJ em 1994, o DJ Fernando (1º), DJ Guga (2º), Altamir Campos (3º), não era para ganhar muito dinheiro, mas a galera que era fã das rádios FM, na época as rádios eram valorizadas.




 


 

4 comentários:

  1. Quero desde já agradecer pela boa matéria.

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  2. Meus sinceros respeitos a sua história e caminhada,seja pelo hip-hop ou pela cultura negra em geral,o bom disso tudo é ver que, exitem pessoas com garra pra assumir o compromisso e fazer história.

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  3. Grande Ari,tive a honra de ter feito um Programa de Radio com vc,numa radio comunitaria,o programa chamava Balada Mix.

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  4. Sem dúvida nenhuma essa é uma parte da história alagoana que poucos sabiam. Sabiam porque agora vão ficar sabendo através desse brilhante trabalho. O Ari é a pessoa certa para contar tudo isso. Parabéns pela iniciativa.

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