Toda casa tem música entranhada
na memória e para as mais antigas é uma modinha, uma valsa. O tempo vai passando,
novas pessoas cantam coisas novas e assim, o som vai se repartindo em um
passado que vai sendo somado em lembranças que permanecem. Algumas são o que
vou chamar de canção de amor, músicas que unem dois corações e falam de
sentimentos que se renovam através delas.
Eu não sabia que papai e mamãe
tinham uma.
Não me lembro o dia, minha mãe
manda me chamar. Meu pai havia recebido ordem médica para ficar de absoluto
repouso e estava trabalhando no escritório. Saio correndo, entro no escritório
e começo a conversar. Eu não sabia que a morte estava tão perto. Um tremor
passa pelo corpo de Manoel de Almeida; ele se abraça a mim, eu coloco a cabeça
dele em meu ombro, fico alisando o cabelo e foi assim que ele foi morrendo.
Pego o corpo franzino, coloco em cima de um sofá.
Minha mãe estava longe, no quarto de costura; eu entro e ela pergunta: “Morreu, meu filho?”
Respondo que sim, balançando a cabeça e esperando a reação. Ela então se
levanta e canta:
Sempre no meu coração
Perto ou longe estarás...
Era a música deles e eu não sabia.
Sempre no meu coração, Always in My Heart era um filme de 1942, ano em
que nasci. Somente o cinema poderia juntar duas pessoas que se amavam na Capela das Alagoas e continuaram por mais de 65 anos.
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Lindo! Um amor grande e uma relação muito forte!
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