A imponente Matriz da brava Cidade da Capela |
Alagoas Pieces
Piècis Alagoas arts plastique
Pezzi Alagoas, Arti plastiche
Este material foi publicado originalmente em Campus/O Dia, Maceió.
Quem é quem
Eduardo Henrique Omena Bastos é artista plástico, arquiteto
e professor do IFAL. Colaborador de Campus.
Dois dedos de prosa
Novamente,
trazemos para nossos leitores, a
produção do artista e professor Eduardo Bastos. Desta feita, ele lança seu
olhar, trazendo maravilhas que suas mãos traçam, desta feita visitando parte de
nosso Estado.
Temos
por Eduardo uma grande admiração, não apenas por ele ser um expressivo artista,
mas pela figura humana que é.
Campus/O
Dia dá aos leitores um belo presente.
É sentar
e ver como talento e método fazem com que a beleza se expresse.
Obrigado
ao Eduardo e ao amigo leitor, um grande abraço.
Sávio de Almeida
I - O TRAÇO DA MINHA TERRA
Eduardo Henrique Omena Bastos
Os croquis aqui
apresentados são o registro de imagens - capturadas através do olhar e da mão,
pelas andanças no interior do Estado de Alagoas, algumas vezes a trabalho,
outras, mais lúdicas, com o grupo do curso Design de Interiores do IFAL.
A arquitetura interiorana, a vernácula, sempre me atraiu e fascinou e,
nessas viagens, busco observar e deixar algumas marcas sobre as folhas de
papel. Creio que existe na natureza humana a vontade imperiosa de exprimir essa
intenção/emoção, seja riscando no solo uma cruz o local da futura construção de
um edifício ou traçando com uma linha em um mapa, demonstrando aonde se quer
chegar, ou ainda de maneira mais sublime, pintores como Van Gogh, Constable, os
Impressionistas, Visconti, Calixto... Entre outros gigantes da História da Arte,
mantinham uma relação de amor e paixão pelo lugar e suas obras influenciaram esses
sentimentos no grande público.
Imagino que o desenho deva fazer parte da
fisiologia humana, o homem das cavernas muito antes de aprender a se comunicar
verbalmente, desenvolveu todo um sistema de símbolos que se relacionavam com
sua própria sobrevivência: a imagem de um bisão na parede de uma caverna
continha a expectativa de aprisionar o espírito da caça. Depois perceberam que
poderiam representar a si mesmos em cenas de caçadas ou rituais religiosos.
Porque tais necessidades? Talvez o traço, seja nossa primeira reação ao mundo
para nos comunicar de maneira efetiva e duradoura. Dê um lápis e um papel a uma
criança na mais tenra idade e veja o que ela faz. Não pensa duas vezes e vai
logo rabiscando, é instintivo... Emocional! Elas gostam!
Cada artista tem esse poder de
imaginar e criar o mundo como gostaria. Certa vez disse Gombrich, um famoso
historiador: “Na realidade a arte não existe. Existem apenas artistas.”
Percebemos de maneiras diferentes, pontos de vistas são distintos e mutáveis,
cada um carrega dentro de si um universo em construção, ou “sabe a dor e a
delícia de ser o que é” (Veloso), e a arte é também uma forma de se distanciar
do mundo e criar significados para ele. Minha percepção faz parte de um
conjunto de experiências que são só minhas e busco fazer uso delas para criar
imagens, contar histórias e criar um diário de memórias. Como Dibutades, que desenha o contorno da
sombra do amado que vai partir para guerra, traça seu perfil para que este
permaneça na sua lembrança, quiçá uma maneira de aliviar a solidão e a
tristeza. Tais sentimentos se expressam ao ver muitos exemplares da arquitetura
da nossa terra, abandonados e mal preservados, os quais são o registro, como
expressão maior, dentre todas as artes, como diria Paul Valéry, da memória de
um povo.
Campus do IFAL em Satuba |
Casa na área rural do Bananal, Viçosa |
Convento de São Francisco em Marechal Deodoro |
II - Um Olhar para Cidade
Pedro Caetano
Arquiteto, artista plástico e poeta nas horas vagas.
Aprender a ver ainda é uma das qualidades mais intrínsecas
das pessoas que trabalham com pintura, design, arquitetura, ou escultura.
Paul Laseau nos alerta que da mesma forma que o músico
deve ouvir muita música, e o escritor, deve também ler bastante, este
raciocínio não deixa de ser aplicado aos que trabalham com a esfera visual.
Isto é, arquitetos, artistas e designers precisam ver
muito, várias ideias, porque tudo que já foi feito, foi baseado em algo, ou em
alguém, vanguarda, momento histórico...
Então como se aprende a ver?
Ora, se aprende a ver melhor desenhando.
É neste sentido que o desenho de observação ainda se faz fundamental na carreira de um arquiteto, designer ou artista plástico.
Ainda hoje damos muita importância de alimentar apenas nossa literatura verbal através dos livros, renegando nossa literatura visual.
Então como se aprende a ver?
Ora, se aprende a ver melhor desenhando.
É neste sentido que o desenho de observação ainda se faz fundamental na carreira de um arquiteto, designer ou artista plástico.
Ainda hoje damos muita importância de alimentar apenas nossa literatura verbal através dos livros, renegando nossa literatura visual.
Desenhar é aprender a ver, quanto mais se desenha, melhor
se enxerga, e quanto melhor se enxerga, melhor se desenha.
Desenhar é aumentar nossa literatura visual e nosso acervo de ideias. É também educação visual.
Desenhar é aumentar nossa literatura visual e nosso acervo de ideias. É também educação visual.
Pelo seu caráter analítico, o desenho nos faz estreitar
nossa relação com o tema desenhado, faz com que nossos olhos percorram a
silhueta da forma escolhida, que vai aos poucos sendo assimilada,
internalizada.
Desenhar é deixar nossos olhos caminharem pela silhueta da montanha,
da cidade,
da casa
ou da mulher.
Um desenho de observação é uma busca de se “apossar” da beleza,
Um desenho de observação é uma busca de se “apossar” da beleza,
de possuir o que não se pode ter...
de tocar o que não pode ser tocado...
de ter algo que não se deseja tornar-se inesquecido.
Olhar para um desenho antigo é acessar os viadutos da memória.
de tocar o que não pode ser tocado...
de ter algo que não se deseja tornar-se inesquecido.
Olhar para um desenho antigo é acessar os viadutos da memória.
Le Corbusier costumava dizer que o surgimento da câmera
fotográfica interferiu na visão das pessoas. O click é instantâneo e muitas
vezes fullgás.
O instante fotográfico muitas vezes é impaciente e nem sempre possui a dimensão contemplativa de um desenho.
Desenhar é analisar, selecionar, absorver, traduzir, sintetizar...
O instante fotográfico muitas vezes é impaciente e nem sempre possui a dimensão contemplativa de um desenho.
Desenhar é analisar, selecionar, absorver, traduzir, sintetizar...
Todas essas qualidades inerentes ao ato de desenhar estão
sempre presentes nos esboços e aquarelas de Eduardo Bastos. Que nos revelam um
oásis do que deve ser apreciado.
As aquarelas de Eduardo são o testemunho de uma conexão
entre o artista-arquiteto e a cidade, do desenho com a verdade, da emoção
diante da beleza.
São, sobretudo uma lição de que a arte está dentro de uma esfera não verbal, não lógica.
São, sobretudo uma lição de que a arte está dentro de uma esfera não verbal, não lógica.
Fazer uma aquarela que imite a aparência fidedigna das
coisas não faz sentido para Eduardo, seus temas funcionam como um meio através
do qual algo maior se manifesta, a sua visão de mundo.
Tratam do que não pode ser descrito em palavras. Como diria Henri Matisse, “se você um dia quiser ser um pintor trate de cortar a sua língua”,
Edward Hopper também nos indica o mesmo caminho afirmando que se pudesse descrever em palavras, não precisaria pintar.
Só mesmo um poeta para achar as palavras certas para o que não pode ser dito.
Tratam do que não pode ser descrito em palavras. Como diria Henri Matisse, “se você um dia quiser ser um pintor trate de cortar a sua língua”,
Edward Hopper também nos indica o mesmo caminho afirmando que se pudesse descrever em palavras, não precisaria pintar.
Só mesmo um poeta para achar as palavras certas para o que não pode ser dito.
Sentimentos não moram em palavras.
procuram seus silêncios, são invisíveis,
mas procuram suas imagens.
procuram seus silêncios, são invisíveis,
mas procuram suas imagens.
E Eduardo é um caçador de imagens
Sua arte não precisa de comentários porque fala por si,
é poesia para os olhos e alimento da emoção.
III - Um comentário sem título e sem pretensões.
Sua arte não precisa de comentários porque fala por si,
é poesia para os olhos e alimento da emoção.
Matriz de Porto Calvo, Alagoas |
Matriz de Coruripé |
III - Um comentário sem título e sem pretensões.
Gildo
Montenegro
Arquiteto e Professor -Universidade
Federal de Pernambuco
Para muitas coisas há um jeito complicado de fazer, mas, em geral,
há possibilidade fazer de outro modo. A fotografia, por exemplo, é uma
maneira simples de reproduzir uma praça ou um prédio. Em questão de segundos, a
imagem fotográfica revela minúcias de um monumento que teriam escapado a uma
espiada normal. Tudo fica gravado com exatidão notável, com extraordinária
precisão.
Por que, então, complicar fazendo esboços à mão livre que podem levar
horas ou dias? Seria falta do que fazer? Ou uma compulsão pelas cores e traços?
Seria um retorno às origens, um mergulho no passado, quando ainda não existia a
fotografia? Que passado?
Há muitos milhões de anos o macaco nosso ancestral achou de descer
das árvores e caminhar pelo chão. A princípio meio desajeitado; aí descobriu
paisagens diferentes, encontrou frutas, flores, raízes e pedras. O macaco
verificou que suas mãos não mais se ocupavam de segurar galhos de árvores e que
elas poderiam ter outras finalidades. Quais?
Colecionar pedras, partir sementes duras para comer o miolo adocicado,
quebrar pedras para usar como projeteis ou como raspadeiras para curtir o couro
de animais, agora usado como proteção contra os rigores do inverno quando o
frio chega a 40 graus negativos. Assim a mão passou a ter novos e inesperados
usos.
Ao utilizar as novas habilidades manuais e associá-las com a visão
para antecipar eventos futuros, o homem desenvolveu o que veio depois a ser
chamado de inteligência. Logo ele criou instrumentos que não existiam e aprendeu
a pintar seu corpo. Nasceu a beleza. E a vaidade veio junta.
Em etapas a seguir, o homem aprendeu a pintar seixos rolados, a
fazer adornos para o corpo, a pintar paredes e grutas. Era o nascimento da
arte.
Seguindo outros caminhos, em sequência ainda hoje ignorada, o
homem desenvolveu o ritmo musical e corporal, a língua falada, a representação
simbólica, a escrita.
Resumo da ópera:
A fotografia é rápida e exata, porém fria e mecânica, com
raras exceções. Se você aprecia a beleza, tem de ir atrás da Arte. Foi isso que
Eduardo fez. Aqui para nós: com extrema habilidade ele captou a beleza de obras
arquitetônicas, de prédios construídos talvez sem projeto, mas com domínio de
técnica e da arte de construir.
Em cada uma destas aquarelas o observador encontra cores,
traços livres, leves e soltos. Da mesma maneira que a fotografia retém a
exatidão, os desenhos de Eduardo captam o sentimento e a emoção.
Sugere-se que o leitor não perca tempo com um texto metido
a erudito e trate de desfrutar da beleza de cada esboço, imaginando-se a ver de
perto e a tocar as paredes, andando em volta de cada lugar que o pincel e a mão
de um artista bordaram com sensibilidade e habilidade. E lembre-se de que estes
esboços não são reproduções de construções; eles são criações, uma maneira
especial de ver as coisas, mais com o coração do que com o olhar.
Matriz de Viçosa |
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