Professora de sociologia e mestranda em antropologia pela Universidade Federal de Sergipe
DOMAR O BÚFALO E TOCAR OS CÉUS
Aldjane Oliveira
Num dia considerado santo, numa
hora tida como mágica seguiram alguns jovens para um lugar quase esquecido,
praticamente abandonado. Estes jovens, mesmo sem saber, ou sem ter certeza, buscavam algo, algo que nem eles
mesmo saberiam explicar; buscavam algo que anda sendo esquecido por muitos ou
pela maioria, enfim, buscavam algo, tentavam tocar os céus e suas maravilhas que só se pode desfrutar
quando se está do alto.
Numa pequena cidade da Nação
Nordestina, considerada abandonada por alguns e tida como sem lei por outros...
Onde tivera sido palco dos mais lindos rituais indígenas , da alegria, paz e
harmonia de uma comunidade tribal, os Urupês da tribo Wassu Cocal; tivera sido
também palco do surgimento de uma nova população, a Vila Urucum.
Pois bem, nesta pequena cidade há
consideráveis riquezas, considerada por poucos como um presente dos céus,
daquele céu agora um pouco esquecido... Há nascentes de águas claras, rios de
água frias, matas de verde exuberante, há um grande animal de guarda na entrada
desta pequena cidade, está lá, mostrando sua imponência, com a missão de olhar
e proteger aquele lugar, está lá o Búfalo
da Serra dos juruquenses. Para o qual muitos olham e se amedrontam ao tentar
dele se aproximar, estes não chegarão aos céus; outros porém tentam domá-lo,
mas desistem no meio da caminhada, pois o Búfalo é forte e o homem tem seus
momentos de fraqueza; já aqueles que decidem domar o animal, serão
recompensados com o presente dos céus, terá visões mágicas, verão a luz
magnifica que vem do alto ou melhor do agora do horizonte, saborearão dos
frutos mágicos que têm sabor diferenciado e significado todo especial.
Aqueles jovens, que não sabiam
bem o que estavam buscando ao tentarem domar o animal e se aproximar dos céus,
percebem que diante da grandeza da criação e da beleza das cores, somos meros
espectadores abençoados pela graça de poder admirar ... E outros condenados a fazer trilhas da
destruição, querendo as vezes, decidir como deuses e condenar como um juiz.
O ser humano vem ganhando cada
vez mais raciocínio e perdendo cada vez mais
a capacidade de admirar a verde mãe, de ritualizar o belo da vida, de
compartilhar a harmonia e o sossego, vem perdendo a capacidade de comungar, de
conviver, de coexistir de compactuar com a energia vital, a natureza.
A tradição é tida para alguns
como algo ultrapassado, algo que não merece atenção, algo envelhecido, mas para
outros poucos, a tradição é um tipo de ritual em memória aos antepassados, é
uma devoção, é um meio de tentar novamente ver com outros olhos aquilo que está
posto, que nos comove, que nos inquieta.
A tradição de domar o Búfalo e
tocar os céus... e comer dos frutos mágicos... e sentir a leve brisa enxugando
o suor do cansaço ... e ver as maravilhas prometidas que são elas:
·
Determinação para começar a subir;
·
Solidariedade com os companheiros que têm
dificuldades na caminhada;
·
Partilha dos mantimentos que eram individuais e
agora são coletivo;
·
Ter belas visões que a poucos são concedidas.
De lá do alto
do Búfalo ver-se um raiar de sol incomparável, uma bela vista da cidade dos
mortais, pois lá do alto cometemos o pecado de nos sentirmos quase deuses por
termos provados de suas maravilhas.
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