Luiz Sávio de Almeida. As proezas do Capitão Antônio de Almeida Braga: morte e moeda falsa.
A imponente Matriz da formidável Capela no traço de Eduardo Bastos |
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Fui
para o Pacaviral na companhia de um grande primo que era poeta: Natalício de Almeida, apaixonado pelo cheiro
da coalhada do Pacaviral. Era para mais de três horas da tarde quando chegamos.
Eu adorava andar com o Natalício pelas ruas da Capela, baixeiro, num passo
descansado tal qual o meu e com a mesma mania de usar as alpercatas. Um dia, eu
ouvi maravilhado o Natalício dizendo os versos sobre a coalhada do Pacaviral.
Nós estávamos escorados no portão do cemitério da Capela, quando o poeta se
lembrou do cheiro tomando os ares e olhando para as ruas da cidade altaneira,
desdobrou-se na arte dos louvores à coalhada das terras do Agnelo.
Natalício de Almeida sempre viveu na casa do Coronel José Otávio; eu gostava como o primo se vestia, num cinza meio azulado e o chapéu na mão como se fosse o pandeiro do tempo. Natalício sabia que o chapéu enche o homem. Um dia, ele me falou a razão de não ter um pedaço da orelha. Ele gostava de caçar, quando nos dias de sua mocidade e foi para o mato; naquele tempo a mata ainda devia ser fechada e nisso ele encontrou com dois outros que estavam, também, a caçar. Parece que eram uns malfazejos e botaram pra cima do Natalício que estava somente com uma soca tempero. Oia!
O
primo que não era besta, vendo que era uma sinuca de bico, disse: pernas pra
que te quero? E emburacou de volta para a Capela e voltou preparado. Levou um
tiro que arrancou o pedaço da orelha lá dele. Correu para a João de Deus e
nunca mais saiu da casa do Coronel, ali no bem-bom do parentesco com a esposa
do homem e que era irmã do primo Wenceslau de Almeida, o saberoto, o historiador, o Juiz
de Direito, filho de outro Wenceslau pelo que me recordo,
mas também pode não ser. Pois estava a explicação da orelha cortada e matéria
conversada, também, no portão do cemitério. O que aconteceu com os dois, nunca
perguntei, pois não sou besta de ficar sabendo o que não me interessa, não é da
minha conta e nem do meu rosário. Também não é conta do rosário de quem está lendo agora.
Sei
que quando eu ia para a Capela, telefonava para o Cícero Cocó, também, primo,
pedia para avisar ao Natalício que eu estaria nas paragens e saíamos sem ter o
que fazer, com a pressa do descanso, os dois arrastando o corpo no calor do
calçamento. Foi com Natalício que fui conhecer o Agnelo no Pacaviral e foi uma
tarde deslumbrante. Conheci uma senhora notável, de uma fineza de modos e de
conversa que deixaria qualquer lady no
chinelo. Ela me deu um pote de café plantado lá mesmo, torrado lá mesmo e foi
um deleite em casa, embora eu tomasse puro e sem leite. À época, eu gostava de
café amargo. Um potão de maionese, daqueles da tampa azul, que demorei foi
tempo com ele, sumítico do prazer de bebê-lo.
Até
pedi à prima que é esposa do Telmo Rocha da Capela, o meu amigo, o dono da
churrascaria, o gente fina, o que mora lá na parte nova, o que me dá café e não
cobra, para pedir a um filho do Agnelo que me conseguisse uma fotografia dos dois.
Eu teria muita honra de estar publicando agora a fotografia de ambos. O primo
Natalício da orelha de pedaço arrancado à bala tinha razão em pensar na
coalhada e eu tenho de pensar no café daqueles lugares por Antônio de Almeida Braga,
o Capitão, foi enterrado embora não se saiba onde.
O primo aderente Telmo Rocha em sua churrascaria na Capela |
A ouvindo o discurso do Telmo Rocha |
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