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sábado, 13 de fevereiro de 2016

Luiz Sávio de Almeida. Memória e cotidiano. A morte do Capitão da Guarda Nacional Antônio de Almeida Braga



Memory and every day life
Mémoire et la vie quotidianne
Memoria e vita quotidiana

Luiz Sávio de Almeida. As proezas do Capitão Antônio de Almeida Braga: morte e moeda falsa.

              
A imponente Matriz da formidável Capela no traço de Eduardo Bastos
O que se dizia sobre o nobre Capitão da Guarda Nacional, Delegado de Polícia da capela na época da Guerra do Paraguai? Tanta coisa  que o tempo foi escondendo... Deve ser raro na Capela quem, nos dias de hoje, tenha o Capitão Antônio de Almeida Braga como assunto de prosa. O Agnelo do Pacaviral sabia das coisas, era neto ou bisneto do homem, mas desapareceu sua ciência quando a morte o levou desta para melhor. O Pacaviral fica além no caminho que leva ao João Paulo, pegando o lado esquerdo da estrada que fica em frente ao Pitimiju. Pela direita se vai para o Monte Verde,  que foi do meu bisavô José Francisco de Almeida
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        Fui para o Pacaviral na companhia de um grande primo que era poeta:  Natalício de Almeida, apaixonado pelo cheiro da coalhada do Pacaviral. Era para mais de três horas da tarde quando chegamos. Eu adorava andar com o Natalício pelas ruas da Capela, baixeiro, num passo descansado tal qual o meu e com a mesma mania de usar as alpercatas. Um dia, eu ouvi maravilhado o Natalício dizendo os versos sobre a coalhada do Pacaviral. Nós estávamos escorados no portão do cemitério da Capela, quando o poeta se lembrou do cheiro tomando os ares e olhando para as ruas da cidade altaneira, desdobrou-se na arte dos louvores à coalhada das terras do Agnelo.



              
 

Natalício de Almeida sempre viveu na casa do Coronel José Otávio; eu gostava como o primo se vestia, num cinza meio azulado e o chapéu na mão como se fosse o pandeiro do tempo. Natalício sabia que o chapéu enche o homem. Um dia, ele me falou a razão de não ter um pedaço da orelha. Ele gostava de caçar, quando nos dias de sua mocidade e foi para o mato; naquele tempo a mata ainda devia ser fechada e nisso ele encontrou com dois outros que estavam, também, a caçar. Parece que eram uns malfazejos e botaram pra cima do Natalício que estava somente com uma soca tempero. Oia!



               O primo que não era besta, vendo que era uma sinuca de bico, disse: pernas pra que te quero? E emburacou de volta para a Capela e voltou preparado. Levou um tiro que arrancou o pedaço da orelha lá dele. Correu para a João de Deus e nunca mais saiu da casa do Coronel, ali no bem-bom do parentesco com a esposa do homem e que era irmã do primo Wenceslau de Almeida, o saberoto, o historiador, o Juiz de Direito,  filho de outro Wenceslau pelo que me recordo, mas também pode não ser. Pois estava a explicação da orelha cortada e matéria conversada, também, no portão do cemitério. O que aconteceu com os dois, nunca perguntei, pois não sou besta de ficar sabendo o que não me interessa, não é da minha conta e nem do meu rosário. Também não é conta do rosário de quem está lendo agora.

               Sei que quando eu ia para a Capela, telefonava para o Cícero Cocó, também, primo, pedia para avisar ao Natalício que eu estaria nas paragens e saíamos sem ter o que fazer, com a pressa do descanso, os dois arrastando o corpo no calor do calçamento. Foi com Natalício que fui conhecer o Agnelo no Pacaviral e foi uma tarde deslumbrante. Conheci uma senhora notável, de uma fineza de modos e de conversa que deixaria qualquer lady no chinelo. Ela me deu um pote de café plantado lá mesmo, torrado lá mesmo e foi um deleite em casa, embora eu tomasse puro e sem leite. À época, eu gostava de café amargo. Um potão de maionese, daqueles da tampa azul, que demorei foi tempo com ele, sumítico do prazer de bebê-lo. 

              
 
          Até pedi à prima que é esposa do Telmo Rocha da Capela, o meu amigo, o dono da churrascaria, o gente fina, o que mora lá na parte nova, o que me dá café e não cobra, para pedir a um filho do Agnelo que me conseguisse uma fotografia dos dois. Eu teria muita honra de estar publicando agora a fotografia de ambos. O primo Natalício da orelha de pedaço arrancado à bala tinha razão em pensar na coalhada e eu tenho de pensar no café daqueles lugares por Antônio de Almeida Braga, o Capitão, foi enterrado embora não se saiba onde.

           
O primo aderente Telmo Rocha em sua churrascaria na Capela
        O Capitão morreu em 1902 se não me engano. Saiu uma nota no jornal  com a família Almeida comunicando aos amigos, dizendo que ele havia falecido na cadeia e que o corpo iria ser enterrado no Riachão do Cipó, lugar que já foi de feira grande e fica ali muito perto por onde o riacho Pitimiju passa para depois bater no Paraibinha, um lugar encantado, no caminho do Arrasto de Santa Efigênia, cheio, segundo a imagem que meu pai construía, de ingazeiras gigantescas, que deveriam ser ingá-caixão, uma das minhas paixões; arrancaram as ingazeiras da beira d’água e num mais tive o prazer de pegar um moio delas, abrir a baje e sentir o doce daquele algodão. Havia também o ingá-mirim, mas com ele nunca tive qualquer muito negócio, embora, de fato, também, aprecie. Foi no Riachão do Cipó que se deu o tiroteio com o Tio Zé de Almeida, segundo as línguas falavam
                     
A  ouvindo o discurso do Telmo Rocha
Ali estava, então, O Capitão Antônio de Almeida Braga, o moço, o do Tamoatá, o caudilho, o da Revolta da Imperatriz.  Morto da Silva.  Acusado dentre outros crimes, de moeda falsa. Voltaria da cadeia, mas trancado em um  caixão, carregado para o Riachão do Cipó no mesmo dito caminho para o Arrasto de Santa Ifigênia por onde ele fez tanta estripulia e de onde, num pulo, descendo por onde fica o engenho São João se chegava lá embaixo na Cabeça de Porco e do povo da Jurema e mesmo lá do Caruaruzinho com que esteve junto  em refrega contra o governo da Província. Aliás, lá pelo Pacaviral, tomando-se a diretura do João Paulo logo se chega na paisagem de Branquinha, o que demonstra a facilidade senhorial de integrar, naquele tempo de 1868, a política de parte do Vale do Mundaú à de parte do Vale do Paraíba, o que deu a última demonstração armada de peso do senhorial. A Revolta de Imperatirz mostrou que, para quem deseja, serra é apenas uma ladeira.
 

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