Dois dedos de prosa
É necessário lembrar que o grande objetivo de Campus/O Dia é montar um grande painel sobre Alagoas e, vez em quando, tem o prazer de publicar memórias, montando uma grande Caderneta de Lembranças. Hoje, trazemos o texto de uma jornalista de alta militância em nosso Estado e que nos enriquece com informações relativas ao interior, trazendo cenas que resgatam dimensões de vida.
Temos de agradecer à Olívia por nos ter dado a oportunidade de editar textos escritos em 2004 e que permaneceram inéditos. Ela está aposentada do batente.
Então, vamos à leitura, aprendendo um pouco sobre o mundo a partir das recordações dos outros.
Um abraço Sávio.
Um pouco
sobre meu nascimento
Olívia de
Cássia Correia de Cerqueira
Nasci em União dos Palmares, Alagoas, aos 9 de janeiro de 1960, entre dez horas da manhã e o meio-dia, na saudosa Rua Demócrito Gracindo, mais conhecida como Rua da Ponte, na casa que ficava vizinha ao antigo hotel de seu José Otacílio (seu Zeca) e dona Lia. Minha mãe contava que quando a parteira chegou para fazer o parto eu já tinha nascido. A mulher cuidou apenas do cordão umbilical e da limpeza. Meu primeiro nome foi uma homenagem à minha avó materna. O segundo foi uma homenagem a minha irmã falecida, à santa e à minha prima-madrinha Rita de Cássia Paes Peixoto, que mora no Rio de Janeiro.
Quando tia
Osória ganhou a sexta filha, também colocou o nome de Rita de Cássia, minha
companheira de brincadeiras e brigas da infância, e a irmã que eu não tive e
que amo muito. Segundo os comentários
que minha mãe fazia, para chegar ao meu nome ela conversou com algumas amigas e
conhecidas. Dona Gerusa da farmácia sugeriu para mamãe que eu me chamasse
Paulina, mas mamãe relutou e eu ganhei o nome da minha avó e da minha madrinha,
juntos.
Só
pude entrar na escola regular aos sete anos de idade, porque era uma regra da
rede oficial de ensino no Estado, nos anos 60. O fato me causou muita decepção
e raiva da professora Maria Mariá Sarmento, que era diretora de ensino, em
União. Eu acreditava que tivesse sido ela quem impediu o meu acesso à escola.
Mais tarde compreendi a questão, isso já moça feita, como diziam no interior. A
professora Mariá era uma mulher inteligente e respeitada na região, conhecida
pela sua irreverência e bom humor. Foi a primeira mulher na cidade a usar calças
compridas. Sua história é muito interessante e seu sobrinho, Paulo de Castro
Sarmento Filho, trata de reavivar a memória dos palmarinos mantendo o acervo da
tia com muito esforço. A casa de Mariá estava em ruínas e foi restaurada pela
prefeitura em convênio com outras parcerias oficiais.
Quando
eu entrei na escola oficial, aos sete anos, já sabia contar até dez, rabiscar
meu nome completo e já conhecia as primeiras letras do alfabeto. Aprendi com meu irmão Petrúcio, em casa, e
com a professora Josete Belém, na escolinha do Bangu, na Rua da Ponte. Eu
gostava muito de estudar, era esforçada, mas sentia dificuldade no aprendizado.
Nos meses em que fiquei doente, pedia para mamãe colocar os livros na cabeceira
da minha cama, ou no travesseiro e caía num pranto desesperado, porque não
podia ir à escola, nem enxergava direito.
Eu tinha muita ânsia de aprender,
gostava dos meus colegas da escola, tinha um afeto profundo pela professora,
mas para ser aprovada no exame do Admissão, que dava acesso ao antigo ginásio,
uma espécie de vestibular do ensino fundamental, precisou que mamãe me
colocasse nas aulas de reforço da professora Doralice, a Dora, filha de seu
Pedro Fogueteiro, junto com meu irmão Paulinho. Foi com Dora que aprendi a
gostar de fazer Palavras Cruzadas. Eu me sentia orgulhosa, quando ela me
emprestava as suas revistas para que eu fizesse Caça-palavras e as Diretas.
Devo a ela, além das aulas que me deram acesso ao ginásio, a facilidade do
aprendizado que desenvolvi com as Cruzadas.
Depois
de Dora e já no ginásio, quando fomos morar na Rua Tavares Bastos, mamãe nos colocou
para estudar particular com Aparecida Amaral, também um doce de criatura. Mas a
minha primeira professora, no Rocha Cavalcante, foi Nina Rosa Sarmento, a quem
chamávamos carinhosamente de mamãe Nina Rosa. Eu e minhas amigas Rosemary Veras
e Gracinha Melo, entre outras colegas, íamos buscar Nina Rosa em casa, de tanto
que gostávamos dela. Desenvolvemos tanto afeto pela professora que quando
nasceu o seu primeiro filho nós costumávamos fazer-lhe breves visitas, na
esperança de um afago, de uma palavra de carinho. No fundo, acho que nós éramos
muito carentes de afeto, pelo menos eu o era.
FALTAVA
ESTRUTURA – A ROTINA DA PERIFERIA
Na Rua da
Ponte, nos anos 60, não tinha água encanada. Na nossa casa dos fundos da
mercearia, mamãe pegava água do rio e colocava em dois tanques, para os
serviços da rotina do nosso lar. Já na
outra casa, vizinha ao armazém de compra e venda de cereais, tinha uma cacimba
de grande profundidade, que dona Antônia se servia para lavar roupa, pratos, o
banho da família, e outras atividades da lida doméstica, mas a água era salobra
e não servia para beber. Sendo assim, íamos buscar água potável em uma cacimba,
na Fazenda Jurema, de propriedade do dr. Antônio Gomes de Barros, pai do
ex-governador de Alagoas, Manoel Gomes de Barros. A cacimba tinha uma água
cristalina e, de tão límpida, era azulada.
A
criançada e a vizinhança saíam com latas na cabeça, o que depois, na escola,
resultou num apelido do meu irmão Petrúcio de “Lata d’Água”, que até hoje ele
não gosta. Na nossa ida à busca da água, na Jurema, nós terminávamos subindo
nos pés de manga do sítio de dr. Antônio e saboreávamos gostosas frutas, além
de ficarmos curiosos com o gado zebu da fazenda. Meu irmão Petrúcio era muito
levado e mamãe vivia às turras com ele.
Um dia Petrúcio foi mexer com uma
vaca, no sítio de seu Leão, pai de dona Carminha Leão e avô de José Leão
Praxedes. A vaca lhe deu uma cabeçada que lhe quebrou os dentes. E quando ele
chegou em casa, todo ensangüentado, mamãe, que estava grávida de quatro meses,
abortou na hora, segundo ela nos contou quando já estávamos adultos.
Das peripécias
de meu irmão Petrúcio ficou um episódio de uma briga dele com Zé Praxedes, que
depois veio a se tornar prefeito de União dos Palmares e marido de Nadja, filha
da melhor amiga da minha mãe, dona Neuza, e minha colega de escola. Da mesma
forma que mamãe era de guardar muita mágoa, costumava lembrar o fato
acontecido. A outra molecagem de Petrúcio foi jogar, já na Rua da Ponte, um
mosquito de São João debaixo da saia da filha de uma senhora que todos só
chamavam de “Viúva”, que morava na cabeça da ponte, onde depois funcionou o bar
de seu Antônio Timóteo.
Por conta
desse episódio do mosquito, papai lhe deu uma tremenda surra e o colocou de
castigo, ajoelhado em caroços de milho, com um banco pesado e uma bacia na
cabeça. Papai não brincava quando castigava meu irmão Petrúcio; meu irmão mais
velho foi o que mais apanhou do meu pai.
Petrúcio fazia
muitas brincadeiras conosco e se vestia com um pano velho, preto, de um
guarda-chuva sem uso de papai; imitava o Zorro que assistíamos na televisão em
preto-e-branco. Ele subia na parede da mercearia e ficava “atormentando” lá de cima. Além dessas brincadeiras, tinha a
do “padre Lara Lara”, que era feita em cima das camas, o que rendia muitos
gritos da minha mãe. O “padre Lara Lara”
se vestia de branco (era um lençol de bramante da minha mãe) e ficava dizendo
em voz fúnebre: “Eu sou o padre Lara Lara e vim para pegar vocês”. Eram
brincadeiras gostosas para nós, mas que sempre terminavam em castigo, mais para
o lado do meu irmão.
Nós
aprontávamos muito e outra brincadeira que gostávamos de fazer era a de
mocinhos e bandidos, em cima das sacas de algodão, que o Valdemar ensacava, no
armazém de papai. Valdemar às vezes se aborrecia com as nossas brincadeiras,
pois bagunçávamos todo o seu serviço. Nas brincadeiras de faroeste que nós
empreendíamos no armazém eu era sempre a mocinha que seria resgatada pelo meu
irmão Petrúcio. A mercearia que
meu pai possuía na Rua da Ponte foi o
que permitiu que nossos pais nos criasse com dignidade. Foi dela e do armazém
de compra e venda de cereais que papai tirou o nosso sustento. Todo sábado eu e
meus irmãos íamos ajudar a despachar as mercadorias, porque o movimento era
grade ali. O espaço ficava muitas vezes lotado.
Os matutos e
feirantes que moravam nos sítios e na Serra da Barriga, quando terminavam de
comercializar seus produtos na feira, iam pra lá fazer as compras semanais ou
mensais. Meu pai vendia fiado e nós anotávamos todas as contas em cadernetas.
Toda semana, quinzena ou mês os muitos fregueses do meu pai pagavam suas
dívidas. Era uma relação muito mais de confiança que se tinha. A maioria pagava
tudo certinho, mas meu pai também levou muito calote e quando se aposentou meu
irmão teve trabalho para fazer o levantamento dos fiados e para efetuar as
cobranças. Meu pai não era de cobrar aos devedores, porque ficava com vergonha.
Nesse aspecto eu também puxei a seu João Jonas.
Os
cavalos dos fregueses da mercearia ficavam amarrados por uma corda, na porta do
estabelecimento e uma vez meu pai sofreu um pequeno acidente quando foi
descarregar milho ou feijão. Levou um coice de um cavalo, que o deixou ferido e ficamos preocupados. A
medicação que se dava quando acontecia acidente no interior, no primeiro
atendimento, era dar para a pessoa acidentada cerveja preta e foi o que
indicaram ao meu pai por conta do ferimento provocado pelo coice do cavalo.
Eu passava
horas e horas na mercearia do meu pai e hoje eu vejo que aquele local me serviu
de laboratório, tantos eram os personagens interessantes, cada um com uma
história de vida para contar. Quando eu não estava ajudando a vender as
mercadorias eu ficava lendo, conversando com algum vizinho ou fazendo Palavras
Cruzadas e aproveitava o tempo ocioso para resolver o Jogo dos Erros, as
Diretas e o Caça-Palavras. Pegava jornais antigos como o Jornal dos Esportes,
que tinha um papel cor-de-rosa; jornais que meu pai comprava em quilo para
embrulhar as mercadorias como sabão, pacotes de café e outros produtos e ficava
resolvendo aqueles jogos durante todo o tempo se não tivesse outra ocupação.
Às
sextas-feiras meu pai costumava dar mais esmolas do que durante a semana.
Mendigos, pedintes faziam fila na mercearia para receber a cota que o meu pai
distribuía toda semana. Ele colocava para cada um uma quantidade de cada
produto da cesta básica: café, açúcar, charque, farinha, sabão, peixe salgado e
bacalhau, que naquela época era alimento para pessoas de poucas posses, ou
outro produto que a pessoa necessitada requisitasse.
Meus avós Manoel Paes e Olívia Maria
Minha avó Olívia, segundo o
documento, nasceu em 1889. Ela, de quem
herdei meu primeiro nome, era natural de Branquinha, filha de Francisco Rosa de
Cerqueira (ou Francisco Vieira de Siqueira) e Luzia Maria de Serqueira (ou
Maria Francisca Vieira Correia) nomes e sobrenomes que também foram
embaralhados e alterados no cartório, segundo as minhas pesquisas.
Pelas informações desse documento
que tenho em mãos, a certidão de casamento dos meus avós só foi expedida no dia
29 de julho de 1966, muitos anos depois da cerimônia, em Branquinha, à época
distrito de Murici.
Minha avó Olívia fugiu de casa
para casar com vovô Manoel, seu primo legítimo, segundo me contou minha tia
Noêmia, porque vovó era muito espancada pelo pai, Francisco Vieira de Siqueira,
senhor de engenho. Vovó saiu de casa com
apenas um pequeno baú na mão, levando o mínimo necessário de seus pertences. Ela contava para os filhos que ajudava seu pai
na lida do campo e do gado e sabia ordenhar vacas, mas era uma mulher muito
doente. Na infância contraiu meningite, além de vários tumores nas unhas
chamados de panarícios, dores ciáticas e reumatismo.
Eu convivi muito de perto com
meus avós por parte de mãe, pois os pais do meu pai morreram quando ele ainda
era muito pequeno. Minha avó Rosa Correia Paes, faleceu quando meu pai estava
ainda com dois anos de idade e meu avô Jonas Vieira de Siqueira, registrado
como Jonas Correia de Cerqueira, quando papai tinha quinze anos. Desse meu avô
herdamos o sobrenome com erro no cartório.
Meu pai foi criado pela madrasta
Maria José, devota e beata do Frei Damião e do padre Cícero do Juazeiro do
Norte, no Ceará, onde ela foi morar mais tarde, na cidade do Crato. Era muito
conservadora e transmissora de toda a ideologia daquela cultura das beatas e
costumava fazer viagens para o Ceará, com os romeiros, em cima de um caminhão
pau-de-arara. Ela foi encontrada morta, no Juazeiro, na casa onde estava
morando sozinha, depois de alguns dias do seu falecimento.
Mas as lembranças da minha
infância me remetem ao meu avô Manoel Paes, seu Né Tibúrcio, ou “Papai Né”,
como meus primos o chamavam, pois ele me fazia quase todos os gostos. Vovô
herdou o apelido de Tibúrcio devido ao nome de seu pai, Tibúrcio Correia. Já
vovó Olívia Maria era mais apegada aos meus irmãos Paulo e Petrônio e não
encobria meus defeitos e traquinagens da forma como o meu avô Manoel o fazia;
se alguém me fizesse alguma desfeita ou mamãe quisesse me bater, bastava um
olhar do meu avô para desarmar qualquer um. Seu olhar era implacável.
Eu fui muito apegada ao meu avô e
só fui ter mais convivência com meu pai bem mais tarde, depois que vovô morreu
e eu já estava com 15 anos, porque papai passava o dia todo na mercearia e só estava
em casa na hora das refeições ou na hora de dormir. Com meu avô era diferente:
ele tinha todo o tempo do mundo para mim, para me dar atenção. Eu chegava da
escola e já buscava a sua companhia, se não estivesse de brincadeira com os
amigos da rua, pois eu não parava em casa.
Vovô era alto, magro, branco,
tinha os olhos claros, entre o azul e o verde e já o conheci calvo. É engraçada
a semelhança que encontro no ator Castro Gonzaga, da Rede Globo, com o meu avô
Manoel Paes. Toda vez que o vejo no vídeo, me reporta à imagem que tenho dele,
principalmente quando Gonzaga representou o papel do Formiguento, na novela
Saramandaia, em que as formigas brotavam do seu nariz. Seu Né Tibúrcio tinha aquele jeito carrancudo
e áspero, mas comigo era sempre menos autoritário e se rendia às minhas
brincadeiras.
Na casa de vovô, na saudosa Rua
da Ponte, tinha uma cadeira tipo espreguiçadeira onde eu me sentava junto com
seu Manoel, para ouvi-lo contar as suas aventuras nas matas. Meu avô contava-me
histórias da Serra da Barriga, das caçadas que empreendia mata adentro, pois,
segundo ele, era bom caçador, e acredito que comecei a me interessar pela
história de Zumbi dos Palmares e pela questão dos negros com ele, mesmo que as
histórias que me contasse fossem carregadas de preconceitos, porque vovô era
racista e, tal e qual seu pai, seu avô, e seu bisavô não gostava de negros.
Talvez tenha sido o seu
preconceito racial que tenha me despertado para esta causa. Comigo as coisas
sempre funcionaram assim. Mamãe também era racista, puxou ao pai, mas esta é
outra parte da história, que contarei lá mais na frente.
Vovô também gostava muito de
literatura de cordel e comprava vários livretos na feira para que eu ou outra
visita fizesse a leitura daquelas histórias, já que ele não sabia ler. Aos
sábados, eu costumava ir com seu Manoel Tibúrcio à feira livre de União e ao
Mercado Público.
Eu tinha uma pequena cesta de
palha que voltava sempre cheia das minhas pequenas compras: pitomba, goiaba e
outra fruta qualquer que fosse quase verde, por que não gostava e não gosto de
frutas maduras. Meu avô fazia questão de comprar tudo o que eu gostava e as
pessoas admiravam a afeição que ele tinha por mim, já que era um pouco temido
pelos outros netos e sobrinhos, pelo seu jeito durão de ser.
Seu Manoel chegou a ser senhor de
engenho (o Mucuri), assim como o meu bisavô Tibúrcio, mas vendeu as terras a
preço módico para cuidar de uns sobrinhos, filho de um irmão dele que ficaram
órfãos. No entanto, vovô Manoel e vovó Olívia terminaram seus dias de vida
morando em casa alugada; quando já estavam bem velhinhos e doentes foram morar
lá em casa, na Tavares Bastos, em União, numa dependência que tinha nos fundos
do imóvel e ali faleceram.
Minha avó Olívia era uma mulher
bondosa e angariava a simpatia de quem a conhecia, mas às vezes ela se colocava
com raiva. Era apaixonada pelo meu avô, não chamava palavrão e o único
xingamento que fazia, quando se aborrecia com ele, era chamá-lo de “c... da
injura”, assim mesmo. Já o meu avô gostava de chamar por outros nomes:
“peste-bubônica”, que ele aliviava chamando “péia” e “bixiga” ou “bixiguento”,
deixando a minha avó revoltada.
Meu avô guardava o dinheiro que
meus tios mandavam para as despesas diárias dentro de uma meia e debaixo do
colchão ou dentro de um dos baús da minha avó. Acredito que foi desse costume
dos antepassados de guardarem dinheiro dentro de meias que se gerou o dito
popular “fazer um pezinho de meia”, quando se diz que se vai juntar algum
trocado em poupança ou em algum investimento.
Além de ter tido oito filhos vovó
Olívia cuidou de outros, por adoção. Ela era baixinha e gordinha, ao contrário
do meu avô. Gostava de usar roupas floridas e de passar carmim. Dona Olívia
usava um pequeno coque no cabelo e tinha aversão aos seus logos e escassos
cabelos grisalhos. Minha avó vivia dizendo que queria encontrar uma pasta que
os escurecessem, pois naquela época ainda não era costume usar tintura no
cabelo; se já existia, minha avó não conhecia.
Dona Olívia e seu Manoel Paes
tinham o hábito de ficar na porta da casa onde moravam, na Rua Demócrito
Gracindo, a Rua da Ponte, toda tarde, observando o movimento. A vizinhança
tinha uma afeição enorme por ela e os mais moços a chamavam de vovó. Sempre
tinha alguém que passava por lá para tirar um dedinho de prosa com ela, que
ficava toda animada pela atenção que lhe era dispensada. Minha avó não gostava
de barulho, mas ensaiava cantigas e batucava na mesa, quando sentava para comer
ou conversar.
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