Padre
Ludgero Raaijmakers
Cássio Júnior Ferreira da Silva
Estudante de História
De inicio, é importante ressaltar
que o padre não teve atuações apenas entre os Xukuru-Kariri; em meio a alguns
feitos atribuídos ao padre Ludgero estão a celebração da primeira missa e
criação da primeira escola no povoado ‘Bola’ e, ainda, a sugestão de mudança do
nome para ‘Estrela’. Posteriormente o povoado foi emancipado e tornou-se a
cidade de ‘Estrela de Alagoas’. Neste artigo, vamos nos deter em sua intervenção na
aldeia Fazenda Canto, localizada em Palmeira dos Índios-AL.
O padre Ludgero Raaijmakers foi
um sacerdote holandês que teve contato com os Xukuru-Kariri através do padre
Alfredo Dâmaso; essa relação teve inicio ainda nos primeiros anos da formação
da Aldeia. Mesmo não sendo membro do Serviço
de Proteção aos Índios-SPI na Fazenda Canto, o
padre era altamente influente e por um bom tempo teve o apoio de grande parte
da população. Entre suas obras temos a construção da igreja da Aldeia, obra que
permanece de pé até hoje; mas, entretanto, parece-me um escombro, uma vez que hoje são
raras as cerimonias celebradas no templo. Isso fica claro na fala de Maria do
Amparo da Conceição, criança quando o
padre atuou na Fazenda Canto: Ele fez uns três anos
seguidos a festa da santa, da nossa senhora aparecida [...] ele vinha pra missa
nas sexta-feira e nos domingos e voltava, ele morava na cidade, tinha missa as
primeiras sexta do mês e todo domingo.
A fala nos permite evidenciar a
mudança drástica na ação da igreja católica dentro da aldeia, hoje de fato
existe um apoio do Conselho Indigenista Missionário-CIMI na luta pelo território tradicional Xukuru-Kariri, mas
cerimonias católicas são raras. Outra obra extremamente importante foi a
construção de uma casa de alvenaria onde passou a funcionar a escola, que há
alguns anos estava parada devido a má gestão: Criou uma escola na época era um grupo escolar, eu estudei nesse grupo,
eu meus irmão a gente estudou no grupo feito pelo padre ludugero (sic.) [...] e
eu na época eu era criança, e ele fazia muitas brincadeiras né, fazia o pastoril a gente ia se apresentar na
cidade [...] era uma turma de criança que dançava o pastoril ai tinha a rainha
do azul e a rainha do vermelho, a gente achava bom que era brincadeira, a gente
ficava na rua – cidade – assim por uma semana na casa dos amigos dele, se
dividia sabe? Cada casa duas, três.
Além de viagens para
apresentações do grupo de pastoril, o sacerdote promovia excursões com a
finalidade de lazer para os alunos, como
relatam alguns anciões ao falarem que a única vez que viram a praia foi em uma
viagem para Maceió com as professoras, organizada pelo padre. Seguindo as obras
feitas pelo padre temos a energia elétrica que em um primeiro momento era
apenas na igreja por meio de gerador, que melhorava muito o uso do templo no período
noturno, e posteriormente passando a existir uma rede elétrica, o que permitiu, além da igreja, as moradias da
Fazenda Canto terem acesso à luz elétrica: Primeiro
era um motor a óleo, daqueles que puxa uma corda pra ligar ai só era na igreja àquela
luz bem fraca [...] colocou energia elétrica que não tinha, não sei como ele
conseguiu, mas foi no tempo do padre ludugero (sic.) que a energia elétrica
chegou até aqui a nós, primeiro era quatro
poste lá naquela igreja lá em cima ai começou lá.
As benfeitorias do Padre Ludgero
se estendem nos relatos dos anciões da Fazenda Canto como, por exemplo, auxílio
em casos de problemas de saúde em que a medicina tradicional indígena ou mesmo
a local de Palmeira dos Índios se mostravam ineficientes; há relatos em que ele
levou moradores para Maceió para receber assistência medica. Os moradores
lembram o sacerdote com muita gratidão, devido a cestas básicas que ele doava. É importante ressaltar que as doações foram
feitas em uma época em que a população passava por extremas dificuldades de
subsistência, porque a aldeia era recém-formada,
estava em sua primeira década e existiam sérios problemas para a aquisição de
sementes; e mesmo quando eram compradas,
o SPI com seus problemas de
administração as mandavam para a aldeia em um período improprio para o plantio:
Essa cesta básica foi muito útil aqui pra
gente, porque na época aqui não vivíamos como hoje era tudo mais difícil, e
dizem que vinha da Holanda essa cesta básica, e era muita coisa, muito alimento
era o arroz, o leite, fubá de milho e também tinha a massa de trigo que ele
trazia só que a massa ele dividia assim com um senhor que tinha uma padaria, ai
negociava com ele, ele ficava com a metade e a outra metade fazia o pão pra
gente.
Posterior a esse período o padre
criou duas hortas que segundo os moradores eram enormes; os trabalhadores dessa
horta eram índios Xukurus-Kariri que recebiam por seus serviços prestados: Ele fez duas hortas, ele colocou trabalhador
daqui mesmo pra trabalhar [...] a verdura ele levava para o CEASA em Maceió e
ia de dois carros cheios de verduras, também colocou um roçado muito grande de
feijão, eu não sei o destino da lavoura só sei que muita gente trabalhou.
E foi justamente à criação dessas
hortas, uma das razões
da saída do padre da Aldeia Fazenda Canto; segundo informes, ele tinha total apoio do SPI, mas, com a extinção do órgão e criação da Fundação Nacional do Índio-FUNAI, o padre não tinha mas o amparo do órgão cuidador da
Aldeia; somado a isso, um dos grupos familiares do povo Xukuru-Kariri, entendeu
que o padre estava explorando a terra indígena, sendo feitas denuncias que
resultaram no afastamento permanente do padre.
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