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domingo, 7 de fevereiro de 2016

Luiz Sávio de Almeida. Memória e cotidiano. Histórias de um velho Capitão






As façanhas extraordinárias de um avô:  o Capitão Antônio de Almeida Braga (I)

Luiz Sávio de Almeida

              
 Os Almeida Braga ou Almeidas da Capela estão na região desde as lutas negras no Quilombo dos Palmares.  Tudo vem de muito longe, fins do século XVII, quando um Capitão do Terço de Domingos Jorge Velho recebe três léguas em quadro de sesmaria, com a cabeça de toda sua terra estando na Barra do Porangaba.  É lá da Barra do Porangaba, que nos inícios do século XVIII, o Capitão escreve carta a El Rey pedindo a confirmação de terras dadas, e diz ter plantado árvores de espinho, ter construído sobrado, ter cabeças de gado e um molinote de fazer açucares, coisa que deveria ser de tamanho rapadureiro.


               Era o grande tronco: Antônio Roiz Vieira que manda buscar sua esposa Ignácia de Almeida Braga em São Paulo; ela desce em sumaca paga por El Rey na tentativa de começar a montar a ocupação da terra, amansar a ferocidade dos paulistanos. O Capitão devia ser gente de Domingos Jorge Velho, pois permaneceu, quando houve o rompimento de facções, ao lado do Cabo de Guerra. O que deve ter acontecido com Roiz Vieira? Teria vindo do Norte com Domingos Jorge Velho? Sei apenas que se geram dois outros Antônios e todos dois: Antônio de Almeida Braga. Um deles era conhecido como o velho, o edificador do Frecheiras conforme o chamava o nosso ilustre primo Wenceslau de Almeida, o historiador da Capela. 



               O outro era o Capitão Antônio de Almeida Braga, conhecido como o moço, o caudilho,  o do Tamoatá, filho de Luiz de Almeida Braga e primo do meu bisavô o velho José Francisco de Almeida, cominho onde estava Íria de Almeida Braga e que terminou por dar o nome a uma de minhas filhas. Íria foi mencionada num escrito do brioso historiador das terras da Capela, o Wenceslau de Almeida, o homem que ajudou a precisar quem era o Domingos Jorge Velho pois existiam vários. Sem sair daquele mundo do Paraíba, era ouvido nacionalmente.  Quando morreu, importante historiador brasileiro teve um texto publicado em Maceió sobre o primo que era irmão do veio Pedro e muito amigo de Manuel de Almeida, o do Banco do Brasil, que era meu pai.


               Este Antônio de Almeida Braga, o moço, o neto, o caudilho, o do Tamoatá era ligado a mim por via de meu avô Fausto Vieira de Almeida pelo lado de minha mãe e pelo lado de Seu Manezinho, meu avô por parte de pai. Na verdade,  no meio tempo de sua vida, era dos lados do Arrasto de  Santa Efigênia de onde costurou e muito a chamada Revolta da Imperatriz, da qual foi um dos mais importantes dentre os cabos de guerra. 


               Este homem é em grande parte, o responsável pela minha cabeça, tanto era o que eu ouvia maravilhado por suas histórias, às vezes contadas por meu pai,  às vezes contadas por minha mãe, todos dois membros do que vou chamar de tradição familiar dos Almeidas que a voracidade do tempo derrubou.  A tradição familiar foi sendo comida pelas mudanças da sociedade, pela urbanização, pela geração de novas e novas  camadas de gente e isto foi estreitando o tempo do reconhecimento das famílias, de tal modo que hoje se chega aos primos de primeiro grau e praticamente tudo se encerra.


              
Não foram os contos de fada e nem as histórias de Trancoso o que fez a minha cabeça de criança. Jamais precisei delas e deles, pelas maravilhas das histórias da Capela contadas por meus pais. Não faz tempo, peguei numa caderneta de páginas amareladas e li as notas que escrevi sobre o que falavam  quanto ao Antônio de Almeida Braga, o neto. Maravilha das maravilhas e o mais puro encantamento. E tão encantado era na minha cabeça, que cheguei mesmo a duvidar de sua existência, considerando que tamanhas façanhas eram construções meio alucinadas sobre um tipo inventado.


               Um dia e faz tempo e bote tempo nisso como diz o Eliezer Setton em uma belíssima composição, encontrei o Moacir Sant’Ana na rua.  Depois do tradicional abraço eu perguntei: “Moacir, você que é historiador, existiu mesmo um tal de Antônio de Almeida Braga?”. Ele balançou a cabeça no sentido de um sim e nada mais foi dito. Passa tempo, recebo um presente; na medida em que ele fazia suas pesquisas, anotava para mim o que encontrava sobre o Antônio de Almeida Braga. Ele existia. No lastro das histórias contadas por meu pai e por minha mãe, estava a realidade do Capitão da Guarda Nacional Antônio de Almeida Braga.


              
Tempos depois, quando tentava ser historiador – desisti de ser jurista – li um artigo do velho Capitão e intitulado Ódio velho não cansa: o seu inimigo deveria continuar esperando, pois o ódio sentido não estava esquecido.  Tempos depois, pegando o livro escrito pelo velho Pedro que foi copista do Wenceslau, estava um seu depoimento sobre Antônio de Almeida Braga. 

OBV. Todas as fotos são da Capela atual. Fotógrafo Luiz Sávio de Almeida

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