
ALMEIDA, Luiz Sávio de. A prisão de um comunista que provavelmente não militava. Graciliano, Maceió, nº 1, 2008
[HISTÓRIA: POLÍTICA: COMUNISMO: ALAGOAS: GRACILIANO RAMOS]
lA PRISÃO DE UM COMUNISTA QUE PROVAVELMENTE NÃO MILITAVA
Luiz Sávio de Almeida
 É
 praticamente demonstrado que o Partido Comunista se estruturou em 
Alagoas a partir de 1928, somando antigos anarquistas de 1919 e novos 
componentes. É em 1928 que se funda a primeira célula, na rua São 
José,residência de Américo Sapateiro que, posteriormente, irá pertencer à
 Ação Integralista. Antes, ocorriam contatos a partir de Recife e Bahia 
send possível que Américo  tenha realizado a coordenação que resultou na
 célula em sua casa.  Após a greve de Jaraguá e dos demais acontecimentos
 que marcaram a história da esquerda em  Alagoas nos finais da segunda 
década do século passado, o movimento operário, segundo apreciação de um 
jornal de   feição comunista (editado esporadicamente, desde 1927) havia 
perdido força, especialmente após o controle – aduzimos - policial das 
reuniões operárias e dopacto entre maltistas e democratas para a derrota
 do socialismo, comungado após Jaraguá. Este socialismo deveria ser 
liquidado em nome dos valoresda civilização cristã ocidental.
 
              O Proletário falava na necessidade de se retomar o 
movimento e mencionava o sucesso eleitoral de Otávio Brandão no Rio de 
Janeiro. O fato éque surge a célula na residência do Américo Sapateiro 
cuja militância  é conhecida desde 1910, quando pertencia aos quadros da 
Federação dos Trabalhadores. A célula era denominada AA e dela fazia 
parte Sérgio Pueirame, Presidente do Sindicato dos Trapicheiros e velho 
militante na esquerda,José Costa Neto que dirigia O Proletário, Olympio 
Santana também antigo militante. Posteriormente, o Partido cresce o 
suficiente para que se tenha aeleição do primeiro Comitê Regional. Nesta
 oportunidade, tem-se um grande problema interno, pelo  fato de que 
Américo Sapateiro perde a secretaria para Horácio Gomes de Melo, 
afasta-se da organização mas continua aliado. Olympio Santana será 
tesoureiro e são montadas comissões: Juventude, Agrária, Mulher 
Trabalhadora. Horácio era  também sapateiro; paulatinamente Américo se 
afasta, passa a ligar-se ao sindicalismo governamental e posteriormente 
vai se filiar à Ação Integralista, fazendo parte de sua polícia secreta.
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| Mestre Graça | 
 
              A vida do Partido vai ser abalada em razão da Revolução de
 Trinta, mas ele tem condições de vida orgânica e secreta, emergindo com 
poder de fogo político no ano de 1932, período de intensa disputa na área
 trabalhista pelas implicações da política governamental na área 
sindical,  em choque com comunistas e independentes. É por inspiração de 
governo que nasce em 1932 a Federação dos Trabalhadores de Alagoas, mas 
surge, também, a União Geral dos Trabalhadores que, no dia 1º de Maio faz
 passeata. Em dezembro de 1932 começam as greves e os movimentos que 
levarão a outra formidável ação policialesca, com o 
tradicional prende-prende e deportação de liderança.
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| Zé Lins | 
O Partido se retrai, continua a 
| Raquel | 
vida
 clandestina e viverá o clima de 1935.Antes, contudo,  a vida política 
de Alagoas ganha complexidade, quando seo rganiza em Maceió, pela 
iniciativa de José Lins do Rego, a Ação Integralista.O encontro de 
Plínio Salgado, com a platéia alagoana foi realizado na Perseverança, 
presidido por Domingos Fazio Sobrinho, falando Moacir Palmeira e José 
Lins do Rego. Evidentemente, os confrontos eram permanentes e é no clima
 que se delineia depois de 1935 que vai se dar aprisão de Graciliano 
Ramos.
               Em
 nenhum momento, o nome de Graciliano aparece nas lutas políticas. Os 
nomes de intelectuais que se diziam ser comunistas eram  Alberto Passos 
Guimarães e Waldemar Cavalcanti. Em longas conversas comigo, Alberto 
jamais mencionou o nome de Graciliano Ramos como militante. Nem a Raquel
 de Queiroz (trotskista à época) falou de qualquer atividade partidária 
do Graciliano, e mantivemos alguns bons papos sobre Maceió, embora ela 
detestasse recordar aquela época pelo imenso sofrimento pessoal que 
viveu. Num dos papos, conta as versões  corridas sobre prisão de 
Graciliano e lança:  "Meu filho, somente diga estas coisas depois que eu
 morrer!".  Fiquei embaraçado, ela notou e arremessou o torpedo: "Fique 
tranquilo menino, eu morro logo!".  Começamos a rir e falei: "Então não 
me interessa saber. A conversa não tá gravada, como é que vou provar que
 você disse? Pode guardar para você as suas coisas!".  E rindo 
terminamos este telefonema.
 
        Na verdade, ela desejava fazer alusão ao que circulava: a) 
prisão por natureza política ideológica; b) prisão em face da fofoca 
política ou perseguição pessoal; c) prisão em face de problemas 
pessoais.  Quem sabe tudo não se mistura numa aura  que parece 
misteriosa? O fato é que o pessoal, o político ou ambos  conspiraram 
para que surgisse um texto que representaria as vidas de encarcerados, 
numa referência à memória dos que eram ditos portadores de pensamento 
ilegal.  O fato é que, com relação à sua prisão, Graciliano contou o que 
desejava fosse sabido.
Meu
 primeiro contato com Graciliano foi através de Memórias de Cárcere. 
Depois fui lendo devagar uma coleção editada, caso não me engane, pela 
José Olympio. Estava nos 17 para a frente. Anos depois, utilizava seus 
romances para debater com os alunos temas de sociologia rural. 
Evidentemente, a escrita não reproduza realidade das vidas, mas 
Graciliano mergulha de tal maneira no cotidiano quesuas contradições 
surgem e foi a tensão presente na sua fala sobre  arealidade que a ele 
até hoje me prendeu.
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