Provavelmente no dia 20 de agosto de
1933 foi fundado em Maceió o Núcleo Provincial Integralista (N.P.I.), que tinha
como sede o Edifício Perseverança e Auxílio, localizado na rua João Pessoa. Foi
ali que Plínio Salgado lançou a pedra fundamental do integralismo em Alagoas.
Com toda a majestade de sua arquitetura o Edifício Perseverança e Auxílio
abrigou as diversas manifestações integralistas na capital alagoana, entre elas
as comemorações do aniversário de um ano da instalação do Núcleo Provincial, no
dia 20 de agosto de 1934.
A
festividade contou com a participação de quase todos os integralistas de
Alagoas, que por volta das vinte horas fizeram um desfile pelas principais ruas
da capital, tendo na frente da comitiva o Chefe Provincial, Afrânio Salgado
Lages. Após a reluzente caminhada verde, as comemorações tiveram prosseguimento
na sede provincial, onde se encontrava um grande número de famílias e pessoas
interessadas naquele belo evento. Diante da plateia admirada, a ala
integralista soltou três “anauês” para o chefe nacional, Plínio Salgado.
A
atividade continuou com a fala do Chefe Provincial que fez lembrar a
importância daquela data e como tinha sido o primeiro ano do movimento, o Dr.
Mario Marroquim, Diretor do Departamento de Publicidade, que falou do
integralismo em face do Estado corporativo, e outros integralistas que falaram
sobre o Credo Verde. Feito o juramento de fidelidade ao Chefe Nacional por um
novo companheiro, foi encerrada a sessão sob a entoação do Hino Nacional, tendo
sido batida uma chapa fotográfica.
O
integralismo não teve grande dificuldade para se expandir em território
alagoano; os grandes problemas do movimento eram financeiros e isso propiciou
para o fechamento de alguns núcleos. No entanto, enquanto em algumas cidades os
seguidores do Sigma sentiam dificuldades em manter seu grupo ativo, em outras
esse problema não existia, pois Alagoas contou com núcleos integralistas com
mais de 500 membros inscritos.
Na
batalha contra o comunismo os integralistas tiveram papel fundamental,
identificando membros e sedes que pregavam ideais “subversivos”. Os serviços
eram de espionagem. Grupos integralistas vigiavam pessoas suspeitas de pregar
os credos comunistas; caso suas atitudes ilícitas fossem confirmadas, eram
denunciados para os chefes de polícia para esses tomarem as medidas cabíveis.
Porém os comunistas não eram os únicos inimigos da AIB-AL, pois o liberalismo
também era alvo de fortes críticas, sendo apontado como um sistema falido.
Assim, sua funcionalidade para o Estado, seu discurso focado em símbolos e
conceitos cristãos e a descrença gerada pela crise de 1929 tornaram a AIB-AL
uma possibilidade para a “salvação” de Alagoas.
Mas
em 1937, nas vésperas da promulgação do Estado Novo, a repressão atingiu a
todos, inclusive os integralistas. No município de Capela a batida do “martelo”
foi mais forte. Nesse pequeno município alagoano, vários camisas-verdes foram
detidos e sofreram ameaças. As atitudes violentas do Estado provocaram uma
série de afastamentos de alguns membros integralistas. Desta maneira, entre
altos e baixos Alagoas presenciou os ideais do Sigma surgirem, crescerem e
desaparecerem.
A Terra dos Marechais parecia um
local fértil aos ideais dos integralistas, pois dispunha de um corpo de
trabalhadores urbanos e rurais, ideais religiosos muito fortes e uma elite
conservadora propensa aos ideais da extrema direita. Precisava, portanto, de
uma organização política forte que pudesse colocar em prática a política de
sindicalização do governo de Vargas, sem que o grupo patronal e essa elite
sofressem riscos. Foi percebendo esse campo pouco explorado e aproveitando a
situação de incerteza gerada pela crise de 1929 que os olhos integralistas se
voltaram para Alagoas e aqui construíram uma curta, mas relevante história.
Os
núcleos integralistas tinham como matriz o Núcleo Nacional, que era o poder
máximo do integralismo. Este se expandia pelos núcleos provinciais, que
representavam a autoridade máxima em cada estado, e cada núcleo provincial
tinha sob os seus cuidados e tutela os núcleos municipais, distritais e rurais.
Cada núcleo possuía várias secretarias para auxiliar nos trabalhos; o número de
secretarias variava de acordo com o número de membros e o tamanho do núcleo. Na
verdade, o chefe provincial era como um governador integralista, e os chefes
municipais eram como prefeitos, tendo de prestar contas ao governador e ao
presidente (chefe nacional).
Os
grandes centros tinham como principais secretarias a Secretaria da Corporação,
Secretaria da Propaganda, Secretaria da Finança, Secretaria da Imprensa,
Secretaria de Estudo, Secretaria de Assistência Feminina e Pliniana, Secretaria
de Assistência Social, Secretaria de Cultura Artística e Secretaria de
Educação. Cada órgão ficava sob a chefia de um secretário, que organizava as
atribuições do seu setor. Algumas dessas secretarias possuíam uma
representatividade maior; isso variava de acordo com o núcleo. A Propaganda
tinha de ser trabalhada da seguinte maneira: 1º) deveria ser intensa, 2º)
sistematizada e comandada e 3º) ser dirigida para a conquista de elementos
dinâmicos, revolucionários e formadores de massas.
Influenciada pela política de sindicalização
do governo varguista e baseada na
concepção corporativa, surgiu outra atividade de destaque no movimento
integralista: a valorização da organização sindical. Mas não bastava o
indivíduo participar ativamente da sindicalização, pois sua função ia além, já
que o “credo verde” deveria ser pregado no grupo sindical para atrair aliados
ao integralismo. Aquelas regiões onde não existiam organizações sindicais
deveriam ser ocupadas pelos integralistas. A ideia era manter as organizações
trabalhistas sob a ótica integralista e afastar a classe trabalhadora dos
pensamentos subversivos que pairavam sobre o Brasil.
Alagoas
ainda “engatinhava” com relação a essas organizações sindicais; em vários
telegramas trocados entre a direção do partido integralista e algumas
secretarias, essa situação de imaturidade sindical é constatada. Assim, cidades
como Pilar, São Luís do Quitunde e Flexeiras são citadas nas documentações.
Pilar era território de uma grande fábrica têxtil do estado, a Fábrica de
Fiação e Tecido Pilarense, e chamava a atenção dos integralistas por apresentar
um corpo operário urbano pronto para ser “domesticado” pelos ideais do Sigma.
Percebendo isso, os integralistas buscaram novos militantes nesse território
pouco explorado.
Para organizar melhor esse
processo de sindicalização, Afrânio Lages resolveu “resgatar” das fileiras
comunistas Euclides de Andrade (era membro do Partido Comunista Brasileiro-PCB
e era o orador oficial da União Geral dos Trabalhadores-UGT). Em 1934, quando
foi recrutado pelo integralismo, teve de se desligar dos vermelhos e renunciar
ao cargo na organização sindical. Foi um forte opositor da UGT e do PCB. O
Chefe Provincial deu-lhe o cargo de secretário-geral do Centro Operário
Integralista (SGCOI). Este órgão tinha a função de trabalhar na organização
sindical dos trabalhadores; seus principais inimigos foram os comunistas e a
União Geral dos Trabalhadores (UGT).
Essa secretaria atuou contra greves, comícios
que combatiam o integralismo, candidaturas indesejadas e grupos adversários. A
pouco menos de um mês das eleições de outubro de 1934, constava num de seus
relatórios as atividades de seus rivais em alguns municípios do estado:
“Companheiros! A União domingo passado distribuiu várias caravanas pelo
interior do estado, e o resultado foi negativo. Em Rio Largo, foram vaiados e
até apelidados; em São José da Lage, foi preciso garantir auxílio à polícia
para o regresso; e, por fim, no Pilar, foram decepcionados (sic)” (RELATÓRIO DA
SGCOI, MACEIÓ, 19 de setembro de 1934, p. 1).
Em 1934, o secretário do Departamento
Municipal de Organização Política (DMOP) do núcleo da cidade do Pilar escreveu
para seus superiores que em sua pesquisa tinha encontrado naquela cidade duas
organizações classistas, eram elas: Fraternidade e Instrução dos Caixeiros do
Pilar: beneficente das classes laboriosas do Pilar e Fábrica Fiação e Tecido
Pilarense, ambas sem relação alguma com a UGT. Isso permitiria uma atuação mais
contundente dos integralistas naquele município, tendo em vista que seus
inimigos não haviam consolidado seus ideais naquela região.
O que fazia da UGT um risco para a
AIB? Em 1934 a UGT estava presente em Alagoas e representava para os
integralistas e os grupos conservadores do estado uma ameaça à ordem social e à
organização sindical; seus líderes eram considerados anarquistas e
“enganadores” da classe operária. A situação se agravou para os camisas- verdes
quando seus adversários se aliaram à Liga Contra a Guerra e o Fascismo, e no
dia 4 de setembro de 1934 organizaram uma greve que teve como consequência o
fechamento do sindicato da Força e Luz e o sindicato dos Gráficos foi impedido
de realizar sua última sessão.
A
UGT era acusada de ser uma sociedade organizada fora das leis sindicais e, por
esse motivo, não era reconhecida pelo Ministério do Trabalho. Assim, os
integralistas e outras forças conservadoras de Alagoas trabalhavam com a ideia
de criar uma Frente Única contra a UGT. O secretário afirma também existir um
sindicato da Fábrica Têxtil Pilarense, reconhecido no Ministério do Trabalho;
no entanto, este se encontrava extinto, devendo os integralistas atuar na
reconstrução desse grupo sindical. Assim, aquela cidade se encontrava com um
forte grupo operário que precisava ser moldado sob a ótica integralista.
Na
cidade de São Luís do Quitunde essa situação se apresenta igualmente como em
Pilar, porém naquela região o levantamento identificou outros problemas além da
simpatia de alguns dos trabalhadores à UGT, nessa região se tinha um grande
número de trabalhadores rurais e analfabetos.
Uma estratégia integralista era a de se
infiltrar nos ambientes eleitorais não integralistas, perceber quais elementos
tinham influência no meio eleitoral daquela cidade e dessa forma trazê-los para
o integralismo. O analfabetismo desses trabalhadores rurais incomodava os
integralistas, pois aqueles não representavam força de voto; assim, era preciso
agir para que esse problema fosse resolvido. Mesmo não tendo a eleição como um
foco principal, os integralistas acreditavam, baseados na “Revolução
Espiritualista” de Plínio Salgado, que isso só seria possível com um grupo
intelectualizado, e portanto era preciso ter na base do movimento militantes
que pudessem no mínimo ler algumas linhas do Manifesto de 1932.
Para solucionar o problema do
analfabetismo entre os trabalhadores, o integralismo tinha como obrigatoriedade
de seus núcleos manter uma escola de alfabetização para adultos. Essa era uma
campanha nacional e bastante aplicada em Alagoas. O objetivo era a
alfabetização dos trabalhadores, que levava ao aumento do número de votos para
os integralistas. Divulgava-se para a sociedade que os seguidores do Sigma eram
também artífices da construção cultural do Brasil. Essa discussão era tão
presente no movimento integralista que em 1º de janeiro de 1937, período em que
os partidos políticos do Estado se organizavam para as eleições do ano
seguinte, ocorreu um congresso municipal da Ação Integralista em Alagoas. Uma
das teses apresentadas naquele encontro foi à alfabetização de seus militantes.
O
processo de formação intelectual do sujeito era algo que chamava a atenção dos
camisas-verdes, pois o enxergavam além das vias eleitorais. Tendo em vista a
doutrina domesticadora dos movimentos autoritários, esse processo educacional
tinha grande relevância, já que a disciplina, o espírito patriótico, o
anticomunismo e os preceitos cristãos aos integralistas deveriam ser ensinados
desde pequeno, para aqueles brasileiros que tivessem a “sorte” de tê-los. Cabia
à Secretaria Provincial de Assistência Social (SPAS) a função de organizar um
centro educacional para a comunidade. Em Alagoas, as escolas integralistas
geralmente ficavam sob os cuidados do departamento feminino.
Para
se manterem próximos da comunidade, os núcleos integralistas em Alagoas usavam
festividades para expandir o “credo verde”. Funcionavam como mais um trabalho
de assistência social, buscando na atuação sobre os desamparados uma
possibilidade de mostrar o lado “caridoso” do movimento e, ao mesmo tempo,
atrair seguidores para a bandeira do Sigma. Essas festividades contavam com o
apoio da Igreja Católica e geralmente se concentravam nos festejos religiosos. Alguns
desses eventos foram o Natal dos Meninos Pobres e o São João dos Pobres.
Em 1936, devido a uma série de
obrigações do núcleo provincial de Alagoas, o Natal das Crianças Pobres não
pode ser organizado; assim, para não faltar com o serviço de caridade perante a
comunidade e principalmente com a Chefia Nacional, os integralistas alagoanos
decidiram organizar o São João dos Pobres. Essa cerimônia consistiu na
distribuição de donativos para pessoas necessitadas e foi organizada pela
Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) e pela Secretaria Municipal
Feminina (SMF).
Para
a realização do evento, o movimento contava com donativos obtidos em
quermesses, leilões e outras atividades que pudessem ampliar o capital
acumulado. Todo o dinheiro acumulado nessas arrecadações era remetido à
Secretaria Provincial, que junto com a Secretaria Municipal de Finanças (SMF) o
distribuía entre os núcleos municipais, para que estes fizessem a compra dos
materiais destinados aos pobres. A divulgação desse evento ficou por conta da
Secretaria Municipal de Propaganda (SMP), que usou o jornal A Província para executar essa função.
O evento estava marcado para a véspera das comemorações do dia de São
João. Para cumprir com o ideário
religioso, a AIB usava citações cristãs, “Quem dá aos pobres empresta a Deus.”
Visando manter as atividades do movimento dentro da tríade “por Deus, pela
Pátria e pela Família”.
O
Departamento de Assistência Social era o que mais se aproximava da comunidade,
pois seus trabalhos de caridade aos desamparados permitia essa relação. Além
dos trabalhos de educação e das festividades religiosas, os integralistas
usavam essa secretaria para a disponibilização de assistência médica à
sociedade. Em 1936 foi nomeado para a SPAS o Dr. Pedro da Cunha, médico não
integralista que atendeu gratuitamente em nome da AIB, fornecendo inclusive
medicamentos a seus pacientes. Porém, em novembro, o Dr. Rocha teve de se mudar
para o sul do país; mesmo assim, ainda atendeu algumas pessoas recomendadas
pela AIB.
Apesar desse grande desfalque, a SPAS
não ficou desamparada, pois desde
setembro daquele ano o chefe provincial de Sergipe, Aguinaldo Celestino,
estava em Alagoas como delegado do chefe nacional e deu funcionalidade a
relevantes trabalhos no departamento de assistência social no estado. Iniciou a
construção de um ambulatório para atender a população carente e disponibilizou
seus próprios recursos para financiar a compra de uma mesa de cirurgia.
Em janeiro de 1937, a SPAS tinha como
metas para o primeiro semestre de 1937 as seguintes medidas referentes à saúde:
1º) concluir os trabalhos da construção do ambulatório; 2º) nomear um médico
para atender os necessitados que recorrerem à AIB; 3º) manter uma farmácia com
medicamentos solicitados a vários laboratórios do país e comprar alguns no
laboratório Raul Leite. Como solução para esses planos os integralistas
pretendiam usar a arrecadação de donativos para o primeiro item; ao segundo,
nomeariam um companheiro médico para assumir os trabalhos de atendimento; e
quanto ao terceiro item, ficou definido que após a nomeação do médico, seria
enviado um ofício, assinado pelo médico nomeado, para os principais
laboratórios do país com a solicitação de medicamentos.
O Departamento de Propaganda também era de fundamental
importância para a disseminação dos ideais do Sigma em Alagoas, já que era dele
o trabalho de convencimento das comunidades para aderirem à AIB. Desse modo,
além da caridade praticada pelas SMAS, as Secretarias Municipais de Propaganda
(SMP) apresentavam o integralismo nos municípios do estado, sendo para isso era
seguido um roteiro: a) o uso obrigatório de camisas verdes em festividades
públicas, nos dias de feiras na cidade, principalmente em atos religiosos e em
qualquer outra solenidade de caráter parecido; b) a organização de bandeiras
que percorressem os interiores dos municípios e com linguagem acessível
pregassem a doutrina do Sigma − as escolas de alfabetização de adultos também
eram parte da propaganda verde; c) a difusão de jornais, revistas, livros e até
mesmo boletins e avisos eram recursos para essa secretaria; d) a anexação, nas
vias mais movimentadas, de cartazes e letreiros que tratem do movimento
integralista; e) a organização de conferências, culturais e doutrinárias, em
linguagem ao alcance intelectual da população ouvinte; f) a organização de um
clube esportivo e de outras diversões que tivessem o caráter integralista; g)
nos estabelecimentos de membros integralistas deveria haver papéis de embrulho
e etiquetas com o símbolo integralista; h) trabalhar na expansão dos núcleos
rurais; i) propagandear os ideais integralistas nas palestras familiares e em
qualquer outro meio social, pois não se deveria perder nenhuma oportunidade de
fazer aliados; j) fazer alusão nas correspondências ao integralismo ou à AIB
como a ressurreição da pátria; l) fazer a saudação integralista em qualquer
lugar, vestindo qualquer roupa, pois o entusiasmo da saudação exibiria ao
público a fé na doutrina integralista, e assim asseguraria adeptos em maior
número para a Ação Verde.
Assim, com o apoio das secretarias, os
trabalhos de assistência social, o objetivo de sindicalização da classe
trabalhadora e a política educacional, os integralistas foram consolidando
espaços na sociedade alagoana que renderam para esse grupo vitórias. Estas se
estenderam desde a sabotagem às atividades de seus rivais até conquistas
eleitorais como os cargos de deputado estadual, vereadores e até de prefeito de
alguns municípios alagoanos.
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