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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Horácio Melo e Telmo Rocha. Capela, uma cidade sem usina. Drama, tragédia?



Dois dedos de prosa

Este material deriva de uma conversa mantida em Capela, na churrascaria do Telmo, quando de viagem de pesquisa que fizemos pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Direito, Sociedade e Violência, do Centro Universitário CESMAC, com o objetivo de começar a entender as relações entre crise da economia do açúcar e impacto na sociedade, atingindo, também, a questão da violência. Estávamos em companhia do Professor José Santos de Almeida do IFAL/Marechal Deodoro.
A queda de uma usina mexe com o lastro da construção urbana da Capela  que pode ser considerada como um caso, do que deve estar acontecendo na porção historicamente mais nobre da economia do açúcar alagoano, tanto pelos lados do Vale do Mundaú, quanto pelo Vale do Paraíba.
Agradecemos ao Telmo que é casado com gente nossa do Pacaviral e ao Horácio, do lado dos Mellos tradicionais na Capela. Em breve voltaremos com outros depoimentos sobre Capela, procurando, especialmente, ouvir o poder público, pois iremos propor à Prefeitura, uma Roda de Conversa sobre a situação do Município.
Boa leitura!
Capela, agosto de 2014
Luiz Sávio de Almeida




Telmo
Quem é quem

Telmo Rocha é comerciante em Capela e proprietário de conceituada churrascaria.  Horácio Mello é tradicional fornecedor de cana e pecuarista.
Horácio



 

 Sobre Capela e Comércio
Telmo Rocha


Telmo
A centenária Capela testemunhou ao longo de muitos anos o seu crescimento como cidade. No entanto, nestes últimos tempos, parece enfrentar uma derrocada de difícil retorno. Parece pessimismo, mas não é. A cidade que já teve uma Usina de cana de açúcar, agora não consegue nem manter o trabalhador do campo. Os comerciantes se equilibram numa complicada economia e aqueles que resistem de pé parecem depender dos ventos políticos que sopram ou dos transeuntes de outras localidades que por aqui passam.  Acumulando-se à baixa do comércio, Capela não possui mais semáforo, tem asfalto mal acabado. O estádio e o esporte tornaram-se uma lembrança remota de que talvez houve em outra época capelenses esperançosos.
A matemática parece difícil. O município parece sobreviver de dois modos: da prefeitura e do INSS. Nenhum lugar pode esperar crescimento real e efetivo a partir destes meios. Do INSS porque depende de quem trabalha e os que recebem não estão trabalhando; e da prefeitura porque esta é mais politica que administrativa, mais atenta aos interesses de alguns poucos do que da população inteira.
 Diminui-se a cada dia a população economicamente ativa, fecha-se o comércio, fogem os trabalhadores, vemos obras inacabadas e mal feitas e muito lixo pela cidade. Frederic Bastiat estava certo quando disse que “todos querem viver às custas do Estado, mas esquecem que o Estado vive às custas de todos.”
Telmo
Isto não é debate político. Até porque é conduta latente da situação ou da oposição. Talvez o povo não se dê conta que ao preferir seus interesses pessoais votando em determinado candidato pode está arruinando o futuro de gerações inteiras. E vislumbra-se com clarividência este terrível acontecimento no munícipio de Capela. O que está se tratando aqui é de uma lógica racional em que se chega ao seguinte resultado: ao perseguir de maneira imoral seus interesses próprios, as pessoas têm negado a si mesmas um futuro melhor e digno.
Os prefeitos perdem a oportunidade de ser bem quisto, deixar um legado e ser lembrado. Os vereadores perdem a oportunidade de lutarem pelo povo que os elegeu e por uma cidade desenvolvida, com saúde e educação. Os juízes de verem a justiça. Bom, e povo perde tudo. Perde muito além do dinheiro de seus impostos que sustentam luxuosos prazeres daqueles que administram a máquina pública, perde a dignidade, a decência e a esperança em uma cidade que seja sinal de prosperidade e paz  para futuras gerações.


Telmo
O que é preciso é nos engajarmos no valor do trabalho e da honestidade. O que hoje sofre o comércio, sofrerá ainda mais o povo pela ilusão de uma vida fácil por cargos e empregos públicos comissionados. Parece utopia ou surrealismo. Mas na verdade não se enriquece honestamente sem trabalho. Inequivocamente, isto é o que Capela mais precisa: locupletar-se somente no seu trabalho. A festa dos parasitas termina quando acaba o dinheiro dos outros, talvez dissesse Margaret Thatcher. O que vemos, por ora, é que o dinheiro está acabando, a festa é questão de tempo.


Este belíssimo Mercado desabou; talvez tenha sido esta a sua última foto





Um pouco sobre Capela e cana

Horácio Mello

A função da Cooperativa da Capela



Eu tenho 53 anos de idade, sou plantador de Cana e pecuarista. São muitos anos de vida, trabalhando aqui na área da Capela. Eu acho que a crise da Capela começa com o fechamento da Cooperativa de Credito de Capela, que era uma das mais sólidas do Nordeste, com um dos  maiores capitais de giro do Nordeste, com 52 anos de funcionamento. Foi fundada por Aristides Calheiros, Eustáquio Moreira e depois reorganizada em 1970 pelo mesmo Eustáquio Moreira, Porfírio Moreira Soriano e por Geraldo Melo.
Ela gerava empréstimo para os produtores, tinha liquidez invejável, com todos pagando o financiamento, chegando ao ponto de que em 1972, dois anos após a grande seca, conseguiu o fato inédito de se dar a maior vendagem de caminhões por cooperativa no Nordeste do Brasil: vendeu-se cem caminhões e isso leva a resultados na produção, como o escoamento, a agilidade no trato com a matéria prima, o que, evidentemente, era bom para o produtor e para a usina.
Todos eles foram pagos. Era uma Cooperativa que abrangia mais os Municípios de Capela, Cajueiro e Atalaia, era como se fosse uma Cooperativa de família, pois todo mundo sabia da condição de quem era o que, quem produzia, quem podia pegar aquele dinheiro, aquele montante – se pegasse,  sabia-se que tinha condições de pagar  aquele dinheiro que queria pegar mais um pouquinho e sabia-se que não tinha condições de pagar, então se dava menos...
E assim ela foi vivendo; teve a maioria do seu tempo no auge e contribuindo com o produtor rural. Depois veio a dificuldade de credito que não se resumiu somente a Capela, pois foi um fenômeno nacional e foi  aquela inflação galopante, que se tomava hoje1O reais e no outro dia estava-se devendo quase 20, e com isso houve uma retenção do crédito dos produtores.

É como se o Cine Ceci contasse um pouco da história local

Fechamento da usina

Depois é que veio o fechamento da Usina João de Deus, que era uma usina de grande tradição de pagamento. A Usina João de Deus desde o tempo de sua fundação, do Coronel José Otavio e depois com o José Pessoa, em termos de fornecedor e de operário, sempre se pagou em dia, Ai veio a mudança e passou para outro grupo e ai veio a bancarrota: não pagava a fornecedor de cana, não pagava ao operário, não se respeitava os direitos dos operários, os direitos dos fornecedores e se começou a fazer uma serie de coisas erradas, inclusive contra Capela.
E daí... Ela era uma usina pequena, moía ai suas 350 a 400 mil  toneladas, tudo aquilo que se mandava para ela moía ajustada e era o termômetro da região; quando o fornecedor da Uruba não estava satisfeito corria para a João de Deus; quando era da Capricho, corria para a João de Deus e era o centro das atenções, mas nesta última administração tudo veio por água abaixo por ter sido péssima e a gente está nessa aí: sem nenhuma usina neste raio. A gente vivia aqui numa situação privilegiada: era Uricuri, Capricho, João de Deus, São Simeão e Uruba. Hoje resta a Capricho.

O fornecedor e a Usina



A razão... Fala-se da crise da industria canavieira, mas ai a gente
tem indagações. O que mudou mesmo, foi a visão do empresário de  não querer tratar o fornecedor de cana como parceiros. Tá aí um testemunho vivo, a Usina Serra Grande. A pior situação geográfica  para se plantar Cana no Estado, chama-se Usina Serra Grande. É dito por todos os fornecedores de Alagoas, que ela e Coruripe e Grupo Carlos Lira são as mais sólidas; uma usina que mói uma cana na semana, na outra você está com todo o seu faturamento no seu caixa. E é uma das usinas que mantém das maiores produtividades do Estado. E vive de vento em popa.

A Usina Serra Grande – se tem noticias – ela trabalha para pagar à gente e seus operários não é com a safra que se inicia, mas com a safra passada. Então, se ela tem esta dificuldade de topografia e tem esta liquidez, por que as outras não tem? É simples: eles não pagam mais ao fornecedor de cana; elas não têm mais esta visão de que o fornecedor é um parceiro. Simplesmente, o fornecedor hoje é escravo da industria açucareira. E não temos mais condições de desenvolver canavial e é por isso ai que a gente vé a maioria dos fornecedores entregando suas terras aos usineiros; na hora de fazer o arrendamento, eles têm esta liquidez. Entao?

A queda da Asplana


Eu acho que é uma falta de boa vontade para com o produtor rural que é visto hoje como o inimigo do usineiro. Houve uma queda de posição do fornecedor. Com certeza,  política partidária nao se mistura com política canavieira e aconteceu aqui em Alagoas, quando a ASPLANA começou a ser povoada por politicos de carreira partidária... Deu no que deu, a gente deu para traz, ela deu para traz que tinha uma estrutura imensa...
Era uma entidade que teve seus tempos áureos no tempo do Dr. João Carlos de Albuquerque que tinha uma representatividade grande no Estado. Ate junto ao Governo Federal, a ASPLANA era respeitada e quando se misturou política,  deu errado; afundaram a ASPLANA e trouxe junto com a bancarrota da entidade, os fornecedores.
Roupa pendurada no antigo Engenho Velho
 
O senhorial capelense parece ter batido as botas

O pequeno fornecedor da região



Eu tenho exemplo dessa safra agora... Dessa região daqui de Capela,
Santa Ifigênia, que eles simplesmente deixaram a Cana – com dificuldade de caixa, precisando fazer  dinheiro em pé, o restinho para sua sobrevivência, para sua alimentação... Os custos que ele tinha para pagar,  o frete, para cortar a cana, para colocar na usina e não receber... Fez as contas e disse: "Eu gasto 30 para botar a minha cana dentro da usina... Ja não tenho dinheiro... E quando é hora de receber passa o ponto de passar sete semanas..." Ele não suportou, ficou sem condições de caixa porque ele às vezes tomava este dinheiro emprestado na esperança de receber na outra semana e ai ficava sem o dinheiro que tomou emprestado,  e sem o dinheiro daquilo que ele produziu. A situação e muito grave.
Se fizer um trabalho... Tem fornecedor ai... Não é só pequeno não...
Tem fornecedor de cana ai, passando dificuldades tremendas, gente que tinha produção de 20.000 toneladas de Cana, hoje esta produzindo 5.000. Antigamente, o fornecedor ainda tinha uma carregadeira, um caminhão e hoje se acabou tudo com isso... As usinas fazem a colheita. Eu mesmo vim acabar a minha colheita agora no dia 12 de abril, quando antes chegava no mês de fevereiro tinha acabado com a safra. Cana que já passou o teor de sacarose, 17 meses... Prejuízo para mim e prejuízo para a indústria. E um descontrole total.

A distribuição da cana


Eu colocava a Cana com oito quilômetros que era a João de Deus e 11 quilômetros que era para a Capricho. Eu passei primeiro a moer para a Usina Utinga, lá embaixo. Eu fui fornecedor ininterrupto durante 17 anos do Grupo Toledo e 17 anos da Usina São Simeão. A   Usina  Utinga,  veio um grupo de fora, considerada uma das melhores usinas do Brasil, somente da calote nos fornecedores de Cana. Houve uma declaração do Presidente do Sindicato dos Trabalhadores falando da situação da Usina, que era  descompromissada com trabalhador e fornecedor.
Fizemos o possível para receber do Grupo João Lira e até agora nada. João de Deus fechou devendo ao fornecedor de cana, direitos trabalhistas e, dai, o fornecedor somente tem botado o pé no atoleiro pois ele não recebe. O fornecedor esta prestes a ser excluído de todo este processo, pois se tira e não se bota, a cacimba seca.

Poder e falência


Uma usina fale e o produtor fica sem receber e já existe aquela questão do super poderio. Se o produtor denuncia a usina á justiça, já arrumou uma briga com ela e as outras ficam de olho aberto. São muito unidos e começam a lhe sufocar. Tem a carta compromisso mas eles decidem no outro ano a não aceitar a sua cana... Quando a justiça vier resolver o feito, o produtor ja tem morrido financeiramente. E ainda tem outro problema: a cana da Uruba, de Lajinha vai migrar para onde?
Uma falência na justiça são anos e anos e anos, quando chegar, inclusive, o direito do produtor; primeiro vem o do trabalhador, depois o previdenciário  para depois chegar no produtor. Um grupo que dizer ter 800 milhões de patrimônio e deve quase duas vezes isso: quando é que vai chegar no produtor? Já houve tanta negociação tanto Ia quanto em Uruba para se receber em mel, açúcar e ate mesmo gado e aí vai se diz que não tem condições, que o gado não é da usina e sim do acionista tal e tudo vai sendo levado na barriga.
Na ASPLANA, essa administração até que melhorou um pouco, mas tem muito o que fazer. Tudo neste Estado que se bota politicagem, acaba-se com ela. Foi por ai que os produtores políticos acabaram com a Asplana, entidade que tinha laboratório, desenvolvia variedades junto com o Planalsucar, cana de açúcar. Hoje, o que se faz de variedades não chega como devia ao fornecedor. Hoje a gente não recebe nem a rapa, da rapa da variedade. No produtor de cana, a variedade não chega.
A ASPLANA foi desvirtuada; ao invés de ser uma associação de classe produtora foi ser de classe política. A moderidade veio e nela a decadência do produtor rural, do fornecedor. Alguma coisa andou errada, E tem uma outra questão que normalmente a gente conversa. Usina de  açúcar em Alagoas não dá, mas uma parte dos usineiros de Alagoas  tem usina em Sao Paulo e ai vem o velho provérbio popular; Quem pariu essas usinas? Foram as daqui.
Tem na legislação ainda do tempo do IAA, que diz que todo usineiro para fazer exportação, tem de apresentar certidão negativa da Associação dos Produtores de Cana e isso não vem sendo respeitado. Em Pernambuco encontraram uma medida; só ha a exportação de açúcar, só recebe um incentivo fiscal do governo do estado se comprovar que não ha débito com produtor de cana.

O açúcar e a Capela


Patrimonialmente, houve uma sensível perda. Antes, quando a usina moía, mesmo que não se desejasse vender a terra, o produtor sempre aparecia corretor na área, querendo saber, fazendo uma proposta; hoje, mesmo neste patamar baixo, tem-se dificuldade de vender terra aqui. Eu conheço vários amigos meus que, mesmo com o preço baixo, não conseguem vender. Quem comprava antes a terra, era um vizinho, um produtor de cana, um criador de gado, mas se ele hoje esta na mesma condição de quem quer vender, como é que ele vai comprar. Então se fica esperando quem de boa vontade quer vir comprar.

De leite à pimenta


Produção de leite aqui já teve um auge e todo mundo sabe que o leite passou por aquela grande crise e que se ficava derramando leite pela rua; agora é que houve uma melhora com a compra do leite pelo governo do estado, mas não é uma coisa que não é assegurada;  às vezes de um governo para o outro se muda o modo de ação e o produtor às vezes fica a ver navios.
A produção de pimenta aqui na Capela é uma realidade; existem pessoas plantando pimenta e eles vendem para Minas Gerais. Mas é aquela história: a pimenta esta cabendo, mas se todo mundo resolver plantar pimenta vai haver excedente e onde ira ser colocado? Ou se faz uma coisa milimétrica, bem acompanhada ou se terá problema.
Muitas pessoas já passaram para a pecuária. Uns já arrendaram suas terras, esta questão de eucalipto, estão arrendando muita terra na região, mas o faturamento é menor. E um faturamento mais sólido; o faturamento diminui e consequentemente a mão de obra diminui e isso leva ao desemprego na região que é grande e o impacto no comércio foi grande também.
As casas que existiam nas fazendas de usina foram todas demolidas; o pessoal foi embora, parte veio para o centro urbano e a maioria migrou, com uns indo para Maceió, outros para São Paulo. Piracicaba,  se for contar os capelenses que tem lá... Gente que reside lá, saiu daqui sem emprego. E o comércio em si, como um todo, perdeu muito. Perdeu o dono da mercearia, do supermercado...

O valor das terras


O prejuízo financeiro é muito grande, inclusive as próprias terras, que quando se perde uma usina, a valorização das terras das pessoas vai lá para baixo. O valor das terras aqui na região era um dos mais bem pagos do Estado. Hoje se compra terra aqui a preço de banana.  A tarefa aqui, se tiver tudo muito bem equipado, muito bem tratada e com a topografia boa, no máximo três mil reais; tenho conhecimento de amigos nossos, que na época foi proposto um valor de 25 mil reais por um hectare, não deu,  e isso foi quando a usina estava em funcionamento; hoje o máximo que se consegue é 10.000 reais com muita dificuldade.
A curto prazo em Capela, muita desgraça, infelizmente; em termos de ver um novo horizonte, uma melhor economia, uma melhor distribuição de renda... O produtor rural vem de uma seca.   Se pode dizer: o governo federal acudiu a  quem devia a banco com a prorrogação de dívidas... Se a pessoa de 15.000 toneladas de cana, depois da seca ficou com 5.000?  O que você tomou  emprestado, colocou dentro da agricultura,  perdeu... Não tem mais a cana, o gado, mas tem o compromissos para pagar? O prazo foi prorrogado, mas o compromisso continua e a produção nao existe e, ou se toma uma atitude séria no Estado...
Eu culpo primeiro à nossa classe; ou a classe do fornecedor de cana se une ou infelizmente a gente tem de pedir o socorro da classe política para que isso seja resolvido. Não é resolver com um perdoar a dívida como aquela coisa que houve no governo Sarney - aquilo viciou muita gente que ficou dizendo: não vou pagar que o governo perdoa. Tem de se criar condições, fazer um trabalho entre Secretaria de Agricultura, Universidade Federal, EMBRAPA, Ministério da Agricultura para ver o que e que se pode fazer, que os produtores de Capela, Murici, Atalaia, Cajueiro, Colônia de Leopoldina, esse povo todo, para que se faça um trabalho sério e isso prospere.
A gente está acuado sem saber para onde pender, quem mudou para gado, agora mesmo teve uma resposta melhor, o gado agora veio reagir depois de um patamar mais baixo da história. A gente está com o pé no atoleiro e esta cada vez mais afundando e com isso afundando, também, a nossa cidade. A curto prazo não havendo um mutirão, um esforço de todas as partes e do governo, eu acho que o bicho vai pegar.

Moer cana? Ninguém quer plantar: se moí e não se recebe?  0 gado não e uma coisa que se mude do dia para a noite; o gado você vai ter que acabar coma cana e aí vai ter uma perda, que a receita da cana é  maior e vai ter que plantar o capim, vai ter de fazer a cerca, vai ter  de comprar o arame, o herbicida; vai ter de contratar a mão de obra, vai ter que botar o gado dentro; se for o gado já adulto, você vai esperar um ano para que ele venha a parir, para dar você começar a tirar um pouco daquilo que você empregou. Vai levar uns cinco anos para você tirar aquilo que empregou na mudança de atividade, e como e que vai fazer isso se a maioria do produtor rural, 95%, esta todo mundo com a corda no pescoço?
               Essa mudança... Banco é aquela historia: se o negócio fosse ruim,  banco não emprestava dinheiro; então, tem, um custo disso e aí é onde a gente fica preocupado, porque se toma dinheiro em um banco, sabe que tem de pagar; quem tem responsabilidade, tem medo de tomar dinheiro em banco pois sabe que tem de pagar e do jeito que a situação está, se tomar não paga. O espaço que fica entre a mudança de cultura, o peso financeiro fica nas Costas do produtor e é muito grande.
Hoje, não é somente jogar o capim em cima da terra; ou se busca produtividade ou está fora do mercado. Então, esta cultura agora de baixo carbono é uma saída, essa integração do eucalipto com a pecuária, so que isso tem de ter um trabalho bem feito do Governo Federal; está se partindo para o eucalipto; várias pessoas aqui da região já partiram para o plantio do eucalipto, mas se daqui a pouco houver um excedente, onde é que você vai botar esta produção se não existe uma unidade geradora de energia no Estado e para onde vai este excedente? Eucalipto não espera; chegou no tempo tem de cortar e vender para ter uma nova produção, honrar com seus compromissos, ficar gerando emprego... Tem que haver uma coisa bem lapidada pelos órgãos de governo, produtores para que não se cometa nenhum erro.
Estamos vivendo um impasse de giro e de patrimônio. Se for feito um levantamento hoje de quanto existe de passivo, de fornecedores de cana a receber nas usinas, falando em termos de Capela. Capela, uma Cidade pequena, tem nas mãos dos usineiros ai, se for computado direito, mais de cem milhões de reais empacados. É muito dinheiro.

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