Dois dedos de prosa sobre a vida
Este é um texto escrito por jovem e talentoso jornalista e que faz pouco
defendeu seu trabalho de conclusão no Curso de Jornalismo do Centro Universitário CESMAC. Na realidade,
foi meu orientando. Sabendo de seu
talento, pedi para conversar com o povo na Grota do Cigano, onde ainda hoje
moram seus pais.
Trouxe dois depoimentos, sendo um do
seu pai, antiquíssimo morador da área e o de uma senhora que conhece os meandros da
Grota, A sensibilidade do leitor
revelará o esforço que os empobrecidos realizam para situarem-se no universo
urbano de Maceió e como são construídas as Grotas.
Campus
agradece a Railton pelo que nos trouxe do dia a dia da Grota dos
Ciganos, matéria que fica como documentação para o futuro e sobre como se faz a
vida em Maceió. Deve ser enfatizado que Railton é da Grota do Cigano, ele mesmo
tendo muito o que falar sobre a localidade. Preferimos deixar a fala de dois
moradores, como referência para uma história da periferia de Maceió.
Vazio, julho de 2014
Luiz
Sávio de Almeida
Railton Teixeira é jornalista. Dirigente do Setor de Jornalismo e Comunicação do MLST. Ex-dirigente da União dos
Estudantes Secundaristas de Alagoas (UESA), membro do Núcleo de Estudos e
Pesquisas sobre Direito, Sociedade e Violência do Centro Universitário CESMAC.
Pobreza
e história de vida
Railton
Teixeira
Muitas
foram às histórias que se cruzaram durante o processo de construção do que hoje
é conhecida como a Grota do Cigano. Tudo teria começado após a aquisição de terra
junto ao Lar São Domingos por José Sebastião da Silva, ou, Seu Silva, como era
popularmente conhecido. Ele deu início ao processo de construção de pequenas casas
para aluguel e vendas de lotes para construção de moradias. São mais de 40 anos
de transformação do que antes era mata para o que é hoje.
A
Grota do Cigano é apresentada como um dos lugares mais violentos de Maceió. A
grande mídia vincula apenas casos relacionados a homicídios, prisões, apreensões
e catástrofes da natureza. Enquanto há histórias de um povo que luta para
sobreviver. Um povo, na sua maioria, vindo da zona rural e que foram trabalhar nos mais diversos setores,
como uma forma de ganhar o seu “pão”.
Aqui
serão apresentadas duas histórias que mostram os esforços que esse povo fez e
faz para sobreviver, e para garantir uma moradia digna, com acesso aos direitos que lhes são negados
fazendo frente à violência institucionalizada. Essa mesma violência que é
ignorada, mas que o povo não deixa de ter esperanças em dias melhores na
superação das condições de pobreza a que são submetidos, organizados na
resistência popular.
Os
relatos são fidedignos aos depoimentos dos entrevistados. Eles são frutos de
uma rigorosa colheita de informações, depoimentos, relatos, documentos, fotos e
provas que vem sendo acumuladas sobre a história da grota. Esse material tende
a identificar as raízes e origens da Grota do Cigano, questionando e
confrontado tudo para chegar a sua veracidade.
Os
depoimentos apresentados foram escolhidos pela sua importância histórica e tem
como protagonistas Dona Luzia Santana e Manoel Ferreira. Ela, uma das moradoras
mais antiga da localidade. Oriunda do município de Jequiá da Praia, litoral sul
de Alagoas, e chegou à grota para cuidar de 33 casas de aluguel construídas por
seu Silva. Em seu depoimento ela conta quais são as suas lembranças do que viu
e viveu no final dos anos de 1970.
Já
Manoel Ferreira, natural do Sítio São João, em Correntes, município
pernambucano, foi um dos primeiros a adquirir um lote para a construção do que
é hoje sua residência e descrever como foi a sua história que já dura 30 anos.
A fala de Luzia Santana
Fazem
35 anos que eu cheguei. Não sou das primeiras, não. Quando cheguei, tinha um
monte de gente; lá em baixo, eram os ciganos. Por isso, que é grota do Cigano.
Isso era mato, grota esquisita, sem muitas pessoas. Só sabia da fama e do medo
dos ciganos. Ainda vi uma das mulheres, das mais novas. Nunca tive intimidade.
Eles eram um pessoal malcriados, tão brabo... Deles morando por detrás da
igreja.
Vim
tomar conta de umas casas de aluguel, do meu patrão chamado José Sebastião da
Silva, conhecido como seu Silva. Cuidava de 33 casas. Ia do Galego do pastel
até sair na São Domingos. Tinha uma casinha aqui e outra acolá. Depois que eu
cheguei foi que ele (seu Silva, RT) andou vendendo uns lotes. Quem fez a
limpeza da construção desses barraquinhos, aqui já fui eu.
[A
violência já existia, RT] Às vezes entrava alguém que já vinha correndo de lá
para cá e entrava na grota; acontecia de vez em quando, mas nem eu via.
Quando
nós chegamos, aqui não tinha água; a água só descia até o bar da dona Cícera
(que é o da Selma, o início da ladeira da grota, RT). Depois que eu comecei a
trabalhar com o seu Silva, puxei a água. Depois, peguei o nome do povo e levava
para a Casal; assim, é que eu consegui colocar água. Dali da dona Cícera até o
terreno do ‘veio’ lá em baixo, na Marinete.
Aí
o pessoal já vinha de fora comprar água a mim, aqui. Carreguei um bocado, mas
também vendi muita latas d’água (riu, RT). E luz também não tinha. Tinha sim,
mas era emprestada, ele (seu Silva, RT) pegou um conhecimento com uma mulher na
Rua Santo Antônio e fez uma ligação que vinha por dentro do capim aqui e acolá,
ele enfiava um pau e colocava o linho aí descia os fios; desse jeito, foi que
chegou a energia nas casas.
Era
feito tipo um chalé; as casas eram chamadas de chalé antigamente. A casinha já
tava velha, feita de taipa. Eu morando na casa... Quando penso que não, ele
começou estalar; fiquei assustada. Quando foi a noite, chamei a Zefinha, minha
filha e esposa do Seu Silva, que trabalhava no escritório com ele disse:
‘Zefinha tu diz ao Silva que essa casa ta estalando e eu to com medo, será que
ela vai cair? Eu nunca vi uma casa cair’. Ele disse: ‘ah, é porque ela é velha
e é assim mesmo; você diga a ela que passe para um quarto em frente que tá
desocupado’. Aí passei para o quarto, inclusive, onde mora hoje a dona Piedade.
Quando
começou, o lugar não tinha benfeitoria nenhuma. Não tinha estrada, era barro,
isso quando chovia e descia se que não tivesse cuidado quebrava uma perna,
nessa ladeira. E olhe que era mais zelada, pois era onde ele (seu Silva, RT)
descia o carro até aqui. E daí do terreno dele pra lá para baixo, era só um
caminho, uma trilha, não tinha uma estrada bem feita e as casas é uma passando
da outra. Porque não tinha nível; cada um chegava e fazia onde a cabeça dava,
entendeu? Vou fazer a minha casa, comprei esse terreno, vou fazer pra trás, pra
frente... Pode prestar atenção: essa rua que tem esse lado assim (lado direito,
RT) é mais ainda é mais alejada que o lado de cá.
Já
depois que a gente tava no lugar, essa pista foi construída por Deus e abaixo
de Deus, pela irmã Maria das Graças, que nessa moradia que tava rolando, aí
desceu duas criaturas mandadas por Deus, freiras, para querer rezar, ensinar as
coisas boas e começou lá embaixo onde termina as duas estradas que depois faz
uma só, do outro lado, a ruinha vai que se acaba, assim do lado de lá, a gente
pegava rezava dali e subia por aqui afora. A irmã rezando o terço e ensinando,
fazendo o catecismo e era a maior coisa do mundo. Quem começou foi ela só,
depois com muito tempo, depois com a igreja feita, começou a aparecer padre,
missionário, mas quem começou do chão, do bruto mesmo foi à irmã. Sim, a irmã
Maria das Graças. Porque ela começou andando; ela ia vendo o povo, e, ai, Deus
tocou no coração dela; ela optou em fazer uma capelinha, uma igrejinha, que é
aquela hoje que nós andamos (a Igreja Nossa Senhora de Fátima, RT); aí saímos
procurando quem tinha um terreno para vender, coisa e tal. Aí encontrou aquele
terreno ali aí; ela comprou e quando acabou formou a igreja.
Ela
começou o terreno, mas para eu, ir mesmo frenquentar a igreja, não fui logo.
Ela passava ‘Luzia vamos para a igreja, minha fia; vamos para a igreja!’ Agora,
eu ajudava no que ela me pedia. Porque quando nós chegamos aqui, o Zé Silva
mandou a gente fazer um galpão naquela casa que é hoje o lugar da igreja de
crente, (um quarteirão após a igreja católica, RT) para fazer tijolo; ele
ensinou os meninos a fazer tijolo pronto; ele dizia: ‘Vocês façam tijolo, que é
um meio de vida. Eu vou ensinar, vocês fazem e, quando alguém por aqui quiser
tijolo, vocês já vendem. É negócio pra vocês’.
Ele
ensinou pros meus meninos; aí a gente se
reuniu, compramos madeiras e formamos uma casa, um galpão, só não tinha parede;
colocamos umas assim, cobrimos com brasilit essas coisas... aí os meus meninos
trabalhavam ali fazendo tijolo próprio. Aí, quando ela (a irmã Maria das
Graças, RT) queria alguma coisa, ela vinha aqui: ‘Lú me empresta madeira, as
madeiras que os meninos pegaram andando!’. Andamos fazendo os planos de comprar
um terreno aqui, também, no plano; mas era muito caro, tinha chegado aqui um
pouco que cansada, aí a gente achou que as possibilidades não dava para
comprar.
Mas,
aí, seu Silva mandou a gente comprar em três partes, em qualquer altura na
ladeira. Eu disse: ‘não quero, do mundo de ladeira venho correndo’. Aí
estávamos naquele jogo, enfrentamos nessa vila aqui e dissemos que íamos ficar
com essa vila.
A
grota foi se construindo, Deus soltou o pessoal do agreste, porque o pessoal
dessa grota é todinho do sertão, do agreste, das matas, das caatingas. Vi
muitas mudas descerem nos buracos dessa ladeira aqui pra baixo. Chegaram muitas
mudanças, muitas gentes. Foi enchendo aos poucos devagazinho, devagazinho,
porque hoje ta o que ta. Você chega na chã, olha essa grota aqui... A pracinha, no meio da grota, da cabeça
daquela ladeira (descendo a Cleto Campelo a segunda ladeira, onde atualmente há
uma praça RT) para sair na Mangabeiras era mata, era mata escura. Era uma
pontinha de mata escura, não tinha casa, não tinha nada, só tinha a trilha;
você entrava aqui, colocava a cabeça na boquinha da mata até quando chegar
naquele negócio de alumínio, o Ornato Box, pois menino, ali era mata. Quando eu
cheguei aqui, o meu filho veio primeiro, ficou na casa de um tio; aí depois
adoeci de uma perna, vim para me tratar, enquanto não fui operada eu saia de
casa para levar comida para o Reginaldo, lá embaixo o pessoal subindo aquele
prédio, ao lado da lagoa, onde tem até o primeiro hotel que eu me esqueci do
nome dele, acho que é Jatiúca, a gente descia aqui em frente atravessava e
chegava na Mangabeiras, já fica aqui na beira da praia mesmo. Era muita
dificuldade a ser superada ainda falta ainda hoje muito acesso.
A
prefeitura quando a gente abusava, ela mandava um pedaço, mas a gente
caminhamos tanto para adquirir isso daqui e foi nós, nossa cabeça. A irmã
disse: ‘Lú já que você é a mais velha aqui, já trabalha, sei que você é
inteligente, vamos trabalha para nós descer a luz e a água para sua casa até
chegar na igreja!’.
O
esgoto a gente pediu muito, também. Quando a gente ia pedir, a gente pedia
tudo. E eles mandaram fazer. Eles começaram a fazer, que o calçamento do esgoto
veio até atrás da igreja, começaram na Mangabeiras e veio até atrás da igreja.
Eu não vi não, mas escutei, diz que eles pararam, os trabalhadores que vinham
trabalhar, e disse para o governo na época, dizendo que ia para com a obra,
porque não vale a pena não ‘o pessoal são tão mal educado, que a gente ta
trabalhando e eles vem com o lixo, com três quatro chega na beira e sacode nas
costas da gente, a gente não ta trabalhando, eles vão e sacode na gente,
(barulho com a boca), na cabeça e eles não querem nem saber, então aquilo dali
é um local de mal educados’. Aí encheram a cabeça do governo, aí acabou parando
o serviço.
A fala de Manoel Ferreira
Muitas
lembranças ainda tenho do tempo que aqui cheguei até hoje. Quando vim morar na
Grota do Cigano, a moradora mais conhecida era a dona Luzia (Luzia Santana,
RT). A grota era uma imensidão de mata e em um espaço pequeno, poucas casas. Os
Ciganos moravam lá por onde hoje é a Igreja Nossa Senhora de Fátima. Muita
coisa mudou, principalmente essa rua aqui (Amaro Feitosa, RT). As casas aqui
pra cima era todas vazias. Não tinha ninguém.
Eu
era solteiro. Na época tinha 25 anos; com 26 comecei a construir a casa, no
mesmo ano me casei e comecei a morar. Foi uma casa de taipa, de barro e
madeira. Muito sacrifício... Fiz uma casinha separada. Saia para trabalhar e a
mulher ficava sozinha. Mas era pouca violência.
Mas
a decisão para vim morar em Maceió, principalmente na Grota do Cigano não foi
fácil. Pois sou filho natural do município de Correntes, próximo à cidade de
Garanhuns, em Pernambuco. Morei no Sítio São João, com outros onze irmãos.
Sempre ouvia falar de Maceió e sempre tive vontade de buscar melhores condições
de vida e uma forma de ajudar a alimentar os meus familiares que permanecia no
sítio. Com 24 anos tive uma conversa com um irmão, chamado João, que havia
chegado de São Paulo e o chamei para vim para Maceió procurar serviço.
Foi
uma decisão minha, mas não foi simples. Falei com meu pai: ‘olha pai vou
procurar serviço em Maceió’. Perguntei o meu irmão João, ‘vamos embora para
Maceió, se você for iremos tal dia’. Chegamos em Maceió e nos dirigimos para a
casa de um amigo chamado Zé Prego, que morava no Reginaldo. Ele era casado com
uma prima. Foi só chegando, descansando e no outro dia fui procurar serviço, lá
na Salgema naquele cais do Porto, que a época ainda estava em construção. Não
queria Recife porque tinha a fama de cidade perigosa. Sempre me chamaram para
ir para São Paulo, eu dizia ‘quero nada’. Tinha uma simpatia por Maceió e vim
para cá.
Depois
de um tempo João voltou para Correntes e eu fiquei, aí consegui um trabalho em
um prédio. Vim apenas com a passagem de ida e volta. Quando estava completando
oito dias, havia trabalhado a semana todinha, o Zé Prego tinha tomando uma
cachaça, a noite não dormiu, queria mata a mulher, pensei ‘homem aqui não vai
da certo não’. Quando foi no domingo eu peguei o ônibus e voltei para
Correntes.
Isso
foi em setembro. Voltei falei com o meu pai: ‘vou bater o tijolo, fazer a minha
casa e vou embora para quando eu casar venho morar aqui’. Aí meu pai disse ‘ta
certo’. Fiz dez mileiro de tijolo, no local aproveitamos para fazer um açude,
que até hoje tem por trás da casa que agora é da minha família.
Quando
foi em dezembro, faltando poucos dias para o fim do ano, minha tia Rita me
chamou para visitar um filho dela, chamado Pedro, que morava aqui em Maceió. Eu
disse ‘vou não’, mas ela ficou aperriando ‘bora, bora, vai eu, você e Ilton’.
Ilton é seu filho e atualmente é padre em um interior de Pernambuco. Aí
aceitei. Passei final de ano em Maceió, entre os anos de 1983 e 1984, passei o
final de ano e aproveitei e falei para o Pedro que se ele arrumasse um emprego
aqui, só era falar comigo que eu viria. Depois do final de ano, dois dias
depois voltamos, eu e minha tia Rita, Ilton ficou.
Chegando
em Correntes, no segundo dia queimei a caieira dos tijolos tudinho, quando foi
no outro dia Ilton chegou, isso em janeiro de 1984. Ele disse: ‘Oia Pedro
mandou tu ir trabalhar, ele já arrumou vaga pra tu, lá em Maceió’. Eu disse ‘foi mesmo rapaz’,
olhei para o meu pai assim e disse ‘oia pai, o senhor pege esse tijolo, venda,
dê, empreste faça o que o senhor quiser’, parece que foi Deus que disse assim,
que iluminou os meus caminhos e disse que eu viajasse. Aí meu pai disse ‘tá
certo’. Eu viajei para Maceió, quando foi no dia 28 de janeiro cheguei e
comecei a trabalhar em uma pizzaria, em poucos dias eles ficharam a minha
carteira, até hoje graças a Deus estou em Maceió.
Comecei
a trabalhar como ajudante do meu primo Pedro, pois ele era pizzaiolo. Comecei a
dormir na pizzaria, tinha um quarto, ficava lá sozinho. Todo dinheiro que eu
pegava na semana eu mandava para a minha família, no interior (em Correntes,
RT). As vezes eu ficava sem nenhum centavo. Isso era para meu pai fazer a
feira, naquele tempo não era fácil. Nesse período um colega de trabalho chegou
e disse que tinha um senhor vendendo terreno no Jacintinho, na Grota do Cigano,
em parcelas. Como não podia comprar a vista, ‘vou lá comprar parcelado’. Quando
cheguei, Dona Luzia me mostrou uns terrenos nessa rua (Amaro Feitosa, RT). O
primeiro apresentado foi o que hoje é a Igreja Assembleia de Deus. Não gostei,
ela me apresentou outros três terrenos, aí eu disse que não queria, porque
todos eram perto do riacho.
Até
quando ela me apresentou ao que hoje é a minha residência. Isso por ser mais
alto. Os outros terrenos não despertava interesse porque quando chovesse iria
entupir o rio e chegar até a minha casa, quanto mais alto melhor. Conversei com
o dono que era o seu Silva (José Sebastião da Silva, RT) na hora fechei o
negócio e dividi o valor do pagamento em duas vezes. O terreno foi 700
cruzeiros. Na época eu recebia 20 cruzeiros, ou seja, cinco por semana. Mandava
tudo para o interior. As vezes ficava com um cruzeiro.
Fechado
o negócio fui para o interior conversar com meu pai, vender uns negócios que
tinha lá. Vendi dois garrotes que tinha, que deu menos da metade do valor.
Cheguei aqui, faltando 20 cruzeiros para completar a metade do valor, que era
350. Vim no dono (seu Silva), falei com ele disse que não iria ficar com o
terreno, pois não tinha dinheiro: ‘o dinheiro que tenho aqui é 330 cruzeiros,
então não vou poder comprar o terreno’. Ele disse que o negócio era meu,
perguntou se eu queria, disse que eu era uma pessoa de bem: ‘vou colocar no
papel que você deu os 350 e daqui a 20 dias você dá o que falta.
Com
seis meses eu tinha que arrumar a outra metade para concluir a negociação. Fui
batalhando, tomei dinheiro emprestado com um, com outro, fui até quando
conseguir o restante e fechei a primeira parte da negociação com ele (seu
Silva, RT). Fiz uma casa de taipa que era um ambiente só, de quatro metros
quadrado. Não tinha nada de quatro, cozinha. A região era desabitada, de um
lado só mato, árvores frutíferas e, do outro, tipo um conjunto de casas
construídas pelo seu Silva. Ele fez várias casinhas para alugar, mas nessa
época não tinha quase ninguém a não ser dona Luzia e seus filhos. Lá embaixo na
grota alguns ciganos, e, uns parentes de seu Silva, mas lá embaixo.
Mas,
com apenas um mês com o terreno adquirido sai do trabalho, passei 30 dias
desempregado, sobrevivi com a rescisão do contrato de trabalho e fui contratado
para trabalhar em um restaurante famoso na época no bairro da Ponta Verde,
assim tive a oportunidade de ter qualificação e, inclusive, na carteira, de
ajudante para cozinheiro. Depois parti para trabalhar em hotel, como
cozinheiro, mas morava na minha casa. Nessa época ainda vieram sete primos que
também queriam uma oportunidade em Maceió. Mas depois que casei e cada um foi
para o seu canto.
A
grota cresceu... O pessoal veio através da informação. Eram terrenos vazios,
mais baratos; vieram comprando, comprando e foram se espalhando até quando
encheram aqui a grota todinha; e aqui no início só era barro, a passagem era
muito dificultosa, carro não passava; no verão passava, no inverno voltava
tudinho. De uns tempo para cá, começou passando a maquina; depois passaram
calçamento e virou essa grota aqui.
Esse
pessoal trabalhavam de construção. Começaram a trabalhar em construções. Longe
daqui... Morava aqui e trabalhava fora, até quando chegou essa população
todinha.
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