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terça-feira, 21 de abril de 2015

NERI, Gustavo. OS NÚCLEOS INTEGRALISTAS DE ALAGOAS: São Luís do Quitunde e outras histórias.

 

Nosso objetivo é contribuir para uma boa discussão sobre Alagoas. 

A administração pode discordar, no todo ou em parte,  do que é dito no texto. O importante é que a posição do autor seja discutida.

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  Dois dedos de prosa 

Luiz Sávio de Almeida 




Alagoas vem se beneficiando do aparecimento de uma nova geração de pesquisadores que merece todo  o nosso respeito; são pessoas sérias, meticulosas, inteligentes e procuram contribuir com a discussão de nosso processo histórico. Muitos revisitam tema antigos; muitos procuraram temas novos como Gustavo Neri, que resolveu escrever sua dissertação de mestrado sobre o integralismo em Alagoas, um tema a bem dizer virgem. 
Ao que me consta, sobre o tema, apareceram apenas dois artigos meus, publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas resultado de meras notas por mim coletadas quando discutia comigo mesmo, qual o tema que deveria ser aproveitado em meu doutoramento. Terminei indo para o século XIX.
Gustavo Neri trouxe um belo texto, uma excelente discussão sobre a vida alagoana na década de trinta e é uma honra para Campus, poder publicar parte do material que ele produziu; trata-se de uma adaptação que sairá em quatro números de Campus.
Tomara  que alguém prossiga com esta história, produzindo sobre os reagrupamentos  que os integralistas tiveram  em Alagoas.


Jatiúca, janeiro de 2015


Gustavo Neri: Licenciado em História pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Mestre em História pela Universidade Federal de Alagoas- UFAL, Professor de História e História da Arte do Ensino Médio, atualmente lecionando no Colégio Rosalvo Ribeiro dos Santos, Autor do Artigo: A Indústria Têxtil, O Decreto Nº. 19.739 e a Legislação Trabalhista, in. A Indústria Têxtil, a classe operária e o PCB em Alagoas. Org.; Alberto Saldanha.  
  

 

            Alagoas foi “prestigiada” com a presença integralista a partir de 1933, depois da fundação do núcleo provincial, porém era preciso espalhar-se por todo o estado, para assim cobrir o maior número possível da Terra dos Marechais com o verde integralista. Para isso, os núcleos municipais foram fundamentais, e entre as várias sedes integralistas podemos destacar um desses núcleos municipais, o de São Luís do Quitunde. Essas terras que tinham sido habitadas por índios e exploradas pelos holandeses foram, na década de 1930, cenário das atividades integralistas em Alagoas.  


Em uma festiva solenidade na cidade de São Luís do Quitunde, Afrânio Lages com mais 27 companheiros, entre secretários e milicianos, conduziram a sessão de inauguração do núcleo municipal de São Luís do Quitunde, e assim, em 19 de junho de 1934, a AIB chegava oficialmente a essa cidade. A sessão de instalação do núcleo municipal ocorreu no prédio do Cineteatro São Luís. A sede do interior alagoano já contou com a inscrição de 13 membros no dia de sua inauguração; todos fizeram o juramento ao chefe nacional. As reuniões eram realizadas semanalmente, e o dia escolhido para tais encontros era o domingo, a partir das 19h30. A disciplina dos integralistas pode ser constatada pela seguinte observação: “Até hoje, apenas em dois domingos não foram realizadas as sessões previstas” (RELATÓRIO DO CHEFE MUNICIPAL, São Luís do Quitunde, 23 de fevereiro de 1935, p. 1).
            Após um ano de existência, o núcleo de São Luís do Quitunde contava com 83 integralistas registrados em sua sede. O número de camisas-verdes na cidade se mostrava bem relevante e seu ingresso no movimento se deu da seguinte forma: no mês de julho inscreveram-se 28 pessoas; em agosto o número chegou a 21 novos membros; outubro contou com seis; em novembro, um acréscimo de 14 novos membros; porém em dezembro e janeiro não ocorreu nenhuma nova inscrição. A diretoria do Núcleo do município atribuiu tal fato às propagandas negativas feitas por adversários do movimento integralista que pretendiam enfraquecer os seguidores do Sigma para as eleições de outubro de 1935.

Em novembro do mesmo ano, esse núcleo já contava com 180 inscritos. A chefia do núcleo de São Luís ficou sob os cuidados do Sr. Abel Lima, que ocupava o cargo desde a fundação da sede municipal. De 19 de dezembro de 1934 até 10 de fevereiro de 1935, essa chefia esteve nas mãos de José Carneiro, pois Abel Lima teve de se afastar do cargo. Em 1935 o núcleo não apresentava uma condição financeira negativa, o que permitiu saldar todas as dívidas referentes às compras de mobílias para a sede. 

            Por se tratar de um núcleo numa cidade rural, ressalta a sua diretoria o seguinte: “Sendo o núcleo composto, em sua maioria, de pessoas de humilde condição social, julgamos estar a mesma em situação financeira que não merece censura, embora tenhamos a observar que algumas despesas efetuadas nos primeiros meses de sua fundação ocorreram por conta de um dos companheiros” (RELATÓRIO DO CHEFE MUNICIPAL, São Luís do Quitunde, 23 de fevereiro de 1935, p. 2). O núcleo se encontrava com a receita de 5:083$000 e tinha despesas que somavam 5:036$000, verificando-se assim um saldo de 47$000. Mesmo assim, Abel Lima em 24 de outubro de 1934 escreve ao SDOP, mais exatamente, ao Sr. Carloman Carneiro, sobre as dificuldades que o núcleo vinha encontrando para custear algumas despesas com material de propaganda e auxílio financeiro na campanha integralista.
          
  
           A propaganda integralista no município era intensa; só no primeiro ano de existência desse núcleo foram organizados três comícios e duas bandeiras que visitaram povoados de São Luís do Quitunde. Além dos comícios e das bandeiras, a propaganda integralista era efetuada através da panfletagem realizada nas ruas. Os desfiles periódicos pela cidade também eram uma forma de apresentar ao cidadão daquela região quem eram os integralistas, a força do movimento e seus ideais patrióticos e cristãos. Foi preciso muito trabalho para empolgar o povo do município com a ótica integralista, pois os defensores do Sigma não tiveram o apoio das elites locais.
             Ao se perceber que os pequenos trabalhadores, dependentes desses grandes senhores, não se aproximariam do “Ideal Verde” sem certo fervor na sociedade, foram organizados comícios, as marchas integralistas, os trabalhos de assistência social, tudo com o intuito de promover o movimento na região. Em alguns casos essas atividades de apresentação do movimento integralista eram realizadas de forma muito simples; um exemplo disso ocorreu no município vizinho, Passo do Camaragibe, onde três integralistas do núcleo de São Luís foram espontaneamente a bater de porta em porta, distribuindo panfletos, boletins e convidando o povo a assistir a um dos rapazes falar. A sociedade respondeu ao chamado, e o jovem discursou por algumas horas, em cima do coreto da praça da Matriz, para uma multidão.            
          O Chefe Municipal salienta o fato de que o núcleo se encontra numa situação estável, porém faz uma ressalva quanto aos inimigos do integralismo na cidade: “Os nossos inimigos reconhecem que somos verdadeiramente idealistas e se espantam da nossa vitória, apesar da campanha derrotista, dos coronéis capitalistas e dos comunistas.”(CARTA DO CM PARA A SDOP, São Luís do Quitunde, 24 de outubro de 1934, p. 1).

            Mas em 1935 o núcleo municipal liderado por Abel Lima não estava tendo apenas experiências positivas, pois o relatório anual dessa sede menciona alguns problemas de indisciplina entre companheiros integralistas. A solução para casos de indisciplina entre os camisas-verdes era radical, pois, dependendo do grau de infração, o sujeito poderia ser afastado ou até mesmo expulso do movimento. Parece que essa segunda opção era a que pretendia utilizar o chefe municipal a seus companheiros infratores, já que, naquele ano consta no relatórios alguns casos de exclusão.  


          
            Uma das metas do núcleo nacional era aumentar o número de eleitores para a AIB, e para isso era aconselhada aos núcleos provinciais e municipais a criação de escolas de alfabetização para adultos. Seguindo essa ordem, em São Luís do Quitunde havia uma escola de alfabetização para adultos, comandada por duas mulheres integralistas, provavelmente representantes do Departamento Municipal Feminino. A escola primária contava com uma frequência de alunos que oscilava entre vinte e trinta pessoas. Além disso, o núcleo municipal contava ainda com uma biblioteca integralista − apesar de pequena, com apenas 36 volumes −, onde poderiam ser encontrados materiais bibliográficos para a instrução de novos membros sobre os ideais do Sigma. Entre essas obras encontravam-se obras de Plínio Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso, Custódio Viveiros, Affonso Arino de Mello Franco, Eduardo Prado, Obiano de Melo, entre outros. 

             Os integralistas alagoanos que eram escritores usavam o jornal A Província como fonte de sua propaganda, e informativos onde semanalmente eram publicados os acontecimentos nas reuniões ordinárias e solenes. O destaque referente ao município de São Luís do Quitunde deve ser dado à monografia de Abel Lima que foi publicada no periódico A Província. Este jornal, no dia 16 de julho de 1935, teve uma edição especial, em comemoração ao primeiro aniversário da sede daquela região. A documentação integralista se refere a esse texto como o estudo mais completo sobre esse município.

             Esse núcleo municipal estava dividido nas seguintes secretarias: Secretaria Municipal de Operação Política, que ficava sob o comando de Luiz Correia de Araújo; Secretaria Municipal de Propaganda, controlada por Josué Silva; Secretaria Municipal de Finanças, a qual tinha como secretário Alberto de Carvalho. Outros cargos eram ocupados na sede de São Luís, como o de secretário do Gabinete do Chefe, ocupado por José Lourenço de Monte, subcomandante do destacamento da Milícia, cujo encarregado era Cícero Feitosa. 



            No dia 31 de outubro de 1934, a AIB se expandiu para o povoado de Flexeiras. Nessa data foi fundado um núcleo distrital; a chefia desse núcleo ficou com Jayro Souza. Além de Flexeiras, Abel Lima conduziu uma bandeira para a cidade de Barra de Santo Antônio, onde foi realizado um comício pelos integralistas com o objetivo de atrair seguidores ao credo do Sigma naquela região. Outra cidade visitada pelos integralistas liderados por Abel Lima foi Passo do Camaragibe, município vizinho que também contou com a realização dos comícios integralistas.
            Fica evidente que o núcleo municipal de São Luís do Quitunde era o ponto de influência dos municípios vizinhos, a saber: Flexeiras, Barra de Santo Antônio e Passo do Camaragibe. No relatório anual à direção do partido, o chefe municipal afirmou que esses municípios vizinhos eram constantemente visitados pelos integralistas de São Luiz, afim de recrutar novos integrantes para seu grupo.
            As reuniões ocorriam na sede do núcleo e tinham o caráter de ordinárias, porém entre 1934 e 1935 foram realizadas sete sessões solenes em virtude dos seguintes acontecimentos: instalação do núcleo de São Luís do Quitunde, realização do congresso de Petrópolis, colocação na sede do núcleo central do retrato do chefe nacional, comemoração da data de descobrimento do Brasil, hasteamento da bandeira do Sigma, comemoração do aniversário de um ano do núcleo, festividade de comemoração da data de Independência do Brasil e a comemoração do terceiro aniversário do lançamento do Manifesto de Outubro de 1932. Outra sessão solene ocorreu no período das festas juninas, destinada à festividade para as pessoas carentes e à arrecadação de donativos. Essas festas eram uma maneira de expandir os ideais do Sigma, transformando a festa num ambiente político.      
       Outro modo de descontração encontrado para propagar os ideias do integralismo era a atividade esportiva. O integralismo tinha um modelo específico para a atividade física, e os núcleos se apropriavam de alguns espaços para exercer essa preparação. Em São Luís do Quitunde o núcleo possuía um campo para a realização de “cultura física”, que media 150 metros de comprimento por 85 metros de largura. Nesse mesmo campo se encontrava delineado um campo de futebol.     
 


            A região de São Luís do Quitunde desde a sua exploração pelos holandeses, ainda no século XVII, teve sua economia baseada na cana-de-açúcar. Em 1934 os integralistas tentaram introduzir um novo produto na agricultura do município, o algodão. “A fim de introduzir no município a nova cultura, o núcleo conseguiu da inspetoria agrícola, de Maceió, duas toneladas de sementes selecionadas de algodoeiro e as distribuiu gratuitamente entre os agricultores dessa zona” (RELATÓRIO ANUAL DO CM, São Luís do Quitunde, 10 de novembro de 1935, p. 3). Possivelmente, a ideia de plantar algodão no município estivesse ligada ao surto industrial ocorrido na década de 1930. Alagoas tinha em seu centro industrial grandes fábricas têxteis que precisariam ser abastecidas e que importavam parte dessa matéria-prima de outros estados. Assim, essa iniciativa poderia reduzir os custos para esses empresários, como também garantir uma nova renda para essas famílias.
            No mesmo ano do levante comunista liderado por Prestes, os integralistas de São Luís do Quitunde contavam com 180 inscritos; desses, 161 eram efetivos. O grupo se dividia em: 16 do núcleo distrital de Flexeiras, que ficava sob a jurisdição desse núcleo; 36 eram representantes do departamento feminino, 28 de ambos os sexos eram da juventude integralista, e 78 eram integralistas. Porém, nesse número existiam as pendências: 13 integralistas excluídos, cinco mudaram de residência e um faleceu. Esses números mostram uma grandeza considerável no município, o que lhe conferia boas projeções eleitorais.                       

        O município contava com um número pequeno de eleitores. Em consulta ao cartório eleitoral, os integralistas identificaram 860 votantes. Por essa razão, o núcleo municipal organizou o alistamento eleitoral, e para aumentar o número de votantes em nome da AIB desenvolveu o trabalho de alfabetização de adultos. Nas eleições municipais de 14 de outubro de 1934, a legenda integralista foi sufragada com 78 votos. Tendo em vista que o coeficiente eleitoral para ter representantes municipais ficava entre 60 e 70, a AIB obteve naquele município uma relevante vitória eleitoral. Os nomes selecionados para representar a região no Conselho Municipal foram: José Lourenço de Monte (industrial), Luiz Raposo de Araújo (comerciante), Josué Tabira Silva (funcionário público), Virgílio Xavier (comerciante), Argentina Rios, Alberto de Carvalho (comerciante), Jayro Souza (farmacêutico), Mario Barreto (agricultor), José Erasmo (artista) e José Arthur Souto (administrador de estradas). 



Uma coisa importante a se observar é que a legenda integralista do município era formada em sua maioria por membros da classe média urbana, mesmo tendo a classe agrária dos canavieiros como dominante nessa região. Isso demonstra uma representação clara dos ideais integralistas, que enxergavam na classe média urbana o grupo social da mudança. A pretensão para as eleições de 1934 era eleger um ou dois vereadores, e essa meta foi alcançada com a eleição de Luiz Raposo de Araújo, em 12 de dezembro de 1935.
            Na solenidade de comemoração de um ano do núcleo integralista em São Luís do Quitunde, além das atividades festivas, fez-se também um momento de reflexão sobre a sociedade brasileira, com fortes críticas desferidas à “Revolução” de 1930. Usando da palavra, o titular da Secretaria Municipal de Operação Política (SMOP), Luiz Correia de Araújo, afirmou que o movimento liderado por Vargas não representou uma revolução, nem se podia distinguir 1930 da proclamação da República em 1889. Para ele não existia diferença entre esses dois movimentos, a não ser quanto ao período cronológico. Asseverou que a solução para o problema brasileiro seria o integralismo, por conter o ideário político que resgataria a República brasileira dos falsos ideais da Revolução Francesa que teriam originado a falida democracia liberal. Desta maneira, estaria nas mãos dos integralistas a verdadeira transformação da sociedade brasileira.

             A Secretaria de Assistência Social era para os integralistas um dispositivo para a aproximação do movimento com a comunidade, e em São Luís do Quitunde essa secretaria não poderia ficar de fora da grande engrenagem integralista. Além das festividades para a distribuição de donativos, como o “Natal Para os Pobres” e o “São João Pobre”, a SMAS tinha como um dos principais trabalhos a distribuição gratuita de medicamentos e a disponibilização de consultas médicas para os necessitados. No município esse trabalho era realizado pelo clínico pernambucano Dr. André Sampaio, que em 1935 prestou assistência médica gratuita para a população carente daquela cidade nos meses de setembro e outubro. Ainda no mês de setembro foram despachados gratuitamente 365 remédios para abastecer famílias pobres da região. As medidas populistas da AIB davam a ela um sentido de caridade e bondade cristã; assim, os defensores do Sigma apareciam para a sociedade como figuras de auxílio para os desesperados.           

            A cidade do Pilar, banhada pela lagoa Manguaba e terra do escritor Arthur Ramos, um dos setores do polo industrial têxtil alagoano, também contava com a presença da AIB. A fundação desse núcleo ocorreu no dia 2 de março de 1934; o chefe provincial interino, Dr. Carlos Gomes de Barros, acompanhado de 27 integralistas liderou a Bandeira de inauguração da nova sede municipal. A cidade recebeu os integralistas com festa; foguetes espocavam no céu e a sirene do cinema onde seria realizada a cerimônia anunciava a chegada dos camisas-verdes. O cinema se encontrava lotado de pessoas de diversas classes sociais que assistiram à cerimônia. O chefe provincial interino abriu as atividades do recém-criado núcleo e logo depois passou a palavra para o companheiro Expedito Farias Costa, que fez a apresentação da Bandeira ao povo pilarense. O discurso do chefe provincial contou com incisivas palavras que revelavam a trajetória política da AIB. 

            O segundo a discursar nessa solenidade foi o chefe da seção universitária, Dr. Afrânio Lages, que fez uma conferência em torno do corporativismo e da realidade brasileira. A seguir, Arnóbio Graça fez uma belíssima conferência acerca da doutrina integralista. Um dos momentos de destaque da solenidade deu-se após a leitura da carta do chefe nacional, que dizia: “Companheiros de Alagoas, no momento grandioso da instalação do 1º Congresso Integralista Brasileiro de cuja mesa faz parte de forma honrosa o vosso chefe provincial, transmito a vocês o grande apreço que tenho por todos” (CARTA DE PLÍNIO SALGADO AO CP, 28 de fevereiro de 1934, p. 1). 

            Antes de terminar a seção, o chefe provincial, Dr. Carlos Gomes de Barros, declarou aberto o núcleo municipal do Pilar. Em seguida nomeou a comissão organizadora destinada a encaminhar os trabalhos do integralismo naquele município. Essa comissão contava com os seguintes membros: Francisco Salles de Luna tinha o cargo de chefe municipal; Expedito Farias Costa era o secretário; José Xavier Barbosa de Araújo, o tesoureiro. Após isso, foram feitas as saudações ao chefe nacional, ao chefe provincial e ao povo de Pilar.          
            Os integralistas aproveitaram o tempo na cidade do Pilar para fazer uma visita ao semanário A Ordem, jornal de apoio aos integralistas que tinha oficina naquela cidade. O núcleo municipal do Pilar, mesmo estando num campo propício para organizar um bom número de trabalhadores, não obteve tanto sucesso como em outras regiões. Antes de a AIB entrar na ilegalidade, os integralistas pilarenses já tinham se dissipado e o núcleo havia sido extinto.


            Outros núcleos também marcaram a história da AIB em Alagoas e fizeram desse estado nordestino um grande polo de influência integralista. Em 1935, Manuel de Barros escreveu para o chefe provincial Afrânio Lages: “De conformidade ao que combinamos aí, pretendemos ir ao Pilar na próxima quinta-feira, 21, passando por Atalaia a fim de ali doutrinar um pouco, para que se possa inaugurar o núcleo o mais breve possível” (CARTA DO CM DE SANTA LUZIA DO NORTE AO CP, 17 de junho de 1935). A ideia era espalhar os ideais integralistas se não por todo o estado, pelo menos na maior parte dele. Assim, em 1937, antes da instauração da política repressora do Estado Novo, o Alagoas possuía 29 municípios com a presença integralista e um número total de 3.621 inscritos.
      O núcleo de São José da Lage contava com 510 inscritos, 430 ativos. O núcleo da capital era o que possuía o maior número de inscritos, 977, porém quando essa avaliação era feita com os participantes ativos esse número caía para 200. Serra Grande era outro núcleo municipal com um forte efetivo: 524 inscritos, sendo 360 ativos. Seu chefe municipal interino, Dr. Carlos Pinheiro Lyra, comandava um núcleo que chegou a fazer comícios para mais de 500 pessoas nas praças dessa região. Os números de participantes nas atividades do núcleo de Serra Grande impressionam, pois parece não existirem atividades de pequeno porte naquela localidade. Em julho de 1935 ocorreu uma sessão solene no cinema dessa localidade que contou com a presença de 400 ouvintes. Esses eventos pretendiam movimentar a cidade e atrair a atenção para os integralistas e seus discursos patrióticos.

            É importante ressaltar que esse núcleo em 1935 tinha um número de participantes inscritos inferior a 100. Segundo o mesmo relatório, esse grupo era formado por 64 membros, dos quais cinco teriam sido expulsos e quatro eram ausentes; sobravam, portanto, 55, sendo 15 do sexo feminino, quatro plinianos e dois aspirantes a integralistas. Assim, a maior parte dos ouvintes das atividades integralistas naquele município em 1935 era de simpatizantes, curiosos e admiradores do movimento. Posteriormente, parte desses homens e mulheres migrou para as fileiras integralistas.

2 comentários:

  1. Que maravilha receber essa informação. O município de São Luis do Quitunde merece uma sacudida histórica. Quantas inforamções foram negadas a essa comunidade. Parabenizo o historiador Gustavo Neri e ao Mestre Sávio Almeida pela contribuição e divulgação desses fatos, até agora desconhecidos por muitos.

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  2. Ótimo! Queria saber se este texto "os núcleos integralistas..." faz parte de um artigo ou relatório de pesquisa.Gostaria de ter acesso à fonte para pesquisar mais informações sobre a ação integralista e a educação.

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