Nosso objetivo é contribuir para uma boa discussão sobre Alagoas.
A administração pode discordar, no todo ou em parte, do que é dito no texto. O importante é que a posição do autor seja discutida.
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Dois dedos de prosa
Luiz Sávio de Almeida
Alagoas vem se beneficiando do aparecimento de uma nova
geração de pesquisadores que merece todo
o nosso respeito; são pessoas sérias, meticulosas, inteligentes e
procuram contribuir com a discussão de nosso processo histórico. Muitos
revisitam tema antigos; muitos procuraram temas novos como Gustavo Neri, que
resolveu escrever sua dissertação de mestrado sobre o integralismo em Alagoas,
um tema a bem dizer virgem.
Ao que me consta, sobre o tema, apareceram apenas dois artigos meus, publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas resultado de meras notas por mim coletadas quando discutia comigo mesmo, qual o tema que deveria ser aproveitado em meu doutoramento. Terminei indo para o século XIX.
Gustavo Neri trouxe um belo texto, uma excelente discussão sobre a vida alagoana na década de trinta e é uma honra para Campus, poder publicar parte do material que ele produziu; trata-se de uma adaptação que sairá em quatro números de Campus.
Tomara que alguém prossiga com esta história, produzindo sobre os reagrupamentos que os integralistas tiveram em Alagoas.
Ao que me consta, sobre o tema, apareceram apenas dois artigos meus, publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas resultado de meras notas por mim coletadas quando discutia comigo mesmo, qual o tema que deveria ser aproveitado em meu doutoramento. Terminei indo para o século XIX.
Gustavo Neri trouxe um belo texto, uma excelente discussão sobre a vida alagoana na década de trinta e é uma honra para Campus, poder publicar parte do material que ele produziu; trata-se de uma adaptação que sairá em quatro números de Campus.
Tomara que alguém prossiga com esta história, produzindo sobre os reagrupamentos que os integralistas tiveram em Alagoas.
Jatiúca, janeiro de 2015
Gustavo Neri: Licenciado em História pela Universidade
Federal de Alagoas – UFAL, Mestre em História pela Universidade Federal de
Alagoas- UFAL, Professor de História e História da Arte do Ensino Médio,
atualmente lecionando no Colégio Rosalvo Ribeiro dos Santos, Autor do Artigo: A
Indústria Têxtil, O Decreto Nº. 19.739 e a Legislação Trabalhista, in. A
Indústria Têxtil, a classe operária e o PCB em Alagoas. Org.; Alberto Saldanha.
Alagoas
foi “prestigiada” com a presença integralista a partir de 1933, depois da
fundação do núcleo provincial, porém era preciso espalhar-se por todo o estado,
para assim cobrir o maior número possível da Terra dos Marechais com o verde
integralista. Para isso, os núcleos municipais foram fundamentais, e entre as
várias sedes integralistas podemos destacar um desses núcleos municipais, o de
São Luís do Quitunde. Essas terras que tinham sido habitadas por índios e
exploradas pelos holandeses foram, na década de 1930, cenário das atividades
integralistas em Alagoas.
Em uma festiva solenidade na cidade
de São Luís do Quitunde, Afrânio Lages com mais 27 companheiros, entre
secretários e milicianos, conduziram a sessão de inauguração do núcleo
municipal de São Luís do Quitunde, e assim, em 19 de junho de 1934, a AIB
chegava oficialmente a essa cidade. A sessão de instalação do núcleo municipal
ocorreu no prédio do Cineteatro São Luís. A sede do interior alagoano já contou
com a inscrição de 13 membros no dia de sua inauguração; todos fizeram o
juramento ao chefe nacional. As reuniões eram realizadas semanalmente, e o dia
escolhido para tais encontros era o domingo, a partir das 19h30. A disciplina
dos integralistas pode ser constatada pela seguinte observação: “Até hoje,
apenas em dois domingos não foram realizadas as sessões previstas” (RELATÓRIO
DO CHEFE MUNICIPAL, São Luís do Quitunde, 23 de fevereiro de 1935, p. 1).
Após
um ano de existência, o núcleo de São Luís do Quitunde contava com 83
integralistas registrados em sua sede. O número de camisas-verdes na cidade se
mostrava bem relevante e seu ingresso no movimento se deu da seguinte forma: no
mês de julho inscreveram-se 28 pessoas; em agosto o número chegou a 21 novos
membros; outubro contou com seis; em novembro, um acréscimo de 14 novos
membros; porém em dezembro e janeiro não ocorreu nenhuma nova inscrição. A
diretoria do Núcleo do município atribuiu tal fato às propagandas negativas
feitas por adversários do movimento integralista que pretendiam enfraquecer os
seguidores do Sigma para as eleições de outubro de 1935.
Em
novembro do mesmo ano, esse núcleo já contava com 180 inscritos. A chefia do
núcleo de São Luís ficou sob os cuidados do Sr. Abel Lima, que ocupava o cargo
desde a fundação da sede municipal. De 19 de dezembro de 1934 até 10 de
fevereiro de 1935, essa chefia esteve nas mãos de José Carneiro, pois Abel Lima
teve de se afastar do cargo. Em 1935 o núcleo não apresentava uma condição
financeira negativa, o que permitiu saldar todas as dívidas referentes às
compras de mobílias para a sede.
Por se tratar de um núcleo numa
cidade rural, ressalta a sua diretoria o seguinte: “Sendo o núcleo composto, em
sua maioria, de pessoas de humilde condição social, julgamos estar a mesma em
situação financeira que não merece censura, embora tenhamos a observar que
algumas despesas efetuadas nos primeiros meses de sua fundação ocorreram por
conta de um dos companheiros” (RELATÓRIO DO CHEFE MUNICIPAL, São Luís do
Quitunde, 23 de fevereiro de 1935, p. 2). O núcleo se encontrava com a receita
de 5:083$000 e tinha despesas que somavam 5:036$000, verificando-se assim um
saldo de 47$000. Mesmo assim, Abel Lima em 24 de outubro de 1934 escreve ao
SDOP, mais exatamente, ao Sr. Carloman Carneiro, sobre as dificuldades que o
núcleo vinha encontrando para custear algumas despesas com material de
propaganda e auxílio financeiro na campanha integralista.
A
propaganda integralista no município era intensa; só no primeiro ano de
existência desse núcleo foram organizados três comícios e duas bandeiras que
visitaram povoados de São Luís do Quitunde. Além dos comícios e das bandeiras,
a propaganda integralista era efetuada através da panfletagem realizada nas
ruas. Os desfiles periódicos pela cidade também eram uma forma de apresentar ao
cidadão daquela região quem eram os integralistas, a força do movimento e seus
ideais patrióticos e cristãos. Foi preciso muito trabalho para empolgar o povo
do município com a ótica integralista, pois os defensores do Sigma não tiveram
o apoio das elites locais.
Ao se perceber que os pequenos
trabalhadores, dependentes desses grandes senhores, não se aproximariam do
“Ideal Verde” sem certo fervor na sociedade, foram organizados comícios, as
marchas integralistas, os trabalhos de assistência social, tudo com o intuito
de promover o movimento na região. Em alguns casos essas atividades de
apresentação do movimento integralista eram realizadas de forma muito simples;
um exemplo disso ocorreu no município vizinho, Passo do Camaragibe, onde três
integralistas do núcleo de São Luís foram espontaneamente a bater de porta em
porta, distribuindo panfletos, boletins e convidando o povo a assistir a um dos
rapazes falar. A sociedade respondeu ao chamado, e o jovem discursou por
algumas horas, em cima do coreto da praça da Matriz, para uma multidão.
O Chefe Municipal salienta o fato
de que o núcleo se encontra numa situação estável, porém faz uma ressalva
quanto aos inimigos do integralismo na cidade: “Os nossos inimigos reconhecem
que somos verdadeiramente idealistas e se espantam da nossa vitória, apesar da
campanha derrotista, dos coronéis capitalistas e dos comunistas.”(CARTA DO CM
PARA A SDOP, São Luís do Quitunde, 24 de outubro de 1934, p. 1).
Mas
em 1935 o núcleo municipal liderado por Abel Lima não estava tendo apenas
experiências positivas, pois o relatório anual dessa sede menciona alguns
problemas de indisciplina entre companheiros integralistas. A solução para
casos de indisciplina entre os camisas-verdes era radical, pois, dependendo do
grau de infração, o sujeito poderia ser afastado ou até mesmo expulso do movimento.
Parece que essa segunda opção era a que pretendia utilizar o chefe municipal a
seus companheiros infratores, já que, naquele ano consta no relatórios alguns
casos de exclusão.
Uma
das metas do núcleo nacional era aumentar o número de eleitores para a AIB, e
para isso era aconselhada aos núcleos provinciais e municipais a criação de
escolas de alfabetização para adultos. Seguindo essa ordem, em São Luís do
Quitunde havia uma escola de alfabetização para adultos, comandada por duas
mulheres integralistas, provavelmente representantes do Departamento Municipal
Feminino. A escola primária contava com uma frequência de alunos que oscilava
entre vinte e trinta pessoas. Além disso, o núcleo municipal contava ainda com
uma biblioteca integralista − apesar de pequena, com apenas 36 volumes −, onde
poderiam ser encontrados materiais bibliográficos para a instrução de novos
membros sobre os ideais do Sigma. Entre essas obras encontravam-se obras de
Plínio Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso, Custódio Viveiros, Affonso Arino
de Mello Franco, Eduardo Prado, Obiano de Melo, entre outros.
Os integralistas alagoanos que eram
escritores usavam o jornal A Província
como fonte de sua propaganda, e informativos onde semanalmente eram publicados
os acontecimentos nas reuniões ordinárias e solenes. O destaque referente ao
município de São Luís do Quitunde deve ser dado à monografia de Abel Lima que
foi publicada no periódico A Província.
Este jornal, no dia 16 de julho de 1935, teve uma edição especial, em comemoração
ao primeiro aniversário da sede daquela região. A documentação integralista se
refere a esse texto como o estudo mais completo sobre esse município.
Esse núcleo municipal estava dividido nas
seguintes secretarias: Secretaria Municipal de Operação Política, que ficava
sob o comando de Luiz Correia de Araújo; Secretaria Municipal de Propaganda,
controlada por Josué Silva; Secretaria Municipal de Finanças, a qual tinha como
secretário Alberto de Carvalho. Outros cargos eram ocupados na sede de São
Luís, como o de secretário do Gabinete do Chefe, ocupado por José Lourenço de
Monte, subcomandante do destacamento da Milícia, cujo encarregado era Cícero
Feitosa.
No dia 31 de outubro de 1934, a AIB
se expandiu para o povoado de Flexeiras. Nessa data foi fundado um núcleo
distrital; a chefia desse núcleo ficou com Jayro Souza. Além de Flexeiras, Abel
Lima conduziu uma bandeira para a cidade de Barra de Santo Antônio, onde foi
realizado um comício pelos integralistas com o objetivo de atrair seguidores ao
credo do Sigma naquela região. Outra cidade visitada pelos integralistas
liderados por Abel Lima foi Passo do Camaragibe, município vizinho que também
contou com a realização dos comícios integralistas.
Fica evidente que o núcleo
municipal de São Luís do Quitunde era o ponto de influência dos municípios
vizinhos, a saber: Flexeiras, Barra de Santo Antônio e Passo do Camaragibe. No
relatório anual à direção do partido, o chefe municipal afirmou que esses
municípios vizinhos eram constantemente visitados pelos integralistas de São
Luiz, afim de recrutar novos integrantes para seu grupo.
As
reuniões ocorriam na sede do núcleo e tinham o caráter de ordinárias, porém
entre 1934 e 1935 foram realizadas sete sessões solenes em virtude dos
seguintes acontecimentos: instalação do núcleo de São Luís do Quitunde,
realização do congresso de Petrópolis, colocação na sede do núcleo central do
retrato do chefe nacional, comemoração da data de descobrimento do Brasil,
hasteamento da bandeira do Sigma, comemoração do aniversário de um ano do
núcleo, festividade de comemoração da data de Independência do Brasil e a
comemoração do terceiro aniversário do lançamento do Manifesto de Outubro de
1932. Outra sessão solene ocorreu no período das festas juninas, destinada à
festividade para as pessoas carentes e à arrecadação de donativos. Essas festas
eram uma maneira de expandir os ideais do Sigma, transformando a festa num
ambiente político.
Outro modo de descontração
encontrado para propagar os ideias do integralismo era a atividade esportiva. O
integralismo tinha um modelo específico para a atividade física, e os núcleos
se apropriavam de alguns espaços para exercer essa preparação. Em São Luís do
Quitunde o núcleo possuía um campo para a realização de “cultura física”, que
media 150 metros de comprimento por 85 metros de largura. Nesse mesmo campo se
encontrava delineado um campo de futebol.
A
região de São Luís do Quitunde desde a sua exploração pelos holandeses, ainda
no século XVII, teve sua economia baseada na cana-de-açúcar. Em 1934 os
integralistas tentaram introduzir um novo produto na agricultura do município,
o algodão. “A fim de introduzir no município a nova cultura, o núcleo conseguiu
da inspetoria agrícola, de Maceió, duas toneladas de sementes selecionadas de
algodoeiro e as distribuiu gratuitamente entre os agricultores dessa zona”
(RELATÓRIO
ANUAL DO CM, São Luís do Quitunde, 10 de novembro de 1935, p. 3).
Possivelmente, a ideia de plantar algodão no município estivesse ligada ao
surto industrial ocorrido na década de 1930. Alagoas tinha em seu centro
industrial grandes fábricas têxteis que precisariam ser abastecidas e que
importavam parte dessa matéria-prima de outros estados. Assim, essa iniciativa
poderia reduzir os custos para esses empresários, como também garantir uma nova
renda para essas famílias.
No mesmo ano do levante comunista
liderado por Prestes, os integralistas de São Luís do Quitunde contavam com 180
inscritos; desses, 161 eram efetivos. O grupo se dividia em: 16 do núcleo
distrital de Flexeiras, que ficava sob a jurisdição desse núcleo; 36 eram
representantes do departamento feminino, 28 de ambos os sexos eram da juventude
integralista, e 78 eram integralistas. Porém, nesse número existiam as
pendências: 13 integralistas excluídos, cinco mudaram de residência e um
faleceu. Esses números mostram uma grandeza considerável no município, o que
lhe conferia boas projeções eleitorais.
O município contava com um número pequeno de
eleitores. Em consulta ao cartório eleitoral, os integralistas identificaram
860 votantes. Por essa razão, o núcleo municipal organizou o alistamento
eleitoral, e para aumentar o número de votantes em nome da AIB desenvolveu o
trabalho de alfabetização de adultos. Nas eleições municipais de 14 de outubro
de 1934, a legenda integralista foi sufragada com 78 votos. Tendo em vista que
o coeficiente eleitoral para ter representantes municipais ficava entre 60 e
70, a AIB obteve naquele município uma relevante vitória eleitoral. Os nomes
selecionados para representar a região no Conselho Municipal foram: José
Lourenço de Monte (industrial), Luiz Raposo de Araújo (comerciante), Josué
Tabira Silva (funcionário público), Virgílio Xavier (comerciante), Argentina
Rios, Alberto de Carvalho (comerciante), Jayro Souza (farmacêutico), Mario
Barreto (agricultor), José Erasmo (artista) e José Arthur Souto (administrador
de estradas).
Uma
coisa importante a se observar é que a legenda integralista do município era
formada em sua maioria por membros da classe média urbana, mesmo tendo a classe
agrária dos canavieiros como dominante nessa região. Isso demonstra uma
representação clara dos ideais integralistas, que enxergavam na classe média
urbana o grupo social da mudança. A pretensão para as eleições de 1934 era
eleger um ou dois vereadores, e essa meta foi alcançada com a eleição de Luiz
Raposo de Araújo, em 12 de dezembro de 1935.
Na
solenidade de comemoração de um ano do núcleo integralista em São Luís do
Quitunde, além das atividades festivas, fez-se também um momento de reflexão
sobre a sociedade brasileira, com fortes críticas desferidas à “Revolução” de
1930. Usando da palavra, o titular da Secretaria Municipal de Operação Política
(SMOP), Luiz Correia de Araújo, afirmou que o movimento liderado por Vargas não
representou uma revolução, nem se podia distinguir 1930 da proclamação da
República em 1889. Para ele não existia diferença entre esses dois movimentos,
a não ser quanto ao período cronológico. Asseverou que a solução para o
problema brasileiro seria o integralismo, por conter o ideário político que resgataria
a República brasileira dos falsos ideais da Revolução Francesa que teriam
originado a falida democracia liberal. Desta maneira, estaria nas mãos dos
integralistas a verdadeira transformação da sociedade brasileira.
A Secretaria de Assistência Social era para os
integralistas um dispositivo para a aproximação do movimento com a comunidade,
e em São Luís do Quitunde essa secretaria não poderia ficar de fora da grande
engrenagem integralista. Além das festividades para a distribuição de
donativos, como o “Natal Para os Pobres” e o “São João Pobre”, a SMAS tinha
como um dos principais trabalhos a distribuição gratuita de medicamentos e a
disponibilização de consultas médicas para os necessitados. No município esse
trabalho era realizado pelo clínico pernambucano Dr. André Sampaio, que em 1935
prestou assistência médica gratuita para a população carente daquela cidade nos
meses de setembro e outubro. Ainda no mês de setembro foram despachados
gratuitamente 365 remédios para abastecer famílias pobres da região. As medidas
populistas da AIB davam a ela um sentido de caridade e bondade cristã; assim,
os defensores do Sigma apareciam para a sociedade como figuras de auxílio para
os desesperados.
A
cidade do Pilar, banhada pela lagoa Manguaba e terra do escritor Arthur Ramos,
um dos setores do polo industrial têxtil alagoano, também contava com a
presença da AIB. A fundação desse núcleo ocorreu no dia 2 de março de 1934; o
chefe provincial interino, Dr. Carlos Gomes de Barros, acompanhado de 27 integralistas
liderou a Bandeira de inauguração da nova sede municipal. A cidade recebeu os
integralistas com festa; foguetes espocavam no céu e a sirene do cinema onde
seria realizada a cerimônia anunciava a chegada dos camisas-verdes. O cinema se
encontrava lotado de pessoas de diversas classes sociais que assistiram à
cerimônia. O chefe provincial interino abriu as atividades do recém-criado
núcleo e logo depois passou a palavra para o companheiro Expedito Farias Costa,
que fez a apresentação da Bandeira ao povo pilarense. O discurso do chefe
provincial contou com incisivas palavras que revelavam a trajetória política da
AIB.
O
segundo a discursar nessa solenidade foi o chefe da seção universitária, Dr.
Afrânio Lages, que fez uma conferência em torno do corporativismo e da
realidade brasileira. A seguir, Arnóbio Graça fez uma belíssima conferência
acerca da doutrina integralista. Um dos momentos de destaque da solenidade
deu-se após a leitura da carta do chefe nacional, que dizia: “Companheiros de
Alagoas, no momento grandioso da instalação do 1º Congresso Integralista
Brasileiro de cuja mesa faz parte de forma honrosa o vosso chefe provincial,
transmito a vocês o grande apreço que tenho por todos” (CARTA DE PLÍNIO SALGADO
AO CP, 28 de fevereiro de 1934, p. 1).
Antes de terminar a seção, o chefe
provincial, Dr. Carlos Gomes de Barros, declarou aberto o núcleo municipal do
Pilar. Em seguida nomeou a comissão organizadora destinada a encaminhar os
trabalhos do integralismo naquele município. Essa comissão contava com os
seguintes membros: Francisco Salles de Luna tinha o cargo de chefe municipal;
Expedito Farias Costa era o secretário; José Xavier Barbosa de Araújo, o
tesoureiro. Após isso, foram feitas as saudações ao chefe nacional, ao chefe
provincial e ao povo de Pilar.
Os integralistas aproveitaram o
tempo na cidade do Pilar para fazer uma visita ao semanário A Ordem, jornal de apoio aos
integralistas que tinha oficina naquela cidade. O núcleo municipal do Pilar,
mesmo estando num campo propício para organizar um bom número de trabalhadores,
não obteve tanto sucesso como em outras regiões. Antes de a AIB entrar na
ilegalidade, os integralistas pilarenses já tinham se dissipado e o núcleo
havia sido extinto.
Outros
núcleos também marcaram a história da AIB em Alagoas e fizeram desse estado
nordestino um grande polo de influência integralista. Em 1935, Manuel de Barros
escreveu para o chefe provincial Afrânio Lages: “De conformidade ao que
combinamos aí, pretendemos ir ao Pilar na próxima quinta-feira, 21, passando
por Atalaia a fim de ali doutrinar um pouco, para que se possa inaugurar o
núcleo o mais breve possível” (CARTA DO CM DE SANTA LUZIA DO NORTE AO CP, 17 de
junho de 1935). A ideia era espalhar os ideais integralistas se não por todo o
estado, pelo menos na maior parte dele. Assim, em 1937, antes da instauração da
política repressora do Estado Novo, o Alagoas possuía 29 municípios com a
presença integralista e um número total de 3.621 inscritos.
O
núcleo de São José da Lage contava com 510 inscritos, 430 ativos. O núcleo da
capital era o que possuía o maior número de inscritos, 977, porém quando essa
avaliação era feita com os participantes ativos esse número caía para 200.
Serra Grande era outro núcleo municipal com um forte efetivo: 524 inscritos,
sendo 360 ativos. Seu chefe municipal interino, Dr. Carlos Pinheiro Lyra,
comandava um núcleo que chegou a fazer comícios para mais de 500 pessoas nas
praças dessa região. Os números de participantes nas atividades do núcleo de
Serra Grande impressionam, pois parece não existirem atividades de pequeno
porte naquela localidade. Em julho de 1935 ocorreu uma sessão solene no cinema
dessa localidade que contou com a presença de 400 ouvintes. Esses eventos
pretendiam movimentar a cidade e atrair a atenção para os integralistas e seus
discursos patrióticos.
É
importante ressaltar que esse núcleo em 1935 tinha um número de participantes
inscritos inferior a 100. Segundo o mesmo relatório, esse grupo era formado por
64 membros, dos quais cinco teriam sido expulsos e quatro eram ausentes;
sobravam, portanto, 55, sendo 15 do sexo feminino, quatro plinianos e dois
aspirantes a integralistas. Assim, a maior parte dos ouvintes das atividades
integralistas naquele município em 1935 era de simpatizantes, curiosos e
admiradores do movimento. Posteriormente, parte desses homens e mulheres migrou
para as fileiras integralistas.
Alagoas
foi “prestigiada” com a presença integralista a partir de 1933, depois da
fundação do núcleo provincial, porém era preciso espalhar-se por todo o estado,
para assim cobrir o maior número possível da Terra dos Marechais com o verde
integralista. Para isso, os núcleos municipais foram fundamentais, e entre as
várias sedes integralistas podemos destacar um desses núcleos municipais, o de
São Luís do Quitunde. Essas terras que tinham sido habitadas por índios e
exploradas pelos holandeses foram, na década de 1930, cenário das atividades
integralistas em Alagoas.
Em uma festiva solenidade na cidade
de São Luís do Quitunde, Afrânio Lages com mais 27 companheiros, entre
secretários e milicianos, conduziram a sessão de inauguração do núcleo
municipal de São Luís do Quitunde, e assim, em 19 de junho de 1934, a AIB
chegava oficialmente a essa cidade. A sessão de instalação do núcleo municipal
ocorreu no prédio do Cineteatro São Luís. A sede do interior alagoano já contou
com a inscrição de 13 membros no dia de sua inauguração; todos fizeram o
juramento ao chefe nacional. As reuniões eram realizadas semanalmente, e o dia
escolhido para tais encontros era o domingo, a partir das 19h30. A disciplina
dos integralistas pode ser constatada pela seguinte observação: “Até hoje,
apenas em dois domingos não foram realizadas as sessões previstas” (RELATÓRIO
DO CHEFE MUNICIPAL, São Luís do Quitunde, 23 de fevereiro de 1935, p. 1).
Após
um ano de existência, o núcleo de São Luís do Quitunde contava com 83
integralistas registrados em sua sede. O número de camisas-verdes na cidade se
mostrava bem relevante e seu ingresso no movimento se deu da seguinte forma: no
mês de julho inscreveram-se 28 pessoas; em agosto o número chegou a 21 novos
membros; outubro contou com seis; em novembro, um acréscimo de 14 novos
membros; porém em dezembro e janeiro não ocorreu nenhuma nova inscrição. A
diretoria do Núcleo do município atribuiu tal fato às propagandas negativas
feitas por adversários do movimento integralista que pretendiam enfraquecer os
seguidores do Sigma para as eleições de outubro de 1935.
Em
novembro do mesmo ano, esse núcleo já contava com 180 inscritos. A chefia do
núcleo de São Luís ficou sob os cuidados do Sr. Abel Lima, que ocupava o cargo
desde a fundação da sede municipal. De 19 de dezembro de 1934 até 10 de
fevereiro de 1935, essa chefia esteve nas mãos de José Carneiro, pois Abel Lima
teve de se afastar do cargo. Em 1935 o núcleo não apresentava uma condição
financeira negativa, o que permitiu saldar todas as dívidas referentes às
compras de mobílias para a sede.
Por se tratar de um núcleo numa
cidade rural, ressalta a sua diretoria o seguinte: “Sendo o núcleo composto, em
sua maioria, de pessoas de humilde condição social, julgamos estar a mesma em
situação financeira que não merece censura, embora tenhamos a observar que
algumas despesas efetuadas nos primeiros meses de sua fundação ocorreram por
conta de um dos companheiros” (RELATÓRIO DO CHEFE MUNICIPAL, São Luís do
Quitunde, 23 de fevereiro de 1935, p. 2). O núcleo se encontrava com a receita
de 5:083$000 e tinha despesas que somavam 5:036$000, verificando-se assim um
saldo de 47$000. Mesmo assim, Abel Lima em 24 de outubro de 1934 escreve ao
SDOP, mais exatamente, ao Sr. Carloman Carneiro, sobre as dificuldades que o
núcleo vinha encontrando para custear algumas despesas com material de
propaganda e auxílio financeiro na campanha integralista.
A
propaganda integralista no município era intensa; só no primeiro ano de
existência desse núcleo foram organizados três comícios e duas bandeiras que
visitaram povoados de São Luís do Quitunde. Além dos comícios e das bandeiras,
a propaganda integralista era efetuada através da panfletagem realizada nas
ruas. Os desfiles periódicos pela cidade também eram uma forma de apresentar ao
cidadão daquela região quem eram os integralistas, a força do movimento e seus
ideais patrióticos e cristãos. Foi preciso muito trabalho para empolgar o povo
do município com a ótica integralista, pois os defensores do Sigma não tiveram
o apoio das elites locais.
Ao se perceber que os pequenos
trabalhadores, dependentes desses grandes senhores, não se aproximariam do
“Ideal Verde” sem certo fervor na sociedade, foram organizados comícios, as
marchas integralistas, os trabalhos de assistência social, tudo com o intuito
de promover o movimento na região. Em alguns casos essas atividades de
apresentação do movimento integralista eram realizadas de forma muito simples;
um exemplo disso ocorreu no município vizinho, Passo do Camaragibe, onde três
integralistas do núcleo de São Luís foram espontaneamente a bater de porta em
porta, distribuindo panfletos, boletins e convidando o povo a assistir a um dos
rapazes falar. A sociedade respondeu ao chamado, e o jovem discursou por
algumas horas, em cima do coreto da praça da Matriz, para uma multidão.
O Chefe Municipal salienta o fato
de que o núcleo se encontra numa situação estável, porém faz uma ressalva
quanto aos inimigos do integralismo na cidade: “Os nossos inimigos reconhecem
que somos verdadeiramente idealistas e se espantam da nossa vitória, apesar da
campanha derrotista, dos coronéis capitalistas e dos comunistas.”(CARTA DO CM
PARA A SDOP, São Luís do Quitunde, 24 de outubro de 1934, p. 1).
Mas
em 1935 o núcleo municipal liderado por Abel Lima não estava tendo apenas
experiências positivas, pois o relatório anual dessa sede menciona alguns
problemas de indisciplina entre companheiros integralistas. A solução para
casos de indisciplina entre os camisas-verdes era radical, pois, dependendo do
grau de infração, o sujeito poderia ser afastado ou até mesmo expulso do movimento.
Parece que essa segunda opção era a que pretendia utilizar o chefe municipal a
seus companheiros infratores, já que, naquele ano consta no relatórios alguns
casos de exclusão.
Uma
das metas do núcleo nacional era aumentar o número de eleitores para a AIB, e
para isso era aconselhada aos núcleos provinciais e municipais a criação de
escolas de alfabetização para adultos. Seguindo essa ordem, em São Luís do
Quitunde havia uma escola de alfabetização para adultos, comandada por duas
mulheres integralistas, provavelmente representantes do Departamento Municipal
Feminino. A escola primária contava com uma frequência de alunos que oscilava
entre vinte e trinta pessoas. Além disso, o núcleo municipal contava ainda com
uma biblioteca integralista − apesar de pequena, com apenas 36 volumes −, onde
poderiam ser encontrados materiais bibliográficos para a instrução de novos
membros sobre os ideais do Sigma. Entre essas obras encontravam-se obras de
Plínio Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso, Custódio Viveiros, Affonso Arino
de Mello Franco, Eduardo Prado, Obiano de Melo, entre outros.
Os integralistas alagoanos que eram
escritores usavam o jornal A Província
como fonte de sua propaganda, e informativos onde semanalmente eram publicados
os acontecimentos nas reuniões ordinárias e solenes. O destaque referente ao
município de São Luís do Quitunde deve ser dado à monografia de Abel Lima que
foi publicada no periódico A Província.
Este jornal, no dia 16 de julho de 1935, teve uma edição especial, em comemoração
ao primeiro aniversário da sede daquela região. A documentação integralista se
refere a esse texto como o estudo mais completo sobre esse município.
Esse núcleo municipal estava dividido nas
seguintes secretarias: Secretaria Municipal de Operação Política, que ficava
sob o comando de Luiz Correia de Araújo; Secretaria Municipal de Propaganda,
controlada por Josué Silva; Secretaria Municipal de Finanças, a qual tinha como
secretário Alberto de Carvalho. Outros cargos eram ocupados na sede de São
Luís, como o de secretário do Gabinete do Chefe, ocupado por José Lourenço de
Monte, subcomandante do destacamento da Milícia, cujo encarregado era Cícero
Feitosa.
No dia 31 de outubro de 1934, a AIB
se expandiu para o povoado de Flexeiras. Nessa data foi fundado um núcleo
distrital; a chefia desse núcleo ficou com Jayro Souza. Além de Flexeiras, Abel
Lima conduziu uma bandeira para a cidade de Barra de Santo Antônio, onde foi
realizado um comício pelos integralistas com o objetivo de atrair seguidores ao
credo do Sigma naquela região. Outra cidade visitada pelos integralistas
liderados por Abel Lima foi Passo do Camaragibe, município vizinho que também
contou com a realização dos comícios integralistas.
Fica evidente que o núcleo
municipal de São Luís do Quitunde era o ponto de influência dos municípios
vizinhos, a saber: Flexeiras, Barra de Santo Antônio e Passo do Camaragibe. No
relatório anual à direção do partido, o chefe municipal afirmou que esses
municípios vizinhos eram constantemente visitados pelos integralistas de São
Luiz, afim de recrutar novos integrantes para seu grupo.
As
reuniões ocorriam na sede do núcleo e tinham o caráter de ordinárias, porém
entre 1934 e 1935 foram realizadas sete sessões solenes em virtude dos
seguintes acontecimentos: instalação do núcleo de São Luís do Quitunde,
realização do congresso de Petrópolis, colocação na sede do núcleo central do
retrato do chefe nacional, comemoração da data de descobrimento do Brasil,
hasteamento da bandeira do Sigma, comemoração do aniversário de um ano do
núcleo, festividade de comemoração da data de Independência do Brasil e a
comemoração do terceiro aniversário do lançamento do Manifesto de Outubro de
1932. Outra sessão solene ocorreu no período das festas juninas, destinada à
festividade para as pessoas carentes e à arrecadação de donativos. Essas festas
eram uma maneira de expandir os ideais do Sigma, transformando a festa num
ambiente político.
Outro modo de descontração
encontrado para propagar os ideias do integralismo era a atividade esportiva. O
integralismo tinha um modelo específico para a atividade física, e os núcleos
se apropriavam de alguns espaços para exercer essa preparação. Em São Luís do
Quitunde o núcleo possuía um campo para a realização de “cultura física”, que
media 150 metros de comprimento por 85 metros de largura. Nesse mesmo campo se
encontrava delineado um campo de futebol.
A
região de São Luís do Quitunde desde a sua exploração pelos holandeses, ainda
no século XVII, teve sua economia baseada na cana-de-açúcar. Em 1934 os
integralistas tentaram introduzir um novo produto na agricultura do município,
o algodão. “A fim de introduzir no município a nova cultura, o núcleo conseguiu
da inspetoria agrícola, de Maceió, duas toneladas de sementes selecionadas de
algodoeiro e as distribuiu gratuitamente entre os agricultores dessa zona”
(RELATÓRIO
ANUAL DO CM, São Luís do Quitunde, 10 de novembro de 1935, p. 3).
Possivelmente, a ideia de plantar algodão no município estivesse ligada ao
surto industrial ocorrido na década de 1930. Alagoas tinha em seu centro
industrial grandes fábricas têxteis que precisariam ser abastecidas e que
importavam parte dessa matéria-prima de outros estados. Assim, essa iniciativa
poderia reduzir os custos para esses empresários, como também garantir uma nova
renda para essas famílias.
No mesmo ano do levante comunista
liderado por Prestes, os integralistas de São Luís do Quitunde contavam com 180
inscritos; desses, 161 eram efetivos. O grupo se dividia em: 16 do núcleo
distrital de Flexeiras, que ficava sob a jurisdição desse núcleo; 36 eram
representantes do departamento feminino, 28 de ambos os sexos eram da juventude
integralista, e 78 eram integralistas. Porém, nesse número existiam as
pendências: 13 integralistas excluídos, cinco mudaram de residência e um
faleceu. Esses números mostram uma grandeza considerável no município, o que
lhe conferia boas projeções eleitorais.
O município contava com um número pequeno de eleitores. Em consulta ao cartório eleitoral, os integralistas identificaram 860 votantes. Por essa razão, o núcleo municipal organizou o alistamento eleitoral, e para aumentar o número de votantes em nome da AIB desenvolveu o trabalho de alfabetização de adultos. Nas eleições municipais de 14 de outubro de 1934, a legenda integralista foi sufragada com 78 votos. Tendo em vista que o coeficiente eleitoral para ter representantes municipais ficava entre 60 e 70, a AIB obteve naquele município uma relevante vitória eleitoral. Os nomes selecionados para representar a região no Conselho Municipal foram: José Lourenço de Monte (industrial), Luiz Raposo de Araújo (comerciante), Josué Tabira Silva (funcionário público), Virgílio Xavier (comerciante), Argentina Rios, Alberto de Carvalho (comerciante), Jayro Souza (farmacêutico), Mario Barreto (agricultor), José Erasmo (artista) e José Arthur Souto (administrador de estradas).
Uma
coisa importante a se observar é que a legenda integralista do município era
formada em sua maioria por membros da classe média urbana, mesmo tendo a classe
agrária dos canavieiros como dominante nessa região. Isso demonstra uma
representação clara dos ideais integralistas, que enxergavam na classe média
urbana o grupo social da mudança. A pretensão para as eleições de 1934 era
eleger um ou dois vereadores, e essa meta foi alcançada com a eleição de Luiz
Raposo de Araújo, em 12 de dezembro de 1935.
Na
solenidade de comemoração de um ano do núcleo integralista em São Luís do
Quitunde, além das atividades festivas, fez-se também um momento de reflexão
sobre a sociedade brasileira, com fortes críticas desferidas à “Revolução” de
1930. Usando da palavra, o titular da Secretaria Municipal de Operação Política
(SMOP), Luiz Correia de Araújo, afirmou que o movimento liderado por Vargas não
representou uma revolução, nem se podia distinguir 1930 da proclamação da
República em 1889. Para ele não existia diferença entre esses dois movimentos,
a não ser quanto ao período cronológico. Asseverou que a solução para o
problema brasileiro seria o integralismo, por conter o ideário político que resgataria
a República brasileira dos falsos ideais da Revolução Francesa que teriam
originado a falida democracia liberal. Desta maneira, estaria nas mãos dos
integralistas a verdadeira transformação da sociedade brasileira.
A Secretaria de Assistência Social era para os
integralistas um dispositivo para a aproximação do movimento com a comunidade,
e em São Luís do Quitunde essa secretaria não poderia ficar de fora da grande
engrenagem integralista. Além das festividades para a distribuição de
donativos, como o “Natal Para os Pobres” e o “São João Pobre”, a SMAS tinha
como um dos principais trabalhos a distribuição gratuita de medicamentos e a
disponibilização de consultas médicas para os necessitados. No município esse
trabalho era realizado pelo clínico pernambucano Dr. André Sampaio, que em 1935
prestou assistência médica gratuita para a população carente daquela cidade nos
meses de setembro e outubro. Ainda no mês de setembro foram despachados
gratuitamente 365 remédios para abastecer famílias pobres da região. As medidas
populistas da AIB davam a ela um sentido de caridade e bondade cristã; assim,
os defensores do Sigma apareciam para a sociedade como figuras de auxílio para
os desesperados.
A
cidade do Pilar, banhada pela lagoa Manguaba e terra do escritor Arthur Ramos,
um dos setores do polo industrial têxtil alagoano, também contava com a
presença da AIB. A fundação desse núcleo ocorreu no dia 2 de março de 1934; o
chefe provincial interino, Dr. Carlos Gomes de Barros, acompanhado de 27 integralistas
liderou a Bandeira de inauguração da nova sede municipal. A cidade recebeu os
integralistas com festa; foguetes espocavam no céu e a sirene do cinema onde
seria realizada a cerimônia anunciava a chegada dos camisas-verdes. O cinema se
encontrava lotado de pessoas de diversas classes sociais que assistiram à
cerimônia. O chefe provincial interino abriu as atividades do recém-criado
núcleo e logo depois passou a palavra para o companheiro Expedito Farias Costa,
que fez a apresentação da Bandeira ao povo pilarense. O discurso do chefe
provincial contou com incisivas palavras que revelavam a trajetória política da
AIB.
O
segundo a discursar nessa solenidade foi o chefe da seção universitária, Dr.
Afrânio Lages, que fez uma conferência em torno do corporativismo e da
realidade brasileira. A seguir, Arnóbio Graça fez uma belíssima conferência
acerca da doutrina integralista. Um dos momentos de destaque da solenidade
deu-se após a leitura da carta do chefe nacional, que dizia: “Companheiros de
Alagoas, no momento grandioso da instalação do 1º Congresso Integralista
Brasileiro de cuja mesa faz parte de forma honrosa o vosso chefe provincial,
transmito a vocês o grande apreço que tenho por todos” (CARTA DE PLÍNIO SALGADO
AO CP, 28 de fevereiro de 1934, p. 1).
Antes de terminar a seção, o chefe
provincial, Dr. Carlos Gomes de Barros, declarou aberto o núcleo municipal do
Pilar. Em seguida nomeou a comissão organizadora destinada a encaminhar os
trabalhos do integralismo naquele município. Essa comissão contava com os
seguintes membros: Francisco Salles de Luna tinha o cargo de chefe municipal;
Expedito Farias Costa era o secretário; José Xavier Barbosa de Araújo, o
tesoureiro. Após isso, foram feitas as saudações ao chefe nacional, ao chefe
provincial e ao povo de Pilar.
Os integralistas aproveitaram o
tempo na cidade do Pilar para fazer uma visita ao semanário A Ordem, jornal de apoio aos
integralistas que tinha oficina naquela cidade. O núcleo municipal do Pilar,
mesmo estando num campo propício para organizar um bom número de trabalhadores,
não obteve tanto sucesso como em outras regiões. Antes de a AIB entrar na
ilegalidade, os integralistas pilarenses já tinham se dissipado e o núcleo
havia sido extinto.
Outros
núcleos também marcaram a história da AIB em Alagoas e fizeram desse estado
nordestino um grande polo de influência integralista. Em 1935, Manuel de Barros
escreveu para o chefe provincial Afrânio Lages: “De conformidade ao que
combinamos aí, pretendemos ir ao Pilar na próxima quinta-feira, 21, passando
por Atalaia a fim de ali doutrinar um pouco, para que se possa inaugurar o
núcleo o mais breve possível” (CARTA DO CM DE SANTA LUZIA DO NORTE AO CP, 17 de
junho de 1935). A ideia era espalhar os ideais integralistas se não por todo o
estado, pelo menos na maior parte dele. Assim, em 1937, antes da instauração da
política repressora do Estado Novo, o Alagoas possuía 29 municípios com a
presença integralista e um número total de 3.621 inscritos.
O
núcleo de São José da Lage contava com 510 inscritos, 430 ativos. O núcleo da
capital era o que possuía o maior número de inscritos, 977, porém quando essa
avaliação era feita com os participantes ativos esse número caía para 200.
Serra Grande era outro núcleo municipal com um forte efetivo: 524 inscritos,
sendo 360 ativos. Seu chefe municipal interino, Dr. Carlos Pinheiro Lyra,
comandava um núcleo que chegou a fazer comícios para mais de 500 pessoas nas
praças dessa região. Os números de participantes nas atividades do núcleo de
Serra Grande impressionam, pois parece não existirem atividades de pequeno
porte naquela localidade. Em julho de 1935 ocorreu uma sessão solene no cinema
dessa localidade que contou com a presença de 400 ouvintes. Esses eventos
pretendiam movimentar a cidade e atrair a atenção para os integralistas e seus
discursos patrióticos.
É
importante ressaltar que esse núcleo em 1935 tinha um número de participantes
inscritos inferior a 100. Segundo o mesmo relatório, esse grupo era formado por
64 membros, dos quais cinco teriam sido expulsos e quatro eram ausentes;
sobravam, portanto, 55, sendo 15 do sexo feminino, quatro plinianos e dois
aspirantes a integralistas. Assim, a maior parte dos ouvintes das atividades
integralistas naquele município em 1935 era de simpatizantes, curiosos e
admiradores do movimento. Posteriormente, parte desses homens e mulheres migrou
para as fileiras integralistas.
Que maravilha receber essa informação. O município de São Luis do Quitunde merece uma sacudida histórica. Quantas inforamções foram negadas a essa comunidade. Parabenizo o historiador Gustavo Neri e ao Mestre Sávio Almeida pela contribuição e divulgação desses fatos, até agora desconhecidos por muitos.
ResponderExcluirÓtimo! Queria saber se este texto "os núcleos integralistas..." faz parte de um artigo ou relatório de pesquisa.Gostaria de ter acesso à fonte para pesquisar mais informações sobre a ação integralista e a educação.
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