Esta matéria foi publicada em Campus, suplemento do jornal O Dia, editado em Maceió, nº 137, 11 a 17 de outubro de 2015
Urbanism. Capitalism. Urban space.
Urbanism. Capitalism. Urban space.
.
Bruna Mayla é graduanda em
Direito pela Universidade Federal de Alagoas e pesquisadora vinculada ao Núcleo
de Estudos em Direito Internacional e Meio Ambiente (NEDIMA). Atualmente
realiza estudos na área ambiental e urbanística.
“Espaço urbano”: nova moeda de troca do
capitalismo
Vivemos em uma sociedade dominada
pelo constante e acelerado fluxo de pessoas e de mercadorias, marcada pelo
consumismo e inserida no contexto do modo de produção capitalista. Mas o que
seria capitalismo e quais seriam os seus impactos no âmbito do espaço urbano? O
capitalismo é um processo histórico, intensificado entre os séculos XV e XVIII,
geralmente associado a um modo de produção e de exploração do homem pelo homem,
ou seja, um sistema em que uma classe social compra a força de trabalho de
outra classe social, transformando-lhe em mercadoria, com a finalidade de obter
o que chamamos de lucro. Para que este lucro seja aumentado, separa-se então o
trabalhador dos meios de produção, recursos naturais e da própria mercadoria produzida. Desse modo, como afirmam Lessa e Tonet (2011)
“a sociedade se converte em um enorme mercado e tudo passa a ser mercadoria”.
Desde os primórdios da
humanidade, a terra tem sido utilizada como meio de subsistência do homem, que
nela habitava, produzia e dela retirava seu sustento. Entretanto, com o
capitalismo ela transforma-se em um bem a ser alienado, ou seja, têm-se a terra
como “coisa” a ser comprada ou vendida, e no tocante ao Brasil, desde que foram
distribuídas as sesmarias, no século XVI, torna-se perceptível tal
possiblidade. Desta maneira, o processo de desenvolvimento capitalista com o
passar do tempo sai do campo para também alcançar as cidades, nas quais a terra
é substituída pelo “espaço urbano”: lugar de consumo e a ser consumido, como
afirma Lefebvre.
É esse “espaço” que integra os
circuitos de valorização do capital, seja por sua transformação em mercadoria
intercambiável, por seu parcelamento (por loteamento ou por verticalização),
ou por sua crescente inclusão nos circuitos de circulação do capital financeiro.
É nesse contexto que as cidades estratificam-se, fragmentam-se e dividem-se.
Cada vez mais organizadas em função da crescente especulação imobiliária, que
as estrutura de modo a atender os anseios das classes que exploram a renda dos
espaços urbanos. Como Harvey, acertadamente, afirma: “a qualidade de vida
urbana virou uma mercadoria. Há uma aura de liberdade de escolha de serviços,
lazer e cultura – desde que se tenha dinheiro para pagar”(2011).
Nesse processo, o “espaço
construído” e o solo criado de bens imóveis passam a ser “bens móveis”, que
circulam através dos títulos de propriedade que a cada momento podem ser
transformados em valor. Valor que aumenta na proporção das melhorias que são
realizadas no próprio bem ou no espaço ao seu redor, como no caso da construção
de shopping centers, empreendimentos de turismo e lazer, centros empresariais,
grandes condomínios, hotéis e flats. Nesse sentido, será o próprio Estado, com
fundamento no direito urbanístico e nas políticas urbanas, que visando atender
aos interesses das elites, realiza grandes operações de (re)arranjo espacial,
(re)criando “novos” espaços que sirvam à lógica da circulação do capital. Nesse
intuito não é incomum observar estratégias de “higienização” em certas
localidades, são os casos das tentativas de remoção da “Favela do Lixão” e da
recente remoção da comunidade tradicional da Vila de Pescadores do Jaraguá, na
qual os direitos à cidade e à moradia de uma coletividade foram subvertidos em
nome de direitos à paisagem e lazer de futuros ocupantes da orla do Jaraguá. É
assim, que se mantem a cíclica produção capitalista do espaço, que de comum há
a crescente segregação socioeconômica e cultural da cidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário