Este material foi publicado em O Dia/Campus
Eduardo é professor universitário, arquiteto e artista plástico
Uma pequena reflexão
Eduardo Bastos
Hoje, 21 de abril, feriado, resolvi ir ao centro
"histórico" de Maceió (comércio), fazer uns sketches. Depois de perambular por casarões "trombados" e
ruas fedendo a urina, passei por um morador de rua e cadeirante. O homem estava
dormindo, mas percebi uma tigela ao seu lado com dois pedaços de bolo,
possivelmente alguma "alma solidária" tinha deixado ali para seu
desejum.
Fui até a esquina e depois voltei. Vi que do lado
oposto ao homem que dormia, havia um edifício antigo que poderia ser um bom
modelo para o desenho. Comecei a montar meu cavalete - um tripé de máquina
fotográfica ao qual adaptei uma prancha.
Quando ia começar o desenho, observei que o homem tinha acordado, fingi que não o percebi e comecei a observa-lo de soslaio. Ele começou a comer o bolo e no mesmo instante, senti a necessidade de mudar meu tema. Comecei a desenhá-lo rapidamente, tentando fazer com que ele não percebesse. Em vão, ele olhou para mim e me desejou um bom dia e perguntou o que eu estava fazendo ali.
Eu também desejei a ele um bom dia, falei que
estava ali para desenhar os casarões do centro e perguntei se podia desenhá-lo.
O José Cícero, foi de uma simpatia e cordialidade para comigo e fez até uma
pose. Pedi que terminasse de comer, aí ele ofereceu um pedaço de bolo e um
sorriso e fez um sinal de "legal", com o polegar para cima. Parecia
que a felicidade para o José Cícero, era aquele momento: Um pedaço de bolo para
satisfazer a fome e alguém para conversar.
Tentei ser o mais rápido possível, para não cansar
meu "modelo". Depois de alguma conversa, despedi-me e ofereci a ele o
pouco dinheiro que tinha, disse que era o pagamento por ter feito uma pose para
mim, falei que na Europa, os modelos ganham muito para pousarem nus, ele sorriu
muito e agradeceu.
Saí dali contemplativo, vi um ser humano que apesar de todas as dificuldades que a vida havia lhe imposto, tinha uma dignidade no olhar e no sorriso. Vou deixar esse desenho sempre próximo, para quando passar pelas turbulências dessa vida, lembrar-me do sorriso e da paz do José Cícero.
Um pedido ao amigo que folheia este jornal
Luiz
Sávio de Almeida
Quem conhece Eduardo sabe de sua sensibilidade e de
seu modo de sentir o chamado da arte pelos monumentos, paisagens, prédios. Poucos conhecem a sua sensibilidade para o humano
e a sua generosidade para com os outros. Ele está pleno no pequeno texto onde
encontra o outro e o guarda como exercício de sua humanidade. Uma beleza de
relação, com a obra de arte sendo a mediação do humano. Estamos diante de uma lição, com a arte sendo
uma forma exemplar para estar com o diferente. No caso, com outro que se
transforma em espetáculo pelo incansável da demonstração da miséria. Um homem perdido no dia da cidade e
sua cadeira de rodas.
São muitos os que estão flutuando nas ruas; o
cotidiano é polvilhado pelos humilhados e ofendidos, por aqueles que parecem
ter sido deserdados pela sorte, pela fortuna, pelo implacável do mundo que abstrai
a vida de quem é empobrecido. Não seria por acaso que ele escolheria este tema:
os invisíveis. É que o drama humano chama por seus olhos, justamente as janelas
do coração. E ele nos consegue trazer aquele que sofre, aquele humilhado,
aquele ofendido.
Pensei em uma forma de estarmos com os pobres que
Eduardo nos trouxe. Cada um coloque a legenda abaixo do trabalho dele que
publicamos. Será bom, dialogar com a vida
e nos vermos pensando no outro.
POR FAVOR
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CADA UM DOS DESENHOS
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ResponderExcluirProfessor Sávio, aqui é o Luiz Carlos Morgado, trabalhei para o sr. digitando documentos. Foi meu primeiro emprego. Saudades do Senhor e Dona Mirian. Uma lição que aprendi com o homem Sávio de Almeida, é que a grandeza de um pessoa não está no quanto ele acumula de conhecimento, o que para maioria das pessoas ela se torna grande por isso, mas que o conhecimento que ele tinha alcançado o tornava humilde o que para maioria isso é pequinez. Sua humildade é admirável, sua gentileza e da sua esposa. Amo as lembranças que tenho dos momentos que convivi com o senhor.
ResponderExcluirBelíssimas as obras! Faz-me refletir no quanto temos é pouco fazemos para minimizar a desventura de nossos semelhantes. E pensar que há muitos que acreditam que não são responsáveis por essas situações. Se fôssemos mais empáticos com nossos semelhantes, situações assim não se tornariam obras de arte.
ResponderExcluirEduardo Bastos é um fenômeno. Não são desenhos, é a própria alma de cada personagem que se expressa. Parabéns, meu querido professor.
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