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segunda-feira, 27 de abril de 2015

NERI, Gustavo. A DISCIPLINA DOS CAMISAS-VERDE: entre o credo, a hierarquia e os desejos carnais

 

Gustavo Neri: Licenciado em História pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Mestre em História pela Universidade Federal de Alagoas- UFAL, Professor de História e História da Arte do Ensino Médio, atualmente lecionando no Colégio Rosalvo Ribeiro dos Santos, Autor do Artigo: A Indústria Têxtil, O Decreto Nº. 19.739 e a Legislação Trabalhista, in. A Indústria Têxtil, a classe operária e o PCB em Alagoas. Org.; Alberto Saldanha.   

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Este trabalho foi publicado originalmente em Campus, suplemento cultural do jornal O Dia, que circula em Maceió, Alagoas,  26 de abril a 2 de maio,   ano 03,  nº 0113,  2015.  E-mail redacao@odia-al.com.br 

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Dois dedos de prosa

Alagoas vem se beneficiando do aparecimento de uma nova geração de pesquisadores que merece todo  o nosso respeito; são pessoas sérias, meticulosas, inteligentes e procuram contribuir com a discussão de nosso processo histórico. Muitos revisitam tema antigos; muitos procuraram temas novos como Gustavo Neri, que resolveu escrever sua dissertação de mestrado sobre o integralismo em Alagoas, um tema a bem dizer virgem.

Ao que me consta, sobre o tema, apareceram apenas dois artigos meus, publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas resultado de meras notas por mim coletadas quando discutia comigo mesmo, qual o tema que deveria ser aproveitado em meu doutoramento. Terminei indo para o século XIX.

Gustavo Neri trouxe um belo texto, uma excelente discussão sobre a vida alagoana na década de trinta e é uma honra para Campus, poder publicar parte do material que ele produziu; trata-se de uma adaptação que sairá em quatro números de Campus.

Tomara  que alguém prossiga com esta história, produzindo sobre os reagrupamentos  que os integralistas tiveram  em Alagoas.

Campus agradece o favor que o autor nos fez.
Jatiúca, janeiro de 2015
Luiz Sávio de Almeida



A DISCIPLINA DOS CAMISAS-VERDE: entre o credo, a hierarquia e os desejos carnais
            
 A disciplina integralista era algo muito valorizado entre seus militantes, pois um homem deveria estar pronto para servir a Deus, à Família e à Pátria. O homem deve manter a moralidade e a ética cristãs, pois suas ações servirão de exemplo na construção de uma sociedade harmoniosa, onde os homens se respeitam e ajam por um bem comum. O integralista tinha de ser um propagador da felicidade social, e sua conduta tinha de ser inquestionável diante da comunidade. O homem que se vestia com o uniforme integralista passava a representar o partido; suas atitudes não seriam mais vistas como ações de um indivíduo, mas como atos do movimento. Desse modo, aqueles que não se adaptavam a essa realidade eram excluídos do partido.
            As exclusões dentro do movimento integralista não eram novidade para ninguém; elas ocorriam por diversas formas, mas alguns casos de indisciplina chamaram a atenção entre os integralistas alagoanos. Um dos casos de indisciplina ocorreu na cidade de Maceió com o integralista de nome Cícero Jackson, acusado de infringir os artigos de números 19 e 20(Art. 19 − É considerada indevida a ingerência de qualquer integralista em assuntos da competência exclusiva do chefe provincial, bem como dos respectivos secretários. Art. 20 − Toda atividade integralista, nos municípios, será controlada e dirigida por um chefe municipal, nomeado livremente pelo chefe provincial.) do Estatuto dos Camisas-Verdes . A afronta à hierarquia integralista era uma falta grave, e essas atitudes precisavam ser averiguadas por um inquérito, para avaliar a culpabilidade do acusado.
         
Era 22 de setembro de 1937, na capital alagoana, quando a solicitação do inquérito para avaliar a conduta de Jackson foi deferida pelo chefe do Departamento Técnico Provincial (DTP) dos integralistas. Os trabalhos iniciais foram realizados pelo chefe do DTP, Armando Montenegro, junto com os integralistas João Jovelino, Manuel Epifânio do Carmo e José Lourenço Filho, que serviriam como testemunhas no caso. Nesse inquérito o acusado teve direito a um advogado de defesa. Passados seis dias, estava tudo pronto para a oitiva das testemunhas. Assim, em 28 de setembro de 1937, na Secretaria Provincial de Propaganda (SPP) da Ação Integralista Brasileira, dava-se início aos trabalhos deste inquérito.
          
  Presentes nesse momento estavam os integralistas Francisco Firmo Cavalcante Moura e Jorge da Silva Garcia; este último, por ordem do chefe do DTP, funcionou como escrevente do inquérito e exerceu a presidência. A primeira testemunha a ser ouvida foi Manuel Epifânio do Carmo, que quando perguntado o que sabia sobre o caso, respondeu que ouviu do companheiro Jackson criticas ao movimento integralista de Alagoas e fez questionamentos sobre a capacidade da chefia estadual em coordenar o movimento.
            A comissão que ouvia a testemunha tinha outra preocupação, pois era preciso saber se mais alguém tinha ouvido as “injúrias” proclamadas pelo acusado; para a inquietação de todos, o Senhor Jackson havia discursado para uma plateia. O integralista rebelde teria realizado esse bombardeio de acusações no saguão da sede provincial, onde se encontrava um grupo de integralistas que participavam de uma palestra no momento. Essas foram as últimas informações prestadas pela primeira testemunha aos inquiridores. As ações do acusado provavelmente preocupavam a diretoria do partido, pois além de representar uma fragmentação no movimento, que falava em integração social, mostrava uma afronta à hierarquia do integralismo, e isso não poderia ser tolerado. É que todo bom camisa-verde deveria manter obediência às chefias, já que a harmonia social depende da obediência aos superiores. 
            No mesmo dia foi ouvida a segunda testemunha, José Lourenço Filho, que, quando questionado sobre o que sabia do caso em questão, respondeu de forma muito enfática e disse saber da indisciplina do acusado e que ele vivia disparando acusações contra os chefes integralistas e não obedecia à ordem de seus superiores, mesmo quando essas lhe eram dadas diretamente. Quando perguntado sobre o fato ocorrido no saguão da sede integralista, Lourenço Filho afirmou não ter presenciado o fato. Mas apresentou uma nova acusação ao processo, pois afirmou que o acusado tinha o habito de pernoitar na sede, após voltar de noitadas.
           
Usar a sede para pernoitar era uma falta muito grave em face da moralidade integralista, pois provavelmente não se tratava de passar a noite na sede após um dia de trabalho pelo partido, mas sim após uma noite da qual não se orgulharia nenhum integralista. A fala da segunda testemunha realça a indisciplina do acusado diante da autoridade dos chefes, pois mesmo não presenciando a ocorrência no saguão da sede, a testemunha acrescentou ao inquérito outros acontecimentos que reforçavam a ausência do respeito à hierarquia pelo acusado. Os chefes na AIB tinham seus poderes indivisíveis e deveriam governar seus núcleos de forma total, respondendo apenas à hierarquia integralista, sem questionamentos por parte de seus inferiores. O Estatuto Integralista coloca a pessoa do chefe como perpétuo e, por isso, não se deve comentar nada sobre os atos das Chefias Provinciais. Assim, os atos do integralista acusado feriam o estatuto dos camisas-verdes e manchavam o nome do movimento.
           
Após o depoimento da segunda testemunha, fez-se uma pausa no inquérito. Os trabalhos só foram retomados no dia 29 de setembro de 1937, quando foi ouvida a terceira testemunha do caso, João Jovelino da Silva. Essa terceira testemunha parecia ser a mais próxima do acusado, pois Jackson foi visto com ele a forçar o portão dos fundos da sede para tentar pernoitar; também foi ele o único dos companheiros integralistas a visitar o amigo radical na prisão. Essa testemunha também era importante para o inquérito, porque assim como o seu companheiro de partido José Lourenço, havia presenciado o acusado fazer as acusações contra a chefia integralista. Quando perguntado sobre o que sabia do acontecido no saguão da sede provincial, o depoente confirmou as acusações contra o amigo integralista e disse que o companheiro usou como justificativa sua insatisfação com o movimento o fato de ter sido abandonado na prisão pelos integralistas.
            O interrogador acrescentou ao seu depoimento o fato ocorrido no dia em que ele e o acusado foram vistos forçando o portão dos fundos da sede provincial. Jovelino não negou o fato; quando perguntado se realmente estava na companhia do acusado, não só respondeu positivamente como também deu detalhes do ocorrido. Afirmou que em uma noite de sábado ambos vinham caminhando pelos fundos do prédio da sede provincial, quando o companheiro Jackson resolveu entrar no prédio com o intuito de pernoitar, mas como era de se esperar, encontraram o portão fechado. Isso não foi obstáculo para o acusado, que com um punhal forçou o ferrolho do portão e o abriu, e lá passaram a noite.
           
Outra questão que chama a atenção no depoimento de Jovelino é a ausência de visitas ao acusado, enquanto se encontrava preso. As ações do integralista já vinham sendo observadas há algum tempo, e como foi dito nos depoimentos, sua indisciplina era algo presente e que já se identificava; assim, manter relações com esse homem seria um risco para a imagem dos seus companheiros integralistas. A melhor forma de não ser interpretado como um cúmplice do rebelde era mantendo-se distante dele.
           
Faltava ainda a fala da defesa. Após um intervalo de mais de cinco dias, as atividades foram retomadas. Em 5 de outubro de 1937, na Secretaria Provincial de Propaganda (SPP) da AIB, na cidade de Maceió, na presença dos integralistas Francisco Firmino Cavalcante e Gastão Carvalho de Souza, acompanhados do presidente e escrevente do inquérito, ouviu-se o acusado. Este não negou que há algum tempo vinha comentando com alguns companheiros as suas insatisfações com o movimento e com as suas chefias, mas deixou bem claro que aquele não era um ato isolado de sua pessoa, pois, assim como ele, outros colegas do partido também se queixavam dos rumos que o integralismo estava tomando naquela capital.                             
               O acusado não poupou nomes em seu depoimento e citou peças fundamentais no interrogatório, a saber, duas testemunhas e o escrivão e presidente do inquérito como seus cúmplices de acusações contra a AIB. Com isso o acusado tentava enfraquecer a imagem de seus acusadores e desacreditá-los perante os inquiridores. Sua estratégia era mostrar que apesar de todos os seus atos de indignação, aquilo não eram atos isolados, pois muitos outros já questionavam as atitudes das chefias naquela província.
         
Mas essa era apenas a primeira das acusações feitas contra o acusado, pois ele ainda precisava justificar à comissão a desobediência às ordens de seus superiores. Quando perguntado sobre tais atos de indisciplina, o acusado respondeu negativamente e acusou José Lourenço Filho e outros companheiros de planejar se afastar da AIB e terrem negociado seu ingresso na UDB.
           
Agora o acusado apontava sua fala contra os companheiros integralistas, acusando-os de conchavo com os rivais dos camisas-verdes. Tentou mostrar que apesar das acusações contra ele, mantinha-se fiel ao movimento, enquanto aqueles que o acusavam estavam tramando um desligamento em massa da AIB para uma filiação com os adversários. O depoimento do integralista investigado alertava indiretamente que era preciso a chefia abrir bem os olhos, já que seus militantes estavam insatisfeitos com suas atuações e talvez fosse hora de adotarem uma nova postura, embora isso não coubesse no movimento integralista, pois seus chefes eram absolutos e só se reportavam a seus superiores. Ressaltou que aqueles que pretendiam continuar no movimento deveriam aceitar essas diretrizes, como também abdicar de alguns interesses pessoais, ou não estariam aptos a usar uma camisa verde, além de ferirem o estatuto integralista.
            Faltava ainda Jackson Silva responder a uma acusação, pois no depoimento do integralista José Lourenço Filho foi relatado que o acusado, acompanhado por João Jovelino, teria sido visto, tarde da noite, a forçar a fechadura do portão dos fundos da sede provincial. Sobre isso o depoente afirmou que o fato realimente tinha ocorrido, mas que a ideia de usar a sede para pernoitar tinha sido de seu companheiro Jovelino e que o mesmo afirmou fazer isso com frequência e nunca ter sido repreendido.     
          
  Dando sequência à sua estratégia, o acusado não desmente os fatos pelos quais é acusado, mas faz questão de acrescentar que não esteve sozinho em nenhum dos atos e que nem sempre a ideia de determinadas ações partiu dele. A ação de pernoitar na sede, algo que já havia sido proibido pela chefia, ficou claro na fala do depoente ser um hábito, mas não dele, e sim de um de seus acusadores. O inquérito se estendia, pois faltava saber do depoente se realmente ele teria falado palavras de baixo calão e feito gestos indecorosos contra o movimento integralista. Sobre essa acusação Jackson Silva, negou totalmente sua culpa.
           
O depoimento do acusado levantou uma série de acusações que provavelmente geraria a necessidade da abertura de um novo inquérito que incluísse todos os nomes citados pelo depoente, mas apenas suas palavras não seriam suficientes para provar qualquer coisa diante daquela tribuna. Assim lhe foi perguntado se ele teria como provar tais acusações, se teria testemunhas que confirmassem tudo aquilo que foi dito por ele. O acusado afirmou que se lhe fosse permitido ele traria um ou mais colegas para confirmar tudo o que foi dito em seu depoimento. 
            Sem mais nada a declarar, foi finalizado seu depoimento para que a comissão pudesse avaliar suas acusações. No dia 28 de outubro de 1937 foi publicada uma nota pelo DTP, arquivando o processo contra o Sr. Cícero Jackson da Silva e ressaltando que ele sofreria as penas que constavam no regulamento integralista. O documento ainda liberava os integralistas acusados por Jackson, considerando suas declarações como falsas e infundadas.   
             
   Esse inquérito mostra a relevância da manutenção da disciplina e da hierarquia integralista. Assim, a figura dos chefes era de fundamental importância na condução da sociedade e na formação do Estado Integral. O próprio chefe nacional, Dr. Plínio Salgado, enxergava o papel do chefe como um doutrinador, e como fundamental a fidelidade dos militantes, devendo o integralista, respeitar a doutrina do movimento.
            Mas esse não foi um caso isolado de indisciplina entre os integralistas. Parece que alguns camisas-verdes se deixavam levar pelas tentações mundanas e caíram no abismo da jogatina, da bebedeira e da formicação. Atitudes como essas levariam um integralista a ser advertido, e caso não mudasse suas ações, possivelmente seria expulso do movimento. O uniforme integralista não era apenas um pedaço de pano usado para cobrir o corpo; o homem que vestisse a camisa verde deveria ser a representação da honra, do amor à pátria, do temor a Deus, do respeito à família e nunca ter sua moral questionada.
             Outro exemplo de indisciplina desse tipo foi encontrado nos registros do Departamento Provincial de Polícia (DPP) dos integralistas. Neste caso o infrator se chamava Salustiano Eusébio de Barros, integralista do núcleo de Maceió. A infração desse sujeito se resumiu ao ambiente no qual foi avistado, e não seria de tamanha gravidade se não estivesse vestido em seu uniforme integralista.
             
No dia 19 de julho de 1935, esse camisa-verde foi visto no cassino Antártida, na capital alagoana. A situação do homem se agravou, pois aquela não era a primeira nem a segunda vez que fora flagrado no mesmo cassino, mas se tratava da terceira vez que o chefe do Departamento de Provincial de Polícia (DPP) o encontrava naquele local. Cumprindo o protocolo integralista, Milton Ramires, chefe do DPP, enviou um telegrama para o chefe provincial de Alagoas, Dr. Afrânio Lages, informando sobre o infortúnio.
           
Ações como essa preocupavam a direção do partido, já que o cassino não era o melhor lugar para um integralista, pois feria o conceito de moralidade cristã do movimento. Ambientes como esse deveriam ser evitados, e jamais frequentados por integralistas uniformizados. Mas a disciplina de alguns de seus militantes era superada por impulsos incontroláveis de uma noite na imoralidade do homem comum. Essa era uma questão tão forte para os integralistas que os seus rivais comunistas usavam como estratégia para tentar atingir a “integridade” dos seguidores do Sigma, vestirem-se com uniformes integralistas e saírem pelos cassinos e cabarés noitadas afora, bebendo, arrumando confusão e cometendo atos de vandalismo. “Tendo chegado ao conhecimento da Chefia Nacional que elementos comunistas estão adquirindo e mandando fabricar camisas verdes e distintivos integralistas, com os quais pretendem, não só provocar desordem, como tentar contra o regime” (INFORMATIVO DO DTP AOS NÚCLEOS MUNICIPAIS, Maceió, 27 de agosto de 1937, p. 1).
            As desavenças entre os integralistas também eram interpretadas como uma atitude de indisciplina, e discussões que levassem a ofensas ou agressão física deveriam ser investigadas pelo Departamento Técnico Provincial (DTP). Os registros mostram que problemas similares já foram enfrentados por esse departamento, pois no dia 27 de outubro de 1937, na oficina do Jornal A Província, na cidade de Maceió, dois camisas-verdes colocaram à prova suas diferenças e, por muito pouco, essa discussão não terminou em agressão física.
           
Os envolvidos foram os integralistas Álvaro Carneiro e Sebastião Miranda Rego; o motivo da confusão é desconhecido, porém se sabe que, na manhã do dia citado, era mais um dia comum de trabalho no jornal integralista, quando em algum momento foram ouvidos berros de fúria. Segundo alguns relatos, quando os outros integralistas presentes no local rumaram em direção ao vozerio, presenciaram Álvaro soltando palavras de ofensas injuriosas e partindo para agredir seu companheiro de legenda, Miranda Rego. A ação de alguns colegas dos brigões foi partir para separá-los, pois aquela atitude era inadmissível para um integralista. Em depoimento ao inquérito de averiguação desse fato, o integralista Moacir José da Cunha afirmou haver presenciado esse fato.     
           
Segundo os depoimentos, Miranda Rego manteve uma postura pacífica, mesmo quase sendo agredido. Outra testemunha desse acontecimento foi o integralista e chefe da quarta secção do DPP, Luiz Teixeira de Barros. Quando perguntado sobre o que tinha visto com relação à atitude do companheiro, respondeu que “O queixoso limitava-se a dizer apenas que retribuía” (INQUÉRITO CONTRA ÁLVARO CARNEIRO, 29 de outubro de 1937, p. 2).       
     O resultado desse inquérito é desconhecido, pois a documentação não revela a conclusão dos fatos, porém evidencia preocupação com a ação dos integralistas. O partido pretendia manter seus militantes sob seu controle, tanto dentro como fora dos espaços integralistas; seus hábitos, sua conduta e seu discurso deveriam ser focados no modelo de um “verdadeiro” camisa-verde.

terça-feira, 21 de abril de 2015

NERI, Gustavo. OS NÚCLEOS INTEGRALISTAS DE ALAGOAS: São Luís do Quitunde e outras histórias.

 

Nosso objetivo é contribuir para uma boa discussão sobre Alagoas. 

A administração pode discordar, no todo ou em parte,  do que é dito no texto. O importante é que a posição do autor seja discutida.

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  Dois dedos de prosa 

Luiz Sávio de Almeida 




Alagoas vem se beneficiando do aparecimento de uma nova geração de pesquisadores que merece todo  o nosso respeito; são pessoas sérias, meticulosas, inteligentes e procuram contribuir com a discussão de nosso processo histórico. Muitos revisitam tema antigos; muitos procuraram temas novos como Gustavo Neri, que resolveu escrever sua dissertação de mestrado sobre o integralismo em Alagoas, um tema a bem dizer virgem. 
Ao que me consta, sobre o tema, apareceram apenas dois artigos meus, publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas resultado de meras notas por mim coletadas quando discutia comigo mesmo, qual o tema que deveria ser aproveitado em meu doutoramento. Terminei indo para o século XIX.
Gustavo Neri trouxe um belo texto, uma excelente discussão sobre a vida alagoana na década de trinta e é uma honra para Campus, poder publicar parte do material que ele produziu; trata-se de uma adaptação que sairá em quatro números de Campus.
Tomara  que alguém prossiga com esta história, produzindo sobre os reagrupamentos  que os integralistas tiveram  em Alagoas.


Jatiúca, janeiro de 2015


Gustavo Neri: Licenciado em História pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Mestre em História pela Universidade Federal de Alagoas- UFAL, Professor de História e História da Arte do Ensino Médio, atualmente lecionando no Colégio Rosalvo Ribeiro dos Santos, Autor do Artigo: A Indústria Têxtil, O Decreto Nº. 19.739 e a Legislação Trabalhista, in. A Indústria Têxtil, a classe operária e o PCB em Alagoas. Org.; Alberto Saldanha.  
  

 

            Alagoas foi “prestigiada” com a presença integralista a partir de 1933, depois da fundação do núcleo provincial, porém era preciso espalhar-se por todo o estado, para assim cobrir o maior número possível da Terra dos Marechais com o verde integralista. Para isso, os núcleos municipais foram fundamentais, e entre as várias sedes integralistas podemos destacar um desses núcleos municipais, o de São Luís do Quitunde. Essas terras que tinham sido habitadas por índios e exploradas pelos holandeses foram, na década de 1930, cenário das atividades integralistas em Alagoas.  


Em uma festiva solenidade na cidade de São Luís do Quitunde, Afrânio Lages com mais 27 companheiros, entre secretários e milicianos, conduziram a sessão de inauguração do núcleo municipal de São Luís do Quitunde, e assim, em 19 de junho de 1934, a AIB chegava oficialmente a essa cidade. A sessão de instalação do núcleo municipal ocorreu no prédio do Cineteatro São Luís. A sede do interior alagoano já contou com a inscrição de 13 membros no dia de sua inauguração; todos fizeram o juramento ao chefe nacional. As reuniões eram realizadas semanalmente, e o dia escolhido para tais encontros era o domingo, a partir das 19h30. A disciplina dos integralistas pode ser constatada pela seguinte observação: “Até hoje, apenas em dois domingos não foram realizadas as sessões previstas” (RELATÓRIO DO CHEFE MUNICIPAL, São Luís do Quitunde, 23 de fevereiro de 1935, p. 1).
            Após um ano de existência, o núcleo de São Luís do Quitunde contava com 83 integralistas registrados em sua sede. O número de camisas-verdes na cidade se mostrava bem relevante e seu ingresso no movimento se deu da seguinte forma: no mês de julho inscreveram-se 28 pessoas; em agosto o número chegou a 21 novos membros; outubro contou com seis; em novembro, um acréscimo de 14 novos membros; porém em dezembro e janeiro não ocorreu nenhuma nova inscrição. A diretoria do Núcleo do município atribuiu tal fato às propagandas negativas feitas por adversários do movimento integralista que pretendiam enfraquecer os seguidores do Sigma para as eleições de outubro de 1935.

Em novembro do mesmo ano, esse núcleo já contava com 180 inscritos. A chefia do núcleo de São Luís ficou sob os cuidados do Sr. Abel Lima, que ocupava o cargo desde a fundação da sede municipal. De 19 de dezembro de 1934 até 10 de fevereiro de 1935, essa chefia esteve nas mãos de José Carneiro, pois Abel Lima teve de se afastar do cargo. Em 1935 o núcleo não apresentava uma condição financeira negativa, o que permitiu saldar todas as dívidas referentes às compras de mobílias para a sede. 

            Por se tratar de um núcleo numa cidade rural, ressalta a sua diretoria o seguinte: “Sendo o núcleo composto, em sua maioria, de pessoas de humilde condição social, julgamos estar a mesma em situação financeira que não merece censura, embora tenhamos a observar que algumas despesas efetuadas nos primeiros meses de sua fundação ocorreram por conta de um dos companheiros” (RELATÓRIO DO CHEFE MUNICIPAL, São Luís do Quitunde, 23 de fevereiro de 1935, p. 2). O núcleo se encontrava com a receita de 5:083$000 e tinha despesas que somavam 5:036$000, verificando-se assim um saldo de 47$000. Mesmo assim, Abel Lima em 24 de outubro de 1934 escreve ao SDOP, mais exatamente, ao Sr. Carloman Carneiro, sobre as dificuldades que o núcleo vinha encontrando para custear algumas despesas com material de propaganda e auxílio financeiro na campanha integralista.
          
  
           A propaganda integralista no município era intensa; só no primeiro ano de existência desse núcleo foram organizados três comícios e duas bandeiras que visitaram povoados de São Luís do Quitunde. Além dos comícios e das bandeiras, a propaganda integralista era efetuada através da panfletagem realizada nas ruas. Os desfiles periódicos pela cidade também eram uma forma de apresentar ao cidadão daquela região quem eram os integralistas, a força do movimento e seus ideais patrióticos e cristãos. Foi preciso muito trabalho para empolgar o povo do município com a ótica integralista, pois os defensores do Sigma não tiveram o apoio das elites locais.
             Ao se perceber que os pequenos trabalhadores, dependentes desses grandes senhores, não se aproximariam do “Ideal Verde” sem certo fervor na sociedade, foram organizados comícios, as marchas integralistas, os trabalhos de assistência social, tudo com o intuito de promover o movimento na região. Em alguns casos essas atividades de apresentação do movimento integralista eram realizadas de forma muito simples; um exemplo disso ocorreu no município vizinho, Passo do Camaragibe, onde três integralistas do núcleo de São Luís foram espontaneamente a bater de porta em porta, distribuindo panfletos, boletins e convidando o povo a assistir a um dos rapazes falar. A sociedade respondeu ao chamado, e o jovem discursou por algumas horas, em cima do coreto da praça da Matriz, para uma multidão.            
          O Chefe Municipal salienta o fato de que o núcleo se encontra numa situação estável, porém faz uma ressalva quanto aos inimigos do integralismo na cidade: “Os nossos inimigos reconhecem que somos verdadeiramente idealistas e se espantam da nossa vitória, apesar da campanha derrotista, dos coronéis capitalistas e dos comunistas.”(CARTA DO CM PARA A SDOP, São Luís do Quitunde, 24 de outubro de 1934, p. 1).

            Mas em 1935 o núcleo municipal liderado por Abel Lima não estava tendo apenas experiências positivas, pois o relatório anual dessa sede menciona alguns problemas de indisciplina entre companheiros integralistas. A solução para casos de indisciplina entre os camisas-verdes era radical, pois, dependendo do grau de infração, o sujeito poderia ser afastado ou até mesmo expulso do movimento. Parece que essa segunda opção era a que pretendia utilizar o chefe municipal a seus companheiros infratores, já que, naquele ano consta no relatórios alguns casos de exclusão.  


          
            Uma das metas do núcleo nacional era aumentar o número de eleitores para a AIB, e para isso era aconselhada aos núcleos provinciais e municipais a criação de escolas de alfabetização para adultos. Seguindo essa ordem, em São Luís do Quitunde havia uma escola de alfabetização para adultos, comandada por duas mulheres integralistas, provavelmente representantes do Departamento Municipal Feminino. A escola primária contava com uma frequência de alunos que oscilava entre vinte e trinta pessoas. Além disso, o núcleo municipal contava ainda com uma biblioteca integralista − apesar de pequena, com apenas 36 volumes −, onde poderiam ser encontrados materiais bibliográficos para a instrução de novos membros sobre os ideais do Sigma. Entre essas obras encontravam-se obras de Plínio Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso, Custódio Viveiros, Affonso Arino de Mello Franco, Eduardo Prado, Obiano de Melo, entre outros. 

             Os integralistas alagoanos que eram escritores usavam o jornal A Província como fonte de sua propaganda, e informativos onde semanalmente eram publicados os acontecimentos nas reuniões ordinárias e solenes. O destaque referente ao município de São Luís do Quitunde deve ser dado à monografia de Abel Lima que foi publicada no periódico A Província. Este jornal, no dia 16 de julho de 1935, teve uma edição especial, em comemoração ao primeiro aniversário da sede daquela região. A documentação integralista se refere a esse texto como o estudo mais completo sobre esse município.

             Esse núcleo municipal estava dividido nas seguintes secretarias: Secretaria Municipal de Operação Política, que ficava sob o comando de Luiz Correia de Araújo; Secretaria Municipal de Propaganda, controlada por Josué Silva; Secretaria Municipal de Finanças, a qual tinha como secretário Alberto de Carvalho. Outros cargos eram ocupados na sede de São Luís, como o de secretário do Gabinete do Chefe, ocupado por José Lourenço de Monte, subcomandante do destacamento da Milícia, cujo encarregado era Cícero Feitosa. 



            No dia 31 de outubro de 1934, a AIB se expandiu para o povoado de Flexeiras. Nessa data foi fundado um núcleo distrital; a chefia desse núcleo ficou com Jayro Souza. Além de Flexeiras, Abel Lima conduziu uma bandeira para a cidade de Barra de Santo Antônio, onde foi realizado um comício pelos integralistas com o objetivo de atrair seguidores ao credo do Sigma naquela região. Outra cidade visitada pelos integralistas liderados por Abel Lima foi Passo do Camaragibe, município vizinho que também contou com a realização dos comícios integralistas.
            Fica evidente que o núcleo municipal de São Luís do Quitunde era o ponto de influência dos municípios vizinhos, a saber: Flexeiras, Barra de Santo Antônio e Passo do Camaragibe. No relatório anual à direção do partido, o chefe municipal afirmou que esses municípios vizinhos eram constantemente visitados pelos integralistas de São Luiz, afim de recrutar novos integrantes para seu grupo.
            As reuniões ocorriam na sede do núcleo e tinham o caráter de ordinárias, porém entre 1934 e 1935 foram realizadas sete sessões solenes em virtude dos seguintes acontecimentos: instalação do núcleo de São Luís do Quitunde, realização do congresso de Petrópolis, colocação na sede do núcleo central do retrato do chefe nacional, comemoração da data de descobrimento do Brasil, hasteamento da bandeira do Sigma, comemoração do aniversário de um ano do núcleo, festividade de comemoração da data de Independência do Brasil e a comemoração do terceiro aniversário do lançamento do Manifesto de Outubro de 1932. Outra sessão solene ocorreu no período das festas juninas, destinada à festividade para as pessoas carentes e à arrecadação de donativos. Essas festas eram uma maneira de expandir os ideais do Sigma, transformando a festa num ambiente político.      
       Outro modo de descontração encontrado para propagar os ideias do integralismo era a atividade esportiva. O integralismo tinha um modelo específico para a atividade física, e os núcleos se apropriavam de alguns espaços para exercer essa preparação. Em São Luís do Quitunde o núcleo possuía um campo para a realização de “cultura física”, que media 150 metros de comprimento por 85 metros de largura. Nesse mesmo campo se encontrava delineado um campo de futebol.     
 


            A região de São Luís do Quitunde desde a sua exploração pelos holandeses, ainda no século XVII, teve sua economia baseada na cana-de-açúcar. Em 1934 os integralistas tentaram introduzir um novo produto na agricultura do município, o algodão. “A fim de introduzir no município a nova cultura, o núcleo conseguiu da inspetoria agrícola, de Maceió, duas toneladas de sementes selecionadas de algodoeiro e as distribuiu gratuitamente entre os agricultores dessa zona” (RELATÓRIO ANUAL DO CM, São Luís do Quitunde, 10 de novembro de 1935, p. 3). Possivelmente, a ideia de plantar algodão no município estivesse ligada ao surto industrial ocorrido na década de 1930. Alagoas tinha em seu centro industrial grandes fábricas têxteis que precisariam ser abastecidas e que importavam parte dessa matéria-prima de outros estados. Assim, essa iniciativa poderia reduzir os custos para esses empresários, como também garantir uma nova renda para essas famílias.
            No mesmo ano do levante comunista liderado por Prestes, os integralistas de São Luís do Quitunde contavam com 180 inscritos; desses, 161 eram efetivos. O grupo se dividia em: 16 do núcleo distrital de Flexeiras, que ficava sob a jurisdição desse núcleo; 36 eram representantes do departamento feminino, 28 de ambos os sexos eram da juventude integralista, e 78 eram integralistas. Porém, nesse número existiam as pendências: 13 integralistas excluídos, cinco mudaram de residência e um faleceu. Esses números mostram uma grandeza considerável no município, o que lhe conferia boas projeções eleitorais.                       

        O município contava com um número pequeno de eleitores. Em consulta ao cartório eleitoral, os integralistas identificaram 860 votantes. Por essa razão, o núcleo municipal organizou o alistamento eleitoral, e para aumentar o número de votantes em nome da AIB desenvolveu o trabalho de alfabetização de adultos. Nas eleições municipais de 14 de outubro de 1934, a legenda integralista foi sufragada com 78 votos. Tendo em vista que o coeficiente eleitoral para ter representantes municipais ficava entre 60 e 70, a AIB obteve naquele município uma relevante vitória eleitoral. Os nomes selecionados para representar a região no Conselho Municipal foram: José Lourenço de Monte (industrial), Luiz Raposo de Araújo (comerciante), Josué Tabira Silva (funcionário público), Virgílio Xavier (comerciante), Argentina Rios, Alberto de Carvalho (comerciante), Jayro Souza (farmacêutico), Mario Barreto (agricultor), José Erasmo (artista) e José Arthur Souto (administrador de estradas). 



Uma coisa importante a se observar é que a legenda integralista do município era formada em sua maioria por membros da classe média urbana, mesmo tendo a classe agrária dos canavieiros como dominante nessa região. Isso demonstra uma representação clara dos ideais integralistas, que enxergavam na classe média urbana o grupo social da mudança. A pretensão para as eleições de 1934 era eleger um ou dois vereadores, e essa meta foi alcançada com a eleição de Luiz Raposo de Araújo, em 12 de dezembro de 1935.
            Na solenidade de comemoração de um ano do núcleo integralista em São Luís do Quitunde, além das atividades festivas, fez-se também um momento de reflexão sobre a sociedade brasileira, com fortes críticas desferidas à “Revolução” de 1930. Usando da palavra, o titular da Secretaria Municipal de Operação Política (SMOP), Luiz Correia de Araújo, afirmou que o movimento liderado por Vargas não representou uma revolução, nem se podia distinguir 1930 da proclamação da República em 1889. Para ele não existia diferença entre esses dois movimentos, a não ser quanto ao período cronológico. Asseverou que a solução para o problema brasileiro seria o integralismo, por conter o ideário político que resgataria a República brasileira dos falsos ideais da Revolução Francesa que teriam originado a falida democracia liberal. Desta maneira, estaria nas mãos dos integralistas a verdadeira transformação da sociedade brasileira.

             A Secretaria de Assistência Social era para os integralistas um dispositivo para a aproximação do movimento com a comunidade, e em São Luís do Quitunde essa secretaria não poderia ficar de fora da grande engrenagem integralista. Além das festividades para a distribuição de donativos, como o “Natal Para os Pobres” e o “São João Pobre”, a SMAS tinha como um dos principais trabalhos a distribuição gratuita de medicamentos e a disponibilização de consultas médicas para os necessitados. No município esse trabalho era realizado pelo clínico pernambucano Dr. André Sampaio, que em 1935 prestou assistência médica gratuita para a população carente daquela cidade nos meses de setembro e outubro. Ainda no mês de setembro foram despachados gratuitamente 365 remédios para abastecer famílias pobres da região. As medidas populistas da AIB davam a ela um sentido de caridade e bondade cristã; assim, os defensores do Sigma apareciam para a sociedade como figuras de auxílio para os desesperados.           

            A cidade do Pilar, banhada pela lagoa Manguaba e terra do escritor Arthur Ramos, um dos setores do polo industrial têxtil alagoano, também contava com a presença da AIB. A fundação desse núcleo ocorreu no dia 2 de março de 1934; o chefe provincial interino, Dr. Carlos Gomes de Barros, acompanhado de 27 integralistas liderou a Bandeira de inauguração da nova sede municipal. A cidade recebeu os integralistas com festa; foguetes espocavam no céu e a sirene do cinema onde seria realizada a cerimônia anunciava a chegada dos camisas-verdes. O cinema se encontrava lotado de pessoas de diversas classes sociais que assistiram à cerimônia. O chefe provincial interino abriu as atividades do recém-criado núcleo e logo depois passou a palavra para o companheiro Expedito Farias Costa, que fez a apresentação da Bandeira ao povo pilarense. O discurso do chefe provincial contou com incisivas palavras que revelavam a trajetória política da AIB. 

            O segundo a discursar nessa solenidade foi o chefe da seção universitária, Dr. Afrânio Lages, que fez uma conferência em torno do corporativismo e da realidade brasileira. A seguir, Arnóbio Graça fez uma belíssima conferência acerca da doutrina integralista. Um dos momentos de destaque da solenidade deu-se após a leitura da carta do chefe nacional, que dizia: “Companheiros de Alagoas, no momento grandioso da instalação do 1º Congresso Integralista Brasileiro de cuja mesa faz parte de forma honrosa o vosso chefe provincial, transmito a vocês o grande apreço que tenho por todos” (CARTA DE PLÍNIO SALGADO AO CP, 28 de fevereiro de 1934, p. 1). 

            Antes de terminar a seção, o chefe provincial, Dr. Carlos Gomes de Barros, declarou aberto o núcleo municipal do Pilar. Em seguida nomeou a comissão organizadora destinada a encaminhar os trabalhos do integralismo naquele município. Essa comissão contava com os seguintes membros: Francisco Salles de Luna tinha o cargo de chefe municipal; Expedito Farias Costa era o secretário; José Xavier Barbosa de Araújo, o tesoureiro. Após isso, foram feitas as saudações ao chefe nacional, ao chefe provincial e ao povo de Pilar.          
            Os integralistas aproveitaram o tempo na cidade do Pilar para fazer uma visita ao semanário A Ordem, jornal de apoio aos integralistas que tinha oficina naquela cidade. O núcleo municipal do Pilar, mesmo estando num campo propício para organizar um bom número de trabalhadores, não obteve tanto sucesso como em outras regiões. Antes de a AIB entrar na ilegalidade, os integralistas pilarenses já tinham se dissipado e o núcleo havia sido extinto.


            Outros núcleos também marcaram a história da AIB em Alagoas e fizeram desse estado nordestino um grande polo de influência integralista. Em 1935, Manuel de Barros escreveu para o chefe provincial Afrânio Lages: “De conformidade ao que combinamos aí, pretendemos ir ao Pilar na próxima quinta-feira, 21, passando por Atalaia a fim de ali doutrinar um pouco, para que se possa inaugurar o núcleo o mais breve possível” (CARTA DO CM DE SANTA LUZIA DO NORTE AO CP, 17 de junho de 1935). A ideia era espalhar os ideais integralistas se não por todo o estado, pelo menos na maior parte dele. Assim, em 1937, antes da instauração da política repressora do Estado Novo, o Alagoas possuía 29 municípios com a presença integralista e um número total de 3.621 inscritos.
      O núcleo de São José da Lage contava com 510 inscritos, 430 ativos. O núcleo da capital era o que possuía o maior número de inscritos, 977, porém quando essa avaliação era feita com os participantes ativos esse número caía para 200. Serra Grande era outro núcleo municipal com um forte efetivo: 524 inscritos, sendo 360 ativos. Seu chefe municipal interino, Dr. Carlos Pinheiro Lyra, comandava um núcleo que chegou a fazer comícios para mais de 500 pessoas nas praças dessa região. Os números de participantes nas atividades do núcleo de Serra Grande impressionam, pois parece não existirem atividades de pequeno porte naquela localidade. Em julho de 1935 ocorreu uma sessão solene no cinema dessa localidade que contou com a presença de 400 ouvintes. Esses eventos pretendiam movimentar a cidade e atrair a atenção para os integralistas e seus discursos patrióticos.

            É importante ressaltar que esse núcleo em 1935 tinha um número de participantes inscritos inferior a 100. Segundo o mesmo relatório, esse grupo era formado por 64 membros, dos quais cinco teriam sido expulsos e quatro eram ausentes; sobravam, portanto, 55, sendo 15 do sexo feminino, quatro plinianos e dois aspirantes a integralistas. Assim, a maior parte dos ouvintes das atividades integralistas naquele município em 1935 era de simpatizantes, curiosos e admiradores do movimento. Posteriormente, parte desses homens e mulheres migrou para as fileiras integralistas.