LÚCIA NOBRE
Natural de
Santana do Ipanema/AL. Professora de Literatura Brasileira e Escritora.
Graduada em Filosofia, Especialista e Mestra em Literatura Brasileira pela
Universidade Federal de Alagoas. Membro das Academias Alagoana de Cultura -Maceió/AL,
da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores -Maceió/AL e da Academia
Santanense de Letras, Ciências e Artes - Santana do Ipanema/AL.
Algumas publicações da
autora:
O sonho de Alice. Romance. HD Livros
Editora, Curitiba, 1998.
A Arte Rosa do Popular ao
Erudito:
uma incursão na tradição cultural na
contística de Guimarães Rosa. EDUFAL – Editora da Universidade Federal de
Alagoas. Maceió, 2000.
A filha do lodo. Romance. EDUFAL – Editora
da Universidade Federal de Alagoas.
Maceió, 2001.
O Sonho de Alice. 2. Ed. Maceió, Q-Gráfica,
2009.
Santana Urbana: o Batatal,
a Matriz e o Monumento In: Sertão Glocal. Organizadores: José
Marques de Melo e Rossana Gaia. Maceió, EDUFAL, 2010.
A filha do lodo. 2. Ed. Romance. SWA –
Instituto Educacional LTDA, Santana do Ipanema, 2015.
Dois dedos
de prosa
Este é mais um texto sobre o nosso
sertão, encaminhado através da coordenação de Goretti Brandão. Trata-se de um
mergulho nas raízes, que permite a ligação entre a memória, família e
construção da sociedade em Santana de Ipanema. Campus/O DIA agradece a Lúcia
Nobre, Mestre em Literatura Brasileira, por sua colaboração.
As fotos sobre a cidade de Santana do Ipanema
são do arquivo particular de João Neto Félix e as que se refere à família são
do arquivo da autora.
Um abraço e
boa leitura!
Sávio Almeida
Lúcia Nobre
As estrelas que são nossas
“As
pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que viajam, as estrelas
são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para outros, os
sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouro. Mas todas essas
estrelas se calam. Tu, porém, terá estrelas como ninguém, quando olhares o céu
de noite, porque habitarei uma delas, porque numa delas estarei rindo, então
será como se todas as estrelas te rissem! E tu terás estrelas que sabem rir!”
(Antoine de Saint- Exupéry, 1970).
Nós, seres viventes, possuímos nossas
estrelas. Cada um da maneira que as enxerga. Se observarmos os bons fluidos,
estes nos incentivam para continuar regando as plantinhas que precisam de
carinho para sobreviver. Assim, nossas estrelas poderão ser reais. Continuamos
eliminando as pedras que teimam em ficar em nossos caminhos. Não as afastando
de maneira grosseira. Poderemos sim, fazer parte delas, conquistando-as como se
fossem as próprias estrelas que nos devem guiar.
A chegada de Amélia e de Pedro
Não há médicos na cidade de Santana, nem nos
arredores. Os moradores da cidade e dos sítios vizinhos vivem precariamente no
que concerne à saúde, ao saneamento, ao abastecimento da água potável, como
também para o consumo doméstico. O conforto para eles é a fé que os sustenta.
Agradecem pela Igreja de Senhora Santana. Lá os católicos cumprem suas práticas
religiosas. Pedem graças e agradecem às recebidas.
Aquela família que construiu sua cultura lá
nas águas mansas das Lagoas do João Gomes trouxe sua tradição de Pernambuco. O
casal ainda jovem com grandes perspectivas, com os pés fincados ao chão, ou
seja, com disposição para o trabalho. Sabiam Amélia e Pedro que terras teriam
de ser desbravadas com rudimentares condições ou com o trabalho com as próprias
mãos. Os irmãos Pedro e João vieram com a bagagem de esperança e acolheram-se
em terras íngremes, mas que ofereciam auspiciosos motivos para lá fixarem suas
moradas.
Assim
fizeram. Pedro com grande vontade de plantar e implantar raízes, Amélia, anseia
levar um pouco do conhecimento das primeiras letras para as crianças da região.
Os irmãos João e Pedro cumpriram o que desejaram. João com a esposa Moreninha
construíram suas vidas e edificaram raízes em Alagoas, lá nas Lagoas do João
Gomes, sítio de Santana do Ipanema. Não diferente, o casal Pedro e Amélia nos
presenteou com o patrimônio cultural que construíram. Naqueles anos de 1917,
tudo teima em ser difícil para a família de Angelina e Pedro. Moram no sítio e
se valem da cidade de Santana. Sebastião, filho de Angelina e Pedro, carece de
cuidados médicos, diferente dos outros irmãos, talvez precise de cuidados especiais.
Os anos correm. Trabalham, prosperam. A cidade
não evol
Os caminhos de Sebastião
ui. O menino tem oito anos de idade e não anda. Não há médicos. Pais
religiosos, crentes dos mistérios divinos, ouvem conselhos
que o Padre Cícero do Juazeiro poderia promover um santo milagre naquela
criança que deseja muito ser igual aos irmãos. Um dia, o pai da criança fez uma
carta ao Padre Cícero que, por sua vez, respondeu solidário ao pai de
Sebastião. “Amados fiéis, recebi o pedido de pais fervorosos que amam seus filhos,
e por isso querem o melhor para eles. Não prometo um milagre. Sugiro que
coloquem nas pernas da criança um pouco de cinza do fogão. Com certeza, serão
beneficiados com a benevolência de Deus.”
O
brasileiro é híbrido e rico em conhecimentos. Herdou dos nativos que aqui já
habitavam, povos que aqui chegaram de lugares diferentes e crenças diversas. Na
questão das crenças, assimila todas. Tanto que, acredita em vários deuses. A
mãe espiritual pode ter vários nomes. Prova é que o fiel sai da igreja ou templo
sagrado e vai ao terreiro de umbanda, candomblé ou crenças de diversas culturas
ou religiões.
Este é um fato importante na cultura do país,
o brasileiro se comporta como tal. As culturas entrelaçam-se. Os povos que
vieram de outras civilizações assimilam os costumes, hábitos, religiões do povo
que agora é seu povo, assim como traz para cá seus conhecimentos. O resultado é
que temos uma cultura entrelaçada. A mistura de povos de diversas origens. A
família de Sebastião acredita que um especialista lhe dará a cura.
Como
na cidade não há médicos, resolve acreditar nos milagres. As
pessoas católicas do Batatal, das Lagoas do João Gomes, do Olho D’água do
Amaro, do Alto Bonito, e outros sítios, aspiram alimentar sua fé. Para elas, a
fé é o sustentáculo. Segundo a tradição religiosa, o cristão reza e pede
graças. Acredita que Deus salva os arrependidos e condena os pecadores; anseia
pela indulgência de Deus. É a religiosidade que mantém a ligação entre o
pensamento popular e o ecumênico. É o amálgama de doutrinas. Não poderia ser
diferente, o povo miscigenado recebeu influências de raças diferentes. Os
devotos agradecem com orações indulgências recebidas. As igrejas têm lugares
cativos em tempos de Santas Missões e de festas da Padroeira.
A Matriz e a vida da cidade
A Matriz
de Nossa Senhora Santana prepara-se com alegria para acolher o pregador dos
evangelhos e acomodar os fiéis. A multidão de santanenses confunde-se com o
pessoal dos sítios, e juntos renovam preces. Santas missões, encontro valioso
em Santana. Frei Damião, mensageiro mais importante nas Missões da cidade. O
Frei abençoa os cristãos. A praça da igreja lota com os abnegados. Frei Damião
torna-se um fenômeno da popularidade religiosa.
Pode-se dizer também que, Padre Cícero lá do
Juazeiro é um padre santo. Frei Damião era mais conhecido na cidade de Santana,
porque visitava a cidade. Fazia sermões, procissões de madrugada e até
confissões. O padre Cícero, padre milagroso. As pessoas denominadas romeiras,
viajavam para o juazeiro em caminhões, para esse fim. A família de Sebastião
acredita no milagre de sua cura. A fé da família a levou para o pedido ao padre
que faz milagres. Tudo isso faz parte da cultura do brasileiro.
A maravilha da cura
Está
Amélia dando aula aos alunos em uma sala da casa, especificada para esse fim,
quando aparece Sebastião caminhando sorridente e muito feliz. Não é rotina da
criança chegar só, na sala. Sempre há um irmão ou irmã que o ajuda a se
locomover. Dorinha é a irmã de Sebastião que mais o ajuda. Desta vez, Dorinha
também participa da aula ministrada pela mãe e mestra. Grande surpresa e
alegria de Amélia e Dorinha, quando chega a sala de aula o menino, que anda
pela primeira vez.
Contudo,
a sabedoria das duas gritou mais alto e agem com uma certa naturalidade para
não assustar a criança. Coisas de quem ama. Preocupam-se em colocar uma cadeira
para que Sebastião participe da aula, junto com as outras crianças. Amélia
apresenta Sebastião aos meninos e diz que ele será o novo aluno daquela turma.
Amélia fala que o aluno gosta de ler e poderá contar várias histórias para
eles.
A
professora Amélia conta aos alunos que os seus outros filhos gostam de estudar,
mas preferem trabalhar. Fala que Sebastião
é apaixonado por leituras e que leu os livros da biblioteca da casa. Enfatiza a
professora: aqui temos um sistema de vida que foi herdado dos meus pais e dos
pais de Pedro. Como vivemos da agricultura, todos trabalham na lavoura. Em um
tom de brincadeira, com certa verdade, Dorinha fala que há um tratamento
diferenciado para os meninos e as meninas.
Diz
que ali, as regras estão bem claras, que as meninas ficam em casa e ajudam com
a escola. Contudo, para Dorinha é muito bom colaborar com a educação das
crianças. É motivo de alegria para a mãe e a irmã daquela criança de oito anos
que começa a andar e frequentar a escola como os outros de sua idade. Ele não
só quer estudar, quer também ajudar o pai com a lavoura. Como uma boa
educadora, Amélia concorda que o filho poderá frequentar a escola e trabalhar
na roça. Fala para os alunos que cada um dos filhos tem uma tarefa de acordo
com suas possibilidades.
A
medida que crescem, recebem por direito seu pedaço de terra. São as normas da
família. Pedro vem de uma família de agricultores e adquiriu com ela o gosto
pela labuta com a lavoura, com os animais e com todo o processo que faz parte
do dia a dia nos sítios do Nordeste Brasileiro. A cidade de Santana que tem uma
história religiosa, acolhe os vizinhos dos sítios mais próximos ou até os mais
distantes.
Augusto Matraga
Para
falar em sincretismo religioso e cultural, lembramos de Augusto Matraga da
ficção. Começou a perder forças quando sua mulher foi embora na
garupa de um cavaleiro, e ainda levou a filha. Ela não mais suportou suas
grosserias. Procurar um coronel valente para tomar satisfação, foi a desgraça
maior de Matraga. Apanhou tanto dos capangas e ainda foi jogado em uma grota,
em estado deplorável. Daí, para todos, o valentão estava morto. Um casal de
negros que morava perto da grota o socorreu e o tratou com remédios do mato e
rezas da igreja católica. Até o padre fora chamado para lhe dar a benção final.
Esse sincretismo religioso faz parte da nossa cultura.
Os
negros que trouxeram sua cultura, assimilaram a que aqui já existia e, assim,
amalgamando-se os costumes, crenças, resultou nesse povo brasileiro tão cheio
de conhecimento. Augusto Matraga “comeu o pão que o diabo amassou”, pois estava
todo quebrado e machucado. Diante de tanto sofrimento, foi compreendendo que a
vida que levava estava completamente errada e começou a querer se purificar,
tentar remediar os erros cometidos. Porque, segundo a crença da Igreja
Católica, quem se arrepende dos pecados será perdoado.
O
padre tem formação europeia, reza a missa em latim, ao tempo que ensina à dona
da casa remédios caseiros da cultura do seu povo, como para curar o gogo dos
frangos, e aconselhou o marido a pincelar água e cal no limoeiro, e a plantar
tomateiro e pés de mamão.
A família Bau
Quem
mora nas regiões dos municípios santanenses, conhece a família Bau. Negros,
vindo de terras distantes, implantaram sua cultura ali, naquele sertão de
Alagoas. Fica bastante claro como transmitem naturalmente tudo que aprenderam
em sua terra. Frases, provérbios, conceitos, superstições, costumes, comidas,
vestimentas e tantos modos de ser, de agir e até de pensar. Os moradores dali
assimilam a cultura dos que chegam. Ao tempo que, os que vêm de longe também
amalgamam-se aos costumes dos nativos.
Maria Bau, representante desse passado, repete
frases ou provérbios aprendidos em sua terra, transmite sua cultura, que agora
não é mais sua, outros povos aprenderam, como também, ela outras culturas
assimilou. Segundo Alfredo Bosi, “Não existe nenhuma cultura tão arraigadamente
tradicional quanto a cultura popular”. Mulher negra, magra, falava pelos
cotovelos. Morava ali naquela região.
Todos
das Lagoas do João Gomes, do Batatal e das regiões vizinhas a conheciam ou dela
ouviam falar. Seu Manuel Bau sempre a acompanhava em suas andanças. As pessoas que andavam nas estradas sempre a
ouviam falar. Repetiam: Maria Bau está ali, ouçam sua voz. Aquela voz era o
passado histórico de um povo. Quando voltavam da cidade traziam novidades.
Compravam
com o dinheiro dos produtos da roça, que juntos plantavam e colhiam. Às vezes
era uma calça de casimira para Manuel Bau, outras, uma saia rodada e florida
para Maria Bau especialmente para vestir nas Santas Missões
em Santana. Ou simplesmente um biscoito novo que aparecia na padaria. Valia a
pena gastar aquele dinheiro.
Tudo
era motivo para mostrarem as novidades aos vizinhos. Enquanto a mulher mostrava
e contava as novidades, o marido a esperava com paciência. Como não era de
falar, a esperava no alpendre, observando os bichos que passavam ou os pássaros
que voavam. Dando baforadas para bem longe em seu cigarro de palha, como se
levassem seus pensamentos para bem longe, para um tempo bem distante. Tempo em
que ele não guardou lembranças, mas intimamente tem muitas saudades.
Manuel
Bau jogava na fumaça seus pensamentos; Maria Bau falava, falava... quem sabe,
desafogavam a dor de ter de deixar suas raízes. Assimilaram outra cultura.
Tanto que se tornaram religiosos das Santas Missões. Somos hoje o resultado
dessa cultura entrelaçada. Como diz Riobaldo, “religião seu moço, bebo de
todas” ou “eu agora bebo de todos os rios”.
A cidade e a vida
As
pessoas crescem junto com a cidade. Participam com ela das alegrias e das
tristezas. Sabem de suas deficiências, também dos seus progressos. São
integrantes de uma cultura enraizada, tendo como resultado a proliferação de
bons frutos. Tantas famílias tomaram como berço Santana do Ipanema. Aprenderam
dos antepassados e emprestaram seus conhecimentos a novas gerações. Formam a
comunidade santanense. São o resultado de bens valiosos, sobretudo, o dom da
dignidade. Povo que expande sua cultura. As pessoas de Santana que beberam e
ainda bebem da água salobra do Ipanema, edificam suas raízes.
Para
concretizar o milagre obtido pela família de Pedro Pacífico e Angelina Amélia,
coroamos o amadurecimento do jovem que tinha dificuldades físicas. Aos oito
anos de idade, curado e andando normalmente, tentou recuperar o tempo perdido e
construiu tudo que sempre desejou. Tornou-se menino normal como as outras
crianças. Trabalhou com a família, leu bastante e colocou em prática tudo que
antes idealizou. Podemos pensar: uma criança tão pequena e já desejava
independência! Certamente, houve bastante tempo para pensar. Idealizou sonhos e
logo que teve condições, tentou transformá-los em realidade.
Trabalhou
com a família na agricultura e “economizou”, como ele falava. Ao se tornar
jovem, emancipou-se e foi para a cidade de Santana cumprir sua tarefa de
cidadão trabalhador. Construiu família e a educou segundo seus princípios
religiosos e morais. Os filhos de Pedro Pacífico e Angelina Amélia herdaram dos
pais o dom do trabalho.
Todos
trabalhavam na lavoura e, na fase jovem, emanciparam-se. Foram para a cidade de
Santana e construíram vida nova. Sebastião estabeleceu-se no comércio da cidade
e construiu sua família, dando a todos os filhos condições de também
emanciparem-se. O nosso protagonista achava que a leitura era muito importante.
Sem esta prática, como poderíamos crescer intelectualmente. Tanto amava os
livros que conservava aqueles que achava importante.
Tinha um
pensamento: as pessoas não precisavam de conselhos. Seria necessário promover
exemplos, para que notassem. Assim deixava os livros em lugares que os filhos
notassem. Assim como dava bons exemplos para que fossem seguidos. Também,
negociou com livros, matérias escolares e artigos religiosos.
Viajava
de Santana ao Crato, no Ceará, para trazer novidades para sua pequena livraria.
Dificilmente, o encontrávamos sem um livro às mãos, nos dias de domingo.
Reunia-se com os irmãos e amigos para lerem e discutirem “o jornal da igreja”.
Sebastião na idade adulta esmerava-se em sua crença religiosa. Fiel e crente
dos ensinamentos de Jesus Cristo e amante de tudo que fosse olhar o semelhante
e ajudá-lo em suas necessidades.
Cumpriu e
cuidou dos necessitados, sem nenhuma pretensão de louvor. Fazia por amor ao
outro. Sua vida chegou ao fim, quando não mais possuía condições de ajudar os
que precisavam, da maneira que ele preferia. Não mais andava, suas pernas
paralisaram. Talvez se sentisse inútil. Não mais tinha condições de visitar
seus amigos que precisavam de ajuda.
Como nossa
história não é uma máquina de calcular, fazemos e vivemos nossa história. Desde
os nossos antepassados, construímos o que há de ser nosso viver. Não acredito em pessoas e atos radicais. Claro
que somos marcados pelas heranças e tradições, somos livres para moldurar e
modelar nossas ações. Somos inteligentes para dar corpo a nossa imaginação e
perceber o que pretendemos de nós mesmos, procurando as respostas em nossa
cultura. Percebemos a cultura do nosso povo e a ela acrescentamos a que vivemos
em nossa atualidade.
Com a
entrada do Modernismo, houve quem opinasse destruir todo o passado. Extinguir
um mundo que já existia? Excluir os antepassados? Esquecer nossas raízes?
Desejavam queimar bibliotecas e museus, abandonar o velho, só o novo seria
interessante. Houve algumas perdas, tudo em nome do moderno, do novo. Com
certeza não seria essa a proposta. Estaríamos destruindo toda nossa tradição.
Seríamos um povo aculturado, sem história. Descendentes de quem? Aprendemos o
quê? Contudo, não precisamos imitar o passado, seguir suas tradições, copiar o
que vimos, o que ouvimos ou o que lemos.
Se o homem deve ultrapassar limites impostos,
procurar meios de sobrevivências de acordo com a evolução dos acontecimentos,
que procure adaptar-se a este mundo mutável. Enfatizamos as famílias que
tiveram dificuldades. Com perseverança e fé conseguiram conquistar o projeto de
vida que se apresentava. Adaptaram-se às circunstâncias. Provaram que a vida
não é uma máquina de calcular.
As pessoas fazem o que há de ser o viver. Como
nos diz Octavio Paz, no livro Os filhos do barro, “a
questão da tradição da ruptura”, que deve haver uma relação entre o passado,
presente e futuro, que a tradição deve ser suporte para alicerçar o presente e
preparar o futuro.
Assim acontece. Buscamos na tradição do nosso
povo o alicerce para nossa cultura, ao tempo que a atualizamos aos novos
acontecimentos. Adquirir novos hábitos, conhecer pessoas diferentes faz parte
do processo de civilização. Este processo contribui para o crescimento de cada
um. O indivíduo socializa-se. É o compartilhar das culturas. Aceitar o
comportamento do outro.
Aquele que chega até você com estilo de viver
diferente do seu, do grupo que pertence, da família que faz parte. Esse
diferente que chega precisa fazer parte do grupo que ali está. Deve respeitar
hábitos e costumes, assim, como deve ser acolhido por quem o recebe,
aceitando-o como ele é. Às vezes, aparece algo novo em nossa vida e teimamos em
não aceitar. Temos preguiça de acumular mais um conhecimento. Perdemos porque é
muito bom aprender. Se for bom ou ruim, saberemos com o tempo. A novidade pode
incomodar os arraigados. Os que preferem estar conectados com o mundo, recebem
as novidades deste mundo instável. Carlos Drummond de Andrade, da geração
anterior, adaptou-se à nova forma de poesia, a poesia Pós Moderna.
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