Amaro
Hélio Leite da Silva é professor do Instituto Federal de Alagoas, mestre em
sociologia pela UFAL, doutor em história pela UFPE, coordenador do Grupo de Estudos, Memória, Tecnologia e
Etno-história de Alagoas (GEMTEH) e membro do coletivo Índios de Alagoas: cotidiano e etno-história.
Dois dedos de prosa
Esta
é uma bela história de vida de um homem que vem da periferia, transforma-se em
um Professor Doutor e não perde suas raízes. É o caminho que percorreu o
Professor Doutor Amaro Hélio da Silva. Além disso, o texto nos fala sobre o
delineamento de todo um contexto social e político, desde a saída do meio rural
ao encontro da periferia em Maceió.
Sem dúvida Campus/O Dia agradece a
oportunidade de poder publicar este texto e convidar seus leitores para conhecer um
pouco da vida de uma pessoa de altíssimo valor: Amaro Hélio da Silva.
Um abraço
Sávio de Almeida
UMA
VIDA DE LUTAS E UTOPIAS –2
Amaro
Hélio da Silva
As estratégias de sobrevivência na
capital - Jacintinho
Na
chegada ao Jacintinho, início dos anos 1980, já era uma família grande. Meus
pais precisavam alimentar e educar a mim e mais quatro irmãos (Zé Nilton,
Zenilda, Donizete e Ailton). Minha mãe fazia questão de colocar todos na
escola, mas o meu pai exigia que eu e o meu irmão mais velho, Zé Nilton,
ajudássemos no sustento da família. Não havia escolha para nós: era trabalhar
ou passar mais dificuldades. Apesar de ainda crianças e quase adolescentes, eu
e o Zé Nilton tínhamos que trabalhar. Meu pai não admitia a hipótese de que nós
vivêssemos apenas de estudo. Para ele, o trabalho é o fundamento de tudo:
alimenta, veste, paga o transporte e, principalmente, coloca a comida na mesa.
A relação era simples: trabalho-dinheiro-vida social. Portanto, a escola era
uma consequência desse processo. A pobreza alimentava essa visão pragmática e,
consequentemente, a construção de uma família que não se permitia ao lazer, mas
apenas a satisfação das necessidades básicas.
Começamos
a catar lixo reciclável: ferro velho, cobre, alumínio, garrafa de vidro, lata e
todo tipo de material capaz de gerar renda. Para nós, apesar de sermos ainda
crianças, era um misto de aventura, brincadeira e responsabilidade. Aventura no
sentido de que era uma forma de explorar os bairros mais próximos e descobrir
coisas novas. Enquanto procurávamos ferro velho, descobríamos sítios de frutas,
que matavam a nossa fome na hora do aperreio; achávamos brinquedos quebrados,
que reaproveitávamos em casa com os nossos irmãos. Era uma forma de ganhar um
dinheirinho e de inventar nossas próprias brincadeiras. Foi desse modo que
descobrimos a rua, as praias e a maloqueiragem, que
passou a ser, ao mesmo tempo, nossa estratégia de sobrevivência e nossa grande
ameaça na rua.
Com
o pouco dinheiro conseguido na venda do ferro velho passamos a procurar outras
alternativas de renda. Compramos algumas frutas (principalmente manga e amendoim),
duas caixas de isopor e alguns saquinhos de plástico para vender flau e picolé
na rua e nas praias. Minha mãe assava os amendoins e fazia os flaus. Durante a
semana, saíamos com os nossos carrinhos de mão (feitos por nós, com caixote de
madeira) vendendo manga pelas ruas, que era mais barata e mais fácil de “achar”
nos sítios vizinhos. No final de semana, íamos vender flau e amendoim na praia.
Sempre
saia acompanhado do meu irmão Zé Nilton. Além de protetor, ele era o meu
professor para as “coisas da rua”, em especial para as vendas das nossas
mercadorias. Foi ele que me ensinou a negociar o preço de acordo com o tempo de
validade da mercadoria e com o poder aquisitivo do cliente. Era ele quem me
protegia dos maloqueiros da rua, pelo menos, quando era possível. Lembro que
uma vez apanhamos na rua e em casa. Tudo por causa de uma turma de maloqueiro
que chupou os nossos flaus e não pagaram; nós reclamamos, levamos uns cascudos
na cabeça e alguns pontapés; e, quando chegamos em casa, sem o dinheiro,
levamos uma surra de tabica feita com galho do pé de carambola. Era a forma de
punição que a minha mãe encontrava para nos ensinar a sua moral social e
cristã.
Em
meados da década de 1980, nasceram meus dois irmãos caçulas, Francisco
(Chiquinho) e a Elizabete (Bel), completando nove pessoas na família: meus
pais, eu e mais seis irmãos. Meu pai recebia apenas um salário mínimo para
sustentar toda família. Até hoje, não consigo entender como o meu pai conseguiu
esse feito, apenas com o suor do seu trabalho, numa época de inflação alta. É
um mistério que, se desvendado, daria uma boa tese de doutorado. Hoje, posso
afirmar que são as estratégias de sobrevivência da pobreza; algumas delas até foram
reveladas, mas outras continuam um mistério, estar para além de uma simples
leitura da economia doméstica dos pobres.
Para
compreender as estratégias de sobrevivência criadas pelo meu pai é preciso ir
ao cotidiano da nossa casa, da nossa “economia doméstica”, dos nossos códigos
de conduta familiar. A minha grande referência é a feira que o meu pai fazia
aos domingos, no Mercado da Produção, na Levada. Meu pai sempre levava dois
filhos para acompanhá-lo; geralmente, os mais velhos. Para nós, era o melhor
dia da semana. A cada compra de frutas, o meu pai pechinchava para levar
algumas mercadorias extras. Saíamos da feira de barriga cheia de tanto comer
banana e manga.
A
feira da gente era sempre a mesma; limitado pelo pouco dinheiro, meu pai
dificilmente mudava a lista de compra: banana, manga, feijão, arroz, macarrão,
farinha, frango, carne com osso, mortadela, ovos e, às vezes, quando o dinheiro
sobrava um pouco mais, tinha uma carne sem osso e um peixe. A marca dos
produtos pouco importava, pois se comprava o que o dinheiro desse. Tudo era
meticulosamente contado e medido para poder passar uma semana. Caso acabasse
algum item, passava-se com o que tinha.
O
domingo era o dia da semana mais esperado por nós. Era o dia da feira, dia de
“fartura” em nossa casa, além de ser o dia da melhor refeição. Minha mãe fazia
uma galinha guisada com purê de batatas que, apesar de se repetir por muitos
anos, nunca deixou de ser o nosso prato preferido. Era um dia quase sagrado,
feito ritual, que fortalecia os laços da família: logo cedo, meu pai ia à
feira; ao meio-dia, almoçávamos deliciosamente; ao final da tarde, íamos a
missa, na Igreja Santo Antônio; e à noite, assistíamos Os Trapalhões, um dos programas humorísticos de grande sucesso da
televisão brasileira.
Para
fazer “render” a feira da semana, minha mãe sabia exatamente a quantidade que
cada um deveria comer, e, justamente por isso, era ela mesma quem colocava os
nossos pratos. A quantidade de comida e a qualidade dos pedaços de carne eram
de acordo com a idade e a responsabilidade de cada um na família; os mais
velhos comiam os melhores pedaços. À noite, tomávamos café, que poderia ser
acompanhado de pão, cuscuz, batata doce, macaxeira, ou inhame; mas, geralmente,
era cuscuz. A gente não jantava, a gente tomava café, porque jantar não fazia
parte do nosso vocabulário familiar.
Dificilmente
a gente comia pão quentinho. Meu pai comprava pão do dia anterior, porque além
de ser mais barato, ele comprava de saco para comermos em dois ou três dias. Lá
em casa, não existia “a hora do lanche”. Só descobri essa hora quando fui
estudar na Escola Theonilo Gama, uma escola pública perto de casa. A escola
dava um lanchinho simples, mas era um reforço importante para a nossa
alimentação. O cardápio era sempre o mesmo, mas a gente gostava: um dia, era
bolacha com leite; outro, era cuscuz com leite; e, quando variava um pouco,
aparecia arroz com almôndegas...
Minha
mãe costurava as nossas roupas, inclusive os nossos lençóis, que eram feitos de
saco de açúcar, tipo de tecido parecido com algodão cru, que vai amaciando com
o tempo. Roupa nova só uma vez por ano, quando íamos comemorar o Natal na
Sococo, que era nossa única festa do ano. Como não tínhamos lazer e não
comemorávamos aniversário, esperávamos o ano inteiro por essa festa.
A
Sococo fazia da festa de Natal um ritual de fortalecimento da família e da
hierarquia da empresa, separando as mesas dos empregados (que eram as mesmas do
refeitório) das mesas dos dirigentes (que eram arrumadas por família, forradas
e com cadeiras estufadas). Todos comiam e bebiam à vontade e os filhos dos
empregados ainda ganhavam uns presentinhos de Natal: boneca, bola, carrinhos...
Tudo muito simples, mas para uma família que não sabia o que era festa ou
presente, era só felicidade.
No
final da festa, a empresa homenageava com uma plaquinha os funcionários mais
antigos e dedicados, uma espécie de homenagem ao “operário padrão”. Lembro do
dia em que meu pai foi homenageado pelos dez anos de empresa. Foram dez anos de
trabalho – fazendo inclusive muitas horas-extras
para aumentar um pouco o salário mínimo que ele recebia – sem nenhuma falta, a
não ser por motivo de doença, que era raro. Apesar da homenagem e dos longos
anos dedicados à empresa, meu pai nunca foi promovido ou recebeu mais do que um
salário mínimo.
Sempre
enfrentamos muitas dificuldades, mas a fé da minha mãe e a determinação para o
trabalho do meu pai nos ajudaram a superar os problemas recorrentes do
cotidiano de pobreza. Minha mãe sempre foi rígida quanto a nossa formação
religiosa. Havia uma formação católica, que na percepção da minha mãe, jamais
poderíamos fugir: começava com a catequese; depois vinha a primeira comunhão; e
por fim, a crisma; além das missas aos domingos.
A
catequese formou a base dos meus princípios cristãos. Diferentemente das
formalidades das missas aos domingos, a catequese, era uma forma de brincar,
refletir sobre os preceitos cristãos e fazer amigos. Fazíamos catequese no
Centro Comunitário Santo Antônio, no Jacintinho. Dentro da catequese, fazíamos
parte da Juventude Unida em Cristo (JUC), que era diferente da Juventude
Universitária Católica (a JUC da esquerda católica dos anos 60); porém, havia
uma ligação profunda com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), onde a
prática cristã ganhava sentido com a vida em sociedade, sobretudo na luta pela
causa dos pobres. Era, na verdade, uma herança do Concílio Vaticano II, que
assumiu o compromisso com os pobres desde a esquerda católica, passando pela
Teologia da Libertação e chegando as CEBs. Daí a existência de organizações
católicas como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Conselho Indigenista Missionário
(CIMI), entre outras. Talvez isso tenha me aproximado dos movimentos sociais,
da União da Juventude Socialista (UJS) e do Partido Comunista do Brasil
(PCdoB), alguns anos depois.
Nossa
formação católica – orientada, sobretudo, pela minha mãe – formava nossa moral
cristã. Nunca fui muito fiel a esses preceitos religiosos, mas, sem dúvida,
eles guiaram os meus atos e formaram a base da minha personalidade. Um exemplo
disso era a minha negação em participar das “relações perigosas” do Jacintinho.
Não sei se tinha mais medo do pecado ou da pisa da minha mãe, mas o fato é que
eu e meus irmãos conseguimos nos livrar da bandidagem que era comum à parte dos
adolescentes do bairro, sobretudo às drogas e o roubo.
Jacintinho de festa e maloqueiragem
A
violência e as drogas sempre estiveram próximas das nossas vivências no
Jacintinho. A “FM” (hoje, Rádio 96 FM) era uma rua vizinha à nossa casa que se
tornou um ponto de encontro de todas as “tribos” do bairro: regueiros,
lombreiros, “maconheiros” e todo tipo de maloqueiro. Era comum a venda e o
consumo de maconha na rua, além de outras drogas. A minha formação católica
distanciava-me do consumo e do tráfico, mas não me impedia de conviver nesse
meio. Inclusive, entre os meus melhores amigos tinham evangélicos, regueiros,
maloqueiros e maconheiros; e, quando era possível, todos compartilhavam das
mesmas brincadeiras e sonhos, apesar de alguns estranhamentos de vez em quando,
é claro.
A
ideia de maloqueiro surgiu para identificar aquele que vivia na maloca, o
índio; e, em virtude do preconceito que se criou em cima deste, foi associado a
gente preguiçosa, rebelde e que não gostava de trabalhar. Hoje, maloqueiro é um
estereótipo que passa a identificar aquele que mora em cabana, barraco ou
favela; ou seja, o pobre que vive na periferia das grandes cidades, numa “vida
marginal”. É interessante notar como esse estereótipo é reproduzido pelas
páginas policiais dos jornais locais, associando a ideia de maloqueiro ao
comportamento rebelde dos jovens da periferia ou à sua condição de
pobreza.
No
meu tempo de morada no Jacintinho, maloqueiro tinha um duplo sentido: que
poderia ser identificado tanto como malandro ou como marginal. Era uma espécie
de sujeito que desafiava as regras e a moral vigente. Para alguns, maloqueiro
era sinônimo de vida bandida, associada ao roubo e ao crime. Para outros,
maloqueiro era uma espécie de malandro, sujeito desocupado, que não estudava e
nem trabalhava, mas era bom de briga e sabia se livrar da bandidagem. Alguns
destes tornaram-se uma espécie de “justiceiro”, que protegia os moradores dos
marginais. A separação entre uma e outra forma de vida maloqueira era muito
sutil. A juventude do Jacintinho dificilmente escapava desse destino, com
algumas exceções. Eu mesmo, embora tenha me aproximado muito dessa “vida
marginal”, tinha medo de me tornar um pela proximidade que eles tinham com o
crime.
Na
rua da FM, a convivência com viciados e traficantes de droga era corriqueira.
Pelo fato de alguns amigos meus se tornarem viciados, aprendi a conhecer
algumas drogas e os seus efeitos. A maconha era a droga de iniciação, seguida
do Rufinol – um calmante muito usado no tratamento de pessoas com problemas
psíquicos – mas que se misturado à bebida alcoólica ou a Coca-Cola pode se tornar uma droga perigosa. Eu e meu irmão mais
velho éramos constantemente convidados a provar essas drogas, mas a nossa moral
católica e o medo sempre nos afastou dessa experiência. Medo das consequências
morais, medo de levar uma surra de tabica de carambola ou medo de pecar contra
os nossos princípios cristãos, que, para nós, significava entrar no mundo da
bandidagem, dos viciados, isto é, no mundo do crime. Para nós, “maconheiro” era
sinônimo de marginal. É claro que estávamos influenciados por mais um
estereótipo, pois hoje sabemos da necessidade de se distinguir o consumidor do
traficante. O problema era a relação preconceituosa que a sociedade, inclusive
a opinião pública-midiática, fazia e ainda faz entre pobreza, maconheiro e
marginal.
Havia
uma espécie de rito de passagem para uma “vida maloqueira”. Para ser maloqueiro
respeitado era preciso ser aventureiro, bom de briga, esperto e regueiro; isto
é, viver próximo de uma conduta sempre perto do perigo. Minha iniciação na
maloqueiragem começou “maiando” nos ônibus coletivos. “Maiar” era andar de
ônibus sem pagar a passagem, o que poderia acontecer de várias formas: passar
por baixo da catraca; passar dois de uma vez só na catraca pagando apenas uma
passagem; ou o que era mais comum: esperar o ônibus parar no ponto e descer
pela trazeira. O grande problema desta “prova” era ficar preso na catraca ou
ficar preso na porta e ser arrastado
pelo ônibus. Eu tinha muito medo de ficar preso na porta, mas como vivia “liso”
(sem dinheiro) e era uma forma de aventura, terminei entrando no embalo.
A
maloqueiragem fazia a “festa” no carnaval. Na folia de Momo, a rua Bonfim –
onde eu morava e uma das principais do bairro – era transformada em território
do povo e, em especial, dos maloqueiros. Aí todo mundo se misturava na folia do
mela-mela e do vale tudo: valia se melar e melar os outros de tudo: maisena, pó
de bebê, ovo podre, carvão, cal e tinta. A pretexto de tomar cachaça valia sair
fantasiado de laurça, de boi de carnaval ou vestido de mulher para pedir
dinheiro ao povo, com a famosa musiquinha: “laurça quer dinheiro quem não der é
pechincheiro”; valia até roubar boné ou chapéus dos “otários” que vacilavam nos
ônibus. Todo estranho que passasse pelo bairro de boné ou chapéu – seja a pé,
de ônibus ou de carro – se desse bobeira, era roubado, como se fosse a coisa
mais natural do mundo. Era a inversão permitida pelo carnaval ou uma forma de
justificar o roubo.
Embora
a “vida maloqueira” pudesse levar a violência e ao roubo, havia um código moral
que impedia essas práticas contra os moradores do bairro. O roubo dentro do
próprio bairro era punido com linchamento. A violência, geralmente, estava
associada às drogas ou a briga de galera.
Depois
do carnaval, a festa junina era uma das festas populares que mais mobilizava os
moradores do Jacintinho, formando “quadrilhas” (ou arraial como é mais
conhecido) em quase todas as ruas do bairro, onde era grande a disputa pela
melhor ornamentação, o melhor forró, os melhores dançarinos; enfim, pela mais
animada festa de São João. A “quadrilha” era uma forma de trazer o interior –
com sua vida rural – a vida urbana de Maceió. As ruas eram enfeitadas com
palhas de coqueiros, bandeirolas coloridas, palhoças e fogueiras. Havia muitas
“quadrilhas” no Jacintinho, bonitas e animadas, mas uma das mais belas era a da
Dinha, no Conjunto José da Silva Peixoto, chegando a ganhar vários prêmios de
concursos juninos e ser reconhecida como uma das melhores de Alagoas, pelo
menos durante os anos 1990.
Não
sei se os outros bairros tinham a tradição junina do Jacintinho, é muito
provável que sim, mas sei que o Jacintinho se transformava basicamente em uma
cidade do interior, onde cada rua formava sua quadrilha. Nos outros bairros,
lembro que havia bons palhoções para dançar forró (era o caso da Jatiúca,
Sanatório e Serraria), mas para curtir mesmo as festas dos santos juninos só na
periferia, especialmente no Jacintinho, no conjunto Peixoto. O problema foi
quando junto à massificação da festa no Peixoto, veio junto à violência, nos
anos finais da década de 1990, provocando brigas, roubos e até mortes. Essa
onda de violência levou ao fim das grandes festas juninas no Jacintinho, pelo
menos, nos moldes que tínhamos antes, tomando como referência a rua do Arraial
da Dinha.
Paralelo
às festas juninas, a cada quatro anos, acontecia outro grande momento de
confraternização popular, a Copa do Mundo de Futebol. Foram muitas Copas que se
transformavam em festa de carnaval e/ou de São João. Nas minhas lembranças
ficaram as alegrias e tristezas da Copa do Mundo de 1982. Tinha apenas 9 anos
de idade, mas até hoje, não vi uma seleção brasileira de futebol tão empolgante
e apaixonante como aquela. Lembro da rua do Bonfim toda pintada e enfeitada com
bandeirolas e balões juninos com as cores do Brasil. Os dias de jogos da
seleção, viravam feriados nacionais, eram um ritual quase sagrado: o povo
vestia a camisa verde amarela, abriam as portas de suas casas e se juntavam
para celebrar os nossos heróis de chuteira. Liderada por Telê Santana, a
seleção encantava com Zico, Sócrates, Júnior, Falcão, Cerezo e companhia. Era o
futebol arte em ação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário