O ENGENHO DA VOVÓ
Karina Cavalcante Dâmaso
Embora tenha
passado a maior parte da minha infância na Fazenda Cariri, do meu avô paterno, no
município de Boca da Mata, o Engenho Gurganema – em Marechal Deodoro, de propriedade
da minha avó materna era um sonho, como raramente aparecia por lá, tudo era
novo e cheio de mistérios. A fazenda era enorme, com mais de 3000 hectares de
terra, dividida em canaviais, matas, coqueirais, pastos e a encantadora casa
grande e seus extensos pomares.
Lugar lindo
e bucólico, tranquilo, perfeito para o descanso; extenso, bom para exploração e
trilhas, lembro que para chegar à sede da fazenda passava por um longo caminho
de jaqueiras, era jaqueira para todos os lados, de todos os tipos, um oásis aos
apreciadores da fruta. Após esse caminho avistava as casas dos moradores, a
igrejinha, em frente à casa grande – o curral, as ruinas do engenho, a ponte do
riacho e os pastos. Havia um pomar com muitas mangueiras variadas, uma delas a
preferida da mainha, a manga jasmim, pouco comum, amarela, redondinha,
cabeluda, doce e de sabor inigualável, além de cajueiros, sapotizeiros,
pitangueiras, pitombeiras, bananeiras, limoeiros, laranjeiras, abacateiros,
coqueiros, goiabeiras, jenipapeiros, pés de fruta-pão e os mais variados tipos
regionais de fruteiras. Porém, as jaqueiras e mangueiras predominavam e faziam
fama na região por seu sabor, aquela terra abençoada dava frutos sem igual.
Painho até plantou em nossa propriedade as raridades da fazenda, o pé de jaca
mateu e manga jasmim e rosa, porém o sabor diferiu um pouco devido ao solo, mas
independente do sabor ainda faz mainha se lambuzar de prazer como na época do
engenho.
Lá era muito
rústico, o chão da casa era de tijolos feitos na própria fazenda, uma típica
casa de engenho. Não lembro nem se tinha televisão, só recordo das
brincadeiras, passeios, almoços, conversas, paz e tranquilidade; por ser
isolada, não se ouvia barulho na rodagem ou carro de som alto, barulho só das
conversas e gargalhadas dos membros da família Pimentel Cavalcante, muito eloquentes,
ou quando não estavam reunidos, apenas os ruídos dos pássaros, vento nas
árvores, gado no curral.
Esse local
maravilhoso e inesquecível que inspirou muitas vezes, meus
quadros, escritos, sonhos..., infelizmente só existe agora na lembrança, pois o
atual proprietário, uma usina local, que ficou de conservar pelo menos a igreja
– onde meus antepassados foram enterrados, destruiu quase tudo, pomares, a bica
e as edificações. Triste fim de uma majestosa fazenda de engenho que findava na
lagoa Manguaba, e que tantas alegrias me deu, deixa imensa saudade e doces
recordações da minha época de criança.
Karina, texto perfeito, saudosista. Conheci o Engenho Gurganema, levado pelos seus tios Sérgio e Márcia. Passamos um domingo inesquecível, usufruindo de tudo isso que você lembrou. Infelizmente ficou apenas na lembrança. Sugiro que escreva um livro de memórias. Parabéns.
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