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Periferia: encantos e desencantos
do Boka!
Quem é quem!
Fellype Boka terminou a licenciatura em Química na
Universidade Federal de Alagoas, poeta gangsta e morador no Santos Dumont.
Esta postagem foi coordenada pelo jornalista Railton Teixeira
DOIS DEDOS DE PROSA
Esta é mais uma entrada de Campus
no mundo da periferia e, no caso, vamos para a
transição de um poeta que está na periferia, para um licenciado em
Química por uma Universidade Federal. É um discurso de quem, deseje ou
não, está em interlocução com uma das
máquinas do sistema de produção de licenciados, bacharéis, especialistas,
mestres, doutores... Vamos ver parte do que ele pensa, ensaia e diz.
Nesta caminhada, fomos novamente
parceiros do jornalista Railton Teixeira da Silva que, aliás, coordenou os trabalhos que
resultaram nesta edição.
Vamos ler!
Um abraço
Sávio de Almeida
I - Cidade, periferia e poesia
Luiz
Sávio de Almeida e Railton Teixeira da Silva
O perfil da distribuição
populacional atual de Maceió começa a ser esboçado em um processo de
urbanização “caótico” e de inchaço, que vai acontecer especialmente a partir da
década de 60, com a transferência de pessoas do meio rural e de pequenas
cidades do interior, motivada pelos desacertos estruturais de nossa economia
que persistia no processamento do agrarismo de matriz colonial, pela forma que
se estabeleceu e desenvolveu o mando político e a dominação correspondente em
nosso Estado, fundada na relação direta entre poder e propriedade de terra.
A palavra caótico, no contexto
deste artigo, é tomada em sentido a bem dizer figurado, pois este caos é aparente: a
desordem visível é a ordem desejada, no sentido de manter a linha divisória do
poder no encaminhamento do capital na principal cidade do Estado. É a mesma
divisória que está na base dos desacertos estruturais que mencionamos. A nossa condição
urbana, portanto, mantém uma “desordem” na paisagem e uma ordem na sua lógica.
É claro que a relação poder e
propriedade é também explicita no urbano. A extensão, a localização e a fertilidade
das terras rurais que atribuíram valor à propriedade, passam a ser substituídas
pela qualificação que o mercado vai atribuir às áreas urbanas. É assim, que o
movimento espacial do capital urbano vai fundando a correspondente distribuição
geográfica da riqueza. Então, aparece o chão de casa para os pobres, expressão
riquíssima a indicar uma etnografia da relação entre possibilidade e desejo. O
pobre, portanto, não enxerga a casa, enxerga o chão onde poderia tê-la. Nas
grotas, a modernização das relações vem chamando de lote, como se ali houvesse
o mesmo loteamento que é lançado nas áreas de maior concentração de renda, numa
atitude que talvez venha a realçar uma busca de “legitimação” da propriedade.
A cidade de Maceió – no seu
matizamento atual – é fruto de uma dinâmica de desacerto econômico nas
estruturas rural e urbana, na ligação entre ambas. As crises resultam a
expulsão da população do interior, que antes destinava-se, mormente, ao sul do
Brasil e, nesta oportunidade, passa a radicar-se em boa parte em Maceió, na
busca de renda e sustentação de vida. A população encontrava, internamente, um
ponto significativo de destino e, com isto, os que chegavam encontravam os
desajustes existentes, interagindo com eles e, então, amplia-se a desigualdade
que nos caracteriza.
Ao chegarem, precisavam de renda
e não encontraram uma taxa de geração de emprego capaz de formalmente situa-los
na economia; nem mesmo, esta taxa de emprego chegava perto do crescimento
vegetativo da população economicamente ativa. Como gerar, então, a renda? Tenha-se
em conta que os ingressos monetários são fundamentais e esta população teria de
buscá-los, devendo ser levado em consideração que a vida só é possível no
sistema capitalista, mediante a compra de mercadoria. Era necessário encontrar
forma de maximizar a viabilidade da venda da força de trabalho, que poderia
resultar em salários diretos e indiretos, na atividade de pequenos serviços, do
pequeno comercio, na venda de raspadinha, flau, peito de veia, quebra-queixo e
o que fosse possível obter para comercializar, para que a sobrevivência fosse
possível. Daí a população em torno do Mercado, o encanador a fazer biscate e
situações semelhantes. Parece frase de efeito, mas examinada com cuidado,
indica o drama de vida deste cotidiano exigido pelo processo: o pobre tem de
encontrar a sua estratégia de pobre para viver no espaço em que pode manobrar a
sua subsistência.
Uma riqueza de modos e formas de
sobrevivência vai aflorar neste contexto indo desde a marginalização integral
até a um dialogo com o poder em busca de ter, no mínimo, casa e comida, pois a
tendência seria a pratica política negar-lhe a satisfação de outras necessidade
como educação e saúde. Com isto muitos se aproveitaram para exploração política
e o reforço de uma pedagogia da opressão, sem dúvida, desqualificante
da organização de uma sociedade civil e resistente, portanto, aos
encaminhamentos feitos pelo Estado.
Ao chegarem à cidade, as pessoas
tiveram de ir procurando onde construir suas casas. Isto demandava o encontro
de locais com terrenos de baixo valor ou ocupáveis, mediante legitima
expropriação e combatida pelo poder. Houve época, em que as pessoas chegaram a
migrar de área pobre para área mais pobre; isto era sinal de que se poderia afundar,
mais ainda, no modo de acumulação urbana em Maceió.
Foi daí, que começou a surgir o
tipo de distribuição atual da pobreza na cidade, por esta lógica que espelha o
imobiliário. Foi desta forma, que se fabricavam áreas para esta pobreza estar,
nesta ingente geopolítica que se praticava, incrementando a diversidade de
cidades em uma só. Estamos diante de uma rota urbana de acumulação, onde a
exploração imobiliária foi superior, na condução da economia, à capacidade de
geração de emprego e renda. Isto retardou e praticamente impediu a expressão da
distribuição de benefícios para a população, confirmando esta Maceió
“desajustada” que temos e de difícil reorganização, pois teria de superar a
força histórica do padrão de acumulação, gerada por interesses econômicos e não
ponderando o interesse desta população pobre.
Deve ser notado que a cidade foi
dividida em, pelo menos, três regiões de pobreza. Duas delas situadas ao norte,
com uma correspondendo às grotas em face das elevações, e, outra correspondendo
à pobreza que vai localizar-se em tabuleiros, em boa parte engessada em
conjuntos habitacionais desleixados pelo poder. A terceira área pobre
corresponde ao território mais antigo de Maceió, iniciado antes da cidade ter
subido para o Jacutinga, estendendo-se, sobremodo, no grande entorno da Lagoa,
onde se tinha os extremos do Trapiche da Barra e do Bebedouro. Era uma espécie
de cinturão pobre que se formava entre esses dois pontos, passando pela Levada,
uma das grandes áreas de problema do assentamento da cidade como seu próprio
nome revela. Haverá pobreza, também para os lados do Poço e de Jaraguá, mas o
grosso estaria correspondendo à Orla Lacustre.
Esta urbanização “caótica” e de
inchaço provoca o aparecimento de novas áreas pobres e consolida as antigas e,
então, ela é, na verdade, uma acumulação constante de pobreza e numa visão,
praticamente, geométrica. De tal forma este processo é conduzido, que hoje se
tem gerações de pobreza assentadas em regiões da cidade, um denso pardieiro com
marchas de riquezas devidamente protegidas pelo poder, ao encontrar, por
exemplo, a grande formula dos condomínios verticais e horizontais, com muros
que parecem sugerir pluralidade de feudos ao longo do território, com fossos e
mais fossos resguardando a riqueza desta pobreza que incomoda, mormente, quando
a ela é imputada a razão da violência.
Maceió foi pensada na direção
Leste/Oeste, basicamente na articulação de Bebedouro e Jaraguá, estrada e
porto. Maceió não tem apenas ruas, mas, também, ruas-estradas como Rua do
Comercio, a que vai da Cambona para Bebedouro, a Avenida Gustavo Paiva...
Somente na década de 50 do século XIX é aberto com clareza o eixo que teria a
Rua do Livramento como ponto base e dirigindo-se ao Trapiche, cuja área leste
correspondia, em parte, à densas dunas que foram danificadas pela construção do
porto.
Muito depois é que vem o eixo do
Jacutinga e a partir dele, onde era possível ser pobre, os pobres foram ficando,
abrindo-se o norte como a grande faixa do lucro na fabricação de novos locais,
igualmente pobres, dos quais, as grotas ao invés de serem centro de marginais, são,
na realidade, centros de resistência da pobreza urbana e fabricados pelos
construtores destas cidades diferentes. A altura para o rico é a altura do
andar do seu edifício; a altura para os pobres é a subida da escada descurada
pelo poder. Ao invés de marginalidade, nas grotas o que se tem é a poderosa
força de resistência dos pobres, a partir, inclusive, da não submissão às
posturas municipais que, essencialmente, as inviabilizaria.
O sentido da palavra grota mudou.
Perdeu-se o angélico da Boca da Grota, onde estava a paisagem, para ter-se a
imputação infernal de culpas lançadas sobre os empobrecidos que pouco têm o que
comer, pouco que estudar, pouco o que ter de saúde, configurando um tipo de
sociedade essencialmente diferente, por exemplo, da orla. É uma sociedade da
carência, ou daquilo que falta, posta em face de uma sociedade da abundância,
ou seja: do que sobra. A carência de um é a sobra do outro.
A orla é a Maceió rasa, distante
da normalidade dos padrões da formação histórica, resultando de um padrão de
apropriação da paisagem e do ambiente pelo capital, ao se transformar em uma
produtora de renda que de fato não está associada integralmente à cidade,
embora esteja e seja na cidade. As praias de Maceió demonstram a diferença do
raso, onde as pessoas do profundo vendem raspadinha, água de coco e o mais que
der o trocado do dia, ao contrário da Maceió rasa imponente nos seus edifícios,
cometendo, muitas vezes, seus próprios crimes como se pode ver nas dezenas de
operações da Polícia Federal, mas sem ter seu território ocupado na presunção
de que cada habitação é um antro. Tudo é decente.
Esta Maceió rasa é a Maceió de
fora, constituindo uma cidade cujos limites se estendem nas pressuposições do
turismo, a norte e sul. Onde der a venda do ambiente, onde puder se agregar
desejos, a Maceió rasa se estende. A Maceió profunda é a Maceió de dentro,
apertada, enlatada, sem a fantástica possibilidade de expansão que a de fora
mantém. É exatamente nesta Maceió de dentro, ou Maceió profunda, que se
encontra a periferia. É preciso discutir o que vamos chamar de periferia, termo
novo associado ao nosso urbano e utilizado quando vem a noção perfeita de que
se esta na Maceió profunda. Desta forma a noção de periferia associada à noção
de profundo é política e gerada quando, de dentro, é fortalecida a ideia do
partilhamento de uma situação dominada, pelo que é raso e pelo que é de fora,
associado, às vezes, à forma de controle tradicional.
Como se pode notar não estamos
dizendo que o fora e o dentro sejam isolados; pelo contrário, mantém relações e
são elas que fortalecem o conjunto de partilhamento de situações e
circunstancias que formam, inclusive, a periferia que somente existe, por
existir um centro de poder e, assim, é muito mais do que uma noção geográfica
carte
siana: a periferia é fundamentalmente uma noção de política.
Ao longo da história, esta
periferia foi criando as suas próprias formas de expressão, transformando em
algo seu, até mesmo o que vinha de fora e assim que penetrava e fundava raízes,
passava a ser, inexoravelmente, de dentro. Por outro lado esta periferia monta
e vive uma intensa ordem cultural, geralmente invisível para Maceió de fora,
salvo quando o de fora deseja acumular. Ai, o que era do povo vira espetáculo
mau remunerado, como aconteceu com a domesticação do boi, que era movimento de
rua e terminou concurso de prefeitura.
O perigoso tornou-se fantástico.
É como aconteceu com o coco, que, erroneamente é pensado somente como rural.
Hoje virou concurso. As quadrilhas saíram dos salões tradicionais de Maceió e foram
para os bairros: viraram concursos, demonstrando que a Maceió rasa praticamente,
nada produz de efeito “popular” e, por isso, tem que nutrir-se do que o povo
produz na rasa.
Nada contra a modernização das
formas. Isso demonstra que existe uma circularidade nas relações das formas
culturais, mas até hoje nunca se conseguiu reduzir o hip-hop e o reggae. Onde
está o concurso público do hip-hop, forma de má remuneração? Onde esta o
concurso público do reggae? A tentação é dizer que eles não se reduzem pelo
fato de que a marca negra é inconfundível nesta circularidade, independente de
ser produzido pela cor do artista: é negro, por que é pobre e por que conseguiu
no meio pobre seu próprio mercado de consumo. Não são consumidos, nem por
concursos na orla que é o raso. E para certos grupos, o rap e o reggae não
pretendem esta relação.
Voltamos a afirmar que nada temos
contra as manifestações do boi, das quadrilhas, do coco, nem mesmo contra as
relações delas com o Estado, e, diretamente com o próprio capital. Apenas
desejamos dizer que na ordem das relações internas da periferia, elas cumprem
um papel diferenciado. Por outro lado, deve ser considerado que o rap vive também
seus problemas de relação urbana e de identidade, discussão sobre o que
apresentar e representar, havendo correntes, formas de expressão de estética e
conteúdo. Não é algo homogêneo, mas sem dúvida ainda mantém características de
diferenciação que podem ser vistas.
No caso o artista que estamos
apresentando é de tendência gangsta: o Fellype Boka. O que ele escolhe para
falar sobre a vida, o leitor de Campus deve escutar e, por isto, este
suplemento traz uma pequena entrevista com o Boka e publica uma das suas
poesias.
O leitor pode concordar ou não
com o que ele diz, mas sem duvida deve saber o que ele diz, pois é um dos tipos
de voz que fala do lugar da periferia e, por tanto, sobre o cotidiano, as
valorizações, as criticas e as aspirações que circulam no dia a dia.
II – A fala de Fellipe Boka
Estou naquele molejo para não
perder a bolsa. Terminei as disciplinas do curso de Química, licenciatura.
Estou ai só para colar grau; esse é o corre final. Atualmente estou tendo
algumas experiências como professor em uma escola no bairro do Barro Duro,
estilo um projeto. Vivo batalhando na vida, pagando aluguel, alimentos, sempre
na correria. A sociedade vê a gente como hippie, maconheiro, tudo relacionado
com esse negócio assim. Tipo um ladrão, ta ligado não? O primeiro impacto
quando vê a pessoa assim... Tem essa visão... A galera pensa que temos formação
de gangue. É criminoso. Que é bandido, que tem doideira!
Morro no Santos Dumont, mas nasci
em São José da Lage e com dois anos vim para Maceió com a minha família. Meu
pai estava sem emprego, era fotografo neste tempo. Só que essa profissão neste
tempo já estava em declínio; me lembro que era por volta de 1992. Ai ele chegou
e disse que a gente ia para a capital. Todo mundo naquele êxodo rural. Aí
viemos para Maceió. Arriscamos a vida aqui no Tabuleiro. Sempre morei aqui, na
parte alta da cidade.
A universidade é muito
contraditória. Muitas questões, assim, voltada ou contextualizada para o pobre
aprender, para o povo aprender são muito diferentes. Esses conceitos de saber
dividir as coisas, que cada aluno tem seus problemas pessoais, suas
particularidades, ta ligado? Que vem de casas diferentes, culturas diferentes,
religiões diferentes... Na teoria, a gente vê isso aqui, mas não vê os professores
daqui fazer isso, não vê nem nos professores que saem daqui. E quando você vai
para as escolas, você vê que não dá para fazer um trabalho do jeito que você
possa contextualizar e trabalhar uma coisa diferente, doido. Você tem que fazer
aquilo que é mandado. Tem que da esse assunto e pronto. Não podemos falar das
coisas que achamos importante para a formação do homem, mas tem que apenas dar
o assunto da prova do ENEM, tem que passar no ENEM, tem que passar no IFAL... A
maioria dos professores da UFAL não sabe da realidade da rede pública de
ensino. Eles nunca passaram por lá. São poucos os que de fato já deram aula na
periferia. A contradição começa que poucos professores são daqui mesmo do
Estado, a maioria de fora, vem do sul. Com outras cabeças, com outros conceitos
que a gente não sabe. Diferente.
Mas, é tipo um filme. Chega um
aluno louco que não sabe nada e de repente começa tudo do zero. Parecendo um
boxeador, vai treinando e derrubando os caras. Para a minha família, eu sou
o primeiro cara formado; é massa! É um status social massa. A família, o pai do
cara bota uma fé. Mesmo sabendo que o cara fuma um, mas ver que o cara estuda.
Já aqui na faculdade, o cara via que alguns professores reagiam: ‘poxa que
massa, esse bicho estar aqui’. O cara via que eles estavam alegres. Mas tinha
uns que não ficavam não, velho. A depender do professor! Tem uns reaças mesmo,
mas também tem uns que me apoiaram. Porque também, quando eu cheguei aqui foi
doideira, eu pensava que era como o ensino médio, na escola. Já cheguei logo
com a camisa do Azulão, caderno velho do 3º ano ainda, uma teia de aranha
desenhada na cabeça. O primeiro dia de aula o cara tem que vir no estilo, quando
cheguei aqui, a galera era outra performace. Não foi eu que mudei; eu continuei
sendo o mesmo aluno que era no ensino médio. Extrovertido, mangador, não sei o
que...
Quando cheguei aqui, tudo era
diferente. Uma piada aqui não tem graça, velho. Levei umas trombas no começo,
repetindo tudo, mas depois eu disse: ‘meu irmão eu tenho que conseguir’. Para
mostrar para muitos por aí. Provar para amigos, para família, todo mundo fica
no pé do cara. Mesmo os caras que não sabem nem o que é faculdade, lá nas
quebradas do cara: ‘eita esse bicho, oia, fuma maconha, mas é estudioso. Vai na
onda do Boca!’. Os caras não sabem nem o que é isso, mas ficam no pé do cara.
‘Eae, terminou meu irmão?’. Todo mundo querendo ver o cara dizer ‘terminei meu
fio, terminei já!’. Família, amigos e represento para todo mundo, eu acho, que
a galera bota uma fé. É massa.
E Boka é um apelido de infância.
Da periferia. Acho que em todas as quebradas têm Boka. É um apelido bem comum,
como: Magro, Galego, Negão. São apelidos comuns, pronto um cara comum da
periferia, desde pequeno esse apelido, ai foi. Foi seguindo a vida toda. A galera
só me conhece como Boka.
III
- Música – O QUE MAIS QUERO
Felipe
Boka e Invasor (Família 33)
BOKA
Me diz
quem não quer um AP pra morar? Um carro e dinheiro pra gastar, poder contemplar
a luz do luar, a brisa do mar, uma gata pra amar?
[...]
INVASOR
Me diz
quem não quer morar num lugar, poder desfrutar de tudo que há de bom na vida,
poder trabalhar, os filhos criar, voltar a estudar? Me diga ladrão que bom
seria! Um dia o jogo vira irmão, pra que tanta pressa? Vamos viver um dia por
vez, a cara é essa. 33 nós espera paciente o alvará, que na rua nós não quer
aguardar a vitória chegar. Espera uma pra se jogar, fraco de arma nas horas
mais difícil é preciso ter calma; não vou só ficar rimando só os traumas,as
derrotas, se eu contar as trombas que nós leva irmão, ai nem rola, é muito
melhor falar das nossas conquistas, das forças da ascensão das ideias que instiga.
Vida preta mais lida, não vai esquecer da noite de hoje que amanhã quer me ver.
BOKA
[...]
Lá vão
as pessoas com suas vidas, nada sadias, no pulso da hierarquias, à procura do
seu espaço, um emprego um salário, altos cambalachos para achar. Caboclo também
quer gastar, descer para o shopping Center. Umas pratas, uns pingentes,
dinheiro faz os pretos virar clientes. Estão vendo como as coisas muda? Antes
me chamava de fila da p.. agora engula suas palavras feias, foi assim que eu
sonhei uma vez, fiquei adormecido, dinheiro é prestígio. Até o meu sonho sabia
disso, como viver o amanhã se o hoje ta rolando? foi assim que falou o meu brother, que pode nos corres. Só você
um simples sonhador .
INVASOR
[...]
Hum,
pode crer rapaz... Família 33... Ta
ligado, que amor não mata fome. É por isso que estamos atrás dos potes
premiados, é desse jeito rapaz, o que mais quero: mais justiça e liberdade.
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